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Luiz de Paula
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Por Luiz de Paula - 15/7/2011 15:18:06 |
CIDADANIA Luiz de Paula O exerccio em plenitude da cidadania se assenta na conscincia individual de que todos os seres humanos somos senhores de direitos e deveres. Onde esse conceito no se faa presente, ali a cidadania estar sendo seguramente questionada. Est visto que o exerccio da cidadania s pode vicejar e florescer em ambiente onde se possa respirar o oxignio das liberdades pblicas. Os regimes despticos aborrecem a cidadania. Negam-na como atributo da personalidade e da dignidade humana. Em nossos tempos, a fora da cidadania vem crescendo de forma auspiciosa. Da conjugao de vontades interessadas na construo de um mundo melhor tm nascido conquistas preciosas. H um entendimento cada dia mais universalizado de que os direitos pessoais, como propunha Thomas Paine, so uma espcie de propriedade do tipo mais sagrado. Aceitar que o outro portador desses direitos uma forma de fazer reconhecida a condio idntica de que somos tambm investidos. |
Por Luiz de Paula - 13/8/2010 17:11:13 |
O nome Rio das Velhas Luiz de Paula Pela tradio oral, o Rio das Velhas deve seu nome a trs ndias idosas que o bandeirante paulista Bartholomeu Bueno, o Diabo Velho, encontrou acocoradas, em 1701, numa das praias do rio, perto de Sabar. Seus nomes no foram guardados pela histria. Mas foram elas que deram nome ao rio. |
Por Luiz de Paula - 11/8/2010 18:09:10 |
A ALMA Luiz de Paula Pessoas que acreditam na existncia da alma apiam-se muitas vezes na crena de que o homem o que existe de mais importante na criao e no pode findar-se na morte fsica. Este e outros argumentos no me convencem. No sou suscetvel a eles. Hoje, regressando de carro, de Belo Horizonte, vim lembrando-me de meu pai. Recordava-me do quanto ramos amigos. E me pus a pensar. Se houver alma, se houver o outro mundo de que tanto se fala, meu pai e eu iremos nos reencontrar. Nossa amizade era muito grande. Tempo algum a desfar. Seria bom demais para a humanidade se houvesse, realmente, a alma. Esse sopro de Deus, essa energia ou presena fluida, essa essncia imortal, que na crena de muitos nos acompanha na vida. No que me respeita, a f no pode ser forada. Terei de dar tempo ao tempo. |
Por Luiz de Paula - 13/4/2010 12:47:47 |
A MSICA Luiz de Paula A msica a arte de combinar os sons de maneira agradvel ao ouvido. Tem sido cultivada, atravs dos tempos, por todos os povos, e a sua criao, entre os gregos, foi atribuda a Apolo, a Orfeu, a Lino e a Anfio. uma explicao lendria, para a origem da msica, cuja idade no se pode, em verdade, precisar. A sua origem perde-se na noite dos tempos. Ela ter nascido quando surgiu a vida na face da terra. Refulgiu no gorjeio do primeiro pssaro. Embalou os primeiros sonhos de amor do homem sobre a terra. Foi canto de guerra e foi acalanto materno nas tribos primitivas, antes que a mo do homem moldasse o primeiro e rstico instrumento musical. Quem imaginou as linhas, as pautas e os sinais que chamamos notas e que formam ainda hoje a escala musical, foi o monge beneditino Guido de Arezzo, no ano de 1205, adquirindo a sua inveno transcendental importncia para o desenvolvimento da arte musical. O sculo XVI, devido a movimento de renovao artstico, literrio, cientfico, poltico, filosfico e econmico, a que se denominou Renascimento, a msica desenvolveu-se extraordinariamente, ao impulso de gnios com Haendel, Bach, Gluck, Beethoven, Mozart, Schumann, Wagner, entre outros. No sculo seguinte, no perodo chamado pre-clssico, assinala-se o predomnio da msica instrumental, vindo em seguida o perodo clssico, no sculo XVIII, quando a msica atingiu incomparvel pureza e grandiosidade. Segue-se o Romantismo, no sculo XIX, que nos ofereceu as composies de Chopin, Liszt, Wagner, Cezar Frank e outros mais. No dealbar desse mesmo sculo, iniciou-se a fase Contempornea, que estamos vendo ceder lugar fase Nacionalista, na qual cada povo exalta a sua raa, em suas manifestaes espontneas, atravs da revivncia de suas lendas e costumes. O Brasil j alcanou a sua autonomia artstico-musical e hoje a msica de Vila-Lobos, Lourenzo Fernandez, Camargo Garnieri, Francisco Mignone e de outros grandes compositores patrcios atravessou nossas fronteiras e se tornou conhecida e irada no mundo inteiro. Aquele que leciona msica no apenas o professor de uma dada matria. O professor de msica sobretudo um educador que dispe, atravs dessa disciplina, de um meio favorvel ao desenvolvimento do bom gosto e elevao do nvel artstico e cultural de seus discpulos. No se concebe elevado nvel cultural sem o conhecimento da msica. Data do perodo Clssico o estabelecimento da imperiosa necessidade de uma srie de formao artstico-musical; no se improvisa um artista, antes de tudo ele precisa de cultura: aquele que aspirar ao aprimoramento de seus dotes naturais h que cultiv-los nas escolas. No estudo da evoluo da msica, no manuseio das biografias dos grandes compositores e musicistas, tomamos conhecimento da influncia benfica e grandiosa que ela tem exercido na cultura dos povos. Os grandes gnios da msica foram grandes estudiosos, locomoviam-se para os centros adiantados, enriquecendo a sua cultura com idias novas ao mesmo tempo em que davam expanso sua arte e disseminavam os conhecimentos que traziam consigo, tornando-se assim divulgadores de cultura. Os psiclogos e pedagogos tm na msica um auxiliar de inquestionvel valor e hoje j se fala na msica como teraputica de determinadas molstias nervosas, assim como est comprovada a sua benfica influncia para afugentar a fadiga nos ambientes de trabalho. Companheira do homem no trabalho, nas guerras, nos divertimentos, nas escolas, no lar, a msica se constituiu, atravs dos tempos, em elemento propulsor da civilizao, da qual, Ela, a Divina Arte, parcela preciosa a emprestar ao conjunto maior beleza e a completar-lhe o elevado sentido. |
Por Luiz de Paula - 8/4/2010 16:48:27 |
ISTRAO DOS SENTIMENTOS Luiz de Paula As coisas boas, os bons momentos e os bons acontecimentos, a gente deve guard-los bem guardados, para reviv-los, remo-los e muitas vezes, placidamente, tranqilamente, regurgit-los da mente e rumin-los, como fazem os bovinos. Para alimentar nossa alma com as boas emoes que eles trazem. Quanto aos maus momentos, os acontecimentos penosos, que tambm fazem parte da vida, como componentes naturais da existncia, com os quais, por isso, temos tambm de conviver, com respeito a esses, o caminho exorciz-los. utilizar toda a nossa capacidade de filosofar, para aceit-los. E em seguida esquec-los. |
Por Luiz de Paula - 10/12/2009 15:38:19 |
O ANO DA FUMAA Luiz de Paula O ano de 1834 ficou na tradio sertaneja com o nome do ANO DA FUMAA. Segundo ouvi, contado pelos antigos que ouviram de seus pais e avs, o ano anterior fora de seca. E 1834 comeou com chuvas fracas em fevereiro e maro. E s. Por volta do ms de julho o tempo foi pouco a pouco escurecendo, com uma fumaa seca tomando conta de tudo. Vieram os meses seguintes at novembro, e nada de chuva. O cu era de uma cor s, cinzento escuro. O sol era uma bola vermelha, sem brilho, a rondar o cu, onde o vulto das serras no se destacava no horizonte. Era tudo de uma cor s: cinza escuro. No ar, nem a mais leve brisa. Era um mormao contnuo, dia e noite. E o povo a rezar e a fazer penitncia, todo mundo achando que o mundo ia acabar. A Cmara Municipal declarou-se em sesso permanente e criou uma comisso formada por meu bisav Antnio Xavier de Mendona, o padre Azevedo Pereira e o sr. Francisco Vaz Mouro, para adquirir farinha de mandioca, onde houvesse, a fim de distribuir com a populao faminta. Mas tudo tem fim. Dava gosto ver a alegria do povo, quando no finalzinho do ano, o vento e as primeiras chuvas comearam a carregar a fumaa e a lavar a cara do nosso mundo. Foi como se a gente sertaneja estivesse nascendo de novo. |
Por Luiz de Paula - 16/11/2009 16:35:43 |
O DANOSO BARULHO Luiz de Paula Tenho muita sensibilidade ao barulho. Desagradam-me pessoas que conversam muito alto, orquestras tocando a grande altura, todo e qualquer tipo de alarido. Creio que essa idiossincrasia vem de herana materna. Lembro-me de minha me, ocupada em seus afazeres na cozinha, preparando a comida para uma famlia grande, e ns, as crianas, em torno dela, a brigar uns com os outros, correndo, em volta, puxando a saia dela, escondendo atrs dela, s vezes rindo, ou chorando, ou xingando, numa algazarra tremenda, sempre aos gritos, e ela, por fim perdendo a pacincia e, de sua vez, gritando conosco: - Deixem de ser grulhentos, meninos. Deixem de laboro. Vocs esto me pondo doida!... Coitada! At ela, que era a pacincia em pessoa, perturbava-se com o barulho que fazamos. E tinha receio de perder o juzo. |
Por Luiz de Paula - 3/11/2009 12:30:35 |
CHUVA Luiz de Paula Comeava com a cantiga da rzinha rapa-cuia, no mormao. Dia aps dia. Depois o tempo escurecia e os troves rolavam de um lado ao outro do cu. Era a chuva que estava chegando. Os urubus, em bandos, em vo baixo, seguidos de um ou outro retardatrio, procuravam o abrigo das rvores copadas. As andorinhas, quais pequenas procelrias, enxameavam, tontas, no ar, aproximao das primeiras btegas que levantavam poeira na secura do cho. A chegada da chuva era uma festa. Hoje, quando a cena se repete e a chuva chega, escurecendo o cu, tenho saudades daquele tempo em que eu sabia aproveitar uma chuva, misturar-me com ela, ser parte dela. Cala arregaada, peito nu, revejo-me a catar granizos no cho molhado ou recolhendo filhotes de arinhos derrubados dos ninhos pela ventania . Ou a opor barragens de terra s enxurradas e a fazer olho de boi no cho, com o calcanhar e o dedo do p, quando a chuva comeava a ar da conta. Sempre a saltar, aqui e acol, at entrar no raio de ao da voz materna a chamar-me: - Venha pra casa, menino! Venha enxugar a cabea! Vestir uma camisa! Voc vai apanhar uma pneumonia! Coitadinha da pneumonia. Nunca achou entrada em um corpo curado pelo sol e acostumado a mergulhar nas guas dos rios e dos riachos. Hoje, vivendo na cidade, devo preocupar-me com qualquer aragenzinha mais fresca que me pegue desabrigado. |
Por Luiz de Paula - 28/10/2009 10:46:32 |
COMPRANDO E VENDENDO Luiz de Paula Estamos sempre comprando e vendendo. Meu primeiro patro me ensinou a cumprimentar os fregueses e mostrar interesse por eles. Era uma casa de negcios, no interior, que vendia no varejo e atacado, desde a cachaa at os tecidos mais finos. Eu era novato e coube-me o pior balco - o de bebidas e mantimentos a retalho e compra de ovos empalhados. Abramos as portas s sete horas e fechvamos s vinte e uma. O movimento era intenso. Uma luta, sem parar. Eu era quartanista do curso de Cincias e Letras, como se designava ento o curso ginasial, de cinco anos. E fora obrigado a interromper os estudos por falta de recursos. Procurei emprego e encontrei esse. O scio gerente era um azougue. Excelente comerciante, um artista para aliciar freguesia. Eu tinha vontade de ser advogado ou mdico e estava ali cumprindo sina. Trabalhando muito, mas interiormente amargurado. Estava no emprego j havia umas duas semanas, quando o scio-gerente me observou: o pessoal o cumprimenta e voc, s vezes, est de costas e responde sem se voltar. Isso no bom. O pessoal da roa repara essas coisas. Eu ouvi calado e calado fiquei. Mas compreendi muito bem. Naquele mesmo dia, estava de costas para o balco, enchendo de arroz uma medida de cinco litros, para atender a um fregus, quando ouvi a voz de um fregus chegante: - Boa tarde, moo. Ai me virei, executando uma volta de 180 graus. Olhei com um sorriso o recm-chegado. - Boa tarde, amigo! Aguarde um pouco. Vou atender ao senhor neste instante. Aquela volta de 180 graus no foi s no espao fsico. Eu tinha resolvido assumir minha nova posio. Meus sonhos de advocacia ou medicina, muito bons, iam ficar arquivados. Voltei-me, nesse giro de 180 graus, para a minha realidade. Agora vou ser comerciante. O melhor que puder. Isso foi no ms de maro. ramos quatro a trabalhar no balco, incluindo o gerente. Todos, exceto eu, homens feitos, casados, com filhos. Antigos no estabelecimento. Pois bem. No fim do ano, o scio-gerente foi assumir a gerncia da matriz. Sabe qual dos trs foi escolhido para gerente da filial? Isso mesmo: este seu criado. Naquela observao de meu primeiro patro eu aprendi mais: a gente est sempre comprando e vendendo. Seja o que for. Ento, temos sempre de fazer o melhor de que somos capazes. |
Por Luiz de Paula - 19/10/2009 16:52:50 |
MOMENTO NA MANH Luiz de Paula Ferreira Na manh de sol claro o campo est em festa. E um jovem vem vindo pela estrada. distncia pode-se perceber que ele vem brincando com o que encontra pelo caminho. Est alegre e canta, integrando-se no quadro festivo do campo que desperta para um novo dia. V-se que o jovem est por conta da manh. Parece um deus grego a saudar o nascimento do dia. O momento soberbo. Na manh clara de sol vem vindo pela estrada um jovem feliz. A cada novo o sua figura vai se tornando mais precisa. Mais prximo agora, pode-se v-lo melhor. Eis que de perto surpreende: sua face plida. Seu corpo franzino. Seus ps, descalos. Suas vestes, pobres. Mas por sobre toda essa revelada mostra de penria impe-se a resplendente impresso de felicidade que flui de sua pessoa. O rosto singelo oferecido brisa e ao sol da manh. Os olhos risonhos a participarem de tudo. A boca a desenhar um sorriso enquanto canta. Os gestos naturais, o corpo gil, os os lpidos - todo ele a ressumar tranqila e genuna alegria diante da vida. A expressar total comunho com o esplendor da natureza na manh nascente. A natureza e o caminhante compem um quadro de extremada harmonia e beleza. Aquele jovem um ser real. Todos ns j o encontramos muitas vezes em nosso caminho. Ele existe. E ensina que a felicidade no est nas riquezas materialmente mensurveis. A humanidade supe que a est criando atravs de hierarquias e valores contabilizveis. Mas a natureza, muito mais sbia e justa, colocou as sementes da felicidade no mais profundo do corao da criatura humana. E a, somente a, que essas sementes germinam. Abrem-se em flor. E frutificam. |
Por Luiz de Paula - 14/10/2009 10:02:44 |
ALM E ACIMA DAS PALAVRAS Luiz de Paula Na criao literria acontece muitas vezes estabelecer-se uma compreenso que transcende o que vem escrito no texto. um entendimento que se realiza, se assim pode ser dito, em outra dimenso. Que se manifesta por meio de palavras que ficam por dizer. Parece estranho. Mas acontece. o sentido oculto pelas palavras. O exemplo seguinte especfico. O texto uma quadrinha. Brigamos. E da vida ao largo Lancei minhas velas loucas. Voltei, h um gosto amargo Nos beijos das outras bocas. A mensagem do autor no aquela contida nas palavras escritas. Fica por conta dessa interao autor/leitor de que no incio falamos. Ou no falamos ? No falamos. Ficou implcita. Alm e acima das palavras. |
Por Luiz de Paula - 2/10/2009 10:24:45 |
TEXTO E MELODIA Luiz de Paula Sempre gostei de cantar. Desafinado. Desde a infncia. Tenho boa memria para letras e melodia. Recordo-me das canes em voga em cada fase de minha vida. E ao ouvi-las ou relembr-las me transporto poca em que eram cantadas. Gosto de ouvir uma melodia adequadamente casada a um bom texto. Aprecio encontrar um assunto trivial bem posto numa melodia simples e correta. Aqui vo dois exemplos. O primeiro um xote de Luiz Gonzaga: Seu delegado, digo a vossa senhora eu sou filho de uma famia que no gosta de brigar. Mas trasantonte no forro de Man Vito tive de fazer bonito, a razo vou lhe explicar. Praqu, pral, pral eu danava com a Rosinha quando o Zeca de Saninha me probe de danar... Quando ele diz praqu, pral, pral, chego a ver o fole da sanfona se abrindo e a ouvir o rosnado crescente dos baixos. E o cabra e a Rosinha, agarrados um ao outro, saltitando na cadncia buliosa da rancheira. Outro exemplo que tambm me ocorre de um samba que diz assim: Quando o carteiro chegou e meu nome gritou com uma carta na mo, ante surpresa to rude confesso nem pude chegar ao porto. A tambm se encontra o relato de uma ocorrncia trivial valorizada por uma trilha musical adequada que produz toda a carga emocional que se lhe quis dar. |
Por Luiz de Paula - 28/9/2009 10:08:00 |
PARCERIA COM DEUS Luiz de Paula Falavam do sonho de uma mulher com o pai, j falecido. Ela sentia remorsos, pois entendia que durante a doena do pai no o tratara com a pacincia e os cuidados devidos. No sonho o pai lhe dizia que aquilo no tinha a menor importncia. Ele estava feliz e desejava que ela tambm se sentisse feliz. A mulher se apaziguou. Os remorsos desapareceram. Quiseram ouvir a minha opinio. No sou um especialista, eu disse. Mas entendo que as manifestaes consoladoras, atravs de sonhos, para desfazerem sentimentos de culpa, so projees do prprio inconsciente. Que muitas vezes utiliza a figura de anteados para maior eficcia do processo de cura. Mas isso no constitui farsa nem mentira. O inconsciente intermedirio legtimo nesses processos. O inconsciente tem parceria com o Deus. A ltima frase ocorreu-me de repente, espontnea e completa. Fiquei a imaginar se no assim que nascem as revelaes. |
Por Luiz de Paula - 23/9/2009 14:49:43 |
O CASO DOS SELOS POSTAIS Luiz de Paula O seu Candinho Bernardino de Souza era o agente do correio. Era casado com Dona Mariquinha, a melhor quitandeira do lugar. Na ocasio o seu Candinho j ultraara a casa dos 70 anos de idade. Dona Mariquinha era pouco mais nova. Ele cultivava respeitvel barba branca e era asmtico. Para combater resfriados, nos tempos de chuva, tomava rap e seus espirros eram ouvidos em todo o centro do lugarejo. A Dona Mariquinha, o ajudava, vez por outra, nos servios da agncia, instalada na sala de frente de sua residncia, com prateleiras ao fundo, e um tosco balco de madeira destinado a manter o pblico distncia de sua rea de trabalho. Era uma velha risonha e amvel, sempre com uma palavra boa para quem a procurasse. Certo dia meu pai mandou-me comprar 50 selos de duzentos reis. Era o selo que levava uma carta simples. Nesse dia o seu Candinho estava acamado, curtindo um de seus os de asma. Eu fui atendido por Dona Mariquinha. Depois de perguntar amavelmente pela sade de meu pai, de minha me e de meus irmos, ela apanhou a folha de selos, contou-os e entregou-me. Assim que sa, verifiquei, com minha vista esperta de menino, que a folha de selos estava dobrada e que a Dona Mariquinha contara s um lado. Em vez de me entregar 50 selos ela me entregara 100. No corri. Voei. E ao chegar venda, entreguei a folha de selos a meu pai alardeando o lucro que havamos conseguido. Minha vida de menino criado na roa, convivendo com a velhacaria dos bichos no mato, havia me ensinado a ser esperto. Naquela hora, era minha esperteza, sempre exercitada, que me dava aquela alegria. Meu pai estava em sua mesa, escrevendo. Deixou de lado o que fazia, virou-se para mim, recebeu de minhas mos a folha de selos, contou os cinqenta que me incumbira de comprar, devolveu-me os outros e me disse: Estes, meu filho, ns no compramos. So da agncia. Devolva-os Dona Mariquinha. E mostre a ela, sem ofend-la, como foi que ela se enganou. Para que no caia em outra. Mas cuidado. No deixe o seu Candinho escutar. Seno ele vai achar que ela est ficando velha... |
Por Luiz de Paula - 10/8/2009 09:37:55 |
O QUE A VIDA? Luiz de Paula Quando procuramos entender o que somos acontece esbarrar-nos, muito perto de ns, no desconhecido. E mais do que no desconhecido, no inexplicvel. Santa Tereza comparou nossa vida tudo o que somos, sentimos e realizamos no decurso de uma existncia a uma noite ada em um mau hotel. Li algures que a vida uma equao espao/tempo entre dois nadas. Eu diria que a vida um dia de sol claro entre dois mistrios. Ou uma chama no infinito, que reluz por um momento e se apaga em meio noite eterna do tempo. |
Por Luiz de Paula - 4/8/2009 11:04:54 |
O BICHO HOMEM Luiz de Paula A idia de que o primeiro homem j apareceu adulto, no paraso, bate bem com o fato de que o filhote humano nasce inteiramente dependente. Sem os cuidados de outrem no teria condies de sobreviver. Mas a razo est mesmo com Darwin. Houve a evoluo, sem pressa, como do gosto da natureza, e os filhotinhos foram perdendo a selvageria e a rusticidade animal. Em proveito da inteligncia que evoluiu em milhes de geraes sucessivas, at dar no que a est. Um filhotinho ainda frgil, carente de tudo e de todos, que no sobrevive se no tiver quem o aquea e alimente. Mas evoludo e criativo. Nasce to frgil, to desamparado, to bonitinho... Nem parece que seus ancestrais esto urrando nas matas. Mas vejamos como so as coisas. Com toda essa aparncia de fragilidade e mansido, o homem , sem dvida, o espcime mais feroz de toda a criao. At o leo e as serpentes o temem. A selvageria ficou apenas adormecida. E a inteligncia, que iluminou sua ascenso, ensinou-lhe mil modos de torturar e matar. As guerras assim o comprovam. O bicho homem. Ainda mais bicho do que homem |
Por Luiz de Paula - 27/7/2009 17:06:34 |
TAPERAS Luiz de Paula As antigas estradas do serto de Minas renteavam taperas de um lado e outro, com vestgios de labor e vida que o tempo vinha aos poucos apagando. O viajor que percorria essas estradas, obrigado, muitas vezes, a romper distncias pela noite a dentro, antecipava a presena dessas velhas habitaes que um dia abrigaram risos, sonhos, esperanas pelo aroma que chegava s estradas, conduzido pela brisa da noite, vindo de plantas caseiras plantadas, como era costume, por dedicadas mos femininas. Das muitas viagens que fiz por aquelas estradas, guardo at hoje terna lembrana que me ficou dessas taperas invadidas pela vegetao agreste, com suas paredes e telhados em runa, a recender a jasmim, bogar, manjerico. Na solido da noite. |
Por Luiz de Paula - 21/7/2009 09:56:09 |
SOMOS TODOS IRMOS Luiz de Paula Os gnios e os santos, em suas vibraes interiores, alcanam por vezes a revelao do desconhecido. Dialogam com o ado, antevem aspectos do futuro, devassam o mistrio do tempo. Einsten, em um salto mental, anteviu a lei da relatividade. E s depois armou a equao. Vindo do fim para o princpio. Do Big-Bang at hoje, calcula-se que j transcorreram 13.7 bilhes de anos. Naquele complexo de energia que explodiu e ou a distanciar-se de seu centro, em todas as direes, j estavam as nossas origens. L j estava a fonte primria de tudo: flora, fauna, minerais, tudo. Lavoisier disse: na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Ensinou o Santo de Assis que os animais, as rvores, as pedras so nossos irmos. |
Por Luiz de Paula - 23/6/2009 11:01:45 |
A VERDADE Luiz de Paula Quando Deus criou a Verdade, o demnio, com inveja, criou a Mentira. Soltas, no mundo, eram muito diferentes, uma da outra. A Verdade vestia-se com singeleza e cobria-se com o manto da sinceridade. A Mentira vestia-se com espalhafato. Para melhor enganar ao mundo. Mas era logo reconhecida e repudiada. Certa ocasio a Verdade viajava de uma cidade para outra, quando, ao lado do caminho, divisou um lago muito tranqilo, de guas cristalinas. A beleza das guas, a tranqilidade do local, a suavidade da hora fizeram nascer na Verdade o desejo de banhar-se. A Mentira, que estava um pouco frente, a fugir da Verdade, ao v-la a banhar-se nas guas do lago, voltou-se e s escondidas, p ante p, por trs dos arbustos, roubou seu manto. Desde ento a Mentira gosta de apresentar-se vestida com o manto da Verdade. |
Por Luiz de Paula - 15/6/2009 17:06:05 |
A CHEGADA DA NOITE Luiz de Paula Com um derradeiro rabo de olho o sol se despediu da tarde que morria e desapareceu atrs da morraria distante. Os pssaros j haviam calado o canto e o gado de pastoreio buscava o malhadouro onde tinha assemblia geral. Pouco a pouco as sombras foram crescendo e ateou-se o lume das estrelas. C em baixo as corujas se espreguiaram nas pontinhas dos ps. E os vaga-lumes acenderam os fachos e foram ver o que era. Era a noite que estava chegando... |
Por Luiz de Paula - 3/6/2009 12:10:25 |
LEMBRANAS No serto onde eu nasci canta a juriti, canta o lenhador. As moas danam a ciranda e cantam cantigas de amor. O sino da tarde me lembra saudoso daquelas paragens onde eu nasci, daquelas casinhas beira da estrada, do sonho de amor que ali eu perdi. Na maturidade, e mais que na maturidade, na velhice, constante o aflorar das lembranas nas horas vazias. H uma carga de recordaes muito fortes em quem envelhece. Eu expresso isso na CANO DE UMA SAUDADE ANTIGA. So acontecimentos, so pessoas e ocasies que participaram do enredo de nossa vida. E deixaram sua marca. Luiz de Paula |
Por Luiz de Paula - 25/5/2009 15:15:27 |
AQUELAS TARDES Luiz de Paula No interior h menos pressa no viver. H mais tempo para conviver com as pessoas e adequado silncio para ver e sentir a natureza. Lembro-me de como eram bonitas e tranqilas as tardes no povoado. Tudo em volta contribua para o encantamento reinante. A largueza dos horizontes, amplos, em todas as direes em que se estendesse o olhar. O canto dos pssaros. O mugir do gado. E a magia das cores do pr-do-sol. Como era agradvel sentir o cheiro da natureza e ouvir os rumores da tarde se encaminhando para o crepsculo. E contemplar aquela vastido entre o cu e a terra. O cu to azul, to puro, to majestoso. E to perto!... |
Por Luiz de Paula - 21/5/2009 14:46:01 |
AMANHECER Luiz de Paula Na varanda da Fazenda Capim Verde olho ao longe a Serra dos Mrtires. No cu, as estrelas comeam a esmaecer. o despertar da noite. a madrugada, filha da noite, que se faz dia. H uma beleza mansa e indefinvel nessa hora em que toda a natureza comea a oferecer-se em cores alegres e aromas dos campos. Muita coisa acontece nessa hora mgica da madrugada. So os galos a amiudarem o canto. So animais da noite, retardatrios, que, velozes, procuram ocultar-se nos restos de sombras, deixando os rastros impressos no cho molhado do orvalho. No horizonte, so as cores do novo dia que comeam a mostrar-se, abrindo caminho para o sol, que vir cobrir a imensido sertaneja. As tardes so belas. Mas a beleza das tardes tem a tristeza das despedidas. A madrugada esperana. |
Por Luiz de Paula - 7/5/2009 09:18:17 |
SEBASTIO Luiz de Paula Meu tio Baslio de Paula, irmo de meu pai, gostava de dizer que no acreditava em almas do outro mundo e coisas semelhantes. Mas contava um caso em que dizia estar pernoitando em uma mata e fez uma fogueira para alumiar o local e espantar os bichos do mato. A certa altura chegou um galo e comeou a esquentar-se, aproximando do fogo ora uma asa e ora a outra. Ao longe, algum gritou: - Sebastio! No houve resposta. E a voz tornou a gritar - Sebastio! Ningum respondeu. Na terceira vez, quando a voz novamente se fez ouvir, o galo, que a cada grito crescia um pouco, cresceu mais uma vez e respondeu num grito forte: - Sebastio no t aqui no!!! |
Por Luiz de Paula - 17/3/2009 11:34:22 |
O SOL DAS CIGARRAS Luiz de Paula (*) No serto onde nasci, canta o juriti, canta o lenhador. O serto muito bonito. Aqui a natureza no agride o ambiente com mudanas bruscas. Cada nova estao anunciada com antecedncia pelos muitos sinais da natureza. As chuvas ocorrem at maro, com alguma normalidade, embora escassas, como sabemos. Em abril poder chover ou no. A partir da o calor vai diminuindo e um friozinho comea a chegar, aos poucos, ao como dos dias. Quando voltam as chuvas, o serto inteiro pe-se em festa. O campo reverdece, as guas cantam nos riachos, os bichos do mato se movimentam espertos e alegres. E os pssaros multiplicam-se e cantam em toda parte. As chuvas, que trazem toda essa renovao, comeam a chegar no final de outubro ou incio de novembro. Mas antes disso, de agosto para setembro, a natureza d o ar de sua graa. Oferece um agrado ao serto. a chuva de brtos. No ainda a estao chuvosa. uma amostra. Um afago dos cus. A chuva de brtos dura pouco. Molha o cho e vai-se embora. E uma cortina de bruma seca, prpria do tempo, vai-se formando e se antepondo ao sol, cujos raios se abrandam e levam a tudo que alcanam as serras, os montes, as matas, os vales, as campinas, os centros urbanos uma claridade doirada de leveza tal s vista nessas gloriosas tardes estivais. o sol das cigarras. As tardes, nessa ocasio, revestem-se de uma beleza tranqila que nos descansa a alma. No ar, voam os pssaros, festejando a vida. E as cigarras, rainhas sonoras da paisagem, cantam a sinfonia do final do estio. (*) Industrial da rea txtil Escritor Montes Claros/MG |
Por Luiz de Paula - 18/2/2009 11:05:14 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 78) TRABALHAR PRECISO Se eu houvesse nascido rico, teria sido um desperdcio. Porque a idia de riqueza jamais ocupou minha mente. Aos 7 anos j ajudava meu pai, na venda. Aos 9 anos, em Montes Claros, comecei como engraxate. Dava para as graxas e as tintas e para os cadernos da escola. E para a coalhada no Bar do Sinval e para acompanhar os filmes seriados das sextas-feiras. E deu muito mais. Deu para me acostumar a trabalhar e a ganhar dinheiro. Depois foi o trabalho no balco, na roa e na cidade. A dedicao ao trabalho no comrcio. Enquanto isso, o estudo noite, e a formatura em contabilidade e direito. Recordo-me que aos 21 anos, ao voltar da roa para Montes Claros, consegui uma vaga em um quartinho de 3 m x 3 m, com trs camas, na rua do Pedregulho. Sob o teto baixo, de meia gua, de telhas comuns, havia um velho forro de pano, todo estufado e manchado pelas guas das goteiras e com trs ou quatro buracos, por onde, noite, nos espiavam os sarus que ali viviam e que, em suas brigas, acontecia de vez em quando carem sobre as camas. Conforto? Tnhamos direito a banho em gua corrente, no rio Vieira, somente possvel noite. Saltvamos a janela que dava para o pasto do senhorio, com o maior cuidado para no atrairmos a ateno de sua matilha de cachorros. A atividade no comrcio evoluiu para a indstria na condio de empregado, por muito tempo, e depois por conta prpria. Mais adiante, a abertura para a poltica, no desejada e felizmente por tempo limitado. Vieram as eleies para vice-prefeito de Montes Claros e depois para a Cmara Federal. Foi uma abertura, como disse, no desejada nem procurada e que se encerrou em 1970. Meu destino me conduzia sempre para a atividade empresarial, na indstria, no ramo algodoeiro. Da Usina de Beneficiamento de Algodo nasceu a motivao para a criao da COTEMINAS. Pela mo velha do tempo estou chegando aos 90 anos. No fiquei rico. De bens materiais, claro. Nasci pobre, na roa. O trabalho proporcionou-me recurso para criar e educar 5 filhos. Entre a caixa de engraxate e a Fbrica de Tecidos no houve grandes mudanas. Os princpios foram sempre os mesmos. Trabalhar bem, com dedicao e economia. E reinvestir os ganhos. Com prudncia. (Com esta parte, de nmero 78, o montesclaros.diariomineiro.net encerra hoje a publicao do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos", de Luiz de Paula Ferreira, livro com tiragem diminuta, apenas para o crculo familiar. Agradecemos ao autor a permisso para public-lo em forma de folhetim) |
