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montesclaros.diariomineiro.net - Ano 26 - quinta-feira, 22 de maio de 2025

1 - 94 anos, hoje, da quase meia-noite em que M. Claros escalou todas as manchetes do Brasil: "Seis de fevereiro de 1930 foi aquele dia que assinalou a cidade de Montes Claros, no distante serto mineiro, chamando ateno do Brasil". Acontecimento reconhecido como os primeiros tiros da Revoluo de 1930 que levou Getlio Vargas ao poder 18735m

Tera 06/02/24 - 8h01

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Do escritor, jornalista e mais alta voz, viva, de Montes Claros, Manoel Hygino, residente em Belo Horizonte:



H datas que marcam a famlia, cidade, provncia ou estado, uma nao, um povo. Seis de fevereiro de 1930 foi aquele dia que assinalou a cidade de Montes Claros, no distante serto mineiro, chamando ateno do Brasil. A cidade j gozava de prestgio na poltica e na economia, principalmente com o incio de operao da rede ferroviria, a Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1926.

Crescera com a chegada de famlias de vrias regies do pas. Renascera a esperana de futuro luminoso, de progresso municipal e de riqueza para os que l se instalaram. Repercutiam ainda os reflexos do governo Artur Bernardes, em suas escaramuas com o Palcio do Catete. Com Washington Lus na presidncia da Repblica, acentuaram-se os nimos polticos, enquanto se expunha considerao do eleitorado a proposta de poder da dupla caf-com-leite alternando-se a chefia nacional: em quatrinio um paulista, um mineiro a seguir.

Controvertido e prepotente, Washington Lus apresenta Jlio Prestes, de So Paulo, para suced-lo, com eleio marcada para 1 de maro de 1930. quando se apresenta cena o presidente mineiro Antnio Carlos, com credenciais histricas, opondo-se tenazmente ao Catete.

Formou-se, ento, a Aliana Liberal com apoio do Rio Grande do Sul e Paraba, que lanaram os nomes de Getlio Vargas e Joo Pessoa, representantes do Sul e do Nordeste, para a presidncia e vice.

Milene Antonieta Coutinho Maurcio, com um livro premiado, sintetiza: Estava assim definida a competio eleitoral que, muito logo, assumiu marcas de facciosismo do Governo Central, o que, muito logicamente, acendeu o estopim de conflitos que aram a ocorrer nos diversos pontos do Pas.

No Norte de Minas, consubstanciando um projeto antigo, agendou-se para 7,8 e 9 de fevereiro um Congresso de Algodo e Cereais, acentuando-se seu vis poltico e reunindo vrias cidades da regio, sob Presidncia de Honra de Fernando de Mello Vianna (foto), vice-presidente da Repblica e ex-presidente de Minas, de Manoel Thomaz de Carvalho Brito e do Conde Alfredo Dolabela Portela, chefe da Concentrao Conservadora.

Nas principais estaes pelas quais ava a composio frrea, havia manifestaes em favor dos candidatos presidncia da Repblica, Jlio Prestes e Mello Vianna, ao Palcio da Liberdade. Muitos discursos e foguetes at que se chegou a Montes Claros, sede do congresso, que deveria ser do Algodo e dos Cereais. Pelo menos, era o que se propagava.

Prevendo possveis choques com adversrios, os prceres e autoridades de Montes Claros soltaram boletins pedindo populao que evitasse comparecer aos eventos programados e se envolver em discusses de qualquer natureza e escaramuas. Mas os nimos se exaltavam.

A escritora Milene Antonieta revela que foi enorme o comparecimento chegada do candidato estao da Central. Era a primeira vez que visitava o serto mineiro um vice-Presidente da Repblica, em campanha para o governo de Minas. Terminada a recepo to festiva na gare, formou-se uma eata que percorreria as ruas, com um itinerrio definido. Uma banda de msica tocava o dobrado 220, secundada pelo foguetrio, por gritos e vivas a Prestes e Mello Vianna. Um grupo de rapazes, frente, atirava bombas, e gritava vivas com estribilho em favor dos candidatos da Concentrao Conservadora.