Por Luiz de Paula - 14/2/2009 10:15:09 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 77) O INGRESSO DE VRZEA DA PALMA NA ERA DA INDUSTRIALIZAO No incio do ano de 1968, o empresrio Luiz de Paula foi procurado, em Montes Claros, por dois amigos seus, empresrios em Belo Horizonte. O mdico Eloy Heraldo de Lima e o engenheiro Murilo Boechat, diretores de uma fbrica de cermica artstica, a MAILICA Eles queriam ouvi-lo sobre os incentivos da Sudene e desejavam tambm seu conselho para a escolha de um bom local para implantao de uma fbrica de azulejos na regio. A razo para procurarem o dr. Luiz de Paula estava ligada ao trabalho de divulgao que ele havia feito dos incentivos da Sudene e das potencialidades da regio norte-mineira, quando visitou 42 cidades como Governador de Rotary International. Era uma sexta-feira. Eles conversaram longamente. O empresrio Luiz de Paula forneceu-lhes relato completo sobre a legislao incentivadora da Sudene e explicou, em detalhes, como a Sudene operava no apoio aos projetos aprovados para a regio. ando ao segundo tpico de interesse dos visitantes, ele indicou a cidade de Vrzea da Palma como um bom local, a seu ver, para implantao do projeto no qual estavam interessados. E justificou sua indicao enumerando alguns pontos positivos que l iriam encontrar. Energia eltrica de Trs Marias gua do Rio das Velhas Matria prima: argila e caulim Localidade servida por ferrovia e rodovia Mo-de-obra abundante (seria o primeiro projeto a ser implantado na localidade) Doao do terreno pela Prefeitura Equipamentos sociais: hospital, escola etc. Iseno de tributos municipais por 10 anos Proximidade de Belo Horizonte. Comparada com Montes Claros, por exemplo, a diferena na distncia, para menos, era de 100 quilmetros. O dr. Eloy Heraldo de Lima e o dr. Murilo Boechat ficaram entusiasmados com as informaes recebidas. Vibraram. Mas disseram que no conheciam Vrzea da Palma. E perguntaram se ele poderia acompanh-los em uma visita ao local. O dr. Luiz de Paula colocou-se disposio deles, para acompanh-los, e marcou a visita para a tera feira da semana seguinte. Na vspera, segunda-feira, ele marcou o encontro com o prefeito Marcino Telles de Castro. A idia de levar uma fbrica para o lugar foi surpresa para o prefeito. Mas, na tera-feira recebeu bem o dr. Luiz de Paula e seus amigos. Difcil foi convencer o prefeito a doar o terreno. E era natural que assim acontecesse. Mas quando o dr. Luiz de Paula o informou de que outros municpios estavam doando terrenos, empenhados em aproveitar a legislao incentivadora da Sudene, e que aquele primeiro e importante projeto iria chamar a ateno de investidores para Vrzea da Palma, e colocar o municpio na rota do desenvolvimento, o prefeito compreendeu. E concordou. O projeto foi aprovado pela Sudene em 23 de abril de 1969 e comeou a operar em 1973, integrando-se, mais tarde, ao Grupo ELIANE. A fbrica atualmente uma das mais modernas do pas. Durante a implantao do projeto, o diretor Murilo Boechat, conhecendo melhor as potencialidades locais, mandou elaborar o projeto da AOPALMA Indstria de Ao de Vrzea da Palma S/A, o qual foi aprovado pela Sudene em 27 de maro de 1974. A fbrica de azulejos teve mudanas em sua diretoria. Um dos novos diretores, o economista Roberto Brant, elaborou o projeto de uma fbrica de ferro silcio, FeSi 75, denominado ITALMAGNSIO NORDESTE S/A adquirido e implantado, mais tarde, pelo industrial Giuseppe Trincanato, de So Paulo. O engenheiro Ricardo Antnio Vicintin, do Grupo ELETROMETALUR, de So Paulo, tomando conhecimento do novo plo industrial, visitou a cidade e decidiu sediar ali seu projeto de produo de ferro-ligas, sob a denominao de ELETROMETALUR INDSTRIA E COMRCIO S/A, aprovado pela Sudene em 18 de junho de 1976. Hoje uma das maiores empresas do setor, em Minas Gerais, sob a nova denominao de RIMA INDSTRIAL S/A. O empresrio Leonardo Augusto Ferreira, de Belo Horizonte, conheceu a cidade, a convite de empresrios locais, e implantou a SIDERRGICA MINAO S/A, com projeto aprovado pela Sudene em 17 de junho de 1974. A partir da implantao daquele primeiro e importante projeto industrial a PALMASA, hoje ELIANE, Vrzea da Palma ficou conhecida como nova e atrativa opo para novos empreendimentos e ingressou no ciclo de desenvolvimento industrial criado pela Sudene. A Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenao Geral, atravs do INFORME SUDENOR, de abril de 1982, informa que as cinco unidades fabris acima mencionadas criaram para comunidade varzeopalmense 1.815 novos empregos diretos. A chegada das indstrias trouxe o desenvolvimento econmico e social, como o dr. Luiz de Paula havia assegurado ao prefeito Marcino Telles de Castro, nos idos de 1968. A cidade cresceu, o comrcio expandiu-se, os imveis valorizaram-se. A populao, que era de 13.358 pessoas, em 1970, de acordo com o Anurio Estatstico do Estado de Minas Gerais, de 31.632, conforme divulgado pelo censo do ano 2000. Hoje Vrzea da Palma o 3 maior plo industrial da rea Mineira da Sudene. A indicao de Vrzea da Palma aos criadores da PALMASA, para ali implantarem o seu projeto e a sugesto ao Prefeito, para doao do terreno, foram decisivos para o desenvolvimento econmico e social de Vrzea da Palma. A doao do terreno foi um bom incentivo para os empreendedores da fbrica de azulejos. Mas foi, principalmente, um excelente negcio para a Prefeitura e para Vrzea da Palma. Quem bem fizer as contas, ir verificar que nestes vinte e tantos anos de operao, as fbricas instaladas j retornaram Prefeitura, na forma de tributos e em benefcios de ordem social, muitas vezes mais do que o incentivo a elas concedido. Aquela fase de rpida expanso industrial no Norte de Minas ou. No existe mais. Acabou a participao acionria da Sudene, de trs vezes o valor da participao do empreendedor. Secou a fonte que alimentava generosamente os projetos industriais. Se naquela histrica tera feira, no incio do ano de 1968, o prefeito no aprovasse as iniciativas do dr. Luiz de Paula, Vrzea da Palma teria perdido o bonde da histria. Vrzea da Palma hoje uma cidade moderna e progressista, com todos os equipamentos sociais de uma cidade de seu porte. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 11/2/2009 11:44:14 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 76) DE VOLTA AO ADO Seriam 9 horas da noite, ou pouco mais. Sentado em uma das cadeiras que havia na calada da casa em que me hospedara, eu tinha minha frente a rua em que nascera e vivera a infncia, naquele povoado. A casa que pertencera a meus pais, ao lado, pouco mudara. Quem estaria agora morando ali, naquela casa onde eu nascera e vivera os felizes anos da infncia? Perguntei-me em pensamento. Minha viagem era de servio. Eu estava a pensar nas atividades do dia seguinte mas aos poucos minha ateno foi se voltando para um grupo de crianas que brincavam de pique, correndo para um lado e outro, entrando e saindo das sombras que um grupo de mangueiras recortava no claro da lua. De onde me encontrava eu enxergava bem os vultos, o contraste das calas escuras e camisas claras e adivinhava os suspensrios de pano, mas no distinguia as feies dos soldados e bandidos de brinquedo. A cena levou-me ao ado. O stio era o mesmo. O tempo repetia-se. H 20 anos eu era um daqueles meninos. Por que no identificar-me com um deles? As crianas so parecidas, umas com as outras. Seria aquele mais esperto? E ei a lembrar-me do menino esperto, solto como o vento, que eu fra, a brincar naquela mesma rua, naquele mesmo cho poeirento, sob o mesmo luar, num ado distante. Que sensao estranha... Sem dvida, aquele menino mais esperto, seria eu. S um detalhe faltava. Mas esse detalhe veio de repente, numa coincidncia que me emocionou. Assomando porta, na casa ao lado, uma mulher chamou, com voz clara e forte: - Luis, vem pra casa, menino! Sai dessa poeira! No obtendo resposta, a me voltou a chamar. - Entre pra dentro, Luis. T na hora de dormir... Vem depressa... Tal como acontecia h 20 anos... NA ESTRADA Na sada da curva, ao avistar a longa reta, a primeira viso do motorista, pouco adiante, foi dos carros da Polcia Rodoviria, parados no acostamento. Um policial estava examinando os documentos do motorista de um caminho e um outro policial aguardava a chegada do prximo, que, no caso, era o dele. T frito! Foi seu primeiro pensamento. Mas reduziu a marcha e parou no acostamento. O policial aproximou-se e pediu a documentao. O motorista apelou para a coragem e fingiu desembarao. Ih, rapaz! Eu tenho documento aqui que no acaba mais... Veja este aqui. a carteira de reservista. Primeira categoria! Barra pesada! Um ano e meio no exrcito! Esta outra da Associao dos Repentistas. Eu sou poeta. Escrevo livros de cordel. So histrias muito boas. Em versos e sem ser em versos. E tem esta que do INSS. E mais esta. No brincadeira no! Hoje em dia, um cristo, pra trabalhar tem de ter documentos que no acabam mais. Mas bom estar com tudo em ordem, no ? A cara do policial no mudava. Permanecia imvel. E falou E essa garrucha? O cabo est aparecendo debaixo da almofada. Voc tem o porte? Que isso, moo! Essa garrucha velha eu acabo de receber agora, na estrada, em pagamento de uma dvida que eu j dava por perdida. Quando chegar na cidade a primeira coisa que vou providenciar o porte dela. E essas balas? Perguntou o policial apontando um saquinho de plstico entupido de balas. Deixe eu ver... Viche! Ah! Isso tudo bala velha, com a validade vencida, que a gente vai ajuntando pra jogar fora. Para mim elas no valem nada. Se o senhor quiser eu posso dar elas para o senhor. E esse ageiro a seu lado? O senhor tem autorizao para conduzir ageiro? No ageiro no, meu amigo! meu ajudante! Nestas estradas cheias de buracos, quebrando molas e furando pneus e cmaras a toda hora no podemos viajar sem ajudante... O policial retirou-se e o motorista ps o carro em marcha. E comentou com o ageiro: Vou dizer para o senhor... Essa Polcia Rodoviria exigente demais. por essas e outras que o Brasil no vai pra frente... (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 7/2/2009 12:46:13 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 75) O CAIXEIRO Ser caixeiro de loja de tecidos e armarinho era uma das boas opes de trabalho para os jovens nas comunidades urbanas do interior, at as primeiras dcadas do sculo ado. O emprego era modesto e mal remunerado, mas revelava-se, ao mesmo tempo, verdadeira escola de vida. O caixeiro tinha a oportunidade de conviver com toda a comunidade, inclusive com as moas mais bonitas e mais ricas do lugar. Muitos namoros e casamentos nasceram nos balces das lojas. Eram tempos de costumes rgidos. As moas eram criadas sob o jugo paterno, voltadas para os trabalhos caseiros e para a religio. Os pais diziam: lugar de moa solteira dentro de casa, ajudando me. A imensa maioria da populao era pobre. Mas de uma pobreza sem misria, equilibrada e digna. A populao era melhor distribuda entre as cidades e o campo. No havia o consumismo de hoje. E no faltava trabalho para quem quisesse trabalhar. Havia, sem dvida, pessoas que se destacavam por suas posses materiais. Eram geralmente fazendeiros e comerciantes. Nesse universo humano, o caixeiro de loja era de certa forma um privilegiado. A atividade comercial aprimorava seus conhecimentos. O caixeiro aprendia a conversar com desembarao e estava sempre a par dos acontecimentos, pois as casas comerciais eram pontos de reunio e discusso das novidades. Ele era recomendado a ser atencioso e afvel no atendimento aos fregueses. E assim procedia, inclusive com as moas do lugar, ao mostrar-lhes bonitos tecidos e outras mercadorias. Voc fica mais bonita com vestidos desta cor. Para voc, que tem os olhos verdes, fica muito bem esta correntinha de ouro. E assim por diante. Acontecia, s vezes, o namoro iniciado no balco ganhar corpo e prosseguir nos bailes, nos piqueniques, nas sadas da igreja e em locais de lazer da comunidade. A brincadeira estava ficando sria. Muitas vezes acontecia evoluir para paixo. De ambos os lados. Quando a namorada tambm era pobre, o casamento se realizava sem maiores transtornos. Muitos de ns, que nascemos no interior, viemos desses casamentos. No caso das filhas dos comerciantes e dos fazendeiros, por comum os pais j tinham em mente algum parente, dali mesmo ou de outra localidade, ou filho de um compadre, ainda que a moa pouco os conhecesse. Ou um jovem mdico ou advogado, ou outros profissionais de bom nvel, se os houvesse na comunidade. Enfim, os pais encontravam sempre um marido conveniente para a filha, como era tradicional e de sua obrigao. O caixeiro um bom rapaz, eles diziam Mas sem condies de constituir famlia. ainda muito novo. E meio malandro. Gosta de jogar bola e tocar violo. Isso no ajuda a criar famlia e nem leva ningum pra frente. So coisas de quem no tem vontade de vencer na vida. Criava-se uma situao de muito choro e sofrimento para a moa e de frustrao para o rapaz. Mas os pais sempre tinham razo. E o casamento se fazia a seu gosto. E dava certo. Para aqueles tempos. Alguns de ns, em muito menor nmero, descendemos desses casamentos. E o rapaz? O rapaz ficava de asas cadas, por algum tempo. Era nessa fase traumtica que nasciam as modinhas apaixonadas. Poemas de dor, de inconformismo. Mensagens de amargura endereadas ao corao da pessoa amada. Muitas dessas desditosas mensagens conquistaram o agrado pblico e chegaram at ns pelo restolhar do tempo. Algumas no obrigatoriamente criadas pelos caixeiros, mas dentro da linha emocional das que eles prprios compunham. Mais tarde o rapaz casava-se com uma jovem de seu meio. E a comunidade ava a ter mais uma famlia constituda. E o mundo mais um filsofo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 4/2/2009 12:06:27 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 74) CANO DO CENTENRIO A cano Montes Claros Centenria foi composta no incio do ano de 1957, a pedido do Prefeito, Dr Geraldo Athayde e do Dr. Hermes de Paula, Presidente da Comisso de Comemorao do Centenrio. Eles queriam que eu fizesse um hino. Eu lhes disse que poderia tentar uma cano. Fiz a cano. Todos gostaram. A Prefeitura mandou fazer a gravao nos ento modernos discos de 78 rotaes. No havia ainda os discos de vinil. Com o ar do tempo tomou corpo a idia de regravar a cano em discos de vinil, de 33 rotaes, inquebrveis. Amigos meus sugeriram alguns nomes de cantores. ei ento a aceitar a idia de lanar o novo disco nos 125 anos da cidade. Mas quem teve realmente ao decisiva no caso foi o presidente da SICAM, uma sociedade de direitos autorais de So Paulo. Conheci-o por intermdio de um cantor, que posteriormente chegou a ser diretor da SICAM. Era natural de Janaba e chamava-se Neurisvan. Falei com ele que era bom mudar o nome. Seu nome parece nome de remdio eu disse. Sentamos numa mesa, com o Afrnio Temponi, Alencar Cearense, Benedito Maciel e outros. Conversa daqui, conversa dali, mudamos o nome para Eddy Franco. Ele ficou muito feliz de nome novo. Com esse nome ingressou no meio artstico da capital paulista. Foi por intermdio do Eddy Franco que conheci o Adilson Godoy, diretor da SICAM. Inicialmente o Adilson props que a mulher dele, excelente cantora de So Paulo, fizesse a gravao. Mas eu, lembrando o analista de Bag, bradei: Que isso, ndio velho! Para gravar Montes Claros Centenria tem de ser cantor macho! cano pra homem. Ele ento sugeriu o Carlos Galhardo e a coisa deu certo. Conhecer pessoalmente o Carlos Galhardo foi para mim uma grata surpresa. Ele era um gentleman. De trato ameno, civilizado, muito ligado famlia, empenhado em bem educar a filha. Tinha conscincia de seu lugar na msica brasileira mas no se envaidecia com isso. Combinamos a gravao das duas msicas, marcando uma apresentao em Montes Claros, para relanamento da Cano do Centenrio no Automvel Clube. Entreguei a ele as partituras e ele escolheu o arranjador e os msicos, todos da orquestra do Teatro Municipal. Do melhor nvel que havia. Assisti gravao. um trabalho cansativo. Em primeiro lugar foi gravado o acompanhamento, sob a batuta do maestro arranjador. E os msicos foram dispensados. S ento o Carlos Galhardo assumiu o microfone, em frente ao maestro, ambos com fones no ouvido, para ouvirem a orquestra e encaixar a voz. Por sugesto do Carlos Galhardo o Quarteto em Si foi convidado para fazer a introduo da msica e cantar o refro. Aps duas ou trs experincias o trabalho foi dado por encerrado e a gravao foi reada para se ouvir o resultado. Todo mundo gostou. Na ocasio ocorreu um episdio anedtico. O Carlos Galhardo estava cantando o lado B, quando chegou ao estdio um cidado nordestino, vestido espalhafatosamente, com um terno cor de abbora, camisa roxa, gravata amarela, sapato de duas cores. Ao chegar disse que era advogado e amigo do cantor. Quando o Galhardo deixou o microfone, o camarada abraou-o efusivamente: - Galhardo, voc est com o mesmo gog de ouro que sempre teve. Se voc quiser eu vou processar a Odeon por no estar lanando novos discos seus. Voc no pode parar. Voc est cantando bem demais. Eu ouvi bem o samba que voc acabou de cantar. J havia lido a letra, aqui, sobre a mesa. Uma merda. Mas na sua voz virou um sambo bonito pra caramba. Esse outro, o Monte Claro, esse j nasceu bom. (Para ouvir a msica Montes Claros Centenria, clique aqui) (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 31/1/2009 08:31:31 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 73) FBRICAS DE TECIDOS EM MOC PIONEIROS - Em 1882 foi criada a empresa Rodrigues, Soares, Bittencourt, Veloso & Cia, para implantao de uma fbrica de tecidos de algodo, margem direita do Crrego do Cedro, distante 6 quilmetros da cidade. Compunham a sociedade o Sr. ngelo de Quadros Bittencourt, Baro do Gorutuba; o Cel. Gregrio Jos Veloso, pai do desembargador Veloso; o Sr. Antnio Narciso Soares, os dois ltimos naturais de Montes Claros, e o Sr. Rodrigues, de Gro Mogol. Com o capital de 150.000$000 (cento e cinqenta contos de ris), a fbrica possua 72 teares e produzia 30.000 metros de pano por ms, com 127 operrios. O equipamento, importado dos EE.UU., veio por via fluvial at Guaicu, e dai para Montes Claros, em carros de boi. Comeou a produzir em 1882 e foi destruda em incndio 7 anos mais tarde, em 1889, tendo sido reconstruda e posteriormente paralisada. Seu equipamento foi transferido em 1914 para a firma Costa & Cia, composta pelos senhores Joaquim Jos da Costa, Jos Antnio da Costa Jnior, Camilo Prates, Joo Catoni e Joo Rodrigues da Silva. Essa fbrica funcionou at os anos 80, quando encerrou suas atividades, sendo seu ltimo proprietrio o Eng. Simeo Ribeiro Pires. POLO TXTIL DO NORTE DE MINAS Teve incio com a implantao da Coteminas, que comeou a funcionar em 1975. Uma fbrica balanceada, com fiao, tecelagem e acabamento, com 25.000 fusos e teares importados da Sua, da marca Sulzer, de projtil, considerada na poca da sua implantao a mais moderna e automatizada do pas. O exemplo da Coteminas ensejou o surgimento de outras fbricas que hoje so 6 em Montes Claros: sendo 5 da COTEMINAS, incluindo a Santanense, e a Txtil Paculdino S/A. E outras tantas em Pirapora: Cedro do Nordeste, Santo Antnio, Velonorte e Txtil Pirapora. E ainda dois projetos e duas cartas-consulta em tramitao na SUDENE. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 28/1/2009 15:27:02 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 72) DE ONDE VEM O EXEMPLO Lembro-me do petiz vivaz que fui e de quem a desnutrio, os vermes e o impaludismo fizeram o adolescente magro, plido, enfermio e introvertido em que me tornei. Felizmente meu pai era pobre. Ao ser lanado ao mundo, aos 18 anos, para fazer meu lugar na vida, com aquele ar enfermio, distante e sonhador, que me custou vencer, compreendi que meu caminho era de pedra. Sem libertar-me, de todo, da esperana daquele sucesso sonhado, as solicitaes do dia-a-dia foram me ensinando a preparar-me para merecer uma boa luta. E enquanto morria aquela esperana crescia esta outra, de fazer meu prprio caminho, annimo e sem glria, embora, mas real, humano, desfrutvel. A partir dos 25 anos, eu, que j lera Emile Cou e Marden, aproximei-me da psicanlise. Li Freud e Jung, cuidei do fsico, alimentei-me racionalmente, renovei a mente, adquiri melhor aparncia, enquanto, paralelamente, os negcios prosperavam. Aos 40 anos tornara-me a pessoa mais abastada da famlia. Fiz o curso jurdico, com que sonhara na juventude. E assediado por partidos polticos, elegi-me vice-prefeito de Montes Claros e, posteriormente, deputado federal. Fui o idealizador e co-fundador do hoje maior grupo txtil do Brasil, do qual fui presidente por 15 anos, ando a vice-presidente a partir dos 70 anos de idade. Minha atuao na rea txtil fez-me Industrial do Ano, de Minas Gerais, em 1979, com diploma e comenda da Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais. Valorizada, anos mais tarde, por diploma de mbito nacional, outorgado pela Confederao Nacional da Indstria. O que a vida me tem dado no chegou a mim por fora do acaso. Eu fui buscar. No com obsesso, no com desespero, nem pisando em quem quer que seja. Mas com trabalho srio, programado, sempre atento s oportunidades, acreditando em Deus e confiando em que chegaria onde eu queria. Isso no se consegue de um dia para o outro. Nem sem canseiras, desnimos e sofrimentos, durante anos e anos, vivendo dias s vezes pesados e lerdos. Sofre-se muito, chora-se at. Devo o homem ajustado, de mente arejada, que hoje sou, a ter-me lanado vida, aos 18 anos, para trabalhar e estudar. Estas lembranas levam meu pensamento a um ado mais distante. Levam-me a meu pai, chegando aqui, aos 18 anos, vindo da roa, pobre, analfabeto e desconhecido, trazendo por fortuna a cala e a camisa que vestia e sobre o ombro a perna de cala rasgada que trouxera seu farnel de viagem uma banda de rapadura com que se alimentara na jornada de 4 dias, a p, do arraial das Contendas cidade desejada de Montes Claros. Onde, a princpio, trabalhou roando pastos a foice, a 500 ris por dia. Trabalhando cresceu, ganhou dinheiro, tornou-se conhecido, aprendeu a ler e a escrever sozinho, casou-se em boa famlia, montou loja, criou uma grande famlia e deixou para os filhos seu exemplo de honradez e trabalho. Considerando a estaca zero de onde partiu e o trajeto percorrido, ele foi o grande lutador de nossa famlia. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 24/1/2009 09:01:56 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 71) NO ARRASTO DA VIDA Agradeo veementemente a Deus haver me ajudado a realizar alguns dos sonhos que povoaram minha juventude. Com igual ou maior veemncia agradeo a Deus haver me protegido contra a realizao de muitos outros sonhos que por falta de opes e por inexperincia alimentei na fase que o poeta chamou de azul da adolescncia. que, avaliados mais tarde, com serenidade, luz da experincia que o ar do tempo nos confere, aqueles sonhos nada mais eram do que grandes equvocos e extravios nos caminhos da minha vida. 1) COLOCAO NA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO BRASIL. Em dezembro de 1933 ei para o 4o ano ginasial, em Montes Claros, em 1o lugar, mas tive meus estudos interrompidos, por falta de recursos para pagar as trs parcelas de 200,00 cobradas anualmente pelo Ginsio Municipal de Montes Claros, correspondentes, hoje, a mais ou menos 2 salrios mnimos. Ainda pagando dvidas remanescentes da crise de 1929, meu pai no se achava em condies de assumir o compromisso de pagar as trs parcelas de duzentos mil reis, equivalentes a 4 salrios mnimos, que era o valor da anuidade cobrada pelo colgio. No voltei das frias. Fiquei em Vrzea. Entre o final de 1934 e incio de 1935, meu pai obteve do sr. Francisco Vieira Machado, agente da estao da Estrada de Ferro, permisso para meu ingresso, como praticante, no quadro do pessoal da agncia, sem salrio. Era essa uma das formas de se ingressar na carreira que levaria a Guarda-Armazm, Conferente e finalmente Agente de Estao de 1a, 2a e 3a classe. A Estrada (era assim que se referia empregadora) no estava nomeando novos funcionrios, mas a expanso das atividades dos trens cargueiros abrira oportunidade para a isso de novos Guarda-Armazns, na categoria de extra-numerrios. Era esse o cargo a que eu poderia ter o, nessa primeira fase. A classificao era realizada em Corinto. Em 1935 eu completara 18 anos, em junho, e o prprio agente de Vrzea, que era natural de Corinto e pertencia a famlia influente no lugar, trabalhava para minha isso como acompanhante dos trens cargueiros at alcanar o posto de Conferente de Estao, incio da carreira de agentes. Trabalhei com afinco, aprendi a manipular o aparelho Morse e me comunicava com as estaes de Porto Faria, Buritis e Pirapora, com razovel desembarao, sabendo utilizar as diferentes siglas que representavam os diferentes trens que circulavam no ramal, os cdigos das estaes e as frmulas consagradas para anunciar chegadas, partidas e atrasos dos trens expressos, noturnos, mistos, cargueiros, boiadeiros, lastros e composies especiais. Da mesma forma aprendera a preencher os diversos e diferentes BTs (formulrios) utilizados no dia-a-dia dos servios de uma agncia da ferrovia, bem como a calcular fretes de mercadorias em geral. No final de 1935 ou incio de 1936, uma deliberao do Governo Federal exigindo a quitao para com o servio militar para a isso no servio pblico, frustrou minhas esperanas de emprego. Meu pai e eu no tnhamos todas as informaes. No sabamos que vivendo na zona rural eu poderia obter um certificado de iseno da prestao do servio militar. Se falhasse por esse meio, eu poderia ser dispensado em razo de ser portador de um problema no joelho direito e assim receber certificado de reservista da 3a categoria. Felizmente no tnhamos conhecimento dessas opes. Foi quando recebi o convite, por intermdio do Lauro, a quem o convite fora feito em primeira mo, para ir trabalhar em um lugarejo modesto, o ento povoado de Juramento Velho, em casa comercial tipo tem-tudo, ganhando o que representaria hoje o salrio mnimo. Um trabalhador braal ganhava na ocasio cinco mil reis por dia de servio, cativo, ou seja com alimentao por sua conta. Sem qualquer outra opo, aceitei o convite, para receber cento e cinqenta mil reis por ms. Desse ordenado eu retirava setenta mil reis para pagamento de penso. 2) SOCIEDADE NA CASA COMERCIAL DE JURAMENTO No ano seguinte, 1937, com a abertura de uma filial em Glaucilndia (estao da ferrovia) e a transferncia para a nova unidade do scio-gerente de Juramento, fui escolhido para assumir a gerncia do estabelecimento de Juramento, alcanando a firma, no fim do exerccio, o lucro de 80 contos de reis. A abertura de uma filial em Glaucilndia e a transferncia da matriz para Montes Claros, faziam parte do plano de expanso da firma, no qual se inclua a venda da unidade de Juramento para aumentar os negcios em Glaucilndia e Montes Claros. Nessa ocasio fui procurado por um fazendeiro da localidade que me props comprar o estabelecimento e deix-lo sob minha gerncia, como scio com participao de 50% dos lucros que se apurassem nos balanos anuais. Eu estava certo de que repetiria no ano seguinte os resultados do ano vencido. Mas a aceitao da proposta contrariava minha aspirao de transferir-me para Montes Claros a fim de estudar contabilidade noite. Agradeci e recusei a proposta daquele bom cidado de Juramento. Felizmente. 3) LOJA NA PRAA DA ESTAO Foi uma oferta de sociedade em loja de tecidos na Praa da Estao, por volta do ano de 1946, que felizmente no vingou. At hoje, 60 anos depois, o local no serve para o comrcio de tecidos. 4) 1952 - RENOVA-SE O SONHO DA ADOLESCNCIA Permanecendo na firma, fui transferido para Montes Claros onde me matriculei em curso noturno de Contabilidade, no 3o ano propedutico. No final de 1942 recebi o meu diploma e no ano seguinte assumi a contabilidade da empresa, que a essa altura j se transformara em usina beneficiadora de algodo. Em 1951, j possuindo algumas economias, acertei com a empresa tirar um ano de licena para tratamento de dentes, em Belo Horizonte, e para ar alguns meses no Rio, preparando-me para tentar o vestibular na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em Niteri. A moeda de ento era o cruzeiro e eu j possua um patrimnio de 250 contos, ou 250 mil cruzeiros. Se a empresa no acatasse o meu pedido de licena, sem vencimentos, eu estaria disposto a deixar o emprego. Na ocasio eu j era rotariano e professor no Instituto Norte Mineiro de Educao e no Colgio Imaculada Conceio (cursos noturnos) e j desfrutava, graas a Deus, de bom conceito na cidade. Meu propsito era obter cartas de apresentao do Prefeito, do Juiz de Direito, do Presidente da Associao Comercial, do Rotary Club e da prpria empresa e com esses documentos procurar uma grande editora no Rio (pensava na Jos Olympio Editora) ou uma grande Drogaria e oferecer-me como scio e para trabalhar como contador de meio expediente, a fim de poder freqentar a faculdade. Felizmente a empresa concordou com a licena e em agosto um dos scios se retirou e vendeu-me a parte dele. Alis, e importante que se registre: os dois scios se desentenderam e cada um deles concordou em comprar a parte do outro desde que eu concordasse em comprar a parte do que sasse. bom que se registre tambm que algum tempo depois a Editora Jos Olympio faliu e a Drogaria em que eu havia pensado teve igual destino. Em 1960 comprei a parte do outro scio, na empresa e em 1968 vendi a empresa para criar a Coteminas. Comparando-se o emprego da Estrada de Ferro com o de Juramento, o primeiro era muitssimo mais importante e convidativo. Mas para felicidade minha no o alcancei. Fui trabalhar em Juramento porque no tive outra escolha. No entanto foi naquele modesto emprego e na evoluo que nele alcancei que pude voltar a estudar, em curso noturno, formar-me em contabilidade e depois em direito e a tornar-me scio fundador de empresas comerciais e de oito fbricas de tecidos. E ser eleito em 1979 Industrial do Ano do Estado de Minas Gerais. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 21/1/2009 12:49:50 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 70) ARREDORES DE VRZEA - 2 PALAVRAS A ISABEL Em nossa prxima visita minha terra, se quiseres caminhar comigo pelas velhas trilhas em que andei na infncia, me dars muita alegria. Na caminhada, se a qualquer altura me sentires desatento, como se esquecido estivesse da tua companhia, por favor, se tal acontecer, ainda que por breves momentos, no tomes isso como desapreo tua pessoa. s minha esposa. A terna e querida companheira que escolhi para toda minha vida. Muito do que rabisco nestes pobres cadernos para ti. Poder acontecer que minha ateno seja momentaneamente desviada que as velhas trilhas costumam s vezes falar-me de um menino que por elas andou, de bodoque e anzol, a pescar ariscas matrinxs e a caar arinhos - ps descalos e braos nus, como disse o poeta. A compartilhar manhs de ouro e crepsculos inesquecveis com a velha Serra do Cabral, com os arroios, matas e campinas. A trilhar caminhos de graciosas curvas, cujas margens estavam quase sempre enfeitadas de cips e flores. Em um tempo em que o mundo era todo dele. E em que o futuro era uma promessa mgica e colorida de sucesso e venturas que jamais teriam fim. Num tempo em que havia em volta dele um universo humano do qual compartilhavam todas as pessoas do seu amor. Muitas das quais s existem hoje no altar de suas saudades. Mas esse desvio de ateno, se vier a ocorrer, no durar mais que um breve instante. E digo mais. Se andares comigo mais vezes, pelas velhas trilhas, estou certo de que elas sero capazes de um dia conversar tambm contigo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 17/1/2009 08:42:22 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 69) Perenes Momentos Jornalista Manoel Hygino dos Santos Jornal Hoje em Dia 9/1/2007 Luiz de Paula Ferreira singular no que faz. E bem. Na bela idade que ostenta, moureja projetos, com cuidado, prazer e conhecimento, que o tornam digno de irao. Nele se poder encontrar aquele sertanejo, que Euclides identificou, de fato, um forte. Pelo Armazm de Idias, lanou, no ltimo quadrimestre de 2006, um volume raro, pelo contedo e iconografia. Naquele se achar o texto escorreito, conciso, simples, contando casos, evocando episdios histricos, tecendo consideraes e filosofando, porque, afinal, seus 89 anos o permitem. H poesia, que o autor a extrai das cousas singelas que vm da infncia e peram a vida de realizaes. Menino acostumado venda do pai em Vrzea da Palma, convivendo com personagens simples, comeou ali a construir-se como ser humano, alicerado na boa formao herdada dos pais e rebocada com exemplos dignos. Assim se fez empresrio, advogado, escritor, jornalista, lder no setor econmico, sem se desligar das razes. Estas se alimentavam na boa gua da regio revitalizante e fortalecedora, bacia do So Francisco. Mauro Santayana, uma das expresses da imprensa brasileira, redator fulgurante, faz apresentao, e sua opinio coincide com a minha: Luiz de Paula um singular ser humano. Ivana Ferrante Rabello comenta o sentido de Momentos, ao confirmar a forte inclinao do autor para as letras, com fiat prximo estao ferroviria de Vrzea da Palma. Reafirma-se o conceito que de Luiz de Paula tenho e, com alegria, porque o ano findo foi prprio a lembrar e irar Rosa, como os pastores adoraram o menino nascido em Belm de Jud, h mais de 2 mil anos. No h muito a falar de Momentos, alm do j dito. algo para se ler, mas do que sobre ele opinar. O projeto grfico de excelente qualidade, por sinal do prprio escritor, que tambm deixa a marca de sua produo fotogrfica em pginas inesquecveis. Os escritores Giselle Fagundes e Nahilson Martins, com textos e fotos engalanam a primorosa edio, que tambm deve a Edgar Antunes Pereira, Paulo Narciso, Anderson de Vasconcelos Chaves, Joelmar Santa Rosa, Antnio de L, Ulisses Mendes, Dimas Fulgncio, que possibilitaram, pela disponibilizao de material, que o livro atingisse seu alto nvel. Se a iconografia riqussima, no menos precioso o texto, que o autor redigiu ou selecionou, e fez constar, com cuidado para oferecer um retrato verdadeiro do norte-mineiro. Sobre o homem, tendo ao lado uma fantstica viso do antigo distrito de So Joo das Misses, no municpio de Januria, o autor afirma: O homem a melhor prova da existncia de Deus. Porque o homem o seu maior milagre. Depois, o texto a Casa de Deus: Meu filho, de 5 anos, perguntou-me se a igreja era a casa de Deus. Eu respondi: - , sim, filho. A igreja casa de Deus. E acrescentei: - A igreja uma casa de orao. Na igreja as pessoas se renem para orar. No s nas igrejas de nossa religio mas tambm nas de outras crenas, em todo o mundo. Olhando para meu filho e vendo a ateno com que me ouvia, conclui: - A casa de Deus, meu filho, o mundo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 14/1/2009 12:35:21 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 68) Outro problema inquietante o impacto do crescimento populacional. A partir das descobertas de PASTEUR, vm sendo vencidas as chamadas doenas de massa, mediante o combate eficaz s bactrias, vrus, protozorios, macro-parasitos e insetos, e a humanidade ou a crescer a os de gigante. Calcula-se que o homem habita a terra h 2 bilhes de anos. Desde ento at o nascimento de Cristo a populao mundial atingira 250 milhes de habitantes. Em 1.830 alcanou 1 bilho. E hoje, menos de 150 anos decorridos, abeira-se de 4 bilhes, devendo alcanar 6 bilhes ou quase isso no ano 2.000. O Sudoeste da sia, o continente africano e a Amrica latina esto duplicando a sua populao a cada 25 anos e s essas reas, se continuarem a crescer na mesma proporo, devero conter 40 bilhes de habitantes dentro de um sculo. As naes industrializadas possuem cerca de 1,3 bilho de habitantes e as subdesenvolvidas 2,6 bilhes, na proporo de 2 subdesenvolvidos para 1 desenvolvido. Dentro de um sculo essa proporo ser de 20 para 1. Pode-se fazer uma idia a que nveis chegaro os antagonismos raciais e as tenses sociais se a exploso demogrfica no for contida. Falvamos, no incio, na generalizao da violncia, sem falarmos nas guerras. Lanando o olhar ao ado, verifica-se que no houve reduo de confrontos blicos nos ltimos 200 anos. Alm das duas grandes guerras, tm ocorrido lutas praticamente em todo o mundo: na Grcia, Coria, Nigria, Paquisto, Indonsia, Espanha, Egito, Israel, Islndia, Irlanda, Lbano, Portugal, China, Rssia, Amrica Latina e frica. Outro srio problema a inevitvel proliferao das armas nucleares, que em mos de cada vez maior nmero de naes, ar a construir um risco crescente e qui incontrolvel para o futuro da humanidade. Se analisarmos estas e outras perspectivas sombrias que os pesquisadores nos apontam, chegaremos concluso de que todos eles se subordinam ao comportamento do homem. Mudando-se o comportamento, mudar-se-o as perspectivas. J Bacon o afirmava que as idias governam o mundo. Compreende-se assim como vasto o campo de trabalho que o mundo de hoje e do futuro oferece aos intelectuais, aos homens de pensamento, aos formadores de opinio. E no se diga que ns, na nossa modstia de pessoas singelas do interior, nada temos a ver com isso. Temos, por que no, e muito. Primeiramente porque somos parte do problema, estamos dentro dele at o pescoo, ns e nossos filhos e os filhos de nossos filhos. O alheiamento em tais circunstncias seria demonstrao de covardia. Em segundo lugar, pelo senso de responsabilidade. Todos somos responsveis. Cada um na medida da fora ou do poder que detenha. Da influncia, menor ou maior, que possa exercer. O poder da pena revela-se s vezes maior do que a da espada. Vimos, ainda h pouco, em Portugal, um General, com a sua pena, derrubar uma ditadura de 40 anos. E ao assumir o Governo, no foi capaz de o manter com a sua espada. Vimos esse escritor russo, prmio Nobel de literatura, Soljnitzen, autor de Arquiplago Gulag, abalar o mundo com o seu depoimento sobre as torturas do regime comunista. E mais recentemente, com entrevistas televiso na Frana e na Inglaterra, apressar a reviso da poltica de distenso dos EE.UU. para com a Rssia. No h dvida de que o intelectual tem muito o que oferecer. Caber cada vez maior importncia ao que encara os problemas em sua globalidade, com sensibilidade e esprito humanstico. Para influir, nos limites da responsabilidade de cada um, neste limiar de um novo sculo que nos conduzir ao terceiro milnio, na construo de um mundo novo. Um mundo que comea em nosso lar, em nossa rua, em nossa cidade, em nosso Pas. Um mundo que desejamos traga a vitria sobre a violncia, sobre a escravido, sobre a pobreza, sobre a ignorncia, sobre as doenas, sobre a injustia. Um mundo de trabalho fecundo, de ordem, de alegria e de Paz. Sem esquecer e principalmente sem jamais desprezar o amor ao quotidiano, s coisas muitas vezes simples e aparentemente pequenas, mas que do grandeza vida. Quero agradecer as palavras de apresentao, to amveis e honrosas que tive da parte da oradora oficial. A professora Ivone Silveira, ilustre presidente desta Academia, traou o meu perfil com o pincel da amizade. Os seus olhos bondosos descobriram em mim, e multiplicaram, qualidades intelectuais que no possuo. bondosa apresentadora meus sinceros agradecimentos. Quero manifestar tambm o quanto me sinto honrado e jubiloso por compartilhar as emoes deste momento com dois excelentes amigos, autenticas vocaes de intelectuais, os Professores Wanderlino Arruda e Maria Luiza Silveira Teles, aos quais desde j apresento meu abrao de parabns. Indicado para falar antes deles, por uma deferncia que devemos aos costumes dos romanos, do direito do mais velho, antecipei-me a eles nesta apresentao, mas o fiz na condio do soldado raso que desfila frente, conduzindo o estandarte e abrindo caminho ao luzido cortejo dos oficiais que vm em seguida. A todos, muito obrigado. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 7/1/2009 11:24:11 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 67) Dele disse o Professor Alberto Deodato: Foi alma que no se maculou. Foi corao que s amou. Foi carter que nunca tisnou. Foi inteligncia que no teve crepsculo. Foi pena que nunca se corrompeu. E Rubem Braga, seu amigo de uma vida inteira: Monzeca era irremediavelmente bom. Editorialista correto, elegante, gil, capaz de usar a malcia contra os ftuos, os impostores, mas incapaz de maldade contra quem quer que fosse. E o Professor Joo Camilo de Oliveira Torres, que redigiu o Cdigo de tica para o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, afirmou em artigo estampado na imprensa da capital, que o fizera inspirado na vida de Hermenegildo Chaves. Era irmo de Joo Chaves, outra glria da inteligncia montes-clarense. este o nobre patrono da cadeira-19. O primeiro ocupante da cadeira 19 foi Geraldo Freire. Nasceu em Montes Claros, aos 4 de julho de 1910, filho do comerciante Celso de Souza Freire e Da Firmina da Silva Freire. Estudou na antiga Escola Normal, no chegando a terminar o curso. Foi funcionrio dos Correios e era hbil desenhista e tipgrafo, tendo lecionado Portugus e Histria durante 2 anos no Ginsio Municipal de Montes Claros. Foi Diretor de dois jornais: A Crtica e Jornal do Serto, mas a sua atuao marcante na imprensa foi no jornal Gazeta do Norte, onde durante longos anos fez de tudo, da tipografia expedio, e ainda assinava uma crnica na primeira pgina, na qual comentava, com sensibilidade, inteligncia e muito humor, os acontecimentos em evidncia na cidade e no Pas. Lembrando seu tempo de criana, falou-me um dia que a casa de comrcio de seu pai, o seu Celso, era um dos locais de encontro dos jovens intelectuais da poca - Monzeca, Carlos Felinto Prates, Ary de Oliveira e muitos outros, que ali iam falar de literatura, de pescarias, de caadas, de namoradas e tambm para ler o jornal Estado de So Paulo, que seu Celso assinava e recebia com a demora de quase um ms de viagem. Geraldo, mais jovem, assistia a essas tertlias e mais tarde haveria de referir-se influncia que elas tiveram em sua vida. H em Montes Claros algumas famlias de gente simptica e engraada e que sabe ver, melhor dos que os outros, o lado engraado da vida. Os Fernandes Amorim, por exemplo. Todos conhecemos os casos engraados do seu Pedro Montes Claros e de seus filhos. E tambm do Nozinho, do Jlio e do Jder Figueiredo. Do Cndido Canela. Do Jos Prudncio de Macedo. Do Joo de Paula e tantos e tantos outros. O Geraldo Freire era desse naipe e seus irmos e alguns de seus filhos tambm possuem essa virtude. Convivi muito com ele. Fomos amigos por longos anos, at seu falecimento. Amizade que alcancei como um privilgio, atravs de meus primos mais velhos, contemporneos dele, e que conservei e da qual desfrutei, para alegria de meu esprito, durante toda a sua vida. O convvio com Geraldo Freire era ameno, e instrutivo. Agradabilssimo e espirituoso, tinha sempre algo de novo e inspirativo a contar ou um ngulo diferente a descobrir nas cousas corriqueiras. Mas Geraldo Freire foi sobretudo um grande poeta. Profundamente lrico, por temperamento, era um pre-modernista, com Ronald de Carvalho, Raul de Leoni, Guilherme de Almeida e os acompanhou e aos promotores da histrica Semana de 1922, Manoel Bandeira, Mrio de Andrade, Oswald de Andrade, Carlos Drumond de Andrade e Menotti del Pichia e outros, na arrancada modernista da poesia brasileira. Por ocasio das comemoraes do Centenrio de Montes Claros, publicou o seu livro de poesias, sob o ttulo de FONTE DOS SUSPIROS, cuja capa ilustrou, ele mesmo. Embora tendo produzido muito, perderam-se os originais da maior parte de sua produo e o livro trouxe apenas aqueles poemas que o autor pde recolher na memria dos amigos ou em pginas de jornais que as publicara. Possua Geraldo Freire inspirada concepo da arte. So palavras suas: um trao espontneo, ou uma cinzelada doida, a improvisao de um verso, traem um artista. Ao o que uma existncia inteira dedicada arte, possivelmente nunca atinja a perfeio, por muita tcnica que se adquira. Sem o toque do gnio impossvel comunicar a emoo artstica, razo por que no existe meia-arte. s vezes existe talento, porm nem sempre existe arte. Esta confundvel e at esquiva; aquele encontradio. No se artista pelo simples fato de querer; preciso que a arte tambm nos queira. A arte mulher e como tal tem os seus eleitos. Tenho como certo, ainda Geraldo Freire, que no adianta lambuzar telas, colecionar rimas, desbastar mrmores com cinzis de ouro, dar murros em teclas de marfim, se no se artista. E arremata com esta frase que d a medida de sua compreenso: arte o pensamento de Deus impresso na obra pelo gnio. Este o conterrneo nosso que faleceu h 7 anos ados. Foi casado com Da. Geralda Teixeira Freire e deixou 6 filhos: Carlos Eduardo Teixeira Freira, Ronald de Carvalho Freire, Rubens de Carvalho Freire, Eglantine Teixeira Freire, Iracema de Alencar Freire Pereira e Maria de Ftima Freire de Oliveira. Gostaria de mostrar dois poemas de Geraldo Freire. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 3/1/2009 09:10:42 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 66) POSSE NA ACADEMIA MONTES-CLARENSE DE LETRAS Quando recebi o vosso convite para participar desta Academia, na emoo da surpresa e do contentamento que no momento me assaltaram, veio-me lembrana o dia distante em que cheguei a esta to sonhada, to querida e to prometida cidade de Montes Claros. Eu vinha da roa e tinha 9 anos. Montes Claros, terra de meus pais, me acolheu com generosidade e me proporcionou oportunidades de estudo e trabalho. E hoje me premia itindo-me em sua Academia de Letras. Desde j quero expressar que me sinto sumamente grato e honrado por esta alta distino. Caber-me- ocupar a cadeira que tem como patrono uma das inteligncias mais sensveis e brilhantes que Montes Claros j produziu. O poeta, escritor e jornalista Hermenegildo Chaves. E que teve como primeiro ocupante, uma outra mentalidade de escol, artista emrito na prosa, na poesia e na pintura, o tambm montes-clarense Geraldo Freire. A meno desses dois nomes nos leva Montes Claros do primeiro quartel do sculo. A populao andava em torno de 25.000 almas. No havia rdio, nem televiso. O gramofone e o cinema mudo eram o toque moderno de ento. O correio, a cavalo, trazia os jornais de Belo Horizonte e do Rio, com uma semana e mais de atraso. A energia eltrica, inaugurada em 1917, era escassa e ligada apenas noite, para iluminao. A estrada de ferro chegaria em 1926. E comeavam a aparecer os primeiros caminhes e automveis, porm ainda sem estradas adequadas. As atividades econmicas giravam em torno dos produtos do campo. Mas Montes Claros j era uma cidade culta, sede de comarca e de bispado. Como matriz da cultura destacava-se a Escola Normal, fundada em 1879, fechada em 1905 e reaberta em 1915. Na Escola Normal de Montes Claros estudaram, cada um a seu tempo, Hermenegildo Chaves e Geraldo Freire. Hermenegildo Chaves, o patrono da cadeira 19, nasceu em Montes Claros a 7 de janeiro de 1898, filho do Professor Joo Antnio Gonalves Chaves e Da Jlia Prates e Chaves. Aos 16 anos chefiava o Posto Meteorolgico de Montes Claros e dois anos mais tarde, a 30 de julho de 1916, demonstrando desde cedo os seus pendores para o jornalismo, fundou com seus amigos Carlos Felinto Prates e Jos Figueiredo, um jornal quinzenrio, literrio e noticioso, intitulado O BISTURI. Algum tempo depois transferiu-se para Braslia de Minas, como escrivo da Coletoria Federal, exercendo ali a advocacia criminal. Em 1920, com 22 anos de idade, Hermenegildo Chaves deixa o serto em demanda da capital do Estado, para seguir a carreira jornalstica, qual haveria de dedicar toda a sua vida. Em Belo Horizonte foi Diretor do Departamento Estadual de Informao, Diretor da Folha de Minas, Redator-Chefe do Dirio de Minas e Diretor da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Mas foi como Redator-Secretrio do jornal Estado de Minas, e seu principal editorialista, que Monzeca, como era chamado entre os amigos, revelou-se o grande luminar da imprensa. Foi no Estado de Minas, principal rgo da imprensa mineira e dos Dirios Associados, que Monzeca pde exercer na plenitude a sua vocao, atingindo o pice de sua brilhante carreira. Trazia consigo um lastro imenso de conhecimentos que o tornavam capaz de versar com facilidade e clareza os mais variados temas. Comentarista poltico dos mais lcidos, traou rumos e orientou atitudes de grandes homens pblicos que se projetaram no cenrio poltico de Minas e do Brasil. Ao lado de tudo isso, ou acima de tudo isso, Monzeca tinha um corao de ouro. O prazer que dava a sua companhia era to grande quanto o que proporcionava a leitura de seus editoriais, de seus sueltos, das pginas que deixou sem , perdidas na efmera existncia de uma edio de jornal ou de revista. Jamais algum o viu defender uma tese menos nobre, uma idia que no fosse marcada pelo desprendimento. Tinha inata em si a nobreza que faz os grandes homens, os que se salientam no apenas pela riqueza de bens materiais ou pelas falsas glrias da precariedade do poder exercido sem grandeza. A bondade e a pureza que punha em suas atitudes marcavam igualmente os seus escritos, os seus conselhos, as suas conversas informais. O lugar comum, o termo chulo, a expresso menos nobre, o vocbulo de gria nele no encontravam guarida. Jornalista genuno, tinha sempre uma nova idia, uma sugesto diferente para o assunto que constitusse a preocupao jornalstica do dia. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 31/12/2008 10:27:06 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 65) XIII LITERATURA Tenho 90 anos de idade. Ao longo da vida conheci pessoas, lugares e situaes diversas. Vivenciei costumes, escutei e contei histrias, mas no ava por minha cabea a idia de escrever um livro. Com a chegada e difuso do uso dos computadores, ocorreu-me reunir algumas lembranas e anotaes a fim de oferec-las aos filhos para dar a eles uma viso das mudanas pelas quais o mundo vem ando nos ltimos tempos. Desse trabalho acabou nascendo este relato destinado a meus filhos e um volume de memrias sob o ttulo de NA VENDA DE MEU PAI. LIVROS PUBLICADOS ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DE MONTES CLAROS (Palestra em comemorao do Jubileu de Prata da Associao Comercial e Industrial de Montes Claros) Imprensa Oficial Belo Horizonte 1975 NA VENDA DE MEU PAI Armazm de Idias Belo Horizonte 2001 Reeditado pela Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES que o adotou para o concurso vestibular de 2006 MOMENTOS Armazm de Idias Belo Horizonte 2006 A PUBLICAR (Edies fora de comrcio) * POR CIMA DOS TELHADOS, POR BAIXO DOS ARVOREDOS * NOSSA FAMLIA * A VIAGEM ( Poesias ) NA VENDA DE MEU PAI Comeando a ler Na Venda de Meu Pai, no pude evitar de me perguntar sobre o significado de tudo aquilo. A curiosidade foi tanta que acabei tentando me colocar no lugar do autor. Certamente, parte deste impulso se deveu ao material de qualidade que estava lendo. A outra parte deste arroubo, quero crer, ficou por conta das semelhanas que nos aproximam. O resultado foram estes versos em forma de soneto. Na Venda de Meu Pai, grata lembrana que me chega nas asas do momento, h memrias trazidas pelo vento, que, de um sopro, do ado me alcana. O povo do lugar, o dia lento, minha Vrzea da Palma de criana, tudo vem participar da mesma dana que revive minha vida em pensamento. Vejo, ento, pelos olhos do menino: nesta venda nasceu o meu destino, tudo quanto eu vivi at agora! E a saudade, brao-guia da emoo, de repente me segura pela mo e me leva venda adentro... vida afora. Lus de Paula Filho (Neto do dono da venda). (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 27/12/2008 08:33:39 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 64) CICLOS EVOLUTIVOS A ocupao e o desenvolvimento do Norte de Minas ocorreram paulatinamente, bem marcados por ciclos histricos. O primeiro foi a criao dos Currais de Gado, nos sculos XVII e XVIII, quando a pecuria do nordeste teve de ceder espao, no litoral, para os engenhos de cana e migrou para o Vale do So Francisco e de seus afluentes Rio das Velhas, Verde Grande, Jequita e outros mais, na regio norte-mineira. O ciclo seguinte, de importncia histrica, veio a partir dos anos 70, do sculo recm-findo, com o desenvolvimento industrial estimulado pela legislao incentivadora da Sudene. Agora comea novo ciclo. Est marcada para o final deste ms a licitao, que a Agncia Nacional do Petrleo far, para a pesquisa e explorao do gs natural e do petrleo, no mdio So Francisco, nos municpios de Buritizeiro, Pirapora, So Romo, Santa F de Minas, Januria, Manga e Montalvnea, em locais onde so observadas fortes emanaes de gs natural. Trata-se do atendimento a antigo pleito da regio. A GASMIG Companhia de Gs de Minas Gerais, a DELF Engenharia e a Brain Engenharia e Construes, empresas do ramo, j se habilitaram, perante a Agncia Nacional do Petrleo, para a realizao do trabalho de pesquisa e explorao. Gelogos, conhecedores da regio, afirmam que o gs e o petrleo existentes na bacia do So Francisco, entre Buritizeiro e a divisa com a Bahia, podero transformar o Norte de Minas em uma Califrnia brasileira. Fao este relato para conhecimento do Instituto e para convidar seus ilustres membros para serem parceiros nossos na vigilncia, a fim de que as pesquisas no fiquem apenas no papel. Para que no se repita o velho crculo vicioso da penria: no se faz a pesquisa porque o custo alto. E no se descobrem o gs e o petrleo porque no se faz a pesquisa. VOLTANDO PRINCESA ISABEL O povo brasileiro guardou com amor e respeito a imagem da princesa. Expatriada, aps a proclamao da repblica, ela ficou no corao do povo. E virou cantiga de roda, nos folguedos das crianas, em todo o Brasil. Quantas e quantas vezes ouvi, no pequeno e longnquo povoado onde nasci, no alto serto de Minas, as meninas de meu tempo, de mos dadas, to bonitas ao claro da lua, em suas alvas vestes, a cantar os versos que diziam assim: Princesa Dona Isabel, mame disse que a senhora perdeu o seu lindo trono mas tem um mais bonito agora. No cu est esse trono que agora a senhora tem alm de muito mais lindo, ningum a toma, ningum. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 21/12/2008 09:44:44 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 63) CONSEQUNCIAS DA ABOLIO da crnica da poca a resposta dada por Cotegipe Princesa Isabel logo aps a abolio. Perguntou-lhe a filha de D. Pedro II: - Ento, Baro, ganhei ou no ganhei a partida? - Ganhou, retorquiu o estadista baiano. Mas perdeu a coroa. Evidentemente no se pode deixar de reconhecer que os grandes proprietrios de escravos, sobretudo os menos esclarecidos, retiraram o apoio que vinham dando monarquia, fortalecendo-se assim os republicanos. Porm no houve a grande crise de que tanto falavam e temiam os escravocratas. Abolida a escravido, praticamente no houve mudana na organizao da produo e na distribuio da renda. Degradando o trabalho manual, a escravatura afugentava o brao livre de que tanto precisvamos. A partir de 1865, somente os proprietrios de escravos ainda eram a favor da escravido. As demais foras polticas e sociais colocavam-se frontalmente contra a antiga e desumana instituio. Com a proclamao da repblica toda a famlia imperial foi exilada. ando a residir no Castelo dEu, a partir de 1905, a princesa Isabel veio a falecer em 1921, j revogada a lei do banimento da famlia imperial. Seu corpo foi trazido para o Brasil em 1953, juntamente com o do marido, permanecendo na catedral metropolitana do Rio de Janeiro, de onde foram removidos em 13 de maio de 1971 para a capela imperial da catedral de So Pedro de Alcntara, em Petrpolis. Senhoras, senhores, Guimares Rosa, que sabia falar sobre Minas, disse que h muitas Minas Gerais. Minas so muitas, foi assim que ele disse. No que me respeita, h pelo menos duas. A Minas Gerais das montanhas de minrios, das matas frteis, das chuvas fartas do sul, do caf, do ouro, das pedras preciosas, dos bancos, dos banqueiros, dos polticos de renome, fazedores da histria. E a outra Minas. A Minas de onde venho. A Minas do Norte. Do Polgono das Secas. Do semi-rido. Dos cantadores de feira. Da paoca de carne seca. A Minas que j foi cho da Bahia e de Pernambuco. A mais atrasada e mais desprezada pelos governos. Na capital do estado era voz corrente que ao norte do paralelo 18 o progresso era invivel. De Lassance a Buenpolis para cima. A viagem de trem, de Montes Claros a Belo Horizonte, durava 18 horas. Era a nica via de o capital do Estado, de que dispnhamos. Quando pleiteamos a extenso da energia de Trs Marias at o Norte de Minas, o pleito foi negado sob a alegao de que no havia demanda que justificasse as altas inverses requeridas. Quando pedimos uma rodovia, para o serto norte-mineiro, recebemos a mesma resposta. De nossa parte entendamos que sem a energia instalada e sem o asfalto no haveria incentivo criao de demanda. Estava criado o chamado crculo vicioso da penria. E assim permanecemos at o advento da Sudene. Foi a Sudene que chegando ao Norte de Minas desfez o ime e deu incio ao processo de desenvolvimento nos moldes que hoje conhecemos. Com o apoio da Sudene veio a sonhada rede de alta tenso de Trs Marias, de 138.000 volts, a qual, em pouco tempo se tornou insuficiente para atender demanda despertada. Veio ento a segunda, tambm de 138.000 volts, que igualmente teve sua capacidade de transmisso absorvida. E veio a terceira, essa de 345.000 volts. E veio a estrada asfaltada to reclamada. Como sabemos, a colonizao do Pas se fez do litoral para o interior e cedo se evidenciou o desequilbrio do desenvolvimento da Nao, com o interior, de um modo geral, e o Nordeste, em especial, perdendo o como do crescimento, agravada a situao do Nordeste pelo fenmeno das secas. Tornara-se pgina comum a pobreza do Nordeste e o nomadismo do nordestino. Grande parte da fora de trabalho nordestino havia se transformado em uma massa humana nmade, a vaguear entre o Nordeste e o Sul, atrelada a um destino de padecimentos que ensejou o surgimento do personagem chapliniano pitorescamente chamado de pau-de-arara. Tudo isso a refletir-se tragicamente no contexto econmico e social do Pas. Os governos, desde o Imprio, tiveram suas atenes voltadas para a problemtica nordestina. E a partir da seca de 1877 o Nordeste ou a receber verbas federais, mal aplicadas muitas vezes, ou no aplicadas. Criara-se a chamada indstria das secas. Felizmente, com a evoluo dos conceitos e idias de planejamento econmico, alargou-se a viso dos crculos oficiais e profissionais brasileiros. aram a ser condenadas as medidas de emergncia, de carter assistencialista, que em nada modificavam os dados fundamentais do problema. J era tempo de imprimir-se ao estudo e soluo dos problemas nordestinos uma definida diretriz econmico-social. Foi dessa nova posio que nasceu a Sudene. Para promover o desenvolvimento econmico e social do Nordeste. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) Cidade: Montes Claros/MG |
Por Luiz de Paula - 18/12/2008 14:34:07 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 62) ESCRAVIDO O processo de libertao dos escravos, no Brasil, percorreu um longo trajeto. Como sabemos, a escravido humana, vem de tempos imemoriais. Nas lutas tribais, o lutador derrotado era morto ou escravizado. A ferocidade do vencedor, exercida sobre o vencido, foi a causa inicial da escravido do homem, desde a mais remota antigidade. Os assrios, os egpcios, os romanos e outros povos da antigidade adotaram a escravido e legislaram sobre ela. Na Grcia e em Roma a maior parte dos escravos provinha da guerra e da pirataria, mas os prisioneiros feitos em batalhas podiam ser libertados mediante resgate. A partir do final do sculo XVI, os portugueses, voltando seu interesse para a frica, dominaram por meio sculo o comrcio de escravos africanos. Da por diante Portugal e Holanda comandaram o trfico negreiro, seguidos pela Espanha, Inglaterra, Frana, Dinamarca e Pases Baixos. No Brasil, o regime da escravido constituiu o alicerce de toda a economia. Em 1870 havia cerca de 3.000.000 de escravos para uma populao de 10.000.000 de habitantes. A INGLATERRA E A ABOLIO O abolicionismo na Inglaterra fora iniciado por reformadores imbudos de sentimentos de solidariedade humana. A extino do trfico trouxe, porm, um imprevisto alarmante: escassez de braos nas plantaes de cana das colnias. A concorrncia entre as duas colnias produtoras de acar, Jamaica (pertencente Inglaterra) e o Brasil (colnia de Portugal) era renhida. Extinguindo-se a explorao do brao escravo na Jamaica, seria fatal o aumento da produo brasileira e o oferecimento do acar, nos mercados internacionais, a um preo com o qual os produtores e comerciantes ingleses jamais poderiam concorrer. Em face dessa situao os grandes grupos financeiros ingleses aram a trabalhar ativamente pela abolio da escravido nas regies que lhes faziam concorrncia. PRESSES INGLESAS Quando se processavam as demarches diplomticas visando ao reconhecimento de nossa Independncia por parte da Inglaterra, o ministro ingls Canning aproveitou a ocasio para condicion-la abolio do trfico. D. Pedro e Jos Bonifcio pessoalmente se declararam convencidos da inconvenincia do trfico, porm ponderavam que a abolio deveria ser feita quando fosse aumentada a populao branca no pas e a agricultura no mais corresse perigo de um colapso econmico com a supresso do brao escravo. Com esse entendimento, o processo prosperou atravs da legislao que veio a seguir. A 14 de outubro de 1850 foi promulgada a lei que proibiu o trfico de escravos. A 28 de setembro de 1871, foi aprovada a Lei do Ventre Livre, que declarava livres os filhos de escrava nascidos a partir daquela data. A 28 de setembro de 1885 foi promulgada a Lei dos Sexagenrios, que libertava o escravo ao atingir 60 anos de idade. A LEI UREA Em 1887, novamente Pedro II embarcou para a Europa, onde se demoraria um ano tratando da sade seriamente abalada. Pela terceira vez sua filha, a Princesa D. Isabel assumia a regncia do Imprio. O gabinete ento dominante era conservador, dirigido pelo Baro de Cotegipe, homem inteligente, porm radicalmente contrrio abolio total da escravatura, alegando que a agricultura brasileira entraria em crise e caminharia para um grande colapso se fosse privada repentinamente do brao servil. Mas a princesa j abraara a causa da abolio. A 7 de maro de 1888, Cotegipe demitiu-se e a Princesa Isabel convidou Joo Alfredo Carreira de Oliveira para organizar o novo ministrio, que se instalou no dia 10 e dois meses depois apresentou Cmara dos Deputados o projeto visando abolir definitivamente a escravido no Brasil. O projeto foi aprovado por grande maioria da Cmara e do Senado. No dia 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel referendou, com uma caneta de ouro e pedras preciosas, que os abolicionistas ofereceram a ela, a lei que libertou os escravos. A nova lei, que tomou o nmero 3.355, foi assinada tarde, no Pao da cidade. Era curta e incisiva, possuindo apenas dois artigos: - Art. 1 - declarada extinta a escravido no Brasil. - Art. 2 - Revogam-se as disposies em contrrio. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 15/12/2008 11:42:51 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 61) POSSE NO INSTITUTO HISTRICO E GEOGRFICO DE MINAS GERAIS EM 06-10-2005 Senhor presidente do Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais, dr. Marco Aurlio Baggio Senhor Vice-Presidente da Repblica e Ministro de Estado da Defesa, dr. Jos Alencar Gomes da Silva Senhor representante do Governador Acio Neves Senhor Presidente da Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais, cordial amigo, dr. Robson Andrade Senhor Presidente da Federao das Associaes Comerciais do Estado de Minas Gerais, prezado amigo e conterrneo barranqueiro do So Francisco, dr. Arthur Lopes Filho Ilustre amigo e conterrneo norte-mineiro, Daniel Antunes Jnior, a quem devo a lembrana de meu nome para estar aqui hoje assumindo uma cadeira de scio efetivo. Muito obrigado, Daniel. Agradeo tambm a voc a saudao que acaba de fazer-me, generosa em extremo, inspirada em nossa amizade. Desembargador Delmival de Almeida Campos, cordial e antiga amizade, em cujo nome sado as demais ilustres autoridades aqui presentes. Senhores scios do Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais. Caros amigos e companheiros da Federao das Indstrias Caros amigos e companheiros da COTEMINAS Minhas senhoras, meus senhores. com grande satisfao e sumamente honrado que aqui me encontro assumindo uma cadeira de scio efetivo deste renomado Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais. Como j disse, devo a lembrana de meu nome ao amigo e conterrneo Daniel Antunes Jnior, a quem renovo meu sincero agradecimento, pela lembrana e pela saudao, com palavras generosas, ditadas por nossa velha amizade. Agradeo, igualmente, aos ilustres componentes do quadro social do Instituto pela unanimidade com que acolheram o meu nome. De minha parte, espero tudo fazer para merec-la. Sou um velho irador deste Instituto, cuja presena na defesa dos legtimos interesses de Minas Gerais e de sua memria tem sido constante desde sua fundao em 1907. Essa irao, essa velha amizade, faz-me sentir, neste momento, no como um calouro, mas quase como um filho que chega casa paterna. Cabe-me a honra de ocupar a cadeira que tem como patrono a Princesa Isabel, historicamente denominada a Redentora. Filha do imperador Pedro II e de Dona Teresa Cristina, terceira imperatriz do Brasil, tornou-se herdeira do trono aps o precoce falecimento de seus irmos Afonso e Pedro. Na condio de princesa imperial, ttulo que cabia aos herdeiros do trono, a Princesa Isabel cresceu em um lar saudvel, onde imperavam a cultura e o amor e o respeito mtuo entre os pais. Aos 14 anos de idade prestou juramento Constituio Poltica do Imprio, como herdeira presuntiva do trono. A 15 de outubro de 1864 casou-se com o prncipe Gasto de Orleans, conde DEu, instalando-se o casal na sua casa das Laranjeiras, o atual palcio Guanabara. Em Petrpolis, ocupou o chal da rua D. Afonso, que ou a ser conhecido como Palcio da Princesa. O casal teve trs filhos: Pedro de Alcntara, prncipe do Gro-Par, Lus e Antnio. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 6/12/2008 07:13:43 |
![]() (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 60) INAUGURAO DA COTEMINAS Palavras do Diretor Presidente, LUIZ DE PAULA, no almoo oferecido s autoridades. Senhor Governador Rondon Pacheco, Senhor Superintendente da SUDENE, Engenheiro Jos Lins de Albuquerque, Excelentssimas Autoridades, Senhoras, Senhores, Participamos, ainda h pouco, das solenidades de inaugurao de uma nova fbrica. Uma nova unidade fabril, com o apoio da SUDENE e do Governo do Estado, alinha-se no esforo que se realiza em toda Minas Gerais para o incremento da produo. Felizmente, acontecimentos como o de hoje tornaram-se freqentes entre ns. Minas Gerais retomou o fulcro de seu destino de Estado componente da vanguarda progressista do Pas. V. Exa., Sr. Governador Rondon Pacheco, falando aos estagirios da Escola Superior de Guerra, definiu em poucas palavras um momento cruciante da vida do Estado. Minas, declarou V. Exa., pairava num ime, entre partir para um processo agressivo de crescimento econmico e de transformao de sua estrutura social, ou persistir em sua poltica de aguardar as definies externas. Minas Gerais optou pelo desenvolvimento. Com efeito, aps a opo corajosa, est se transformando o panorama econmico e social das alterosas. A indstria siderrgica expande-se com a ampliao das empresas j existentes e com o surgimento de novas empresas, como a Aominas e a Mendes Jnior. Cresce a mecnica pesada com a Krupp, a Usimec, a Demag, a Mangels. Nasce a indstria automotiva com a Terex, a Fiat, a Fiat-Allis Chalmers e a Poclain. A Arafrtil e a Titansa surgem para produzir os fertilizantes necessrios ao grande projeto de recuperao dos cerrados. Crescem os cafezais, com 300 milhes de novas rvores, representando 28% dos novos cafezais do Pas. A produo de acar aumentou 62% nos ltimos 4 anos e 350 milhes de cruzeiros foram aplicados em novos projetos para a pecuria de corte. reas esquecidas, como a do Jequitinhonha, recebem infra-estrutura bsica para se integrarem na nova poltica de produo do Estado. Hoje ainda V. Exa. visitar a Jaba, onde quase 400.000 hectares de terras de cultura jaziam improdutivas e se transformando em regio problema. O que ali vem realizando o Governo do Estado, atravs do trabalho irvel da Ruralminas, motivo de jbilo e de justificado orgulho para todos ns. A terra agreste da Jaba se transforma. Alm do que ali constri diretamente o Governo, em infra estrutura de servios bsicos, j conta a Jaba com mais de duas dezenas de projetos particulares em implantao, representando investimentos da ordem de dois bilhes de cruzeiros, para a produo, principalmente, de alimentos. No setor txtil tambm Minas se atualiza. A vocao de teceles, dos mineiros, encontrou no Governo de V. Exa. o indispensvel apoio para expandir-se. As fbricas antigas esto renovando seus equipamentos e aprimorando as tcnicas de istrao. E dois empreendimentos, de alto significado para o desenvolvimento do parque txtil mineiro e nacional, alcanam no momento o estgio de produo. A DAYWA, uma fiao moderna, com equipamento japons, que V. Exa. dever inaugurar nestes prximos dias, na cidade de Uberlndia, para industrializar a crescente produo algodoeira do Tringulo. E a COTEMINAS, uma fbrica integrada de fiao, tecelagem e acabamento, com maquinrio importado da Alemanha e da Sua, cujo setor de fiao hoje se inaugurou com a honrosa presena de todos que aqui se encontram. Senhores, Minas Gerais, em pleno e vigoroso processo de transformao, tem o privilgio de possuir parte de seu territrio sob a jurisdio da legislao da SUDENE. to importante esse fato, e to decisivamente marcante a presena da SUDENE neste pedao mais seco das terras de Minas Gerais, que em qualquer avaliao que se faa do desenvolvimento social e econmico da regio, h que se reconhecerem duas fases distintas: antes e depois da SUDENE. Todos conhecemos e orgulhosamente iramos o que vem realizando a SUDENE em seu extraordinrio trabalho para corrigir o desnivelamento secular entre o Nordeste e o Centro-Sul. A partir da infra-estrutura, a SUDENE coordena o desenvolvimento do Nordeste. A regio se industrializa. Projetos de colonizao, de desenvolvimento do cooperativismo, de irrigao, de expanso das fronteiras agrcolas e de reorganizao da economia rural, vm sendo executados com o fim de estabelecer melhores padres de vida no campo e aumentar a oferta de alimentos nas cidades. Apoiando a iniciativa privada, a SUDENE j aprovou para a rea acima de 1.600 projetos, com a criao de cerca de 250.000 novos empregos diretos. O crescimento do produto interno bruto foi da ordem de 10% nos ltimos 4 anos, e a meta da SUDENE, ambiciosa, verdade, para os tempos correntes, mas no impossvel, tendo-se em vista o valor e a disposio de trabalho daqueles que a dirigem e de suas equipes tcnicas, fazer com que o Nordeste cresa at 1980 a uma taxa superior a 10%, para reduzir o desequilbrio econmico em relao ao Centro-Sul. No tem sido menor a dedicao da SUDENE por esta rea mineira em que atua. Distanciado dos centros de deciso do Estado e mal servido de meios de comunicao, tornara-se o Norte de Minas, com o correr do tempo, a regio menos conhecida e qui a mais atrasada do Estado. H 10 anos ados , a fora de trabalho aplicada indstria no alcanava duas mil pessoas nesta rea, incluindo pessoal empregado em engenhos de fabrico de aguardente, cermica de tijolos comuns e outras atividades semelhantes que constituam sua modesta indstria de transformao. Esse quadro to pouco expressivo haveria de modificar-se extraordinariamente de ento para c. A SUDENE e a estrutura de apoio montada pelo Governo do Estado esto operando o milagre de impulsionar a regio em um vigoroso salto para o futuro. Nos ltimos anos, a SUDENE aprovou 119 projetos para a rea, com a criao de 13.841 novos empregos diretos e inverses totais acima de 2,5 bilhes de cruzeiros, a preos atuais. O Governador Rondon Pacheco e o Sr. Superintendente da SUDENE, engenheiro Jos Lins de Albuquerque, devem sentir-se felizes pela estupenda contribuio que o Estado de Minas Gerais e a SUDENE vm dando em favor do desenvolvimento do Pas. Os diretores da Coteminas, aqui presentes com suas famlias, tambm se sentem gratificados, por estarem participando, atravs do empreendimento hoje inaugurado, desse consciente esfro em prol do desenvolvimento. A Sua Excelncia o Sr. Governador do Estado, a Sua Excelncia o Sr. Superintendente da SUDENE e sua Excelentssima esposa, ao ilustre Prefeito de Montes Claros, aos nobres deputados, aos senhores Secretrios do Estado, s demais autoridades, aos acionistas e a todos os demais que aqui se encontram, os diretores da Coteminas agradecem, penhoradamente, a satisfao e a honra de t-los aqui presentes. Muito Obrigado. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 3/12/2008 13:00:55 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 59) CRONOLOGIA DA COTEMINAS 1962 Visita do diretor da Sudene, Juarez Faria, acompanhado do Prof. Spreafico, a Montes Claros. Eu era vice-prefeito e fui solicitado a receb-los, em nome da Prefeitura, e hosped-los. Eles vieram conhecer a rea mineira sob legislao da Sudene. Deles recebi as primeiras informaes sobre o papel da Sudene no desenvolvimento social e econmico da regio. 06.fev.1963: Viagem a Recife e Fortaleza, para contatos na Sudene e no BNB, com o dr. Aristfanes e o dr. Raul Barbosa, respectivamente. Fotos. Viajaram comigo os seguintes convidados: Dr. Simeo Ribeiro Pires Prefeito at 31.12.62. Hlio de Moraes Gerente do BNB Dr. Geraldo Magalhes Cunhado Dr. Simeo Edilson Bernardes Carneiro Comerciante e diretor ACIMC Antnio Aquino Proprietrio de Oficina Mecnica Walter Ramos Motorista. Diretores que nos receberam na Sudene: Dr. Jos Aristphanes Pereira, no exerccio da Superintendncia Presidente do BNB : Dr. Raul Barbosa Diretor do atual DIN : Dr. Juarez Faria So dessa ocasio os meus contatos com o BDMG, para conhecimento do projeto do Banco, para implantao de uma Fbrica de Tecidos no Norte de Minas, e com o Dep. Jos Aparecido de Oliveira, Dep. Raul Belm e Sete Barros, para obteno do projeto, que na ocasio tinha a sigla de COTOMINAS, a qual, posteriormente, mudei para COTEMINAS. Maro de 1963 O Dr. Simeo prefere a reforma de sua fbrica antiga, com teares Platt, de 1914. Eu o liberei do compromisso de associao e me ofereci para ajud-lo na reforma de sua fbrica, vendendo-lhe algodo com 1 ano de prazo, sem acrscimo. Assim foi feito. 1963/1964: Diretoria do Frigonorte. 1965: Casamento em janeiro. Viagem aos EE.UU em maio, na assemblia e conveno de Rotary International. Incio da Governadoria de Rotary, (Distrito 458) em julho. Confeco de material para divulgao da rea Mineira da Sudene. Incio de visitas como Governador de Rotary e para divulgao da Sudene, com nfase para os projetos viveis na rea Mineira, destacadamente o da Fbrica de Tecidos. Fev.1966 - Visita a Ub: Programa rotineiro de visita a pontos pitorescos e estabelecimentos industriais da cidade, inclusive recm-inaugurada fbrica de confeces da WEMBLEY, onde fiz exposio a seu presidente, rotariano Jos Alencar Gomes da Silva, sobre a Sudene e sobre a Fbrica de Tecidos. E convidei-o a visitar Montes Claros. Reencontro na Conferncia de Caxambu e em BH, onde voltamos a falar sobre o assunto. Renovei o convite para a visita 1967 - Visita do Jos Alencar a Montes Claros, com o ento Vice-Governador, Dr. Pio Canedo, aps troca de correspondncia e encontro em Belo Horizonte. Constituio da empresa piloto em 4.12.1967. 1968 - Minha indicao da empresa Nordeste Projetos, para confeco do projeto, minha apresentao ao Jos Alencar dos drs. Ruy Albuquerque e Adalberto Arruda e contratao do projeto, com financiamento no BDMG, na linha de crdito denominada FINEPOL. Junho de 1969 Eleito deputado federal em 1967, verifiquei que havia resistncia na Sudene para anlise e aprovao do Projeto. Consegui com o Governador do Estado que convidasse o Superintendente da Sudene, General Tcito Thefilo Gaspar de Oliveira para vir a Minas. Aqui, no Palcio, presente o ento Secretrio Dr. Victor Andrade Brito, solicitamos o empenho do General Superintendente para a aprovao do Projeto da Coteminas naquele ano, de vez que a partir do ano seguinte estava suspensa a anlise de novos projetos. Obtivemos o compromisso do Superintendente, renovado horas mais tarde, na Associao Comercial de Minas, ante solicitao igual formulada a meu pedido pelo ento presidente Dr. Adolfo Neves da Costa. Tudo isso em junho de 1969. Por telefone e telex, de Braslia, e tambm pessoalmente, mantive contato nos meses seguintes com o General Tcito Thefilo Gaspar de Oliveira, que cumpriu o seu compromisso na ltima reunio do ano, aprovando o projeto Coteminas, em .....12.1969. 1970/71 Reformulao do Projeto. Maio de 1971 Incio de implantao. 1975 Inaugurao da Fbrica de Fiao, com a presena do Governador Rondon Pacheco discurso anexo e artigo publicado no DIRIO DE MONTES CLAROS. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 29/11/2008 11:13:52 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 58) UM PATRIMNIO DA COMUNIDADE Luiz de Paula Ferreira (Publicado no DIRIO DE MONTES CLAROS, por ocasio da inaugurao da COTEMINAS, em maio de 1975) Duas atividades se revelaram bsicas para a formao da economia do Norte de Minas - a pecuria e a cotonicultura. Uma e outra vieram do Nordeste, mais especialmente da Bahia. O boi, trazido pelo Capito Antnio Guedes de Brito (1626/1695), em meados do sculo XVII. E o algodo na esteira do boi, para vestir o vaqueiro e suplementar a alimentao dos rebanhos. No faz muito tempo, comprava-se nas feiras de Montes Claros, como talvez ainda hoje se encontre em localidades mais ao norte, o pano grosso de algodo, fiado e tecido nos fusos e rocas de madeira das velhas fazendas do serto norte-mineiro. O boi era vendido em p, a princpio para a Bahia e para as zonas de garimpos, e depois para as charqueadas e frigorficos de Minas, do Rio e So Paulo. O algodo era transportado in natura, nos primeiros tempos para Minas Novas e posteriormente para Santa Luzia e Curvelo, ando depois a ser descaroado na prpria regio para fornecimento s fbricas de tecidos do centro-sul. H 10 anos ados, era ainda essa a situao que predominava. A idia do aproveitamento industrial do boi e do algodo, na prpria rea de produo, s pde encontrar condies de viabilizar-se aps o surgimento da Sudene e da chegada da energia da Cemig. Para abater o boi e industrializar a carne foi organizado o Frigonorte, o primeiro projeto de Minas a ser aprovado na Sudene. Representou o cometimento um irvel esforo de toda a regio, que soube compreender o alto significado da implantao do frigorfico para o desenvolvimento da pecuria no setentrio mineiro. A idia da fbrica de tecidos tambm criara corpo. Um grupo de empresrios locais foi a Recife e Fortaleza estudar a viabilidade do projeto junto Sudene e ao Banco do Nordeste, sendo-nos assegurado, desde logo, tanto da parte do Banco quanto da Sudene, total apoio. Todavia, ao ser aprovado, em seguida, o projeto do frigorfico, somaram-se os esforos das lideranas regionais em torno do empreendimento pioneiro e eu prprio assumi uma de suas diretorias at o final da implantao. quela altura a Sudene era ainda pouco conhecida em Minas Gerais. Grande parte dos mineiros no se dava conta de que cerca de 1/5 do territrio do Estado estava inserido na rea de atuao da Sudene. Havia a necessidade de um amplo trabalho de esclarecimento e se aguardava que o Governo tomasse a iniciativa. Foi quando se ofereceu a oportunidade para que a prpria regio beneficiada desse sua participao. Durante um ano, de 1965 a 1966, coube-me percorrer quase todo o Estado de Minas Gerais, na qualidade de Governador de Rotary. Mandei imprimir material informativo, e em todas as cidades que visitava e cujas lideranas reunia, por fora do cargo, divulguei o que era a Sudene e o quanto representava para Minas Gerais a importante agncia de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, explicava a legislao de incentivos fiscais e oferecia informaes sobre o potencial da rea mineira da Sudene e sobre os empreendimentos mais viveis. O interesse despertado por essa divulgao, no obstante suas deficincias compreensveis, foi recompensador. Muitos empresrios vieram a empreender, mais tarde, na regio, ou aram a encaminhar seus recursos para projetos mineiros. Nessas viagens foram tambm estabelecidos os primeiros contatos com aqueles que seriam mais tarde meus companheiros no projeto da Coteminas. O industrial Jos Alencar Gomes da Silva e o engenheiro Ivan Muller Botelho. Ambos mineiros e do interior, como eu prprio, e ambos igualmente empolgados pelo setor txtil. Sem eles e sem o apoio dos quase 15.000 acionistas que confiaram em ns, o empreendimento no teria sido possvel. Optamos por uma fbrica integrada (fiao, tecelagem e acabamento), de concepo ultra-moderna, para produzir tecidos de alta qualidade, muito embora essa escolha representasse sacrifcios muito maiores em sua implantao. Mas assim fizemos porque tnhamos a ateno especialmente voltada para o mercado interno e externo. Da nos definirmos por equipamentos mais custosos porm tecnologicamente avanados, capazes de produzir tecidos com qualidade de padro internacional, ao mais baixo custo de produo possvel no Pas. Para poder competir em qualidade e preo. Enfim uma fbrica que mais facilmente pudesse encontrar mercado para seus produtos aqui e no exterior. E, portanto, capaz de operar lucrativamente mesmo em ocasies de crise no setor. Ai est a Coteminas inaugurando o seu setor de fiao. Os outros estgios de sua implantao agora se sucedero em curto prazo. Ns, os construtores da Coteminas, estamos realmente muito satisfeitos. Sua implantao est abrindo um grande campo de trabalho na regio. Esperamos que ela represente o primeiro o para a formao de um plo txtil nesta parte do Estado. Onde farta a matria prima e a mo-de-obra abundante e facilmente adaptvel indstria. Com incentivos especiais da Sudene, do Governo do Estado e do Municpio. Em torno da Coteminas se agruparo atividades afins e em razo de seu funcionamento e por sua atuao direta, com projetos prprios, se caminhar para a melhoria da qualidade do algodo produzido na regio. Algum j disse que no somos donos de nada. Tomamos conta de alguma cousa, durante algum tempo. Em realidade, constri-se para a comunidade. Ai est a Coteminas. Uma conquista de Montes Claros. Um patrimnio irreversvel da rea de atuao da Sudene em Minas Gerais. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 26/11/2008 11:30:35 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 57) Houve, em determinada fase da tramitao do projeto, um certo esforo para que a fbrica se localizasse no Nordeste do Pas. Todavia, fiis tradio de teceles, em que sempre se afirmaram os mineiros, atravs dos tempos, logramos ser vitoriosos em nosso empenho de traz-la para Minas. Procuramos e encontramos o que h de mais atual e de mais conveniente para Minas. E quando assim dizemos porque a fbrica, a par de oferecer produto para o qual existe mercado interno amplo e em crescimento, poder sair tambm para o mercado exterior com custos baixos e boa qualidade do produto acabado, tendo a mais os incentivos fiscais municipais (10 anos de iseno), estaduais (reduo em um percentual do ICM que tende a nivelar-se em 60%) e federais (iseno do imposto de renda por 15 anos e outros), a que se somam os incentivos de ordem creditcia na forma de financiamentos diretos e avais bancrios. Com linha de produo diversa da existente em Minas e trabalhando mais para o ramo de confeces, a Coteminas no ir, j o dissemos, concorrer com as fbricas de nosso Estado. Ao contrrio, ocupando faixa prpria e que se encontrava disponvel, pretende somar-se, embora com nmeros modestos, ao grande parque txtil de Minas Gerais, oferecendo sua contribuio para que Minas acelere a retomada de seu lugar na vanguarda do progresso e da solidez econmica do Pas. A rentabilidade real prevista no projeto, tomando-se por base os preos vigentes no mercado nacional, de 37,6%, j considerada a margem para a correo monetria. O projeto oferece, portanto, a rentabilidade incomum de 37,6%, devidamente protegida contra o desgaste inflacionrio. Com esta apresentao, embora ligeira, de dados, quisemos significar que a Coteminas no um empreendimento qualquer, ou um negcio de ocasio, e tampouco a sua implantao poder ser tomada como uma aventura ou um salto no escuro. A Coteminas um empreendimento srio, amadurecido no tempo, no estudo e na pesquisa. Esperamos, assim, merecer a confiana de nossos conterrneos para que venham conosco produzir mais para Minas, para somarmos nossos esforos e recursos em um empreendimento recomendvel por sua lucratividade e tambm por sua contribuio ao aperfeioamento da mo-de-obra especializada, ao avano tecnolgico e ao crescimento do parque fabril do Estado. Ilustres autoridades, eminentes colegas do comrcio e da indstria, senhoras, senhores, Na fbrica da Coteminas, que ser a mais moderna e avanada do Pas, e que bem traduzir a mentalidade nova e progressista que se implanta no Polgono das Secas em nosso Estado, h um local reservado para reverncia vocao txtil de Minas Gerais. Ali se erguer um monumento, de autoria de artista mineiro, que testemunhar, de par com nossa homenagem e irao, o profundo respeito da mais nova rea industrial do Estado, aos pioneiros da indstria txtil em Minas Gerais, e a seus continuadores at os dias presentes. Ao mesmo tempo em que nele se afirmar nossa inabalvel confiana nos que vierem depois de ns, capitaneando instalaes cada vez mais aperfeioadas, e fortalecendo a imagem do ado, na confirmao de uma Minas Gerais realizada em seus destinos de centro de equilbrio da Ptria, e fonte inexaurvel de recursos materiais e humanos para o progresso e grandeza do Brasil. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 22/11/2008 10:41:52 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 56) APRESENTAO DO PROJETO COTEMINAS EM SOLENIDADE NA ASSOCIAO COMERCIAL DE MINAS, EM BELO HORIZONTE Dep. Luiz de Paula Queremos, em ligeiras palavras, oferecer alguns dados a mais sobre a Coteminas. De incio desejamos manifestar o quanto nos sentimos honrados e agradecidos por vossa presena, que tanto prestigia esta solenidade, ao mesmo tempo nos estimulando e nos encorajando em nosso trabalho. A fbrica da Coteminas nasceu de estudos e planificaes que se cristalizaram em 7 anos de trabalho, abrangendo todos os enfoques vitais para um cometimento de tal natureza. Nas pesquisas realizadas, demoramo-nos no reconhecimento do mercado de demanda, onde a exigncia do cliente ou a ser lei soberana e em que a elevao do padro de vida muda o gosto do consumidor, que a a reclamar mais elevado grau de qualidade. Com igual critrio avaliamos as fontes de matria prima, as possibilidades de mo-de-obra, o estmulo dos incentivos fiscais e creditcios da Sudene, a vantagem locacional da rea mineira do Polgono, tendo em vista as disponibilidades de recursos do centro-sul, e assim por diante. Na definio do tecido a ser produzido, evitamos colidir com os interesses da indstria txtil mineira. Na escolha das mquinas, procuramos a orientao mais segura e atualizada. Nesse trabalho tivemos o a dados levantados pela CEPAL, que realizou pesquisas na indstria txtil da Amrica Latina, e encontrando bons padres de produtividade apenas na Venezuela, na Colmbia e no Peru. Os demais pases, segundo concluiu aquele rgo tcnico das Naes Unidas, necessitam reequipar-se, salientando que outros pases esto ando frente do Brasil em seus programas de reequipamento. Dados colhidos em 850 fbricas de tecidos do Pas informam que o rendimento das fiaes representa apenas 58% do rendimento padro para a Amrica Latina, e o da tecelagem fica em torno de 54 por cento do que se pode alcanar com maquinaria moderna. A mesma fonte acrescenta que podem ser considerados obsoletos ou caminhando para a obsolescncia 80% os fusos e 70% dos teares instalados. Sabemos que as fbricas mineiras, em sua maior parte, encontram-se na faixa sadia da exceo, devidamente aparelhadas, mas a realidade gritante, na maioria das outras fbricas, est a reclamar renovao das instalaes e implantao de novas fbricas como a da Coteminas. Existe hoje um tipo de tear, avanado tecnologicamente, que produz tecido de modo contnuo e em vrias larguras, sem lanadeiras e outros rios e com reduzida mo-de-obra, produzindo por 6 teares comuns. Em dois anos (1967/68) a Argentina adquiriu 350 desses teares; o Mxico adquiriu 300; a Colmbia, 90; o Chile, 50. O Brasil precisaria de 600 desses teares modernos para reequipar-se convenientemente. Todavia, no perodo citado, adquiriu apenas 36 unidades, o que demonstra com quanta velocidade temos de nos encaminhar para renovao de nosso parque txtil. Esses teares, que esto revolucionando a nobre indstria dos tecidos, so fabricados em vrios pases, sendo melhor referidos os de procedncia sua, da marca SULZER. Foram esses, exatamente esses, os preferidos pela Coteminas. A fbrica surge assim adequadamente dimensionada desde os mnimos detalhes e est sendo construda como um todo, sem pontos de estrangulamento e a salvo de setores ociosos ou do reclamo de acrscimos improvisados que pesam negativamente na estrutura econmica de estabelecimentos implantados sem o devido critrio tcnico-econmico. O projeto original foi elaborado por categorizada equipe de tcnicos brasileiros e japoneses e posteriormente remetido Europa, a uma firma de consultores especializados, de renome internacional, que o revisou de ponta a ponta, resultando desse trabalho conjugado um projeto da mais alta qualificao, com um fluxo de produo racional e simples, sendo seus edifcios implantados em mdulos que permitiro acrscimos em qualquer dos setores - seja na preparao, na fiao, na tecelagem ou no acabamento, ou, ainda, na istrao - de acordo com o comportamento do mercado no futuro, sem quebra da harmonia do conjunto e mantendo-se inalterado o fluxograma original em toda sua simplicidade e racionalidade. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 13/11/2008 14:40:10 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 55) OLHA A COTEMINAS Uma fbrica comea sendo apenas um sonho, como a Coteminas comeou em minha concepo, nos idos de 1962. Em 1971 demos incio implantao. No terreno da manga velha que eu adquirira no incio dos anos 60, j pensando na fbrica. Demarramos pelas obras civis. Comearam os trabalhos de abertura das cavas, construo de tubules, alicerces e levantamento de paredes, rodeadas de andaimes, com distribuio de lmpadas em fiao provisria, por toda a rea em construo. A obra, com toda aquela iluminao, oferecia noite um belo espetculo para quem ava pela ento estrada de terra que levava ao aeroporto. A mostrar que ali se estava a construir uma fbrica. Aquele pouco, representado pela obra em andamento inicial, com sua iluminao noturna, j era muito para minha alegria, que contagiava toda a famlia. desse tempo a imagem mgica que ficou da Coteminas. Representa uma fase. De incio de jornada. De grandes esperanas. ou a ser rotina, todas as noites, aps a labuta do dia, o eio com a famlia, em uma camioneta Rural Willys, que eu dirigia, com a esposa ao lado e os filhos no banco traseiro. Para vermos a Coteminas comeando a nascer. Eram apenas escavaes, alicerces, andaimes, paredes sendo erguidas. Mas nossos coraes vibravam, cheios de alegria e confiana no que estava por vir. Eu me lembro. E muito. Recordo-me da estrada, erma naquele tempo. E dos sapinhos, quando a noite era chuvosa, coaxando nas margens encharcadas da estrada ou atravessando, nossa frente, a saltar, uns atrs dos outros, com as barriguinhas brancas a reluzir ao claro dos faris do carro. E me lembro da cantiga que fiz e que cantvamos juntos, quando nos avizinhvamos do local das obras: Olha a Coteminas toda iluminada na beira da estrada, olha a Coteminas. Outras fases vieram. De penoso trabalho. De compromissos assumidos. De escassez de recursos. De dificuldades financeiras. De se contar e recontar cada tosto. Da venda da Algodoeira Luiz de Paula e de 11 propriedades imobilirias e participaes acionrias em agncias de representao da Ford e da Wolksvagem. E de contrair um emprstimo de 43 milhes de cruzeiros, com aval e hipoteca dos imveis que restaram, inclusive da prpria casa de residncia, onde os avaliadores do banco pam em dvida a origem europia dos lustres. E eu lhes falei que deixassem os lustres de fora... Foram tempos difceis. s vezes desencorajadores. Aps a trabalhosa posta em marcha, comearam a surgir, pouco a pouco, os primeiros resultados positivos. Escassos, mas valendo como sinais animadores. E os anos foram ando. Bons resultados foram aparecendo, os oramentos se equilibravam, frutos da boa luta, da competncia e da dedicao da equipe. Fui presidente da empresa nos primeiros 19 anos de sua existncia. Aos 70 anos de idade ei a ocupar a vice-presidncia. isso a. O sonho realizou-se. E ao realizar-se, aquela imagem mgica transformou-se em trabalho organizado, competente e competitivo. Aquelas paredes e andaimes iluminados beira da estrada so hoje 11 fbricas de tecidos e confeces faturando 1 bilho de reais por ano. Boa parte em dlares. Para edificar este complexo txtil que a COTEMINAS de hoje, a empresa foi buscar acionistas no exterior, conquistando l fora capitais de risco para desenvolvimento do pas. Sou hoje um pequeno acionista. E sei que no somos donos de nada. Tomamos conta de alguma cousa por algum tempo. Em verdade, trabalhamos para a comunidade. A Coteminas ser sempre em minha lembrana uma paisagem iluminada no meio da noite. Mas no somente isso. Tendo essa viso mgica, que vem do ado, como moldura romntica e luminosa, ela e ser tambm a presena majestosa e real de um sonho realizado em plenitude. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 8/11/2008 07:20:32 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 54) PLO TXTIL No dia do lanamento da pedra fundamental eu anunciei que a COTEMINAS seria a fbrica de tecidos mais moderna do pas. E que representava uma semente, um exemplo, para a criao de um plo txtil no Norte de Minas. Houve quem dissesse que eu estava querendo muito para a regio. Mas aconteceu tal como anunciei. A Coteminas construiu no apenas uma mas quatro fbricas modernas em Montes Claros. As quais, somadas a mais duas das empresas Paculdino e Santanense e quatro implantadas em Pirapora, formam o POLO TXTIL DO NORTE DE MINAS. O TERRENO Quando comecei a pensar na Fbrica de Tecidos, no incio dos anos 60, apareceu um terreno a venda, na estrada de o ao Aeroporto. Fui l ver. Era uma manga velha, encapoeirada, com cerca de 150 mil metros quadrados, fechada por cerca de arame farpado, em mau estado. Comprei, mandei consertar as cercas e roar a manga velha. Foi esse terreno que escolhi para construir a fbrica da Coteminas. A estrada de terra hoje a avenida Magalhes Pinto. TEMPOS HERICOS Aps a posta em marcha, em 1975, a Coteminas ou a viver talvez a fase mais crucial de sua histria. Encontrava-me, certa tarde, em Belo Horizonte, de sada para Montes Claros quando chegou um pedido de peas de reposio para veculos da empresa. O ento contador da empresa, Dr. Joo Batista Bonfim, fez a pesquisa de preos e optou pela compra na EKIPAR, firma que no conhecamos. E me informou que a conta bancria da Coteminas estava sem saldo. E a conta da ECONORTE? - Perguntei. O Joo consultou suas anotaes e respondeu: Deve ter entrado um depsito hoje. Eu ento falei: - Faa o cheque da ECONORTE. Recebi o cheque, informei-me sobre o endereo da vendedora e me despedi. Na EKIPAR fui atendido pelo proprietrio, a quem fornecei os elementos para extrair a nota fiscal, entreguei o cheque e pedi que embalasse a encomenda para viagem. Aps pequena demora, um empregado trouxe os volumes e os entregou ao nosso motorista. Fui at o dono da loja, para despedir-me e aproveitei a ocasio para dizer: O senhor pode consultar o banco. O cheque tem fundos. J consultei - o homem disse. - No tem fundos no... Foi um choque. Eu, que j ia saindo, voltei-me e fitei-o, espantado. O homem sorriu. Eu conheo o senhor. L de Montes Claros. Sou casado com uma filha do Tonico Teixeira. Sua prima...O Senhor tem aqui o crdito que quiser. Tempos hericos. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 1/11/2008 09:37:13 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 53) BARGANHA SANTA Antes, confiado na aprovao, eu havia encaminhado ofcio Comisso de Justia da Cmara consultando se eu poderia continuar na presidncia da empresa a partir de quando a Coteminas asse a receber incentivos fiscais e outros benefcios do Governo Federal, via Sudene. A resposta foi que em minha condio de deputado eu no poderia presidir empresa subsidiada pelo Governo Federal. Optei pela empresa e me preparei para deixar a vida pblica. Procurei por em dia todos os compromissos assumidos e com a vida em ordem marquei audincia com o Presidente da Repblica e me despedi dele. Em seguida fui ao gabinete do Ministro da Casa Civil, meu amigo e conterrneo Rondon Pacheco, para despedir-me. Quando declarei o motivo de minha visita ele se emocionou e me disse que eu no poderia fazer isso. Que nosso partido estava com problemas, visto que 19 deputados, contando comigo, estavam desistindo de concorrer s eleies. E que se tal acontecesse o partido seria altamente prejudicado na votao da legenda. Eu contei para ele a consulta que fizera Comisso de Justia e ei s suas mos um folheto de apresentao do projeto Coteminas, que eu j havia mostrado ao Presidente Mdici. Mas o Rondon sempre foi um obstinado. E me props: Deixe o seu nome na legenda da Arena, ainda que no queira ser eleito. Eu j estou escolhido para o Governo de Minas. No Governo darei a voc todo o apoio que voc precisar. Com essa proposta eu concordei. Deixei meu nome na legenda. Fiz uma divulgao discreta do meu nome, mesmo porque eu j havia dispensado a votao de trs municpios que eram votao em massa em meu nome - Francisco S, Capito Enas e Montalvnia. No caso de Montalvnia, recebi a visita do Antnio Montalvo, fundador da cidade, que veio espontaneamente oferecer-me o apoio de seu municpio. Agradeci a ele e informei a razo pela qual sentia no poder aceitar o honroso oferecimento que me fazia. Cumpri minha parte e o Governador Rondon Pacheco cumpriu seu compromisso, apoiando a Coteminas em tudo que a empresa precisou do Governo do Estado. E quando pusemos a fiao em marcha ele veio a Montes Claros e fez emocionante discurso. No perdi a eleio. Fiz um compromisso, uma barganha honesta, altamente importante para a implantao da ento mais moderna fbrica de tecidos do Brasil, que gerou recursos para a formao do Grupo Coteminas, que hoje possui 12 fbricas com faturamento acima de 1 bilho de reais por ano, exportando mais de metade de sua produo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 29/10/2008 15:40:25 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 52) Estvamos em abril ou maio de 1969. Pensei muito na conversa do Joo Agripino. E tomei uma deciso. No dia seguinte vim a Belo Horizonte, procurei o Governador Israel Pinheiro, contei-lhe o acontecido e acrescentei: Se o Joo Agripino pode aprovar o projeto, o senhor tambm pode. Meu desejo que o projeto seja implantado em Minas. E s no ser se o Governo no nos apoiar. O Governador Israel Pinheiro poderia ser um homem de respostas duras, mas era um estadista. Perguntou-me qual era minha idia. Eu respondi que o prestgio do Governador Joo Agripino era muito grande. Seria bom que montssemos uma estratgia para obtermos um compromisso irreversvel do superintendente da Sudene, o General Tcito Thephilo Gaspar de Oliveira, fora da Sudene. Para tanto eu propunha que o Governador fizesse um convite ao General para visitar Belo Horizonte, a fim de conhecer as potencialidades do Estado e falar aos empresrios mineiros sobre a Sudene. Estvamos em maio de 1969. O convite foi feito. O General aceitou e marcou a data para junho. No dia e hora marcados, eu e o Presidente do Conselho Econmico do Estado, Dr. Victor Andrade Brito, estvamos NO MEIO DA PISTA, na Pampulha, aguardando-o. Recebemo-lo, ao p da escada do avio, levamo-lo ao Hotel Del-Rey e mais tarde ao Palcio, onde nos reunimos com ele e o Governador em mesa redonda. O Governador agradeceu a presena do Superintendente e falou bastante sobre Minas e sobre o que o Estado esperava da Sudene. Ao final, disse: De momento, Minas tem uma nica pretenso de curto prazo. a aprovao do projeto de uma fbrica de tecidos para Montes Claros. O Deputado Luiz de Paula, que o presidente da empresa, vai dar ao senhor os detalhes. E me ou a palavra. Coube a mim expor ao Superintendente o que era a Coteminas, o que o projeto representava para Minas e para a Sudene, o nmero de empregos previstos, o consumo de algodo e polister do Nordeste, as vantagens da instalao de uma fbrica nova, com equipamento ultra-moderno, como exemplo para a renovao do parque txtil do Nordeste e do Pas. E fui por ai afora, para no final revelar nossa grande preocupao com o propsito da Sudene de suspender em dezembro o exame de projetos txteis. Dai a necessidade de o nosso projeto ser analisado e aprovado com a mxima urgncia, para no ser alcanado pela suspenso. Alm do mais, a Coteminas seria um exemplo e uma referncia para a renovao pretendida pela Sudene. Ao final, o Governador reafirmou a pretenso do Estado, com respeito a aprovao do projeto, e o Dr. Victor Andrade Brito, como Presidente do Conselho de Desenvolvimento, rgo que representava o Estado junto Sudene, fez dele as minhas palavras e manifestou a confiana do Governo no apoio da Sudene ao projeto. O Superintendente mostrou-se sensibilizado e se comprometeu com o Governador a atender ao pedido de Minas. Do Palcio fomos para a reunio com empresrios, na Associao Comercial, onde o ento Presidente, Dr. Adolfo Martins da Costa, com quem eu me havia entendido, fez o mesmo pedido, agora em nome das classes produtoras, tendo o Superintendente acrescentado s anotaes que fizera em sua caderneta de bolso, no Palcio, o pedido da Associao Comercial. Da por diante, mantive, de Braslia, constante contato com a Sudene, acompanhando o andamento do projeto nos setores de anlise. O projeto comeou a andar, mas no no ritmo que eu desejava. O Superintendente vinha freqentemente a Braslia e eu tive ocasio de transmitir a ele, de viva voz, em Braslia, e por telex, da Cmara dos Deputados, a minha apreenso com relao ao andamento da anlise, tendo em vista o ar do tempo. At que certo dia, em novembro de 1969, em uma das vindas do General Tcito a Braslia, procurei-o, novamente. E ele, ao ver-me, antes mesmo que o cumprimentasse, foi-me dizendo, em palavras textuais: Olha, deputado, a SUA COTEMINAS vai ser aprovada na reunio de dezembro. Desde o ms de junho eu vinha acompanhando os trabalhos da equipe tcnica da Sudene, que por ordem do Superintendente, o retirara da prateleira. Pessoalmente, em Recife, onde compareci, nesse acompanhamento, e de Braslia, por telefone e em contato pessoal com o Superintendente, que em suas idas a Braslia hospedava-se no Hotel Nacional, onde eu residia. Atento ao andamento do projeto em sua tramitao na Sudene, eu mantinha contatos com a empresa que nos assessorava, a Nordeste Projetos, para pronto atendimento das exigncias que a equipe de analistas da Sudene apresentasse. E assim o projeto foi tramitando, no com a presteza que se desejava, porque no havia boa vontade. Compreende-se. Os funcionrios eram nordestinos. Conheciam o obsoletismo do parque txtil do Nordeste e priorizavam sua renovao. Para muitos, ns, da Coteminas, ramos forasteiros, sediados num estado rico. No precisvamos da Sudene. Mas eu estava vigilante. Vencendo os empecilhos, um a um, chegamos vspera do dia em que seria realizada a ltima reunio do Conselho Deliberativo, naquele ano. Seria tambm a ltima reunio em que seriam apreciados projetos da rea txtil, at serem atendidos os projetos de renovao do parque txtil do Nordeste. s 9 horas da manh, falando de Braslia, telefonei Secretaria da Sudene para confirmar se o projeto estava na pauta da reunio do dia seguinte. Em resposta minha pergunta, o Secretrio confirmou que o projeto fra includo na pauta. Antes de agradecer a informao perguntei se estava tudo em ordem, para a aprovao. Est sim, senhor deputado. Vossa excelncia pode ficar tranqilo. O projeto do senhor de prioridade B, no ? No no! Eu falei, de Braslia. Pois aqui na pauta est registrado como prioridade B... assim que ele vai ser apresentado. Minha deciso foi imediata. Peguei minha pasta de viagem, fui para o aeroporto e apanhei o primeiro avio que saa para o Nordeste. Se fosse aprovado em prioridade B, com contrapartida de dois por um em vez de trs por um, o projeto ficaria inferiorizado no mercado de opes e jamais seria implantado. Para deputados h reserva de lugares nos avies. Obtive uma dessas reservas e no incio da tarde cheguei a Recife. Do aeroporto segui diretamente para a Sudene. Valeu-me muito a condio de deputado. Para mim no houve espera. Imediatamente a equipe de analistas largou o que estava fazendo e atendeu-me. Com a cpia do projeto em mos eu quis saber a razo pela qual o projeto fora rebaixado para a prioridade B. Percebendo o desconforto da equipe, ao ser colocada naquela posio, pedi a cpia dos critrios adotados para contagem dos pontos que definiam as faixas de prioridade. As prioridades A, B e C correspondem participao acionria da Sudene na proporo de trs por um, dois por um e um por um, em contrapartida participao do empreendedor. Com o documento em mos e informado de que faltara um ponto para que o projeto alcanasse a prioridade A, percorri a relao de alto a baixo, localizei um dos pontos positivos e perguntei se aquele havia sido considerado. No, no foi responderam. Pois incluam. Como presidente da empresa eu assumo o compromisso de que a Coteminas ser uma empresa de capital aberto, com aes negociadas na Bolsa de Valores. O documento foi feito, eu assinei e o compromisso foi incorporado ao projeto e bem assim a classificao em prioridade A. Eu viajara com o propsito de regressar no mesmo dia a Braslia. Mas resolvi tomar hotel e comparecer reunio do Conselho na tarde do dia seguinte. Acompanhou-me o Professor Adalberto Arruda, diretor da Nordeste Projetos, empresa que nos assessorava na capital pernambucana. Chegamos antes do incio da reunio e pudemos verificar que o projeto constava da pauta em prioridade A Assisti apresentao e aprovao do projeto e regressei a Braslia, onde cheguei s duas horas da manh. No dia seguinte comuniquei ao Alencar: Coteminas aprovada. Em prioridade A. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 25/10/2008 08:21:35 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 51) O PROJETO Ao criarmos a empresa piloto, aqui em Montes Claros, em dezembro de 1967, sugeri que entregssemos a elaborao do projeto empresa NORDESTE PROJETOS, cuja competncia eu ficara conhecendo por ter sido essa empresa que fizera o projeto do FRIGONORTE. A escolha foi to acertada que aps a aprovao do projeto contratamos a empresa para continuar como nossa representante junto SUDENE. Na deciso de implantao da Coteminas levamos em conta a vantagem locacional, as fontes de matria prima, as possibilidades de mo-de-obra, o reconhecimento do mercado de demanda e o estmulo atravs dos incentivos fiscais e creditcios da Sudene. Na definio do tecido a ser produzido evitamos colidir com os interesses da indstria txtil mineira. Na escolha das mquinas orientamo-nos por pesquisa realizada pelo CEPAL, na indstria txtil do Brasil. Dados colhidos em 850 fbricas do Pas, apresentavam o rendimento das fiaes em apenas 58% do rendimento padro e o das tecelagens em torno de 54% do que se podia alcanar com maquinaria moderna. A mesma fonte acrescentou que estavam obsoletos 80% dos fusos e 70% dos teares instalados. Era este o quadro da indstria txtil nacional. Cresceu a nossa disposio de optar pelo que de mais moderno existia no mundo. Prosseguindo na pesquisa, verificamos que estavam saindo das pranchetas da engenharia europia um tipo de tear avanado tecnologicamente para produzir tecido de modo contnuo e em vrias larguras, sem lanadeiras e outros rios, produzindo por 6 teares comuns. Foram esses os teares que compramos para a Coteminas. Em 1968 o projeto ficou terminado e foi entregue Sudene. Espervamos que fosse aprovado naquele mesmo ano. IME NA SUDENE O projeto Coteminas, apresentado em 1968, encontrou resistncias em seu trmite. E caiu num ime. As notcias no eram animadoras. Dizia-se que o projeto no seria sequer analisado, isso porque os estados nordestinos queriam que a Sudene primeiro cuidasse da renovao do parque txtil do Nordeste, que estava envelhecido. Certo dia, em Braslia, sendo eu deputado, fui procurado pelo Governador Joo Agripino, que me disse o seguinte: Estou informado de que o nobre deputado presidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas - Coteminas, com projeto na Sudene, para implantao de uma moderna fbrica de tecidos. verdade, Governador. Estamos com esse projeto na Sudene. O projeto de vocs - disse ele - dificilmente ser aprovado. A Sudene est voltada para a recuperao do parque txtil nordestino, em via de tornar-se obsoleto. S depois disso ir acolher projetos novos. A conversa do Governador me preocupou. Eu tinha conhecimento desta preferncia da Sudene pela recuperao das fbricas do Nordeste e sabia que se propalava em Recife que a partir de dezembro a Sudene no iria mais receber cartas-consulta de projetos txteis. Por um perodo de 2 a 3 anos. A uma outra pergunta dele eu informei que era nosso propsito implantar a fbrica em Montes Claros, na rea Mineira da Sudene. O Governador Joo Agripino era figura respeitvel no Congresso. Por sua experincia parlamentar e pela liderana que exercia, eu sempre o irei. No prosseguimento de nosso dilogo, a certa altura ele disse ao que viera. Vocs deviam pensar numa soluo. De minha parte, posso ajudar. Se vocs levarem o projeto para Joo Pessoa, eu garanto a aprovao e ainda fao a doao do terreno e ofereo o aval do Banco do Estado. Podem contar com o Governo da Paraba para o que vocs precisarem. Eu fico muito grato, Governador, mas pelo menos at o momento o nosso propsito fazer a implantao do projeto em Minas. Vocs planejaram para Minas, mas isso pode mudar. Eu garanto a concordncia da Sudene. Alm do mais, prosseguiu, por que Minas? Minas no tem algodo de fibra mdia e longa. Ns temos. No futuro vocs tero de exportar. Minas no tem mar. A fbrica de vocs fica bem na Paraba. Pense nisso, deputado, e conte comigo. O Governador Joo Agripino lutava bravamente pelo seu estado. A conversa me preocupou por que o Governador Joo Agripino desfrutava do mais alto conceito na Sudene. Numa disputa, a Sudene se posicionaria em favor da Paraba, pois era voz corrente, na Sudene, que Minas era rica e no merecia os incentivos da autarquia. Alm disso, o Governador Joo Agripino era da UDN e ns do PSD. A UDN era ntima da revoluo. Magalhes Pinto, presidente da UDN, fora o chefe civil da Revoluo. Ns, do PSD, ramos tratados sob suspeita, por causa do Juscelino. Por isso tudo, fiquei preocupado com a conversa do Governador Joo Agripino. Alm do mais, sabia-se que a Sudene resolvera paralisar a aprovao de projetos txteis a partir de Janeiro do ano seguinte, para reestudar a indstria txtil do Nordeste e criar um programa voltado para a renovao de seu equipamento. Essa suspenso seria de 1 a 3 anos. Se a portaria suspensiva entrasse em vigor antes da aprovao da Coteminas, adeus fbrica de tecidos! (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 22/10/2008 10:27:36 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 50) Em 1964 fui eleito Governador do Distrito 458, de Rotary International, que na ocasio abrangia quase todo o Estado de Minas Gerais. E tomei posse em 1965, para um mandato de um ano. Fazia parte de meus compromissos, como Governador de Rotary, visitar e manter contato, durante um ano inteiro, com 41 das principais cidades do Estado, inclusive Belo Horizonte, Juiz de Fora, Governador Valadares, Barbacena, Patos de Minas, Cataguazes, Leopoldina, Itana e muitas outras cidades prsperas de Minas Gerais, em muitas das quais havia importantes empresrios da indstria txtil. quela altura a Sudene era pouco conhecida em Minas Gerais. A maioria dos mineiros no sabia que uma quinta parte do territrio do Estado encontrava-se inserida na rea de atuao da Sudene. Fazia-se necessrio um amplo trabalho de esclarecimento, mas todos aguardavam que o prprio governo se encarregasse disso. Ao ser escolhido para assumir a governadoria de Rotary compreendi que se abria para mim a oportunidade de tornar a Sudene conhecida dos mineiros. Para isso elaborei um plano de trabalho indito e corajoso. Ouvi as reas tcnicas da Sudene e resumi e mandei imprimir, por conta prpria, folhetos com a legislao incentivadora da Sudene e um levantamento do potencial econmico da rea Mineira da Sudene. Enchi com esse material uma mala e organizei um grupo folclrico, de artistas amadores, amigos meus tocadores de viola, cantores, sapateadores, improvisadores e contadores de casos e me pus a caminho, em veculos prprios, a divulgar de cidade em cidade, a comear por Belo Horizonte, o que era a Sudene e o quanto a Sudene era importante para Minas Gerais, como agncia propulsora do desenvolvimento econmico e social. E criei uma frase que a partir da ou a ser divulgada nos meios de comunicao e tornou-se comum : A SUDENE COMEA EM MINAS. De fato, para ns mineiros, que a vamos do Sul, a Sudene comeava em Minas. Pela primeira e nica vez viu-se um Governador de Rotary percorrer seu estado na dupla condio de de Rotary International e caixeiro viajante do desenvolvimento econmico e social de uma regio. Eu estava vendendo um sonho. Um grande sonho. A primeira visita foi aos Rotary Clubes de Belo Horizonte. Tanto na reunio istrativa, com as diretorias e os componentes das Grandes Avenidas dos clubes visitados, como tambm na reunio social, que se fazia em jantar festivo, de concluso das visitas, na qual compareciam altas autoridades locais, eu reservava espao, em meio mensagem rotria que me cabia transmitir, para vender o meu sonho. E informava que havia no Norte de Minas uma rea maior do que o estado de Pernambuco e maior tambm do que a soma das reas dos estados de Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte, na qual uma legislao federal, especialmente criada para fomentar o desenvolvimento, oferecia a quem quisesse empreender na referida rea, alm de outros incentivos, a participao acionria da Sudene, na proporo de 3 vezes o valor do capital do empreendedor, e iseno de imposto de renda para o empreendimento durante 15 anos. E acrescentava que o principal produto agrcola da regio era o algodo e que a regio estava aberta para a implantao de uma ou mais fbricas de tecidos. E me oferecia, no final, para maiores detalhes a quem se interessasse. O interesse despertado por essa divulgao foi compensador. Muitos empresrios vieram a empreender, mais tarde, na regio, ou aram a aplicar seus recursos do FINOR em projetos norte-mineiros. de praxe o Governador de Rotary ser levado a visitar autoridades locais o Prefeito, o Bispo, o Frum e pelo menos a uma empresa representativa do progresso da cidade visitada. Ub foi uma das ltimas cidades que visitei. Em Ub levaram-me a visitar a WEMBLEY, uma fbrica de confeces recm inaugurada, cujo proprietrio, Jos Alencar, interessou-se muito pela exposio que lhe fiz sobre os incentivos da SUDENE e o potencial econmico do Norte do Estado. E sobre a possibilidade de aprovao de projetos de fbricas de tecidos e confeces, aceitando, de pronto, meu convite para visitar Montes Claros. Isso foi em fevereiro de 1966. A visita foi feita e o assunto prosperou. E em dezembro de 1967 nos associamos para o empreendimento que seria a grande meta profissional de nossas vidas de empresrios. Sem ele e sem o apoio dos acionistas que confiaram em ns, o empreendimento no teria sido possvel nas propores em que foi realizado. O encontro em Ub, entre os dois empresrios que seriam os fundadores da empresa, constituiu-se, portanto, um marco fundamental para a existncia da Coteminas. Optamos por uma fbrica integrada (fiao, tecelagem e acabamento), de concepo ultra-moderna, para produzir tecidos de alta qualidade ao mais baixo custo de produo possvel no Pas. A Coteminas no nasceu por acaso. Sua consecuo requereu planejamento, organizao, muito trabalho, muitos sacrifcios, muita confiana no projeto e muita obstinao. Mas houve um momento em que o acaso teve presena marcante. Se no encontrasse um scio, no iria deixar morrer meu sonho. Partiria para realiz-lo. Mas meu encontro com o Alencar, em Ub, sendo eu usineiro de algodo e ele fundador de uma fbrica de confeces, foi decisivo. O acaso comeou a manifestar-se na escolha da empresa a ser visitada. A Wembley era uma das empresas relacionadas pela secretaria do clube. A escolha poderia ter sido outra. E continua o acaso. Se o Alencar no estivesse em Ub no dia em que visitei a fbrica de roupas da Wembley, ou estivesse com um simples resfriado que o impedisse de estar presente, ns no nos teramos conhecido. Bastava isso ou qualquer outro motivo que impedisse naquele dia o nosso encontro para que no acontecesse entre ns o dilogo do qual resultou meu convite e sua vinda a Montes Claros. Eu nunca, antes, ouvira falar do Alencar nem ele de mim. ramos dois desconhecidos. Ub estava to distante de meu giro de negcios como Montes Claros estava do dele. O acaso foi pea importante para acontecer aquele encontro, na recem-inaugurada fbrica de roupas da Wembley. E o acaso costuma ser o pseudnimo de Deus, quando Deus no quer seu prprio nome... (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 18/10/2008 08:54:58 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 49) A CHEGADA DA SUDENE A colonizao do Brasil se fez do litoral para o interior e cedo se evidenciou o desequilbrio no desenvolvimento do pas, com o interior, de um modo geral, e o Nordeste, em especial, perdendo o como do crescimento, situao que foi se agravando no Nordeste com o fenmeno das secas. Historicamente aqui onde vivemos j pertenceu Bahia, at a margem direita do Rio das Velhas. A regio pagava tributos Bahia e as igrejas eram providas de vigrios pelo bispo de Salvador. A partir do sculo XIX o Nordeste ou a ser um sorvedouro de verbas federais, no geral mal aplicadas ou no aplicadas. Criara-se a chamada indstria das secas. Mas o crescente interesse mundial pelo desenvolvimento econmico e pelos conceitos e idias de planejamento econmico comeou a penetrar nos crculos oficiais e profissionais brasileiros. Dentro dessas novas perspectivas, em dezembro de 1959 foi criada a Sudene, que ou a coordenar o desenvolvimento regional do Nordeste, a partir da formao de infra-estrutura material e humana, mediante a construo de rodovias, gerao e distribuio de energia eltrica, saneamento bsico, programas de pesquisas, de educao e outros. E ofereceu incentivos fiscais e creditcios ao empresariado, convocando-o para participar do processo mediante a implantao de indstrias para a transformao da matria prima regional em produto acabado, com emprego da mo-de-obra da regio. Nunca se louvar bastante o quanto a SUDENE foi importante para o desenvolvimento econmico e social desta regio. Foi to decisivamente marcante a presena da Sudene, que em qualquer avaliao que se faa do desenvolvimento do Norte de Minas h de se reconhecerem duas fases distintas: antes e depois da Sudene. Em 1962 o Governador Magalhes Pinto, por intermdio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, liderou um projeto para implantao do Frigorfico Norte de Minas Frigonorte, para abater o boi e industrializar a carne bovina, beneficiando-se dos incentivos da Sudene. E convidou-me para integrar a diretoria desse primeiro projeto de Minas Gerais a dar entrada na Sudene. oportuno esclarecer que a diretoria no era remunerada. Era um mnus pblico, como o exerccio da vereana. Bons tempos, aqueles. O Brasil era uma nao sria. No fui remunerado com honorrios. Mas fiquei conhecendo a legislao incentivadora da Sudene e aprendi como elaborar e implantar um projeto. Em meu entendimento chegara a hora de se pensar numa fbrica de tecidos para a regio. Havia na cidade uma pequena e antiga fbrica de tecidos grossos, com equipamento de 50 anos atrs, totalmente ultraada. Era seu proprietrio o Dr. Simeo Ribeiro Pires, na ocasio Prefeito Municipal, lder poltico altamente conceituado. Procurei-o para fazermos uma fbrica nova. E convidei-o para irmos a Recife e Fortaleza, a fim de nos entendermos com o Superintendente da Sudene e com o presidente do Banco do Nordeste. Tendo ele aceitado o convite, fiz contatos com Recife e Fortaleza e convidei para irem conosco o gerente local do Banco do Nordeste, Hlio de Moraes, o comerciante de tecidos, Edlson Carneiro, o mecnico Antnio Aquino e o motorista Walter Ramos. O dr. Simeo convidou o dr. Geraldo Gomes, seu cunhado. Fomos por terra. Samos daqui no dia 6 de fevereiro de 1963. A viagem durou duas semanas. Naquele tempo a Sudene dispunha de recursos abundantes e estava cata de bons investidores. Fomos muito bem acolhidos e incentivados na Sudene. O mesmo aconteceu no Banco do Nordeste, cujo presidente, o saudoso Dr. Raul Barbosa, colocou o BNB nossa disposio para financiar o empreendimento com juros diferenciados, a longo prazo. Minha iniciativa foi matria de primeira pgina na imprensa local. Em nossa estada na Sudene, em Recife, o Superintendente em exerccio, Dr. Jos Aristphanes Pereira, deixou escapar que a Sudene estava igualmente interessada na recuperao de fbricas antigas. Ao chegar a Montes Claros, o Dr. Simeo Ribeiro demonstrou maior interesse na recuperao de sua fbrica ao invs de se implantar uma fbrica nova. Agradeci a ele a proposta para acompanh-lo e ofereci-lhe algodo com um ano de prazo para ajud-lo em seu projeto de melhoria da fbrica. E fiquei com o meu sonho de construir uma fbrica moderna para Montes Claros. O Frigorfico era um grande projeto. Mas eu sonhava mais alto. Em minha condio de usineiro de algodo o o frente, em minha atividade industrial, era a fbrica de tecidos. Mas o investimento situava-se acima de minhas possibilidades. Era preciso encontrar um scio. Foi disso que ei a cuidar. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 15/10/2008 10:31:08 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 48) COMO NASCEU A COTEMINAS Minha histria pessoal simples. Sou personagem do xodo rural. Nasci na roa e aos 8 anos e meio de idade vim para Montes Claros, para aprender a ler, escrever e contar, como se dizia naquele tempo. Meu pai era pequeno comprador de algodo no povoado e dispunha de galpo com tulhas de algodo. Meu convvio com o algodo comeou brincando nessas tulhas. Dessa poca ficou o cheiro de algodo que at hoje carrego na memria. Meu primeiro emprego foi em uma firma compradora de algodo, aos 18 anos. Trs anos depois essa firma associou-se a uma empresa beneficiadora de algodo e se instalou em Montes Claros, ento a maior praa algodoeira do Estado. Nessa ocasio eu estudava contabilidade noite e fui transferido, como escriturrio, para a nova empresa, da qual assumi a contabilidade trs anos depois, com participao nos lucros. Nove anos aps, durante os quais trabalhei como contador e gerente, um dos scios resolveu mudar de atividade e me vendeu 35% do capital da empresa. ados mais oito anos, adquiri os restantes 65% e mudei o nome da empresa para Algodoeira Luiz de Paula S.A. Estvamos em 1960. O que era naquele tempo o Norte de Minas? No era a potncia que hoje conhecemos. Longe dos centros de deciso do Estado e mal servido de meios de comunicao, o Norte de Minas era a regio menos conhecida e mais atrasada do Estado. A decantada prosperidade de Minas encontrava no setentrio mineiro, uma rea de exceo. Outras regies do Estado, situadas mais prximas da Capital ou do Rio e So Paulo prosperavam e constituam a Minas Gerais conhecida. A Minas Gerais dos grandes polticos, dos banqueiros, das riquezas minerais, da propalada prosperidade. O Norte de Minas era chamado de terra dos baianos cansados, numa referncia aos colonizadores da regio e aos milhares de bons nordestinos que vieram depois em demanda de So Paulo e Paran e se deixaram ficar nestas plagas que tanto se identificavam com sua terra de origem. Em 1960 a populao da cidade era de 46.531 habitantes, segundo dados do IBGE. Hoje, como sabemos, de 320.000. No setor primrio, destacavam-se a pecuria e a cotonicultura como atividades principais. No secundrio, a posio de Montes Claros, no ano de 1960, era bastante modesta. A fora de trabalho aplicada indstria no alcanava, quela poca, 1.000 empregos diretos, sendo estimada em 2.000 para todo o Norte de Minas. Dois produtos se revelaram da maior importncia para a colonizao e desenvolvimento do Norte de Minas, por sua adaptao s condies regionais de clima e solo o boi e o algodo. Por longos anos o boi era vendido em p, para as charqueadas e frigorficos de Minas, So Paulo e Rio. E o algodo era vendido bruto e s mais tarde ou a ser descaroado na regio e remetido em fardos para as fbricas de tecidos tambm de Minas, So Paulo e Rio. O Norte de Minas produzia apenas matria prima. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 11/10/2008 08:54:53 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 47) COMO NASCEU A CASA DO ROTARIANO Foi na presidncia do companheiro Edmilson Cordeiro que a idia da Casa do Rotariano nasceu e ganhou flego. Estvamos em 1982. As nossas reunies eram realizadas no Automvel Clube. O ambiente era muito agradvel, mas o clube queria algo mais. E o presidente Edmilson saiu a campo e ns o acompanhamos. A meta era a sede prpria. To ampla que pudesse abrigar todos os Rotary Clubs de Montes Claros, no presente e no futuro. Mas onde buscar o dinheiro para realizar esse sonho to bonito e to rotrio, que emocionava o nosso presidente Edmilson e contaminava todos ns? Est escrito no Talmude que todo sonho tem algo proftico. E o mestre Abgar Ranaut dizia: S o impossvel digno de ser sonhado. O sonho do presidente Edmilson parecia impossvel. E seria realmente impossvel. Se no existissem os imponderveis. Foi o que aconteceu. Quem trouxe a novidade foi o companheiro Joo Henrique Ribeiro, que em sua profisso de engenheiro prestava servios Prefeitura Municipal como Coordenador de Projetos Especiais. Ele informou ao clube que a Prefeitura a com a Unio e o Estado de Minas Gerais convnio para construo de um Conjunto Habitacional destinado relocao de favelados. Havia na cidade 1.523 famlias cadastradas em 16 reas invadidas. Informou ainda que pesquisa realizada pela Prefeitura apontava o terreno onde haviam funcionado as Escolas Reunidas, do Rotary Club de Montes Claros, como o mais adequado finalidade. O clube se movimentou e aps os necessrios entendimentos a Prefeitura desapropriou o terreno. O pagamento foi feito, parte em dinheiro e parte com o lote de 5.650m2, no Setor istrativo do Bairro Ibituruna, para a construo da sede de nosso clube. O companheiro Joo Henrique Ribeiro elaborou o projeto. Os companheiros Alciliano Ribeiro, Hlio Brando e Afrnio Nogueira tiveram participao importante, na conduo dos empreendimentos e organizao de documentos. O dinheiro recebido da Prefeitura foi aplicado em Caderneta de Poupana na Caixa Econmica do Estado. Ao iniciar-se a construo da Casa do Rotariano o valor aplicado j alcanava a soma de 60 milhes de cruzeiros da poca. Foi com esse dinheiro que esses nossos companheiros valorosos, enfrentando embora os azares de uma inflao galopante, pam a casa de p. Nessa altura sobreveio a crise dos anos 80, com todas as suas sequelas, quando muitos bons projetos foram paralisados no pas. Inclusive a CASA DO ROTARIANO. Foi o companheiro Edmilson Cordeiro quem teve a idia da construo da sede prpria e foi ele quem aprovou projeto em memorvel reunio realizada no dia 2 de setembro de 1982. Nada mais justo, pois, que ao companheiro Edmilson, agora na presidncia da Avenida de Servios Internos, coubesse o comando das solenidades de inaugurao da CASA DO ROTARIANO. Foi ele, com a voz forte que Deus lhe deu, quem anunciou, na tarde feliz de 20 de abril deste ano da graa de 1996, multido que se reuniu no ptio de entrada, logo aps a execuo do hino nacional: Senhoras e Senhores, companheiros de Rotary. Estamos aqui reunidos - a famlia rotria do Distrito 4760 - com a honrosa e grata presena de autoridades civis, religiosas e militares, de representantes de classes e amigos convidados, para a Sesso Magna de Comemorao do Cinqentenrio do Rotary Club de Montes Claros e da chegada de Rotary ao Norte de Minas. Para dar incio cerimnia, temos o prazer de convidar o Governador Elmon Dinelli e o Presidente Luiz de Paula para desatarem a fita e descerrarem a placa de inaugurao da CASA DO ROTARIANO. Parabns, Edmilson. Parabns, companheiros Alciliano Ribeiro, Hlio Brando, Afrnio Nogueira, Joo Henrique. Os sonhos se realizam. Quando os que sonharam no esmorecem na luta para realiz-los. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 4/10/2008 08:27:04 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 46) ANO DO CINQUENTENRIO CASA DO ROTARIANO Estava eu no bem bom, comendo minhas goiabinhas, com 80 anos de idade e 50 de Rotary, a usufruir do meu direito de participar das reunies sempre que o reumatismo me permitisse, sem prejudicar a frequncia do meu clube. Foi nessa altura que o clube entendeu de me convidar para ser o presidente no Ano do Cinqentenrio. Ao fazer o convite o clube estava quebrando uma praxe de 50 anos, jamais desrespeitada, de no permitir que um membro do clube exercesse a presidncia por mais de uma vez. A novidade caminhou no tempo e nas ruas e chegou aos clubes irmos, que so sete, em nossa cidade. Os comentrios eram de que eu no aceitaria. E se aceitasse no daria presena s reunies. Ao lado, assistindo a tudo isso, impvida, silenciosa como a velha esfinge grega (decifra-me ou te devoro!), estava a Casa do Rotariano, cuja construo iniciada pelo clube em 1982, encontrava-se paralisada havia 8 anos. O que lhe granjeara entre os companheiros dos clubes irmos o apelido nada lisonjeiro de Elefante Branco. Sobrando para nosso clube, por sermos o pioneiro, o no menos pejorativo cognome de MUSEU. E para ns o pouco elegante epteto de dinossauros. Tudo isso com muita gozao. No meu grande otimismo de inocente, como disse o poeta, aceitei o convite. Tomei posse, presidi o clube no ano de seu Jubileu de Ouro. Sem faltar a uma nica reunio. E, o que mais importante, terminei a construo da CASA DO ROTARIANO, com recursos prprios, e hoje temos a alegria de j termos, reunindo conosco, na mesma CASA, quatro dos sete clubes da cidade, com direitos de uso iguais aos de nosso prprio clube, sem qualquer custo adicional. E o clube encerrou o ano com o maior quadro de scios de todo o distrito: 50 scios. Cumprindo mais um de nossos objetivos: comemorar os 50 anos com 50 scios ativos. O que tudo isso custou, no me perguntem... Faltava elaborar o Estatuto e o Regimento Interno, para ordenar e disciplinar a utilizao da CASA pelos clubes que aceitassem o nosso convite. O assunto ficou a cargo dos advogados do clube. Ambos esses instrumentos jurdicos so da maior importncia para prevenir a possibilidade de surgir no futuro qualquer tipo de desentendimento entre os ocupantes da CASA. Pois o objetivo de sua construo foi e continua sendo o de fortalecer a unio e o companheirismo entre os clubes e entre os rotarianos e aperfeioar a istrao interna dos clubes. Permitir a utilizao da CASA DO ROTARIANO sem definio dos direitos e deveres dos clubes ocupantes seria colocar todas as boas intenes, todo o trabalho desenvolvido at aqui e todo o patrimnio envolvido sob o risco de transform-la em pomo de discrdia. No final do ano ado um ano aps eu haver deixado a presidncia - o companheiro Edmilson Cordeiro, presidente do Colgio de Presidentes, externou-me sua preocupao com a situao da CASA DO ROTARIANO, na qual j se reuniam 4 clubes, sem existir qualquer documento que especifique os direitos e deveres dos ocupantes. Queixou-se de que ningum estava cuidando disso. E acentuando que fora eu quem terminara a construo, minha prpria custa, solicitou-me, em nome dos bons rotarianos do clube, do qual eu era o nico scio fundador na ativa, que elaborasse o Estatuto e o Regimento Interno, para regularizar a situao. Eu, que aps a guerra que havia sido o Ano do Cinqentenrio, j me considerava mais do que aposentado, tive de assumir o novo encargo. Apenas ponderei que o meu tempo, no final do ano, j estava todo comprometido. Na primeira quinzena de janeiro seguinte eu mergulhei em um mar de papis antigos, desde minha primeira presidncia no clube, em 1954/55, quando fundamos as Escolas Profissionais Reunidas. A fim de demonstrar que o terreno de 120.020 m, ocupado pelas Escolas Profissionais, no fra doado a Rotary, mas comprado por nosso clube, por CR$450.000,00, em 1956, e posteriormente, em 1982, declarado de utilidade pblica para fins de ordem social. E desapropriado por decreto da Prefeitura Municipal, que nos deu em permuta um terreno de 5.571 m, em rea nobre, no setor istrativo, no Bairro do Ibituruna e mais a importncia de CR$11.632.240,00, para iniciar a construo da sede social. Foi mais de uma semana de trabalho para chegar a bom termo, atendendo aos interesses de Rotary. Finda a semana, entreguei ao clube o Estatuto e o Regimento Interno. Ambos foram devidamente registrados em cartrio. Desde ento a Casa do Rotariano funciona protegida por normas que garantem a sua sobrevivncia em clima de companheirismo rotrio. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 27/9/2008 09:29:28 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 45) 50 ANOS VIVENDO ROTARY Bero do primeiro clube de servios implantado em Minas Gerais, terceiro criado no pas, depois do Rio de Janeiro e So Paulo, Montes Claros oferece, em sua crnica histrica, edificante exemplo de vocao para a prtica da solidariedade. Em 1926, antecipando-se prpria capital do Estado, Montes Claros fundou o seu Rotary Club, que pouco viveu mas legou ao futuro semente generosa. Com seus 50 anos bem vividos, o nosso clube absorveu a seiva do clube pioneiro e firmou suas razes na vida da comunidade. E vem influenciando nos caminhos do desenvolvimento social e econmico que a cidade vem alargando em sua trajetria para o futuro. O Rotary Club de Montes Claros, Minas Gerais, foi criado e comeou a funcionar como clube provisrio a partir de 31 de dezembro de 1945, tendo-lhe sido conferida a Carta de isso em Rotary International em 22 de abril de 1946. Completa, portanto, este ano, 50 anos de existncia. Foi o primeiro clube a ser criado e a funcionar ininterruptamente no Norte de Minas Gerais. Sua presena teve desde ento influncia marcante na vida comunitria. Quando chegou a Montes Claros, h 50 anos, Rotary encontrou uma elite de coronis e doutores pouco permevel s geraes emergentes. Exercendo seu poder de aglutinao, Rotary foi buscar elementos de representatividade onde quer que eles se encontrassem e reuniu 35 scios fundadores, com base em suas qualidades de cidados e nas profisses teis que exerciam e no em funo de seus ttulos universitrios ou de sua expresso poltica, ou de seus cadastros bancrios. Eu era jovem, na ocasio, e conhecia as barreiras existentes na comunicao com as estruturas vigentes. E assim pude perceber como os espaos foram se abrindo naturalmente, sob a inspirao dos ideais e das prticas rotrias. No convvio que se estabeleceu no clube, o Juiz de Direito, o Prefeito, o Coronel, o Gerente de Banco, o Promotor de Justia, o mdico de renome, o advogado famoso ampliaram seu dilogo e ns outros tivemos a satisfao de verificar que eles eram pessoas como ns prprios. E estou certo de que eles tambm exultaram com a expanso de seu campo social. O modelo simples e prtico das reunies foi um belo achado e ajudou a demolir velhos tabus. O que hoje rotina em nossas reunies foi grata novidade naqueles tempos. Aboliram-se os tratamentos rebuscados e novas normas de convivncia floresceram na comunidade. Os oradores aram a usar a linguagem coloquial, deixando a pomposidade dos discursos para ocasies muito especiais. A durao das reunies e o uso da palavra de cada orador tiveram o seu tempo limitado. Antes no se poderia prever quanto duraria uma reunio. E limitar o tempo de qualquer orador seria considerado grave ofensa. A prtica de se servir o jantar ao mesmo tempo em que falavam os oradores foi outra inovao para economizar tempo que se transformou em rotina por todos aplaudida. A expresso companheiro tornou-se corrente e o tratamento de voc solapou as barreiras criadas pelas diferenas de fortuna, de idade, de cultura e de ttulos e ressoou afetuosamente no corao de todos. Havia um vazio, na vida da comunidade, a ser preenchido. E aconteceu que logo aps sua instalao o Rotary Club de Montes Claros ou a assumir a posio de frum de reivindicaes de interesse comunitrio. Ao mesmo tempo em que a convivncia dos scios estabelecia o companheirismo e este se transformava em fora que o clube utilizou como oportunidade de servir. Rotary ou a ser o interlocutor lcido e bem informado para quantos visitavam a regio com algo til a oferecer. E suas reunies proporcionavam a todos uma tribuna privilegiada para a apresentao de idias e programas de interesse da cidade e da regio, constituindo, alm disso, fonte prdiga de notcias e informaes para a imprensa local e regional. Muito grande foi naqueles tempos, e continua sendo, a contribuio de Rotary para a comunidade. O Clube foi impelido pela prpria sociedade a assumir o papel de defensor das boas causas. Desde problemas menores, mas tambm importantes, como a proibio, em 21 de maro de 1946, do trnsito de boiadas pelas ruas da cidade, ou o socorro a famlias de retirantes das secas, at causas da maior importncia para a coletividade, como as que so mostradas a seguir. - A Associao Comercial de Montes Claros tinha existido antes, mas fechara suas portas havia muitos anos. Por iniciativa de Rotary foi reativada e teve como seu primeiro presidente o presidente do clube. E prossegue, at hoje, pujante, a prestar bons servios. - A Escola Normal um caso semelhante. Fechada em 1938, pelo Governador Benedito Valadares, foi reaberta 15 anos depois, por iniciativa de Rotary, sob a direo de um rotariano, o Professor Plnio Ribeiro dos Santos, que doou o terreno onde a escola hoje funciona, constituindo na atualidade um dos estabelecimentos de ensino de maior matrcula em uma nica unidade, em todo o Estado. - A Cia. Telefnica de Montes Claros tambm nasceu no clube e seu fundador, primeiro presidente e maior acionista foi o rotariano Hildebrando Mendes. - Da mesma forma foi criado o Centro Cultural Brasil-EE.UU, primeira escola do gnero, na cidade, para ensino da lngua inglesa. - Quando os pais de famlia montes-clarenses clamaram contra a inexistncia de uma escola de 2 grau na cidade e na regio, foi em Rotary que esse clamor encontrou ressonncia. O clube criou a Associao dos Amigos do Progresso, que entre outras realizaes fundou o Colgio So Jos e o entregou, sem nus, aos Irmos Maristas: amplo terreno, com paredes erguidas e doaes asseguradas. - Outra realizao importante foi o Conjunto Habitacional Rotary. O clube possua um terreno de 125.000m2, na periferia da cidade, e surgiu a oportunidade de se fazer um conjunto habitacional para famlias carentes em convnio com a Prefeitura e o ministrio do Interior. A obra foi realizada e atende a 208 famlias. - Encontra-se em fase final de acabamento a CASA DO ROTARIANO, com rea construda de 750 m2, em terreno de 5.650 m2. O prdio possui dois sales principais, um de 120 m2 e outro de 240 m2, e salas para secretariam, biblioteca, sede para a Casa da Amizade e dependncias de apoio para restaurante. - A cidade conta hoje com sete Rotary Clubs e a nossa expectativa de que todos os clubes existentes e os que vieram a ser criados no futuro venham a reunir-se na CASA DO ROTARIANO. - Foi no Rotary Club de Montes Claros que nasceu a lei federal que confere utilidade pblica a todos os Rotary Clubs, Lions Clubes e Casas da Amizade do pas. O autor da lei rotariano do nosso clube. O Rotary Club de Montes Claros notabilizou-se tambm como clube criador de clubes. E os clubes que criou aram, por sua vez, a criar novos clubes. Hoje so 28 clubes rotrios na regio. Em 1987 a Prefeitura Municipal construiu a PRAA ROTARY, um dos logradouros pblicos mais bem freqentados da cidade. Com jardins, quadras de esporte, play-ground. Uma placa informa aos freqentadores: HOMENAGEM DA MUNICIPALIDADE AOS ROTARY CLUBS DE MONTES CLAROS. Em verdade, Rotary trouxe para a regio um novo modo de conviver, mais natural, e ampliou o crculo de convivncia das pessoas, em cada comunidade. O Rotary Club de Montes Claros probe ao rotariano que tenha exercido a presidncia, em qualquer tempo, exerc-la uma segunda vez. uma tradio rigorosamente respeitada desde que o clube foi criado, h 50 anos. Mas neste Ano do Cinqentenrio o clube decidiu abrir uma exceo. Para o nico scio fundador que permaneceu no clube durante 50 anos, presente e ativo, tendo exercido a presidncia no ano rotrio de 1954/1955. Fizeram-no presidente do Ano do Cinqentenrio. Na esperana, talvez, de que a esta altura j tenha aprendido, finalmente, como dirigir um Rotary Club. Comovido, agradeo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 24/9/2008 12:57:18 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 44) Na Carta Mensal n 12, de julho de 1966, despedi-me assim: Prezados companheiros, Todos os anos Rotary renova os corpos diretivos da organizao, em um procedimento salutar e de grande alcance, pois assim fazendo est continuamente treinando novos lderes e proporcionando a um nmero cada vez maior de seus membros a oportunidade de prestar servios em posies de responsabilidade. A limitao da durao dos mandatos ainda prtica louvvel para evitar que a prestao de servios por tempo muito longo, em um mesmo setor, conduza ao cansao e ao desestmulo. Dessa forma, anualmente ocorre a renovao de titulares e um sopro novo e vigoroso de entusiasmo sacode Rotary em todos os escales. Estamos vivendo um desses importantes momentos. Em todos os clubes empossam-se os novos Conselhos Diretores e compem-se as novas Comisses de servios. Surgem novas idias, novas programaes, sempre dentro do mesmo e nobre esprito de servir. De minha parte, tendo cumprido minha tarefa sem brilho, embora, mas tendo-a cumprido, chegou a ocasio de ar a Governadoria ao novo Governador, ao nosso querido companheiro Jaime Pardini, do Rotary Club Belo Horizonte Oeste. O exerccio das funes de Governador do Rotary confere quele que para to alto mister teve a honra de ser escolhido a oportunidade de viver Rotary com intensidade durante todo um ano, de viver Rotary dia aps dia, aperfeioando seus prprios conhecimentos, aprendendo, muitas vezes, mais do que ensinando, e, acima de tudo, convivendo com todos os companheiros do Distrito. Essa convivncia continuada de um ano com os rotarianos do distrito convvio de trabalho em conjunto, de tarefas executadas em comum, convvio nas alegrias e nas dificuldades esse convvio, no que me respeita, marcou-me emocionalmente para toda vida e de maneira profunda, pois no sou feito de carvalho e nem de pedra e assim ei a ver e sentir com um novo interesse, com uma nova e profunda sensibilidade, cada cidade, cada clube, cada companheiro. Foi o companheirismo que se estabeleceu pela convivncia, aperfeioou-se pelas afinidades e se transformou em amizade. Terminado este ano de Governadoria tenho pelo distrito 458 um afeto especial, tenho pelos clubes e pelos companheiros uma profunda, terna e sincera amizade. E com tranqilidade e confiana que transferirei o Distrito s mos firmes e experientes de meu sucessor. O novo Governador um excelente rotariano e um grande cidado. Desde sua infncia revelou-se um apaixonado da disciplina e ao mesmo tempo uma criatura marcada pela honestidade e por invulgar amor ao trabalho. Essas caractersticas jamais o abandonaram, antes foram se afirmando e se aperfeioando com o ar do tempo, e o menino de ontem, que todos estimavam e iravam em sua querida terra de Divinpolis, correspondeu a todas as esperanas e se tornou o cidado responsvel que todos conhecemos, o cidado vitorioso no somente em suas atividades profissionais, mas tambm em sua convivncia geral, na conceituao de seu nome, no alto padro moral de sua conduta profissional e particular. Pardini um rotariano nato cuja presena em Rotary engrandece a instituio. Homem disciplinado e presente, sabe que a ordem a beleza moral das coisas e no desconhece, com Goethe, que uma vida intil equivale a uma morte prematura. Agora ir ele ter a oportunidade de governar o distrito, um timo distrito, com um elenco de clubes formados por rotarianos amveis e operosos, que trabalham com denodo por suas comunidades e por Rotary. Estou certo de que os bons companheiros do distrito 458 tero no novo Governador um grande orientador e um excelente e dedicado amigo. O ano rotrio que ou o nosso ano rotrio foi, graas a Deus, m bom ano para Rotary. Novos clubes foram criados, o nmero de scios cresceu e houve bom trabalho em todas as avenidas de servio. O distrito realizou uma Conferncia inolvidvel a Conferncia do Companheirismo, no ms de abril, e dois meses aps, em junho, alcanou um novo record com a Assemblia Distrital. Tivemos ainda a felicidade de fazer uma acertada escolha para a Governadoria do Distrito no ano rotrio de 1967/68, com a indicao de nosso carssimo companheiro Zoroastro Ferreira de Andrade, o notvel rotariano de Divinpolis que suceder a Pardini dentro de um ano. Foi, pois, um ano abenoado, esse que vimos de terminar. evidente que o mrito de todos esses sucessos pertence especialmente aos presidentes e secretrios de clubes e tambm a cada membro de comisso, a cada companheiro que liderou em qualquer momento um setor de trabalhos ou um movimento de apoio e idias ou empreendimentos do ano. Foram esses os que realizaram, pois o esforo isolado nada constri. Rotary atua atravs da conjugao de esforos, atravs do entusiasmo compartilhado por todos. Rotary companheirismo se desdobrando em servios. Nesta, que a minha ltima Carta Mensal, quero enviar um abrao de profundo e renovado agradecimento a cada um dos companheiros do distrito. A todos minha irao, minha amizade, minha gratido. No uma despedida, pois deixo o cargo e no o servio de Rotary. Como disse, ao finalizar as visitas ao distrito, espero que daqui por diante no s os caminhos de Rotary mas tambm as estradas comuns da vida nos faam sempre encontrar. Perto ou longe sempre os terei na lembrana. Na rememorao emocionada de lugares, de nomes e fisionomias. Na perene irao de seus gestos de bondade e de grandeza. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 20/9/2008 08:20:49 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 43) Aos rotarianos do Distrito, dirigi, nessa primeira Carta Mensal, as palavras abaixo : Caros companheiros do Distrito 458. Esta minha primeira Carta Mensal dirigida a todo o Distrito, dirigida a cada um de Vocs. assim como uma apresentao. Ou melhor, como um abrao de quem chega, como o abrao do amigo que chega. Em primeiro lugar quero agradecer a todos os companheiros a confiana com que me honraram escolhendo-me Governador do Distrito. Espero merecer essa confiana. Perteno a um clube do interior, o qual ajudei a fundar h 20 anos. Meu clube est situado no extremo norte do territrio do Distrito, justamente no extremo mais desabitado e atrasado. Isto handcap para qualquer um. Mas, com a compreenso e colaborao de todos, espero cumprir minha tarefa. Os companheiros ho de encontrar-me todos os dias esforando-me por cumpri-la bem. O outro assunto o seguinte. Nos contatos que tenho tido a ventura de manter com muito companheiros, e nos conselhos que tenho buscado junto aos ex governadores e a outros lderes do Distrito, as sugestes que tenho colhido oferecem uma nota comum, um s pensamento, o de se dinamizar Rotary, de se sacudir Rotary, para que a instituio possa ter o seu o acertado na cadncia de um mundo que evolui quase em ritmo de violncia. A minha opinio que para se realizar trabalho dessa natureza necessria uma convocao ampla. No alcanaramos os resultados pretendidos apenas com o esforo das cpulas executivas. necessria uma conscincia generalizada do que se pretende e um esforo comum para consegu-lo. este, pois, o segundo tema desta mensagem. Podemos resumi-lo nestas duas sentenas: 1 Precisamos dar mais dinmica a nossos clubes 2 Todos os companheiros esto convocados para esse trabalho. indispensvel que cada companheiro, pertena ou no ao Conselho Diretor, se interesse bastante pela vida do clube. De incio recomendvel que se elaborem planos para que todos colaborem como melhor puderem faz-lo. A realizao de uma Assemblia do Clube para tal fim ser uma boa providncia. Aos que tenham sugestes, peo que no as deixem perder-se. Ofeream-nas a seus clubes e ofeream-nas tambm ao Governador do Distrito, pois acho aconselhvel que se estabelea tambm essa linha direta entre o rotariano e a Governadoria. Desde j apresento aos companheiros a minha sugesto. Para os primeiros os. Que seja feito em cada clube um esforo pertinaz e inteligente, e do qual participem no somente os Conselhos Diretores mas cada rotariano, no sentido de se progredir a curto prazo tendo em vista inicialmente o seguinte: 1. Melhor informao e instruo rotria. (Todos os clubes da Ibero Amrica padecem de carncia crnica de instruo rotria). 2. Aumento do nmero de scios. (Importantssimo. a expanso interna. Vamos repartir Rotary para que Rotary possa crescer mais. Comecem pela lista de classificaes. Vejam as novas possibilidades para Veteranos e Adicionais). 3. Mais companheirismo. (Entre rotarianos e entre clubes. fundamental. Est na essncia de Rotary). 4. Prestao de servios comunidade. (O ideal de servir em ao na comunidade). 5. Melhor programao comum do clube. (Para que as reunies sejam mais agradveis e produtivas. Incentivo frequncia). 6. Realizao de uma Assemblia do Clube para exame dos itens acima, levando as concluses reunio plenria seguinte, quando a todos os rotarianos sero pedidas sugestes. Da por diante executar. Em dezembro daremos um primeiro balano para medirmos a extenso do o que tivermos dado. Mas antes disso, em minha visita, avaliaremos o avano de nossa campanha. necessrio que cada rotariano d expresso tangvel ao propsito de se dinamizar Rotary no Distrito. Muito apreciarei e espero receber continuamente notcias da aplicao e evoluo dessas sugestes, para meu conhecimento e ainda para utiliz-las como exemplo e estmulo a outros clubes. Estou, pois, convocando-os, neste incio de jornada, para um ano de muita colaborao com os executivos do clube, para um ano de muitas atividades, para um ano de muita ao. O progresso do clube, o progresso da comunidade e de Rotary, e sobretudo a viva satisfao do dever cumprido, sero nossos galardes. Todos sabemos, prezados companheiros, que no h alegria mais legtima que a do trabalho. A caminhada poder muitas vezes parecer longa e cansativa, mas o ideal rotrio que conduzimos conosco ser a cano que enfeitar e iluminar os caminhos. Repito que desejo receber notcias e sugestes e de minha parte me coloco disposio de todos a fim de atendermos ao que nos pede e aconselha a palavra amiga e experiente de nosso ex-governador Vallado e de seus companheiros, palavra que geral em todo o Distrito e que tenho ouvido repetida em todos os contatos refletindo o desejo comum de ao e dinamismo. Na Assemblia Distrital mencionei que eu prprio me perguntara se acaso no estaria pedindo muito a homens de atividades intensas, a homens que j tm seu tempo comprometido com seus labores e compromissos profissionais. Mas me lembrei do caso do soldado que na guerra conduzia s costas um robusto colega ferido. Ao ar pela sentinela esta lhe perguntou se no era demasiado o peso para suas foras, ao que o soldado respondeu: - no, no pesado, meu irmo! Em verdade, aquilo que fazemos com gosto no pesa em nossas foras. Vamos, pois, trabalhar juntos e com gosto para dinamizarmos cada clube e atravs dos clubes todo o Distrito. Rotary confia no rotariano! Post scriptum Peo aos companheiros que sugiram slogans e idias para esse nosso trabalho. Exporemos e debateremos as sugestes em nossas prximas cartas e nas visitas aos clubes. Companheiros! A hora agora. Mos obra!. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 17/9/2008 10:33:43 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 42) muito comum, agora que me encontro na vida pblica, um colega ou outro amigo apresentar-me algum em cuja lapela distingo de pronto a roda dentada de Rotary. Cumprimento o apresentado e amos a palestrar, surgindo ento tantos assuntos comuns e tanto interesse entre ns que o amigo autor da apresentao comea a sentir-se marginalizado e ns temos de socorr-lo, inserindo-o na conversa. Casos dessa natureza se repetem com freqncia. Considero Rotary uma ddiva da inteligncia e do corao do homem, oferecida ao mundo de hoje e de sempre. E sobretudo no companheirismo que Rotary encontra sua finalidade maior. Retire-se de Rotary o companheirismo e, como dizia Ccero, referindo-se amizade, como se se retirasse o sol do mundo. Eis a alguns traos da instituio cujo aniversrio hoje comemoramos. Eis a, na impraticabilidade de bem descrev-lo, rpidas pinceladas acerca de um elevado ideal que se expande no mundo, desde os idos de 1905, aproximando os homens e tornando-os mais amigos e mais teis coletividade, e acrescentando ao corao de cada um, uma parcela nova de felicidade. Publicado na REVISTA ROTRIA em fevereiro/1971, com a seguinte nota de rodap, incluindo foto do autor: El autor de este artculo, Sr. Luiz de Paula, es uma destacada personalidad brasilea. Fue Gobernador del Distrito 458 de R.I., en 1965-66 y es actualmente Diputado Federal. Es autor de la recientemente promulgada ley que declara de utilidad pblica, en el Brasil, todos los Rotary Clubs y clubs de Leones, actuales y futuros. REVISTA ROTRIA rgo oficial de ROTARY INTERNATIONAL (verso em espanhol), editada na sede da instituio, em EVANSTEN, Illinois. EUA. Na primeira Carta Mensal, como Governador do Distrito, dirigi aos Presidente e Secretrios de clubes a seguinte mensagem, em julho de 1965. A muitos dos prezados companheiros a quase todos j tenho o privilgio de conhecer pessoalmente. E guardo boas recordaes de nosso convvio, primeiramente na Conferncia do Distrito, em Belo Horizonte, quando Vocs me escolheram Governador, e depois na Inter-Clubes de Tefilo Otoni e em seguida na Conferncia Nacional do Rio de Janeiro. Nosso encontro seguinte foi na memorvel Assemblia do Distrito, em Governador Valadares, e logo aps aqui em nossa prpria cidade, na Inter-clubes que realizamos nos dias 3 e 4 deste ms. Foram oportunidades maravilhosas de trabalho e companheirismo rotrios, dos quais guardo a melhor lembrana. Hoje venho renovar os cumprimentos que a todos j externei em correspondncia comum, por motivos das novas funes que aram a exercer em seus clubes. Que esta primeira Carta Mensal leve minha saudao afetiva e entusistica a todos os companheiros. Desejo que este seja um ano de grande sucesso para seu clube e para sua comunidade. E desejo que todos os companheiros de seu clube o ajudem com renovado entusiasmo. Com esse pensamento estou me dirigindo a todos os rotarianos do Distrito, em mensagem especial para a qual solicito todo o interesse dos companheiros Presidentes e Secretrios. Como conselheiro amigo e acima de tudo como seu companheiro, estarei sempre pronto para ajud-lo e a seu clube no que for necessrio a fim de que este que o nosso ano seja profcuo e marque destacadamente a presena de nosso entusiasmo e de nossos esforos no exerccio dos cargos para os quais fomos conduzidos pela confiana e amizade de nossos companheiros. Este ano o nosso ano. Do ponto de vista de nossas responsabilidades ele entre todos o mais importante, porque a vida de Rotary no Distrito, durante este ano, estar em nossas mos. O sucesso de Rotary ou o seu fracasso estaro fluindo de nossas atitudes e procedimentos. Vamos, pois, imprimir a marca pessoal de nosso esforo e de nossa inspirao, aplicando com dinamismo o nosso entusiasmo e a nossa liderana para realizarmos a propsito do Presidente Sput Teenstra: CONSOLIDAO E CONTINUIDADE. Queiram receber meu abrao e renovados votos de sucesso e felicidades. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 13/9/2008 09:04:58 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 41) ROTARY UMA DDIVA OFERECIDA AO MUNDO Eles eram quatro, eram quatro homens modestos, falando uma linguagem nova para o mundo. E se reuniram certo dia para um encontro histrico. Seus primeiros os, os primeiros os que foram dados, perdidos ficaram na indevassabilidade dos tempos mais remotos. No princpio era o medo, era a desconfiana, a maldade feroz do homem primitivo. Eram os primitivos instintos de defesa e de luta indispensveis sobrevivncia em um mundo inspito, no qual o homem, desarmado pela natureza, enfrentava condies de vida terrivelmente hostis. A partir, portanto, do homem primitivo e quase fera, do homem sozinho e nmade, que se apoiava na Unio tribal, evoluindo para o cl, atravs da unio pelo sangue e pela adorao dos mesmos totens, a partir, pois, de quando a paisagem do mundo oferecia mltiplos arquiplagos humanos antagonizados pelo medo, pela desconfiana, e pela brutalidade, desde ento, e sempre, o homem se sentia um ser a que faltava algo, e esse algo era a associao com seu semelhante, a qual pouco a pouco veio sendo alcanada, na longa caminhada de sculos e milnios, pela formao dos aglomerados e a seguir das naes, das urbes, dos Estados, das Federaes, das Ligas e da ONU, na anteviso do sonho de Wendel Wilkie, na procura idealstica de UM MUNDO S. Foi longo o itinerrio atravs do tempo e do aprimoramento at que pudessem aqueles quatro homens se reunir na sala n 711, de uma casa modesta, na cidade de Chicago. A casa, por um desses fenmenos que se creditam ao acaso, possua o nome significativo de BUILDING UNITY, Edifcio da Unio ou, em traduo tambm aceita, Edifcio da Unidade ou da Universalidade. Singela era a sala, modestos os seus ocupantes: um vendedor de carvo (que ali tinha seu escritrio), um alfaiate, um engenheiro de minas e um advogado que viera da provncia. Este ltimo, de nome Paul Harris, fora o inspirador da reunio. A data: 23 de fevereiro de 1905. Naquele dia tomou corpo um pensamento generoso e altrustico, que evoluiu atravs dos tempos e cuja cristalizao, na forma de clube de servio, haveria de revelar-se profundamente fecundo para a humanidade. Naquele dia nasceu o primeiro Rotary Club. Seus componentes, hoje nomes histricos, foram Silvestre Shiele, o carvoeiro; Hiram Shorey, o alfaiate; Gustavus Loher, o engenheiro; e Paul Harris, que modestamente recusou a presidncia, em favor de Silvestre Shiele, que se tornou o primeiro presidente de um Rotary Club. certo, e o prprio Paul Harris o afirma em seu livro The Rotarian Age, que os seus fundadores, por mais que acreditassem em Rotary, no vislumbraram, naqueles primeiros tempos, o estupendo futuro de Rotary e a influncia profunda que viria a exercer no mundo. Em primeiro lugar, com Rotary nasceu o clube de servio, um novo tipo de associao at ento desconhecido e que a partir da fez escola e em sua esteira surgiram dezenas de organizaes da mesma famlia, devotadas, por diversas formas, desinteressada prestao de servios, como Lions, Orbis e outros. Pelo convvio dos primeiros rotarianos e pelo conhecimento das atividades profissionais de cada um, alargou-se o campo de conhecimento de todos, ao mesmo tempo em que entre eles se consolidava o sentimento de companheirismo. Cedo verificaram que sua organizao ara a representar uma fora que no devia deter-se em si mesma, mas que requeria fosse canalizada no sentido da prestao de benefcios, nascendo assim, organizadamente, as quatro grandes avenidas atravs das quais Rotary atua na realizao de seu ideal de desenvolver o companheirismo, de aproximar os profissionais de todo o mundo, de melhorar a comunidade e de reconhecer o mrito de toda a ocupao til. Ao comemorar-se mais um aniversrio de Rotary, e ao bosquejar, de minha parte, em palavras ligeiras, as origens e finalidades de Rotary, sou possudo da convico de que simples palavras no conseguem traduzir tudo o que Rotary em sua explendente realidade. Rotary no pode ser descrito, por mais que se busquem e se rebusquem as palavras. Rotary estar sempre acima de nosso poder de expresso. Para bem conhec-lo necessrio que se viva Rotary. na vivncia do dia-a-dia rotrio, na participao constante da torrente de calor humano que flui atravs de Rotary s assim se pode alcanar toda a sua grandiosidade, toda a sua magia. H exemplos sem conta desse poder quase miraculoso de Rotary. Certa vez, era eu Governador do Distrito 458, e visitava oficialmente um clube. Estvamos na assemblia de executivos e eu lanara a pergunta que costumava fazer para estimular a participao de todos. Como vai o clube? Foi a minha pergunta. As respostas vieram de vrios lados e em dado momento, quando algum punha em realce o companheirismo existente no clube, um dos presentes observou, prendendo a ateno geral: Rotary engraado. s vezes conhecemos uma pessoa por longos e longos anos, sem nos simpatizarmos com ela, como no caso que vou contar-lhes. Eu sou escrivo da Coletoria, prosseguiu, e devo atender indistintamente a todos os contribuintes, mas aquele cidado de tal forma me desagradava que sempre me esquivava de atend-lo e por ltimo chegava s vezes a escapulir-me da repartio, quando ele apontava ao longe, vindo em direo a Coletoria. Um dia esse cidado foi proposto para scio do clube. Tive um drama de conscincia. Em verdade eu nada tinha de real para apontar contra ele, mas nossos anjos-da-guarda no se entendiam, como diz o povo. Afinal, para no ser injusto, votei a favor dele, rezando para que outros o recusassem. Mas ele foi aceito e veio para o clube. A princpio ficamos distanciados um do outro, depois amos a trocar cumprimentos e mais adiante a conversar nos jantares, nos encontros de rua e em reunies sociais. E assim fomos descobrindo nossas afinidades e nos tornamos amigos. Hoje, no dia em que ele no vem Coletoria ou minha casa, eu vou visit-lo em seu trabalho ou na residncia. O convvio e o esprito rotrio destruram a barreira que nos separava. Este caso tpico de Rotary. Espero um dia lev-lo a uma Conferncia e ao acabar de cont-lo pedirei aos dois protagonistas que se levantem e o confirmem. E se abracem. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 10/9/2008 15:32:29 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 40) VIDA ROTRIA O Rotary Club de Montes Claros foi criado em 31 de dezembro de 1945, por iniciativa dos mdicos Hermes de Paula, Levy Lafet e Antnio Moreira Csar, com 35 scios fundadores. Sou scio fundador e o nico que deu presena contnua, como scio ativo, durante 50 anos. Fui presidente do clube no ano rotrio de 1955/1956 e Governador do Distrito em 1965/1966. Minha primeira visita oficial, como Governador do Distrito, foi ao Rotary Club de Belo Horizonte, fundador do nosso clube, onde fiz o seguinte pronunciamento. Prezados Companheiros, com imensa satisfao que visito hoje, em companhia de bons amigos, o Rotary Club de Belo Horizonte. Considero um privilgio que s Rotary, em seu destino de aproximar as pessoas pode oferecer, estes momentos to gratos que estamos vivendo com os companheiros rotarianos de Belo Horizonte e suas famlias, ao lado de ilustres convidados, na capital mineira. Companheiros que me precederam na Governadoria sempre afirmam que este um dos melhores anos de nossas vidas. Realmente, o convvio que venho tendo a felicidade de entreter com companheiros de dezenas de comunidades est acrescentando uma nota nova de alegria em minha vida, est enfeitando e iluminando a estrada de trabalho que o meu caminho de Governador de Rotary. A presena de ns rotarianos de Montes Claros em uma reunio rotria de Belo Horizonte tem para ns um significado especial que transcende de uma simples visita. antes um pagamento de visita e tem sempre o sabor de um reencontro. Pois aqui em Belo Horizonte esto as razes de nosso clube, daqui partiu h 20 anos a semente que ento se plantou em um serto virgem da idia de clubes de servio, em uma poca em que a capital mineira possua o clube mais ao norte do Estado de Minas Gerais. Na distncia que vai de Belo Horizonte a Salvador o vocbulo Rotary nunca fra antes pronunciado. Ainda me recordo das emoes e alegrias da entrega da Carta, levada pelas mos amigas de Orville de Conti, Nilton Veloso, Jlio de Almeida, Ramon Taboada, Gentil Nascimento, Borges de Carvalho - que foi de trem pr ter medo de viajar de avio - e de mais outros bons companheiros daqui. E to generosa foi a oferta e to entusisticas e nobres as emoes que a acompanharam, que pelo menos UMA das grandes virtudes do clube padrinho se transmitiu ao afilhado sertanejo, embora sem a pujana da origem. Refiro-me a esta marca de grandeza que tm os clubes de Belo Horizonte de serem clubes fundadores de clubes. Com efeito, o Rotary Club de Montes Claros, um ponto minsculo se sumindo em um mapa de desertos, uma ilha pequenina e perdida na imensidade de um serto bruto de 500 lguas de largo, aquela ilha foi pouco a pouco se transformando em arquiplago, foi se formando em torno do clube pioneiro uma constelao de novos clubes, fundados todos pelo clube afilhado de Belo Horizonte e hoje l esto viosos e enriquecendo suas comunidades os Rotary Clubs de Francisco S, de Bocaiva, de Pirapora, de Braslia de Minas e em formao o Rotary Club de Espinosa, cidade lindeira, de onde se enxerga, ali mesmo, a Bahia, a doce Bahia de Arquimedes Guimares. Caros Companheiros, Trago-lhes de anteriores encontros rotrios uma mensagem de Sput Teenstra, o notvel mdico holands, condecorado em sua Ptria pr seus trabalhos profissionais e que hoje o Presidente de Rotary International. Convida-nos o Presidente de R.I., agora que vimos de completar 60 anos de existncia, com mais de meio milho de rotarianos no mundo todo, convida-nos Teenstra a lanarmos um olhar de indagao ao ado e ao futuro e a nos perguntarmos onde estamos e para onde vamos. E nos estimula a planejarmos atividades construtivas, e a considerarmos, de um lado, a experincia do ado, e do outro, o imperativo do progresso. E esse seu pensamento ele resume nestas duas palavras: Consolidao e Continuidade. E nos pede AO, ao com letras maisculas, pois Rotary no um simples estado mental. O ideal de servir exige AO. Esse realce em AO evidencia o que o Presidente espera seja a diretriz em cada clube. Ele pede a todos para elaborarem um programa de AO. Prezados Amigos, Ns que aqui estamos acreditamos em Rotary. Esse nosso Rotary no apenas um nobre sentimento. um companheirismo mundial. No se assim posso dizer, uma religio, mas espero que em sua sublimidade seja uma expresso vigorosa e honesta de valores, normas e ideais das crenas religiosas que muitos de ns professamos humildemente. De modo que acreditamos em Rotary como uma fora para a amizade, como uma avenida para o servio social, um caminho para uma melhor compreenso internacional e um modo de vida que nos conduz a levar existncias melhores e mais completas. H quem diga que o ideal de Rotary inalcansvel. Pois ainda que esse pensamento de aproximao e compreenso entre os homens, e da prestao de servio, fosse uma utopia, essa utopia no seria de Rotary, ela nasceu de um sentimento que existe no mais ntimo da alma do homem e pertence ao patrimnio moral da humanidade, ela est na filosofia clssica, vamos encontr-la no amai-vos uns aos outros do Cristianismo. v a busca da felicidade que se baseia na satisfao pura e simples de nossos egoismos. O homem possui uma alma cujos anseios no se apaziguam com esse egosmo e cria dentro de ns mesmos a necessidade de sermos teis a outrem. Ademais, j se disse, a felicidade no uma estao a que se chega. Ela a maneira de se fazer a viagem. Ainda que acreditar na nobreza que existe na alma do homem fosse uma utopia, vale a pena viajar na estrada dessa utopia, pois essa estrada atravessa campos risonhos que a felicidade, em seu trono de flores, costuma percorrer, de quando em vez. O que h de mais importante em Rotary, companheiros, o rotariano. A influncia de Rotary como idia estupenda; a eficincia de Rotary como clube altamente expressiva. Porm mais importante e de expresso maior, a atuao do rotariano. Em Lake Placid se fez uma indagao aos 278 Governadores de Rotary ali reunidos, aos quais se perguntou quantos lderes verdadeiros conheciam eles e poderiam nomear em seus pases e no mundo, lderes respeitveis na autenticidade de seus princpios e na sinceridade e na lealdade de sua conduta, aos quais se pudesse seguir at a morte. A pergunta caiu em um silncio grave. E a concluso foi que, sem negar respeito e prestgio aos demais, buscssemos nossos lderes em ns mesmos, reforando com os instrumentos de nossos princpios, nossos quadros de liderana. No que tenhamos opinio exagerada de nossa importncia. Mas com um sentido apropriado de humildade, devemos ter conscincia da medida de nosso valor. Queiram ou no, os prezados companheiros tero de aceitar sua condio de lderes, reconhecida ao ingressarem em Rotary. E cada um de ns tem o dever de cultiv-la e de aperfeio-la, com plena conscincia de sua importncia, sem nos esquecermos de que bom ser importante, porm mais importante ser bom. Henry James quem nos diz, em um pensamento de grande expresso. O melhor que podemos fazer de nossas vidas consumi-las em algo mais duradouro que a prpria vida! Estamos, pois, ns os rotarianos fazendo algo mais duradouro que a prpria vida. Estamos a cada dia acrescentando algo de bom ao bem estar do mundo. E assim estamos ns escrevendo, a cada dia, uma mensagem de trabalho, de compreenso e de amizade, escrevendo-a e assinando-a a cada dia, para entreg-la ao futuro! (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 5/9/2008 11:45:12 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 39) Sesso da Cmara dos Deputados de 21-8-1968 PROJETO DE LEI N , DE 1.968 Estabelece normas para a prestao, pela Unio Federal, de assistncia tcnica e financeira para o desenvolvimento do ensino primrio nos Estados, Municpios e no Distrito Federal, e d outras providncias. Do Sr. LUIZ DE PAULA O CONGRESSO NACIONAL DECRETA: Art. 1. obrigatrio e gratuito, dos sete aos quatorze anos, o ensino nos estabelecimentos primrios oficiais. Art. 2. A Unio Federal, pelo Ministrio da Educao e Cultura, contribuir financeiramente com os Estados, Municpios e Distrito Federal na ampliao e melhoria do sistema escolar primrio (Lei n 59, de 11 de agosto de 1947), atravs de subvenes ou financiamentos para a compra, construo e reforma de prdios escolares e respectivas instalaes e equipamentos (art. 95, a e c, da Lei n 4.024, de 20 de dezembro de 1.961). Art. 3. Todos os recursos destinados ao desenvolvimento do ensino primrio, inclusive aqueles mencionados no art. 4, letra b, da Lei n 4.440, de 27 de outubro de 1.962, constituiro o FUNDO NACIONAL DE ENSINO PRIMRIO, para aplicao em todo o territrio nacional, de acordo com os planos estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Educao e, nos Municpios, pelas respectivas istraes, obedecidos os critrios de distribuio fixados pelo Conselho Federal de Educao. Pargrafo nico. O Conselho Federal de Educao, ao fixar o plano de distribuio do Fundo referido no artigo, levar em conta, sobretudo, a razo direta dos ndices de analfabetismo. Art. 4. permitido aos Estados, Municpios e Distrito Federal aplicar trinta por cento dos recursos recebidos na forma desta lei na melhoria do padro de vencimentos dos seus professores primrios em exerccio. Art. 5. A concesso aos municpios dos recursos previstos nesta lei, depender da aprovao prvia, pelo respectivo Conselho Estadual de Educao, dos planos para aplicao das verbas solicitadas, nos quais sero previstas as percentagens dedicadas a: a) compra, construo, ampliao ou reforma dos prdios de sua rede de ensino primrio e respectivas instalaes ou equipamentos; b) melhoria do padro de vencimentos dos professores em exerccio; c) fornecimento de material e da merenda para os alunos; e d) criao ou ampliao dos cursos de alfabetizao de adultos. Art. 6. Devero os municpios apresentar, juntamente com o plano referido no artigo anterior, informaes completas e autnticas sobre: a) importncia total anual das verbas oramentrias atribudas educao primria nos cinco ltimos anos e seu valor percentual calculado sobre cada oramento; b) nmero de escolas primrias mantidas pelo Municpio, especificando sua localizao; c) nmero de escolas primrias mantidas pelo Estado no Municpio, informando o total de alunos matriculados nas diversas sries; d) nmero de alunos matriculados e aprovados nas diversas sries das escolas primrias municipais nos cinco ltimos anos; e) total da populao municipal e do nmero de crianas em idade de escolarizao primria; f) previso do aumento do nmero de crianas em idade de escolarizao para os cinco anos seguintes; g) total de professores primrios em exerccio, especificando seus respectivos vencimentos ou remunerao previso percentual do aumento a ser dado a cada um; h) nmero das salas de aula e de professores dedicados alfabetizao de adultos, incluindo o nmero de alunos matriculados. Art.7. Os projetos de construo, ampliao ou reforma dos prdios escolares devero ser acompanhados pelo respectivo oramento de custo, onde as despesas sejam especificadas detalhadamente. Art. 8. O Poder Executivo regulamentar esta lei no prazo de noventa dias, contados de sua publicao. Art. 9. Revogadas as disposies em contrrio, esta lei entrar em vigor na data de sua