Sem se saber por que, o percurso da eata foi mudado, convergindo direita, para percorrer a Praa Gonalves Chaves, onde residia o chefe aliancista, Joo Alves. Era em torno de 23 horas, um pouco mais quando desfilavam em frente residncia sobremodo conhecida. Joo Alves e Mello Vianna eram velhos conhecidos. O mdico desejava demonstrar publicamente no ter receio. Foi quando algum do cortejo gritou: Morra a Aliana Liberal. O mdico e poltico levantou um leno vermelho e gritou tranquilo: Viva a Aliana Liberal.

Incontinenti, uma bomba explodiu a seus ps. Ele, hipertenso, sofreu uma hemorragia, com crise de tosse e sufocamento, parecendo ferido a bala. Simultaneamente, um rapazinho que ele criava, a seu lado, levou um tiro na cabea e caiu ao solo. Nunca se soube de onde e de quem partiu o primeiro tiro. Parecia que todos ali se achavam armados e prontos para uma batalha. Eram, muitas dezenas na multido, alguns se jogaram ao cho, outros corriam afoitamente para fugir ao tiroteio. Havia a notcia de que um grupo de jagunos de Granjas Reunidas, onde havia um grande empreendimento industrial dos Dolabella, se tinham infiltrado. O pnico na transposio de um dia para outro se estabeleceu, de 6 para 7.

Foram apenas minutos, mas o tumulto deixou estigmas. Corpos tombados foram transportados residncia antes festiva de Joo Alves e Tiburtina, que prestaram os primeiros socorros, enquanto o marido ainda sofria efeitos da crise cardaca. Ela acomodava na dependncia da casa os feridos e os mais nervosos. Aos ensanguentados dava assistncia emergencial. Enfim, o violento choque deixara seis mortos e muitos feridos. L fora, os remanescentes escaparam s carreiras estao ferroviria e o trem comeou a fazer a viagem de volta em marcha--r.

O episdio trgico ganhou dimenses nacionais. Uma das vtimas fatais fora Rafael Fleury da Rocha, como o poeta Joo Soares da Silva, aquele secretrio particular do vice-presidente, ferido com um tiro na cabea e com estilhaos do projtil disseminados em derredor, inclusive Mello Viana.

Washington Lus, no dia seguinte, se manifestou: So Paulo como todo o Brasil Republicano e civilizado, profliga indignado o brbaro atentado que semelhana de uma Emboscada de Bugres, ensanguentou a nobre terra de Minas.

O padre Aderbal Murta, da Academia Montes-clarense de Letras, escreveu: De incio, no calor das paixes enfurecidas, na insegurana das dvidas, na irresponsabilidade das interpretaes irrefletidas, o episdio de Montes Claros chegou a ser o estopim da Revoluo de 1930, de propores nacionais e decisivas para a prpria histria do Brasil.

Neste 2023, registra-se o aniversrio de Tiburtina Andrade Alves, nascida em 10 de agosto de 1873, na pequenina So Joo Batista, hoje Itamarandiba. So decorridos 150 anos de profundas transformaes no Brasil. O nome dela permaneceu vivo e lembrado.

De D. Tiburtina, esposa do lder aliancista de Montes Claros, se falou tudo o que de mal se poderia: Uma pessoa perversa, que perpetrara o episdio macabro do Norte de Minas, causador de tantas mortes e lgrimas s famlias.

Houve, entretanto, veementes contestaes, inclusive da Imprensa: Assis Chateaubriand, diretor dos Dirios Associados, se expressou, publicamente:

A presena daquela senhora me deixara surpreso. Aquela mulher que eu tinha ante os meus olhos, em atitude de tal energia, me fazia recordar certos personagens de lendas de que eu ouvira falar quando menino.

*Ouvidor e editor do jornal Santa Casa Notcias, Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Associao Mineira de Imprensa, Academia Montes-Clarense de Letras, Academia de Letras de Salinas, Academia de Letras, Cincia e Artes do So Francisco, Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais, Scio Honorrio da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.
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