publicao. JUSTIFICATIVA Embora o Governo tenha, atravs de diversas leis, procurado pr fim ao vergonhoso ndice de analfabetismo da populao brasileira, incentivando, de uma ou outra forma, as diversas campanhas de alfabetizao, at hoje nenhum ou quase nenhum resultado positivo foi conseguido. As disposies constitucionais existentes, a Lei de Diretrizes e Bases, a Lei n 59, de 1.947, e outras, obrigando a Unio a dispensar a sua cooperao financeira ao ensino, principalmente ao primrio, sob a forma de subvenes, dotaes oramentrias e financiamentos, tem sido, infelizmente, at hoje, letra morta, porque sempre inexistiu qualquer plano vlido e objetivo que fosse posto em prtica com seriedade. De longe em longe surge uma das famosas campanhas de alfabetizao, com ampla publicidade e pomposas entrevistas, e que morre por inanio logo depois. Enquanto isso nossa populao continua analfabeta. Tenho por certo que s h um meio de se resolver seriamente o problema: entregar sua soluo aos municpios principalmente, sob a superviso da Unio, deixando aos Estados, somente uma parcela da responsabilidade. Unio caberia, ento, fornecer os recursos aos municpios, diretamente ou atravs dos governos estaduais, sem deixar, contudo, de exercer uma severa vigilncia para que os famosos desvios de verbas e coisas assemelhadas no ocorram. Os municpios vivem mais de perto o problema do analfabetismo e, se receberem socorro da Unio, podero mais facilmente solucion-lo. Mas precisam dos recursos que no tm para construir, reformar ou ampliar os prdios de sua rede escolar; necessitam oferecer melhores vencimentos aos seus professores e, ainda, elevar seu padro de conhecimentos; devem fornecer aos alunos, principalmente aqueles das zonas rurais, o material escolar que no podem comprar e a merenda que no trazem de casa. Portanto, se receberem da Unio tais recursos, previstos na Constituio e nas diversas leis j existentes, os municpios podero pr fim a essa chaga maldita que aflige a Nao. O Fundo Nacional do Ensino Primrio j existe, criado que foi pelo Decreto-lei n 4.958, de 14 de novembro de 1.942. A ele destinado 50% da contribuio criada pela Lei n 4.440, de 27 de outubro de 1.964 (Salrio-Educao). A Lei n 4.024, de 20 de dezembro de 1.961 manda aplicar um tero dos recursos destinados educao ao referido Fundo. Dinheiro no falta para que ele possa cumprir realmente seu destino. S nos resta, assim, dar-lhe uma destinao certa, honesta, proveitosa e inteligente, distribuindo-o diretamente clula da Nao, isto , ao Municpio. O presente projeto procura dar a soluo aventada ao problema, cercando a Unio de garantias para que os recursos entregues aos Municpios sejam realmente empregados no desenvolvimento do ensino primrio e, por conseqncia, na alfabetizao de nosso povo. SALA DE SESSES, em 21 de agosto de 1968 Deputado LUIZ DE PAULA Sesso da Cmara dos Deputados de 28.08.1968 APRESENTA EMENDA A PROJETO DE SUA AUTORIA SOBRE A DISCIPLINAO DO ENSINO PRIMRIO Luiz de Paula Senhor Presidente, Acabo de encaminhar ao Sr. Relator, na Comisso de Constituio e Justia, do Projeto de minha autoria sobre a disciplinao do ensino primrio, Emendas aditivas nos seguintes termos: Art. -As professoras e professores de ensino primrio itidos mediante concurso pblico, at a data de publicao da presente lei, e os que venham a s-lo posteriormente, sero equiparados ao nvel correspondente dos funcionrios pblicos federais, itindo-se a contratao, por necessidade de servio, aos nveis de funcionrio estadual e municipal. Art. - Aos primeiros cinqenta municpios que em cada ano apresentarem maior ndice de reduo do analfabetismo em seu territrio, conceder-se-o favores especiais no setor do ensino, na forma de incentivos financeiros para campanha, e diploma de Honra ao Mrito para o Chefe do Executivo, outorgado em solenidade pblica. Cumpre-nos, Sr. Presidente, estimular os professores e professoras primrias de concurso, remunerando-os condignamente. Face 1 emenda, pagando os estaduais e municipais nas mesmas bases dos federais. Mas como, em determinadas localidades do hinterland brasileiro, o concurso ainda no vivel, nessas sero lcitas as contrataes, pelo regime da Consolidao das Leis do Trabalho, conforme prev a Constituio do Brasil e sugere a proposio supra-referida. No tocante segunda emenda, o esprito que presidiu sua elaborao visou estabelecer emulao entre os Municpios, para mais cedo lograr-se a extirpao desse cancro nacional que o analfabetismo. H 15 milhes de crianas sem escola no Brasil. triste, humilhante, espantoso, mas verdade irrecusvel, que atesta a falncia do atual sistema do ensino primrio em nosso Pas. Por que insistirmos nesse sistema, quando seu fracasso proclamado por 15 milhes de vozes infantis a reclamar escolas? Somente o Municpio, que permite o fracionamento do problema e o contato direto e sistemtico com cada uma de suas partes, sob a fiscalizao, estmulo e orientao do Estado e da Unio, dentro do esprito de emulao que desencadear a porfia pelos melhores resultados, poder, finalmente, vencer o analfabetismo. Nessas condies, Sr. Presidente, procedido o registro que ora efetivamos, antecipadamente gratos pela acolhida s mencionadas emendas, confiamos venham elas, posteriormente, a merecer a aprovao final desta Casa, o que significar o reconhecimento, pela Cmara, dos esforos diuturnos dispendidos, Brasil adentro, pela sacrificada classe dos que se empenham em transmitir as primeiras luzes s crianas de nossa Ptria. Luiz de Paula ![]() (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 30/8/2008 10:36:18 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 38) ALGUMAS REALIZAES DO DEP. LUIZ DE PAULA Faculdade de Filosofia A primeira Escola de nvel superior do Norte de Minas, fundada pela Fundao Educacional Luiz de Paula, pioneira do ensino superior nesta parte do Estado. Fundao de 7 colgios e escolas normais na regio; de 12 escolas rurais e de outras tantas bibliotecas na regio. Doao de um quarteiro na Av. Dulce Sarmento (asfaltada), com 5.000m2, no valor de 60 mil contos, para construo da Escola do Ensino Profissional do SENAI. Criao da Associao de Pais e Amigos de Excepcionais APAE entidade mantenedora da Escola Cirandinha, para crianas excepcionais, em funcionamento na Rua Padre Teixeira, n 153, gratuita para crianas pobres. Iniciativa da reunio de todos os deputados da regio e de Curvelo e Sete Lagoas, da ARENA e do MDB, com o Ministro Andreazza e o Diretor do DNER, Engenheiro Elizeu Resende no Rio para obter a colocao da BR-135 na faixa de prioridade e autorizao para o asfaltamento, o que foi conseguido, como de conhecimento geral. Campanha vitoriosa sob o slogan CIDADE INDUSTRIAL AGORA, desfechada em maro de 1968, mediante o aliciamento das classes produtoras, entidades de classe, lideranas locais, com cobertura dos jornais e da ZYD-7, obtendo em 24 horas a autorizao das autoridades competentes para incio das obras de implantao do Distrito Industrial, que havia cado em ponto morto. De ento para c no houve soluo de continuidade e todas as verbas prometidas foram liberadas. Industrializao de Montes Claros e da regio via Sudene. Pioneiro da divulgao das potencialidades da rea poligonal mineira, fazendo palestras e divulgao de dados em 40 cidades de Minas Gerais acerca do Polgono das Secas e dos incentivos da Sudene, no ano de 1965, como Governador de Rotary International, distribuindo fartamente impressos confeccionados prpria custa para divulgao dos incentivos e das possibilidades do Norte de Minas para aplicao de recursos atravs de projetos aprovados pela Sudene. Participao efetiva na nova era de industrializao de Montes Claros: - Diretor para implantao do FRIGONORTE. - Scio fundador e presidente do maior empreendimento de Minas Gerais na Sudene, a COTEMINAS, em implantao. Proposta de criao de rgo de Governo com status de Secretaria de Governo em Montes Claros. Seu projeto para criao de rgo ao nvel de Secretaria para orientar, incrementar e comandar a poltica desenvolvimentista do Polgono Mineiro e para dinamizar e consolidar nossas relaes com a Sudene, teve seus estudos concludos no Governo do Sr. Israel Pinheiro, para posterior implantao. Trabalho conjugado com a Associao dos Usineiros de Algodo obtendo perdo de multas e parcelamento em 72 meses dos dbitos de ICM relativos a algodo e leo de caroo de algodo, a partir de compromisso obtido do sr. Governador do Estado. Campanha contra a incluso de Barreiro Grande. Seu pronunciamento na Cmara foi o nico, de deputado de Minas, a ser transcrito na imprensa de Recife. Carta do Ministro do interior citando seu pronunciamento e exaltando sua atuao no caso, em defesa dos interesses do Polgono das Secas. Doao de verba para criao de um AMBULATRIO para consultas mdicas, tratamentos e socorros de urgncia gratuitos aos pobres, a ser instalado no novo prdio da Loja Manica. Doao de verba para criao de uma CANTINA para distribuir alimentao diariamente a crianas pobres no escolarizadas, a ser instalada juntamente com o AMBULATRIO. Verbas pessoais doadas para Montes Claros, somente este ano: Centro Cultural Brasil-Estados Unidos 10.000,00 Diretrio dos Estudantes de Montes Claros 5.000,00 Unio Operria e Patritica 5.000,00 Associao dos Amigos do Bairro do Cintra 5.000,00 Associao dos Amigos do Bairro Santos Reis 5.000,00 Crculo Operrio de Montes Claros 5.000,00 Asilo So Vicente de Paulo 2.000,00 Orfanato N.S. do Perptuo Socorro 2.000,00 Conservatrio de Msica Lorenzo Fernandez 2.000,00 Colgio Imaculada Conceio 2.000,00 E muitos outros. Campanha do uniforme para o aluno pobre. Doao de 1.000 uniformes j distribudos este ano, previstos 5.000 para o prximo ano. Critrio: a distribuio foi feita pela Delegacia de Ensino com a recomendao de serem escolhidas as escolas mais pobres e nessas os alunos mais necessitados. Intermediao para compra de mais de uma dezena de tratores de esteiras destinados a Prefeituras para abertura e conservao de estradas na zona rural, bebedouros para gado etc. Soluo de velha questo de limites do municpio de Varzelndia pela via istrativa. Comisso de peritos do Departamento Geogrfico que veio h um ms a regio, confirmou os direitos de Varzelndia, e no aceitou as pretenses da Ruralminas. Os mapas da regio existentes no Departamento Geogrfico esto sendo corrigidos a fim de se restabelecerem os limites tradicionais entre Varzelndia, Manga e Itacaramb. Providncias em favor dos lavradores e do povo em geral de Espinosa durante e aps as inundaes de maro de 1968. Projeto de lei isentando do ICM e do IPI os tratores, mquinas e implementos agrcolas em todo o territrio nacional, transformado em decreto-lei pelo Executivo. Instalao do IPSEMG em Montes Claros Ambulatrio mdico- dentrio para atendimento aos funcionrios estaduais e suas famlias de toda a regio. Sugestes ao Governo Federal, aproveitadas para a reformulao de ensino fundamental. nico deputado da regio a ter projeto transformado em lei na atual legislatura. Utilidade pblica para Rotary Clubes e Lions Clubes. Entre todos os demais, foi o deputado que deu mais presena em Montes Claros, onde veio todas as semanas, viajando de preferncia a noite para melhor aproveitar o dia em contato com suas bases. Farta distribuio de verbas em toda a regio. Abertura de estrada de terra So Francisco-Urucuia, para ligar a regio a Braslia-DF. Presena em 3 reunies do Conselho Deliberativo da Sudene, uma em Montes Claros e duas em Recife. Projeto de lei disciplinando as vendas a prestao, em defesa da bolsa do povo, em tramitao final na Cmara dos Deputados. Projeto de lei de criao da Grande Regio Metropolitana de Montes Claros, em tramitao na Cmara. Este projeto j foi copiado por representantes de outros Estados da Federao e aplicado em suas regies. Apresentao ao ento Presidente Costa e Silva, em sua visita a Minas Gerais em outubro de 1967, de trabalho contendo todas as reivindicaes do Norte de Minas, algumas das quais j foram atendidas. Uma dessas reivindicaes que se encontra em estudos a instalao em Montes Claros de um Batalho do Exrcito. Emprstimo de $100.000,00 do Banco Hipotecrio para a Prefeitura, inclusive supresso de clusula que a Prefeitura considerava prejudicial aos interesses do Municpio. Autorizao expressa do Diretor do DER para servios de reparao em estradas municipais fora de Convnio. Abertura da estrada Tamborilzinho-Nova Esperana. Obteno com o atual Diretor do DER de autorizao para a Residncia local do DER fornecer a Prefeitura trator para espalhar terra acumulada com a retificao do Rio Vieira. Representao efetiva dos interesses de Montes Claros e da regio junto ao Governo do Estado e na rea federal, e divulgao permanente das potencialidades regionais e dos benefcios e incentivos da Sudene. Verbas para manuteno das Escolas Profissionais Reunidas e para trmino das obras da Escola Rotary que ali funciona atendendo s crianas dos bairros vizinhos. Iseno e seriedade na indicao ao Governo dos nomes de juizes para a Comarca, optando invariavelmente pelos mais credenciados, sem indagar de suas preferncias polticas. A Comarca est provida por trs juizes ntegros e operosos, que honram a magistratura de qualquer Pas. Escolhidos com esse critrio nas listas trplices. Nenhum deles do ex-PSD. Mesmo critrio na escolha de Delegado de Polcia, nas poucas vezes em que, a pedido do titular ou por razes de servio, vagou-se a Delegacia. Campanha para o asfaltamento Pirapora-Corinto. O que no fez. Tendo mando poltico em Montes Claros, como deputado federal mais votado, no mudou delegado de polcia, nem diretor de ginsios ou de Escola Normal, nem delegada ou inspetora de ensino, nem mdico de Centro de Sade, nem servente de grupo. No perseguiu nem deixou que perseguissem. Foi onde mais produziu: confiana, tranqilidade, sossego, bem-estar. Outros itens mais, no lembrados no momento, podem ser acrescidos. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 26/8/2008 11:35:58 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 37) REFORMULAO DO ENSINO FUNDAMENTAL Sala de sesses da Cmara dos Deputados, 23.07.1970 Dep. LUIZ DE PAULA Senhor Presidente, Por decreto do Exm. Sr. Presidente da Repblica foi criado o GRUPO DE TRABALHO no Ministrio da Educao e Cultura para estudar, planejar e propor medidas de atualizao e expanso do Ensino Fundamental e do Colegial. Como o Governo tem pressa, e a matria est a impor, realmente, tratamento de desesperada urgncia, o Grupo, que se constitui de 9 membros, conta com o prazo de 60 dias, aps instalado, para concluso dos trabalhos, e seus encargos, nos termos do decreto, so considerados matria prioritria de interesse nacional. Exige ainda o decreto que os estudos devem incluir a previso de dispositivos necessrios efetivao e ao acompanhamento das modificaes decorrentes de suas concluses. A instituio desse Grupo de Trabalho trouxe considervel alento ao Pas, e nos fez recordar dramtico e corajoso apelo de colaborao, formulado pelo ilustre Ministro da Educao ao assumir a absorvente pasta. Em atendimento, e impelidos pelo dever de homem ligado ao ensino, a que se soma a responsabilidade de legislador, tomamos a liberdade de vir a esta tribuna para oferecer ao Senador Jarbas arinho e ao Grupo de Trabalho recm-criado, as sugestes que se seguem, inspiradas, em sua maior parte, em projeto-de-lei e emendas de nossa prpria autoria, submetidos apreciao da Casa, h cerca de dois anos. Nosso propsito no outro seno o de prestar colaborao. As disposies constitucionais existentes, a Lei de Diretrizes e Bases, a Lei n 59, de 1.947, e outras, atribuindo Unio a obrigatoriedade de dispensar cooperao financeira ao ensino, principalmente ao de nvel primrio, no alcanaram os resultados previstos, devido falta de plano global objetivo e racional, ajustadamente compatibilizado com a realidade brasileira. No somente a estruturao organizacional, mas tambm a tcnica geral de ensino necessita de atualizao. A existncia de 15 milhes de crianas sem escola no Brasil e de quase 30 milhes de adultos analfabetos constitui espantoso, triste e humilhante atestado da falncia do ensino primrio vigente em nosso Pas. No h por que preservar esse sistema, quando seu fracasso proclamado por 15 milhes de vozes infantis e ainda pelo cantocho de outras tantas em dobro, de irmos brasileiros infelizmente cegos para o conhecimento mais elementar. De outra parte, at quando o professorado primrio do Pas dever continuar pagando o pesado nus a que se submete no exerccio do nobre mister de educar? Toda a Nao conhece o problema da professora primria. Ela uma lder na comunidade. Precisa trajar-se bem e portar-se como exemplo para pais e alunos. a segunda me de seus pupilos. Quer ministrando ensino, na regncia de classe, ou em casa preparando lies, ou participando de outras atividades da vida comunitria, onde quer que esteja situa-se sempre a professora em sua condio de servidora da comunidade, sempre a ensinar e educar, pela palavra e pelo exemplo. Poucos profissionais tero vida to devotada profisso. No entanto, outra classe no h to mal e desigualmente remunerada em uns estados mais, em outros menos e sofrendo, no raro, as agruras dos atrasos de pagamento de seus vencimentos. J se disse que o ensino primrio no Pas ministrado custa das humildes professoras. Se em alguma parte couber a tese da mais valia, ser sem dvida no caso das professoras. E na oportunidade em que o Governo Federal busca adequar o ensino fundamental reais necessidades brasileiras, a professora, a eterna sacrificada, no poder continuar esquecida. Bem andaram, pois, Suas Excelncias o Sr. Presidente da Repblica e o Sr. Ministro da Educao, constituindo esse Grupo de Trabalho com tarefa to urgente quo relevante a cumprir em benefcio do Pas. Ao formular nossas sugestes, expressamos em primeiro lugar nossa posio em favor da fuso dos cursos primrio e secundrio, dentro de uma programao exeqvel, dando lugar criao do curso fundamental de 7 ou 8 anos, inovao que em pouco tempo comear a produzir profundos e benficos resultados no contedo e na horizontalidade do aproveitamento do ensino em toda a Nao. Alm de proporcionar aprendizado profissional, sumamente oportuno e necessrio a uma populao de nvel econmico to baixo quanto o da nossa terra, o prolongamento do curso, abrangendo o primeiro ciclo ginasial, dar seqncia uniforme ao currculo, ampliar as oportunidades e elevar a qualidade do ensino no primeiro ciclo do curso mdio, justamente onde reside o chamado ponto de estrangulamento do ensino brasileiro. E sobretudo estaremos atendendo ao objetivo de toda sociedade que a escolarizao mxima, universal e gratuita. O planejamento ser feito ao nvel de Ministrio. Entretanto, a parte executiva, em meu entender, dever ser confiada aos municpios, destinando-se ao Estado, adequada parcela de responsabilidades, sob o controle e superviso da Unio. Sugerimos, pois, que Unio caiba disciplinar a matria e definir a quota de recursos da Unio, Estado e Municpio, e bem assim organizar seguro roteiro de orientao, acompanhamento e fiscalizao da aplicao das normas do ensino e das verbas. Nossa proposio se fundamenta no fato de que os municpios vivem mais intimamente o problema do ensino primrio e do analfabetismo. Demais disso, os municpios so mais de perto e permanentemente alertados e fiscalizados pelos maiores interessados, pelos interessados diretos, que so os pais de alunos e, de modo geral, os contribuintes. Por isso, ganhar o ensino de escolares ainda no lar paterno, se colocado sob direta aplicao dos municpios. Alis, a prpria lei dever disciplinar a organizao das Associaes de Pais de Alunos, definindo seus direitos e responsabilidades, a fim de participar mais, como de seu dever, da tarefa que no deve ser somente do Governo, e designando os rgos istrativos com os quais deve entender-se para informar-se de suas tarefas, apresentar denncias, reclamaes, sugestes etc. Alm do mais, cabendo a execuo do programa ao Municpio, melhor ser atendida a zona rural onde o percentual de crianas que no freqentam escolas muito mais alto do que na zona urbana, da ordem de 49%, enquanto que nas cidades alcana em mdia 19%, conforme estatstica de 1.964. No que respeita ao analfabetismo, a desproporo revela-se ainda maior, contribuindo em mais elevada escala para que o Brasil ocupe, contristadoramente, o 13 lugar na Amrica Latina, em nmero decrescente de analfabetismo. Os recursos destinados ao desenvolvimento do ensino nessa fase podero constituir o Fundo Nacional do Ensino Fundamental, para aplicao em todo o territrio nacional. O Conselho Nacional de Educao, ao fixar o plano de distribuio de verbas, levar em conta a populao escolar e os ndices de analfabetismo de cada Estado do Territrio, e bem assim a programao de trabalhos para cada rea. Que os atuais professores e professoras do ensino primrio legalmente nomeados, e os que venham a s-lo, sejam equiparados aos funcionrios pblicos federais, para todos os efeitos. O que, sobre fazer-lhe justia, proporcionar ao professorado do ensino fundamental o estmulo de que est carecendo para melhor se aperfeioar e mais produzir profissionalmente. E, por acrscimo, atrair para o magistrio legies de normalistas que, por falta de atrativos atualmente na profisso de mestres, buscam outras atividades. Com o oferecimento de condies condignas, ser melhorado o nvel de qualificao do professorado em geral, no somente pelo ingresso dessas normalistas desviadas de sua especializao, mas tambm pelo novo elan que de todos se apossar, ganhando, em tudo, o magistrio, onde, por estarrecedor que parea, 43% das mestras s possuem o curso primrio, e 9% nem o primrio. Nesse particular, comporta ainda salientar a ocorrncia de um fenmeno profundamente negativo para o ensino. As professoras leigas so geralmente designadas para reger classes de 1 e 2 ano, por exigirem, essas classes, menores conhecimentos gerais, mas em decorrncia de sua inabilitao para o ensino, exatamente nessas classes que ocorrem reprovaes em massa e maior ndice de desero escolar. Em mdia, metade dos alunos matriculados no primeiro ano no chega ao segundo. A melhoria que propomos seja oferecida ao magistrio refletir, sem demora, no aprimoramento da qualidade do ensino, contribuindo para a correo de inmeras distores existentes no curso primrio. Que a Unio seja protegida, com garantias amplas e completas, para que os recursos, para os quais contribuir com a maior parte, sejam real e totalmente aplicados no verdadeiro interesse no ensino. Que aos primeiros 100 municpios que, em cada ano, apresentarem maior aproveitamento, dentro da nova ordem do ensino, se concedam prmios especiais, na forma de incentivos financeiros para aplicao no ensino e ainda pela concesso de Diplomas de Honra ao Mrito aos Prefeitos Municipais, a membros do Conselho Municipal de Ensino (rgo que entendemos dever ser criado em cada municpio), a Diretoras e Professoras. So estas as sugestes que endereamos ao Sr. Ministro Jarbas arinho, no momento em que o Governo da Repblica se prope a implantar nova sistemtica educacional, visando atualizar e expandir o ensino fundamental e colegial em nossa Ptria. Luiz de Paula Noutro, anunciou as homenagens que seriam prestadas, em Uberlndia, a Rondon Pacheco, futuro Governador de Minas. Em seguida, comentou notcia veiculada pela imprensa, segundo a qual cogitava o Governo de modificar o critrio da destinao dos incentivos da SUDENE, suspendendo as aplicaes no setor agropecurio; e apelou, ao final, ao Presidente da Repblica, a fim de no permitir essa injustia ao homem do campo. Noutra fala traduziu seu pesar pelo falecimento de Adhemar Dias de Figueiredo. Em seguida, manifestou sua satisfao por haver o futurlogo Hermann Khan retificado suas previses sobre o desenvolvimento do Brasil; atribuindo tal mudana s realizaes dos Governos posteriores a 1.964; e dizendo que, mesmo reconsideradas, essas predies ainda eram tmidas diante das potencialidades nacionais. E solicitou Mesa convidasse esse cientista a visitar uma das Comisses Tcnicas da Casa. Num discurso muito aplaudido, principalmente pela bancada mineira, sugeriu ao Governador do Distrito Federal o estabelecimento de intercmbio scio-cultural com a Prefeitura de Braslia de Minas; adiantando que S. Exa. poderia oferecer uma biblioteca quela comuna montanhesa, e a seus estudantes vagas nas Universidades de Braslia. Seu trabalho nas Comisses Tcnicas da Casa, como Relator de matrias as mais relevantes, foi sempre acolhido com o devido respeito, pela seriedade e profundeza com que apresentado. Seu indetido dinamismo levou os companheiros de vida privada a convenc-lo de que o Congresso Nacional somente no continha extenso suficiente para abarcar-lhe a criatividade, seu poder empreendedor, seu bandeirantismo no campo industrial, sua capacidade de rasgar caminhos plantando empresas que j nascem vitoriosas. A ressonncia de suas iniciativas ainda no deixara de ecoar. Umas representaram verdadeiros vaticnios. Outras foram postas em prtica pelo Poder Executivo. Algumas refundidas at por adversrios polticos, eis que no perderam a atualidade, e vo oportunizar que se sobressaiam seus novos autores. |
Por Luiz de Paula - 20/8/2008 10:18:52 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 36) Sala das Sesses, 25 de outubro de 1967 LUIZ DE PAULA Em Requerimento de Informao ao Ministrio dos Transportes encareceu o apressamento do asfalto cobrir a BR-135, trecho Curvelo-Montes Claros, ento j includo no Plano Prioritrio. Outro Caixa Econmica Federal sobre o pagamento de repetio das inscries e transcries em os novos Cartrios do Distrito Federal. Outro ao Ministrio da Fazenda alusivo ao crescimento do produto interno bruto e o decrscimo do ndice inflacionrio. Em fala incisiva, refutou acusaes dirigidas CRENOMIG, na pessoa de seu Presidente, Dom Jos Alves Trindade, Bispo Diocesano de Montes Claros. Noutra enalteceu a atuao do Ministro Albuquerque Lima na Pasta do Interior. Na que se seguiu louvou o Ministro Delfim Neto pela clareza e conciso com que S. Exa. presta contas de sua gesto frente da Pasta da Fazenda. Noutra, felicitou o Governo de Minas e os demais acionistas da USIMINAS pelo xito alcanado pela empresa, que ocupa lugar de liderana na exportao brasileira de ao. Em mais outra aplaudiu o Ministro da Sade, por haver determinado a criao de municpios-plos e pela incluso do Municpio de Montes Claros nesse servio assistencial. Da tribuna justificou emendas aditivas a projeto de sua autoria dispondo referentemente nova disciplinao do ensino primrio. Em novo pronunciamento, manifestou-se contrrio incluso de Barreiro Grande na rea do Polgono das Secas. Noutro apelou s autoridades federais no sentido de que socorressem o Municpio de Espinosa, no Norte de Minas, cuja situao, em diferentes setores, mostrava-se precria. Em outro discorreu sobre o drama que vivia a populao espinosense, quando fora atingida por violenta tromba dgua; e fez perfilar as medidas urgentes, que precisavam ser tomadas, pelo Governo Federal, em favor dos cotonicultores do municpio, e solicitou, instantemente, a cooperao das autoridades estaduais e federais do setor. Noutro registrou o aparecimento da Fbrica de Cimento Tocantins, no D.F, e elogiou o descortnio do Coronel JUVENTINO DIAS, lder do grupo CAU, de Minas Gerais. Em longa manifestao, analisou a crise algodoeira do Norte de Minas 9-10-68 apresentou esboo de plano para a soluo do problema; e aplaudiu designao, pela Assemblia Legislativa do Estado, de Comisso Mista para investigar as causas da aludida crise. Noutra, encareceu a incluso da regio do Alto-Mdio So Francisco no projeto do Banco de Desenvolvimento Econmico de Minas Gerais que dispunha sobre a aplicao de verbas para a pecuria. Associou-se s homenagens Semana da Asa. Como j d para sentir, face universalidade de conhecimentos de LUIZ DE PAULA, e seu interesse com relao a tantos problemas regionais e nacionais, seria natural que sua breve estada no Congresso Nacional viesse a marcar to fundo sua atuao mltipla. O Deputado LUIZ DE PAULA em 25 de julho de 1.968 apresentou o Projeto n 1.537, a reconhecer de utilidade pblica as unidades do LIONS CLUB e do ROTARY CLUB DO BRASIL, dado os inavaliveis servios que vinha servindo, de h muito, no Brasil inteiro. Conhecedor das resistncias costumeiras ao acolhimento de proposituras dessa natureza, conseguiu do ento Ministro da Justia manifestao escrita favorvel constitucionalidade da proposio. E aps as demarches da tramitao do projeto, e sua aprovao pelo Plenrio em 1 e 2 discusso, em 02-07-68 foi encaminhado ao Senado, e neste aprovado subiu sano presidencial, em dezembro de 1.969. Ocorre, que a iniciativa foi a primeira a ser submetida ao Presidente Mdici, recm-empossado, para estudo e sano. S. Exa. mostrou-se propenso a ungi-lo. Todavia, face a dvidas surgidas no Palcio do Planalto, mandou ouvir a respeito o novo Ministro da Justia. Este entendeu devia o Presidente vet-lo, pois a iniciativa inscrevia-se em atos de sua competncia. Chegado o fato ao conhecimento do nobre Autor do projeto, como no procedia aquela interpretao, e alm disso contava a iniciativa parlamentar com a aprovao do Ministro da Justia anterior, fez saber ao Presidente da Repblica que sendo o Congresso Nacional quem delegara tal competncia ao Poder Executivo, mediante lei, por outra lei, ser-lhe-ia lcito revog-la, cassando tal prerrogativa quele Poder. O Presidente Mdici resolveu, ento, solicitar a audincia do Ministro da Educao a respeito da matria. Tambm este concordara com a inteleco alusiva ao assunto, manifestada pelo Ministro da Justia. Voltou ento o Presidente ao Autor para dar cincia do fato, sempre atravs de elemento da Casa Civil. O Deputado adiantou ao intermedirio que ele prprio seria o redator da proposio revogativa da Lei n 91/35, por incabvel, data vnia, o entendimento daqueles dois Ministros. O Presidente ento decidiu ouvir seu Ministro da Fazenda, mas este, igualmente, no achou conveniente discordar de seus colegas. De novo o Deputado LUIZ DE PAULA foi avisado do sucedido, e insistindo perante o mensageiro presidencial de ser irreversvel a posio que tomara, de intentar a revogao da Lei n 91/35, pediu fosse comunicado ao digno Chefe do Poder Executivo que o Presidente Internacional do Rotary Club solicitava que a sano fosse procedida em solenidade em que desejam comparecer os representantes internacionais do Lions e do Rotary. O Presidente EMLIO GARRASTAZU MDICI, pelo fato de encontrar-se imbudo do propsito de sancionar a lei em questo, por reconhecer pessoalmente que relevantes servios prestavam ao Brasil tais entidades, mandou comunicar ao Autor do projeto sua deciso favorvel, mas que no poderia anuir quanto ao ato solene encarecido, diante da manifestao em contrrio de trs de seus Ministros. E a Lei n 5.575, de 17 de dezembro de 1.969, por ele sancionada, saiu publicada no Dirio Oficial da Unio de dois dias aps. Prosseguindo na indormida atuao LUIZ DE PAULA sesso de 20 de abril de 1.970, da tribuna da Cmara congratulou-se com S. Exa., o Presidente MDICI, por haver recebido dos rotarianos brasileiros o Diploma de Governador Honorrio do Rotary Internacional do Brasil. Noutro pronunciamento, em nome dos plantadores e beneficiadores de algodo de Minas Gerais, congratulava-se com o Governador Israel Pinheiro e com o Presidente do Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais pelas providncias que vinham sendo tomadas no sentido da criao e instalao da Cooperativa do Algodo. E reivindicava, para a cotonicultura mineira, tratamento fiscal idntico ao que o Governo de So Paulo estabelecera para o produto paulista, e financiamento de capital de giro para comercializao. No subseqente apelou para o Ministro do Trabalho e Legislao Social no sentido de o IPASE estabelecer convnios para o atendimento mdico-hospitalar e dentrio a seus contribuintes na cidade de Montes Claros. Registrou, num outro, a criao de grupo de trabalho no Ministrio da Educao para estudar, planejar e propor medidas de atualizao e expanso do ensino fundamental e colegial; e encaminhando ao Ministro Jarbas arinho sugestes atinentes matria. |
Por Luiz de Paula - 18/8/2008 16:48:37 |
AMIGOS E PESQUISADORES Luiz de Paula Giselle e Nahlson so casados. Ns somos amigos h muitos anos. E pesquisadores de nossa histria. Aconteceu ficarmos sem nos encontrar durante algum tempo. Ao nos reencontrarmos eu lhes disse que estava ficando velho. Transpa a casa dos 90 anos. E estava perdendo a memria. Comeava a caducar. E lhes disse que era muito triste a vida de um pesquisador que est perdendo a memria. Eles se calaram. - Cad voc, Giselle? Eu perguntei. Ela respondeu - Desculpe, doutor. Eu estou chorando... |
Por Luiz de Paula - 16/8/2008 07:56:54 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 35) O NORTE DE MINAS DIRIGE-SE AO PRESIDENTE DA REPBLICA Senhor Presidente, Senhores Deputados, No momento em que se transfere, para Minas Gerais, o Governo da Repblica, vimos, como montanheses, externar a honra e o jbilo de que nos sentimos possudos, ao mesmo tempo em que auguramos ao Excelentssimo Senhor Presidente da Repblica e aos Excelentssimos Senhores Ministros de Estado e respectivos Assessores, feliz e produtiva estada no solo acolhedor das Alterosas. Minas realmente necessita ser vista de mais perto, eis que, nos ltimos lustros, vem ocorrendo no Estado um crescente esvaziamento scio-econmico, que no somente o abala em seus alicerces, mas tambm profundamente nocivo e ameaador aos interesses nacionais. O Estado j foi o segundo na produo nacional. Hoje o sexto. A energia eltrica gerada nas suas entranhas vai acionar a economia de Estados vizinhos que consomem, tambm, sua matria-prima. Ultimamente, para surpresa geral, tornou-se a principal Unidade da Federao exportadora de braos humanos. O subsolo de Minas Gerais est se exaurindo, dessangrado por outros Estados e pelo Exterior, sem maiores vantagens para seus filhos. No cu da Ptria empalidece a estrela de Minas Gerais. Dada a posio de equilbrio que Minas sempre exerceu na vida poltica e econmica do Pas, como sustentculo da nacionalidade, no interessa Nao uma Minas enfraquecida. Minas, slida, solidificar o Brasil. Consectariamente, urge, Sr. Presidente e Srs. Deputados, propiciar a Minas os instrumentos para a retomada efetiva da rota do progresso. Ao flagrar, in loco, as premncias do Estado, o Governo Federal dever equacion-las para deferir-lhes solues adequadas e urgentes. Nesse sentido desejamos oferecer o elenco das que afetam a Regio Norte do Estado, a qual mais diretamente representamos nesta Casa. 1 Asfaltamento da BR-135, no trecho Curvelo Montes Claros, j includo no Plano Prioritrio. 2 Implantao da BR 025 na extenso Braslia Montes Claros Cama, que to ou mais importante que a precedente. Extensa rea norte-mineira, tendo Montes Claros como centro, se incluir na rbita de Braslia, como zona de abastecimento de leite, carne, cereais, leos comestveis, cimento, tecidos etc. E se ligar, por outro lado, com a Rio Bahia e o litoral, proporcionando um revigorante fluxo comercial em ambos os sentidos. necessrio que se implantem vrias frentes de servio, a partir de Braslia. Existe muito servio executado se deteriorando. No trecho Montes Claros Corao de Jesus, h uma frente de trabalho paralisada que necessita ser restabelecida. De Montes Claros, no sentido da Rio Bahia, existem 117 quilmetros implantados, de um total de 289. Verifica-se que grande parte do servio j est executada. A estrada proporcionar a ligao de Braslia com o Rio So Francisco, em sua parte navegvel e cruzar cinco vias de o ao norte e nordeste do pas: o Rio So Francisco, a BR-135, a Rio Bahia, a BR-122, a BR-101, alm da via martima. 3 Implantao da BR-122, to importante quanto as demais, inclusive sob o ponto de vista do interesse nacional. 4 Asfaltamento da BR-365, no trecho Pirapora Canoeiros (BR-040). A estrada j est praticamente implantada e no se justifica que permanea indefinidamente sem receber o capeamento asfltico. 5 Adaptao da ponte metlica sobre o Rio So Francisco, em Pirapora, para servir ao trfego rodovirio que j intenso e cresce dia a dia. 6 Retificao e melhoramentos na Rodovia Corinto Pirapora. 7 No setor pecurio, autorizar o financiamento de matrizes e da cria e recria, pois o rebanho est caindo de ano para ano, enquanto se acentua, tambm anualmente, a sobra de pastagens. A produo anual que era de 150.000 bois gordos, na regio, vem decrescendo ininterruptamente, nos ltimos 6 anos, e na presente safra no ir alm de 100.000 cabeas. 8 Colonizao de Jaba. Exigir mais trabalho e menos debates estreis. A Jaba uma imensa extenso de terras devolutas de extraordinria fertilidade, chamada a Ucrnia Brasileira cujas florestas vm sendo criminosamente destrudas pelo fogo, sob a indiferena das autoridades responsveis por sua preservao. 9 Elevar o Distrito do DNOCS, em Montes Claros, categoria de DIRETORIA, atendendo sua importncia e extenso da rea a que atende (Polgono Mineiro e parte da Bahia). 10 Facultar recursos Fundao da Universidade do Norte de Minas para a instalao das Escolas de Medicina, Cincias Econmicas e Agronomia, praticamente criadas e necessitando de meios para se instalar. Montes Claros o centro cultural e educacional da regio, com cerca de 800 professores e 30.000 estudantes de todos os nveis e j possui uma Faculdade de Filosofia, uma Escola de Direito e um Conservatrio de Msica. 11 Recursos para a construo da estao de ageiros do Aeroporto de Montes Claros. aeroporto de padro internacional, alternativa de Braslia, com pista asfltica ampla, de 1.800 metros de extenso. S falta a estao de ageiros. 12 Autorizar o estabelecimento de uma UNIDADE DO EXRCITO na rea do polgono das Secas, em MONTES CLAROS, para atender a uma rea de 120.000 quilmetros quadrados (maior do que a de 10 estados da Federao, separadamente considerados), com uma populao de mais de um milho de habitantes. 13 Autorizar o Ministrio da Agricultura a: a) Localizar na rea do Polgono das Secas de Minas Gerais, em pontos diferentes, patrulhas moto-mecanizadas para servios de destoca, arao, abertura de aguadas etc., para os fazendeiros, a preo mdico, financiado. b) Criar campo de experimentao de sementes de algodo, mamona, milho e capins diversos, em Montes Claros, para atender a regio poligonal mineira, e bem assim campos de multiplicao de sementes e mudas, em cooperao com os lavradores e fazendeiros. 14 Atualizar o INDA a elaborar e por em execuo um PROGRAMA DE SALVAO da cotonicultura regional, ameaada de eminente colapso, por falta principalmente de assistncia tcnica. A regio a maior produtora de algodo no Estado e oferece condies raras, privilegiadas, para o cultivo dos algodes herbceos e arbreos, de fibras no somente do tipo paulista mas tambm de fibras mdia e longa, de que h permanente e ampla demanda nos mercados domstico e internacional. A populao rural depende diretamente do cultivo do algodo, mas o cansao das terras e o cultivo ainda feito em moldes ultraados, est fazendo cair a produtividade de ano para ano, tendo na safra atual cado ao recorde negativo de 20 arrobas por hectare, rendimento que no cobre, sequer, a metade do custo das lavouras. Apenas para comparao, informamos que o rendimento da cotonicultura no Paran de 110 arrobas por hectare. Mas era de 30 arrobas h 7 anos ados e elevou-se pela aplicao de boa tcnica de cultivo. 15 Autorizar a instalao de agncias do Banco do Brasil ou do Nordeste na cidade de MONTE AZUL, VRZEA DA PALMA, MATO VERDE, SO JOO DA PONTE e JANABA. 16 Autorizar a instalao de agncias do Banco do Nordeste nas cidades de FRANCISCO S, PIRAPORA e BOCAIVA. 17 Autorizar o trmino das obras do HOSPITAL NEUROPSIQUITRICO DE MONTES CLAROS, paralisadas e se deteriorando. 18 Autorizar o Banco do Brasil ou do Nordeste a financiar as Prefeituras Municipais do Polgono das Secas de Minas Gerais para aquisio de moto-niveladores, tratores de esteiras e caminhes-caamba para melhoramento, conserva e abertura de estradas municipais e melhoramento e abertura de aguadas. Prazo longo e juros baixos. 19 Construo de ponte sobre o Rio So Francisco junto cidade de JANURIA. Formulo, pois, desta tribuna, um apelo especial ao Exmo. Sr. Presidente da Repblica e a seus assessores mais diretos, para que atendam aos itens supra-enumerados, e assim proporcionem a Minas Gerais e especialmente marginalizada Regio Poligonal Mineira, os instrumentos de que carece para participar da vida nacional, no como a regio que mais sofre com o xodo rural, dentro de um Estado que hoje detm o triste recorde de vanguardeiro no fornecimento de elemento humano para os outros Estados da Federao, mas como uma faixa do territrio nacional que deseja reter seus filhos e participar do esforo geral para a retomada do desenvolvimento. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 13/8/2008 07:24:05 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 34) Tendo chegado ao Congresso Nacional com a uno do voto popular, na condio de investidor realizado, o Deputado Luiz de Paula Ferreira agiu sempre com liberdade absoluta. Como legislador, parecia estar sempre atuando adstrito a um compromisso com a Histria. Cabalmente por dentro, dos problemas nacionais, no evolver da atuao congressual, sua preocupao maior, sua constante busca foi sempre a soluo mais adequada, oportuna, decisiva, para resgat-los. Seu compromisso era com a cultura, com a elevao dos costumes polticos, com a felicidade de seus representados. Afeioado pesquisa e ao estudo especializado, nada iniciava sem fundamento, sem projees no cran do futuro, a fim de calcular e prever riscos e sucessos. S ento se posicionava, e provia se fosse o caso. O Dep. Luiz de Paula no nasceu para pequenezas. Quando modelava trazia a estrutura de sua dimenso pessoal. Tal caracterstica sua marca registrada. Um dos primeiros projetos-de-lei que apresentou obrigava a impresso, nos produtos feitos no Pas, da legenda : FABRICADO NO BRASIL. O seguinte, concedia financiamento s cooperativas agropastoris, e s Prefeituras Municipais, para aquisio de tratores, mquinas agrcolas, jeeps, camionetas de carga, fertilizantes e defensivos, atravs das Caixas Econmicas, Bancos Rurais e Banco do Brasil. O imediato propunha fosse reduzido progressivamente o ICM e o IPI que incidem sobre tratores, mquinas agrcolas e implementos, e que os investimentos aplicados nas referidas mquinas fossem dedutveis da renda bruta do agricultor, para efeito do Imposto de Renda. Nascido de um patriciado rural, o Legislador no esquecia as origens, e com suas realizaes em tantos outros setores, hoje Homem do Mundo! O Projeto que se seguiu o presidente ERNESTO GEISEL transformou em lei de sua lavra, obrigando que os anncios e referncias a promoo de vendas comerciais a prazo registrem o preo final. Voltado constantemente para os problemas da educao, apresentou projeto de lei estabelecendo normas para prestao, pela Unio, de assistncia tcnica e financeira para o desenvolvimento do ensino primrio nos Estados e no Distrito Federal. (Texto integral). O subseqente proibia a fabricao de fogos de artifcios, que efemeramente colorem lindamente os cus noturnos mas por vezes destroem bens materiais e vidas humanas, irrecuperveis. Em projeto-de-lei-complementar, com fundamentao inamovvel, pleiteou a criao da Grande Regio Metropolitana de Montes Claros. Um dos ltimos institua o ttulo honorfico Lder da Alfabetizao, eis que sempre sonhou ver todo o Brasil mobralizado. Sua presena na soberana tribuna da Cmara dos Deputados se fazia freqente. Em seu primeiro pronunciamento pleiteava: a fim de que pudesse o Norte de Minas ser integrado no contexto de desenvolvimento nacional, que o Ministro dos Transportes concedesse prioridade construo da BR-025, ligando Braslia a Cama, no litoral da Bahia, e asfaltasse o trecho Montes Claros-Curvelo. Ao Ministro do interior, encarecia a realizao do levantamento scio-econmico da rea do Polgono das Secas em Minas Gerais. Ao Ministro dos Transportes encaminhou Requerimento de Informao a respeito do asfaltamento de trecho da BR-135; sobre a incluso da BR 135 no Plano Preferencial de Obras; e referente ao levantamento geo-econmico da regio norte-mineira includa no Polgono das Secas. Em pronunciamento a seguir congratulou-se com o Presidente da Repblica por sua deciso de determinar a permanncia, em Braslia, dos servios da Agncia Nacional, e felicitou o Chefe da Casa Civil da Presidncia, Rondon Pacheco, por sua interveno oportuna no encaminhamento da soluo do caso. Requerimento de Informao ao Ministro do interior, sobre a transferncia do DNOCS para Fortaleza. Outro ao Ministro dos Transportes pertinente aos motivos do abandono em que se encontrava a Ponte Marechal Hermes, na Estrada de Ferro Central do Brasil, em Pirapora. Mais outro, ao Ministrio Extraordinrio, para Assuntos do Gabinete Civil da Presidncia da Repblica referente a providncias relativas complementao da mudana, para Braslia, dos rgos federais que ainda permaneciam na Guanabara. Um outro ao Ministrio das Minas e Energia alusivo convenincia da inverso de recursos na pesquisa e explorao do petrleo, face ameaa de esgotamento das reservas nacionais, e em razo da guerra no Oriente Mdio. Esta iniciativa demonstra a acurada premonio do Deputado LUIZ DE PAULA. Ela foi apresentada Casa na sesso de 7 de junho de 1.967, e publicada no Dirio do Congresso Nacional do dia seguinte, pgina 3.057. Em outro Requerimento de Informao ao Ministrio da Fazenda pleiteava a prorrogao dos dbitos dos lavradores e pecuaristas do Norte de Minas, referentes a financiamentos para cria e recria. Outro ao Ministrio do Interior sobre a possibilidade da SUDENE proceder a um levantamento geo-econmico das cidades de Minas integrantes do Polgono das Secas, a fim de atrair investimentos para a Regio. Outro ao Ministrio da Agricultura a respeito de fornecimento de crdito, e do emprego de tcnicas que estimulassem a regio algodoeira de Montes Claros. Em fala seguinte, anunciou reunio do Conselho Deliberativo da SUDENE em Montes Claros, e chamou a ateno daquele rgo para os principais problemas da zona mineira do Polgono das Secas. Noutra manifestao da tribuna da Casa apelou ao Governador Israel Pinheiro no sentido da criao da Secretaria ou Conselho de Desenvolvimento do Polgono Mineiro das Secas, e defendeu a transferncia da sede da SUDEMINAS para Montes Claros. Requerimento de Informao ao Ministro do Trabalho a respeito do convnio assinado pelo INPS com hospital de Montes Claros. Outro ao Ministrio do Interior sobre as razes do retardamento da instalao do Escritrio Regional do INDA em Montes Claros. Em pequeno expediente defendeu a criao de uma regio metropolitana no Norte de Minas, tendo como centro Montes Claros. Requerimento de Informao ao Ministrio das Minas e Energia sobre as determinantes da Resoluo n 4/67, do Conselho Nacional do Petrleo, que proibia as cooperativas vender a seus cooperados combustveis por preos inferiores aos tabelados pelos revendedores. Em pronunciamento, comentou a interveno que vinha de sofrer o cooperativismo no Pas, atravs da citada Resoluo 4/67 do C.N.P., e recorreu ao Ministro da Agricultura para que defendesse os direitos do cooperativismo e do produtor rural. Em pronunciamento, teceu consideraes referentes transferncia do Governo para Minas Gerais, e enumerou as mais prementes reivindicaes desse Estado. Participando da comitiva do Sr. Presidente da Repblica, entregou pessoalmente a Sua Excelncia, em Belo Horizonte, um exemplar do pronunciamento que fizera na manh daquele dia, na Cmara dos Deputados. Na oportunidade encareceu a importncia de que se revestia, para Minas Gerais, a presena do Governo em Belo Horizonte. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 9/8/2008 08:25:58 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 33) ITENS NOS QUAIS ATUEI ESPECIFICAMENTE NESTE PRIMEIRO ANO DE MANDATO: 1. SUDENE Ao pessoal do Governador Encareci ao Sr. Governador a indispensabilidade de sua presena em Recife, na Sudene, e quando ele foi, para o primeiro contato com a Sudene, em Recife, em reunio do Conselho Deliberativo, acompanhei-o, assessorando-o . Reunio do Conselho Deliberativo. Atuei desde o incio, em contatos com Recife e Belo Horizonte, participando das reunies preparatrias, sugerindo providncias, recebendo e hospedando autoridades e assessores. Veto do Presidente extenso da rea poligonal. Atuei junto s bancadas, certificando-me antecedentemente de nossa vitria. Comuniquei ao Governador qual seria o resultado e ao ele dizer-me que eu estava trabalhando com interesse regionalista, respondi-lhe que era o contrrio, ele, sim, no interesse regional mineiro, quanto a mim, cuidava do interesse nacional, coincidente com o de minha regio, pois se a rea do Polgono fosse ampliada a Sudene se esvaziaria com prejuzo para toda a Nao. 2. DISTRITO INDUSTRIAL Obtive do Senhor Governador o compromisso de destinar 500.000 de letras do Tesouro para sua implantao. Brevemente mandar mensagem Assemblia, j estando o Conselho do Desenvolvimento ciente dessa resoluo. 3. REFORMA DE ESTRADAS Obtive com o Diretor do DER autorizao para reparos em 600 km. de estradas municipais, fora de Convnio, sem despesas para os Municpios. J foram feitos 150 km. desse servio, correspondentes ao primeiro ano. 4. GREVE DE PROFESSORAS PRIMRIAS - Quando mais intensa era a greve e mais radicalizadas estavam as posies, levei um grupo de lderes grevistas a Belo Horizonte e mantivemos entrevistas com o sr. Secretrio da Educao e com o Sr. Governador do Estado, acabando-se o movimento na maior harmonia, sem maiores prejuzos para a classe estudantil, sem punio para as grevistas, reconhecidas que foram as suas razes para os atos de quase desespero. 5. RECEPO A VISITANTES Por ocasio da realizao da Reunio do Conselho Deliberativo da Sudene em nossa cidade, a 22 de setembro ltimo, graves eram as expectativas a respeito da recepo popular ao sr. Governador do Estado e a seus ilustres colegas Governadores de outros estados e demais ilustres visitantes. Falava-se em vaias e apupos e os mais moderados tinham como certa a indiferena da populao pela visita. Trabalhei como devia trabalhar. A responsabilidade de criar condies prprias a uma recepo pelo menos aceitvel era minha e eu a aceitei. Quando insisti em programar a concentrao estudantil nas ruas, a assessoria da Prefeitura e a prpria assessoria do Palcio quiseram dissuadir-me, mas insisti e ainda recusei que a Prefeitura decretasse feriado. Consegui que os professores que lideravam o movimento grevista lanassem uma proclamao pelo rdio convidando os alunos e pais de alunos para receberem em ordem e com entusiasmo os nossos visitantes e consegui ainda que eles prprios comparecessem ao Aeroporto e ali prestassem uma homenagem ao Sr. Governador, o que foi uma das notas mais bonitas e elevadas da reunio, ensejando ao Sr. Governador a encaminhar-se para a cidade com redobrada confiana. O resultado, todos presenciaram. Foi a melhor recepo que o Governo teve, at ento, no interior do Estado. Da para c Montes Claros cresceu visivelmente na amizade e na irao do Sr. Governador. 6. VISITA DO VICE-GOVERNADOR - Tivemos a visita do sr. Vice-Governador, Dr. Pio Soares Canedo, o qual afirmou imprensa que viera em visita minha pessoa e minha famlia. 7. ENCONTRO DO PRESIDENTE DO BDMG COM AS CLASSES PRODUTORAS J referido anteriormente e realizado por minha inspirao, desfez a impresso negativa que estava se formando a respeito dos lderes de nossa cidade, que propositadamente eram apresentados como cheios de si e intratveis, contrastando com as lideranas de outras cidades do Polgono que tambm reclamavam as atenes do BDMG para seu desenvolvimento. A atual direo do BDMG tambm reconhece em Montes Claros a liderana do Polgono e tem o melhor conceito da cidade e de seus lderes. 8. DESAPROPRIAO DA LAPA GRANDE E DA LAPA PINTADA J obtive a autorizao por escrito, do Sr. Governador, para a lavratura do decreto de desapropriao, estando na dependncia de detalhes a serem oferecidos pela Prefeitura. 9. EMPRSTIMO DO BANCO HIPOTECRIO PREFEITURA Solicitei o emprstimo, que j foi concedido, no importe de NCR$100.000,00 e consegui ainda que fosse retirada do contrato respectivo uma clusula que a Prefeitura considerava inconveniente aos seus interesses. 10. IPSEMG Consegui a criao de Departamento Mdico-Dentrio do IPSEMG, para atendimento aos servidores do Estado, j estando nomeados os mdicos e os dentistas. Nada falta para a inaugurao dos servios, que ocorrero a qualquer dia prximo. 11. INSTITUTO ESTADUAL DA FLORESTA Consegui a criao e instalao de uma Delegacia e bem assim local (Escola de Menores) para a produo de mudas, as quais j esto sendo distribudas gratuitamente aos interessados. 12. LAVANDERIA POPULAR Levei ao conhecimento do sr. Prefeito o que vi em Itapetinga, na Bahia, e divulguei a soluo ali encontrada mediante a instalao de tanques junto a uma creche modesta mas perfeitamente em condies de atender s necessidades da me de famlia proletria em sua tarefa de lavadeira. A Prefeitura aproveitou a indicao e j mandou ou vai mandar enviado a Itapetinga estudar o modelo para sua adaptao e implantao em Montes Claros. 13. SECRETARIA DE GOVERNO EM MONTES CLAROS No se trata de dar uma Secretaria de Governo a um representante de Montes Claros, mas sim de criar uma Secretaria ou rgo istrativo de igual nvel e instal-lo em Montes Claros. Constitui uma pretenso indita, quase inconcebvel e sem dvida ousada. Mas justa, merecida e exeqvel, quando expostos os motivos. A idia me ocorreu quando investigava as causas determinantes, maiores e menores, do diferente tratamento recebido da SUDENE pelo chamado Nordeste Brasileiro e pela Regio Poligonal Mineira. O tratamento privilegiado dispensado ao Nordeste em detrimento da rea mineira, comeou no Primeiro Plano Diretor. Naquele Plano pasmem-se! a rea nordestina teve 99,98% das dotaes e a rea mineira nada mais que a migalha microscpica de 00,02%. O Segundo e o Terceiro Planos Diretores pouco avanaram alm disso e note-se que todas as correes que se faziam a posteriori, face a cortes de verbas determinados pelos chamados Planos de Economia, resguardavam os interesses nordestinos e abandonavam os de Minas. Investigando e pesquisando, desde logo sem o propsito de inculpar pessoas, encontrei como causa principal a pouca conscincia que Minas tinha de sua rea poligonal e bem assim da importncia da Sudene. Isso principalmente porque em Minas a capital poltico -istrativa do Estado se encontrava distanciada por cerca de 400 quilmetros da linha mais prxima do Polgono Mineiro e por assim dizer de costas voltadas para a zona das secas, com as atenes dirigidas para o Sul e para o Tringulo, para o Rio e So Paulo. Enquanto no Nordeste as capitais se localizam na prpria rea das secas, vivendo o ambiente do Polgono, sentindo-lhes os problemas e sugerindo e acompanhando de perto a atuao da Sudene. Quando o Governo do Estado, em campanha recente, procurou conjugar esforos para estender a rea de atuao da SUDENE em direo ao Sul, coloquei-me a favor do veto presidencial, contra a ampliao. Aps a vitria dessa posio, levei ao Governo a idia da criao da Secretaria para o Norte de Minas. Apoiando no argumento de que indispensvel a presena efetiva do Governo na faixa das secas. Se no foi possvel a ampliao do Polgono at prximo a Belo Horizonte, indispensvel se tornava instalar-se em Montes Claros, capital natural do Polgono Mineiro, um rgo de Governo de nvel de Secretaria, para entender-se diretamente com o Governador, e representar efetivamente o Governo na SUDENE. 14. ENCHENTES O impacto da tragdia ocorrida em nossa cidade e enlutando famlias amigas, nos atingiu amargamente com toda a sua violncia, ao visitarmos o local, pouco depois do salvamento dos sobreviventes. Voltando cidade, telefonei ao Sr. Delegado de Polcia, Cel. Atlio Fallieri, que se encontrava em Belo Horizonte, e solicitei ao mesmo que se encarregasse pessoalmente das providncias junto s autoridades governamentais para a vinda de um helicptero, de medicamentos e de reforos para o Corpo de Bombeiros, para proteo de todas as reas atingidas. Foi providencial, pois sem essa atuao do Cel. Atlio Fallieri, que mantinha constante contato com o Delegado Substituto, Cap. Vasco Lacerda, o atendimento teria sido retardado. Na madrugada do dia seguinte, eu prprio segui para Belo Horizonte, para entender-me com a Ruralminas sobre providncias de proteo s populaes ribeirinhas, rio abaixo at a foz. Por funcionrio meu, enviei na frente para avisar na Colnia da Jaba e populao orientao sobre cautelas a serem tomadas (vacinas, antibiticos e malargenos). Em momento algum estive na disputa pela propriedade da enchente... 15. DELEGACIA REGIONAL DA JUNTA COMERCIAL para Montes Claros. Requeri e obtive a criao. No penltimo dia do ano, no Palcio do Governo, o sr. Presidente da Junta, ex-deputado Hermelindo Paixo, informou-nos que a instalao se daria em 1968. 16. SECRETRIO DE GOVERNO Soube que a imprensa da capital noticiou que o meu nome se encontrava entre aqueles sob estudo do Sr. Governador. Posso afirmar que no tenho a mnima pretenso neste sentido. 17. LTIMO ITEM Neste foi o em que mais produzi. Por omisso. No mudei delegado de polcia, nem diretor de ginsios ou Escola Normal, nem delegada ou inspetora de ensino, nem mdico de Centro de Sade, nem nada. Amem. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 6/8/2008 09:13:17 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 32) No me arrependera, pois, por estar me dedicando prioritariamente a uma soluo feliz para a istrao do Municpio. E no obstante ter ingressado na campanha ao apagar das luzes, tive a ventura de ser bem acolhido. Montes Claros no me foi ingrata. E fui o CANDIDATO MAIS VOTADO NO MUNICPIO e em muitos outros do Norte de Minas. Compreende-se, pois, em resumo, que para mim, ao ser convidado, era difcil resolver se aceitava ou no ser candidato. Ao contrrio da maioria dos outros candidatos, quase a totalidade disputando a reeleio, comigo ocorria e ocorre o seguinte: 1 No sou poltico profissional. 2 Sou homem de empresa, no exerccio efetivo de meus negcios, com uma vida particular que me agrada e me interessante e ao mesmo tempo til, ativa e plena de trabalho. O exerccio do mandato na Cmara Federal abriu uma lacuna em meus negcios, cujas conseqncias procurei atenuar colocando em meu lugar um representante pessoal, advogado competente e fraternal amigo, o dr. Jos Prudncio de Macedo, outorgando minha esposa procurao para em meu nome e pela Algodoeira e criei modelos de boletins para controle distncia. E durante o primeiro ano, visitei semanalmente Montes Claros, em viagem de 20 horas, de ida e volta, realizada quase sempre noite, a fim de ganhar as horas do dia para o trabalho. Foi um perodo de atividades intensivas. O motorista dormia durante o dia para viajar a noite e eu s vezes ava dia e noite sem dormir. Mediante o treinamento da equipe e melhor programao e aparelhamento tcnico da empresa, resultado da experincia deste primeiro ano, espero continuar dando o mesmo atendimento que estou dando em Braslia e em Belo Horizonte, sem necessidade do sacrifcio incomum que fiz no primeiro ano e dos riscos de vida a que me expus em constantes viagens noturnas. Quem se der ao trabalho de raciocinar sobre o que aqui vai indicado, h de verificar que realmente no me foi fcil optar, e h de igualmente poder avaliar devidamente quo pesado me tem sido o sacrifcio decorrente da opo tomada para servir especialmente a minha regio. Antnio Lafet Rebello foi o nosso escolhido para candidato nico. Eleito e empossado, desencadeou ele um rush istrativo jamais visto antes na regio, valorizado, mais ainda, pelo procedimento correto e superior da nova istrao, no trato da cousa pblica e nas atividades de ordem poltica. Pde ento ver toda a cidade e pde toda a regio e o Estado saberem que Montes Claros acertara na escolha de seu . Inspirada fra, pois, minha proclamao de outubro de 1965 e vlidos todos os sacrifcios feitos para torn-la realidade efetiva. No perodo entre as eleies e a posse, fiz levantamento dos problemas da regio e especialmente de Montes Claros, e levei ao conhecimento do Governador do Estado os itens cujo atendimento caberia ao Estado. As demais consideraes, levei-as comigo para a Cmara Federal, onde venho trabalhando no af de que sejam atendidas. De incio, uma de minhas preocupaes constantes foi corrigir a imagem distorcida que se fazia de Montes Claros e da regio, no s em Belo Horizonte mas especialmente em Braslia, por falta de informaes adequadas. Foi quando, ao mesmo tempo, eu quis divulgar a regio norte-mineira e apresentar Montes Claros no somente como a terra do boi e do algodo, mas tambm como a terra da cultura, da educao e do ensino, da livre iniciativa, das lideranas esclarecidas, do altrusmo, da hospitalidade, das possibilidades econmicas ilimitadas, das tradies, do folclore, das pesquisas, do esporte, da mocidade atualizada com os problemas nacionais. A Montes Claros plo istrativo, centro rodovirio e aerovirio de expresso nacional, emprio regional, capital do Polgono. No setor estadual, fiz-me presente junto ao Governador e aos Secretrios de Estado e assessorias, fixando desde o incio, com clareza, um conceito definido sobre meu estilo de trabalhar e sobre meus propsitos, distanciados do procedimento comum. Desde os meus primeiros contatos com a istrao estadual ficou reconhecida a minha preocupao com os assuntos de ordem istrativa e de interesse coletivo, desinteressando-me da politicagem e do fisiologismo. Hoje o meu modo de atuar geralmente conhecido na esfera istrativa estadual. Aps a instalao do novo Governo Estadual, havia, no tocante s relaes e ao entendimento entre Montes Claros e o Palcio da Liberdade, srias reservas, de parte a parte. Em Montes Claros se acreditava que em face da origem poltica do Governador Israel Pinheiro, pessedista, amigo de Juscelino, o Palcio da Liberdade seria hostil. E fervilhavam as conjecturas e boatos, focalizando especialmente a Associao Rural sabido que os fazendeiros, em sua maioria, apoiaram o candidato derrotado e o Frigonorte, que, segundo se dizia, o Governo iria subordinar istrao da Frimisa. E para mim se voltavam todos na expectativa de entendimentos e providncias. No Palcio da Liberdade tambm se formara um ambiente de expectativa, face s boas relaes da assessoria do Governo anterior com as classes produtoras de Montes Claros, especialmente com os ruralistas, revolucionrios de 31 de maro, que fizeram campanha aberta em favor do candidato Roberto Resende, ao qual deram a vitria no municpio. Em Montes Claros se comentava que ia ser derrubada a diretoria do Frigonorte, nomeada pelo sr. Magalhes Pinto, e que o Governador Israel Pinheiro iria prestigiar os municpios em que fra vencedor. Coube ao meu trabalho de esclarecimento junto ao Governo e s entrevistas que promovi, de representantes das classes ruralistas e outras, com o Sr. Governador do Estado, desanuviar o ambiente. A renovao da Diretoria do Frigonorte, que estava se transformando em um affaire delicado, deixou de s-lo, e bem assim a nova atitude do BDMG para com o mesmo Frigonorte, que vinha sendo objeto de comentrios desencontrados, tambm se esclareceu. O Frigonorte continuou com a Diretoria escolhida no Governo anterior, do agrado dos ruralistas, e o Banco do Desenvolvimento reforou o apoio que vinha sendo dado ao empreendimento. Quando o Governador veio a Montes Claros, 5 meses depois de empossado, j estava o seu Governo afinado com as lideranas de Montes Claros. Por mais duas vezes recebi o Governador em nossa cidade e por inspirao minha tivemos a presena do presidente do BDMG para um debate com as classes produtoras sobre os problemas regionais. A minha convico de que essa visita era necessria decorreu do seguinte. Estivera presente ao 1 Encontro de Investidores do Polgono, realizado em Pirapora, e presenciei o esforo desenvolvido pelo Presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e por sua assessoria, e testemunhei a acolhida entusistica que ele ali recebeu, em contraste com a indiferena com que foi acolhido em Montes Claros, em 22 de setembro, quando as atenes estavam todas dirigidas para os 5 governadores presentes e para o General Superintendente da Sudene. Na ocasio, quando o programa ainda no havia terminado, encontrei o presidente do BDMG a caminho do aeroporto, antecipando seu regresso. Acompanhei-o at o Aeroporto e convidando-o a voltar quando suas obrigaes permitissem-lhe demorar-se mais. Em minha viagem seguinte a Belo Horizonte, levei o convite formal da Prefeitura Municipal. Ele veio, conheceu as potencialidades econmicas de Montes Claros, os seus lderes e a sua hospitalidade e tornou-se um irador nosso e voltar para a aula de abertura do ano letivo, na Escola Normal e j programou duas jornadas econmicas para a regio, no princpio deste ano, uma em Januria e outra em nossa cidade. Alm da prxima realizao em Montes Claros do 2 ENCONTRO DE INVESTIDORES DO POLGONO, a cuja programao se entregou com entusiasmo e para cujo sucesso j se est entendendo com o empresariado de So Paulo, da Guanabara e de nosso Estado, para um grande comparecimento. Antes Montes Claros nunca estivera a par dos assuntos do Estado no prprio nvel em que so debatidos. Chegamos a esses resultados sem que de nossa parte houvesse experincia anterior de prtica poltica. E com apenas um ano de exerccio do mandato. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 2/8/2008 08:14:44 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 31) Nas eleies municipais de 1962, o PSD Partido Social Democrtico encontrava-se to enfraquecido em Montes Claros que no foi capaz de apresentar candidato prprio para sucesso do ento prefeito Dr. Simeo Ribeiro Pires, do PR Partido Republicano. Para somar foras, o PSD uniu-se UDN-Unio Democrtica Nacional, que indicou o Capito Enas Mineiro de Souza para cabea da chapa. Eu no era poltico. Era simples eleitor ligado ao PSD por laos de famlia. Foi com surpresa que recebi o convite para ser candidato a vice-prefeito na chapa encabeada pelo Capito Enas. Naquele tempo a votao para vice no era feita em conjunto com a do candidato a Prefeito. O Vice era votado separadamente. A chapa aparentemente mais forte era a do PR, formada pelo Dr. Joo Valle Maurcio e Dr. Mrio Ribeiro, que tinha o apoio do prefeito, Dr. Simeo Ribeiro Pires, todos do PR e meus amigos. Em seguida vinha a nossa, formada pela unio da UDN e PSD. E por ltimo a do PTN, tendo a encabe-la a figura carismtica do Dr. Pedro Santos. Terminada a eleio foi eleito o Dr. Pedro Santos, vindo o Capito Enas em segundo lugar. Para vice o eleito fui eu. Foram quatro anos em que, por solidariedade ao Capito Enas, no compareci Prefeitura nem como visitante, embora sendo amigo do Dr. Pedro Santos. Em novembro de 1965, nosso chefe poltico, em Montes Claros, ou-me o basto. Meu caro Luiz, Lamento no me ser possvel comparecer, noite, instalao do Bureau de nosso partido, por ser inadivel a minha viagem de hoje. uma ligeira insubordinao ordem do comando, contrariando meu temperamento naturalmente inclinado a sempre me encontrar como um dos componentes da grei pessedista, fiel ao atendimento das determinaes partidrias. Assim regresse entrarei em sintonia com as deliberaes dos companheiros, aos quais peo desculpas pela ausncia involuntria, submetendo-me prazerosamente s decises que antecipadamente louvo e aplaudo. Contudo bom que v se acomodando ao generalato (cujo basto j detm), ao final, bem certo estou, todos os correligionrios se submetero com firmeza e satisfao para lutas e vitrias futuras. Do amigo Alpheu Gonalves de Quadros Nas eleies de 1966, instado por amigos, acedi em disputar uma cadeira na Cmara dos Deputados. Tendo meu nome indicado pelo Governo do Estado para participar da chapa da ARENA, representando especialmente a regio norte-mineira, refleti muito antes de assumir uma posio. Vrias razes estavam a indicar-me o exame do assunto com a maior seriedade e prudncia. A fim de no deixar-me impressionar pelos atrativos mais visveis e por possveis entusiasmos de momento. Uma das razes que tinha de considerar era a minha condio de homem de empresa, no comando efetivo dos negcios e engajado no movimento de expanso industrial da regio. A oportunidade que me era oferecida encontrou-me em plena atividade empresarial, proprietrio e principal executivo de uma empresa dedicada ao beneficiamento e comrcio de algodo, em plena atividade. O perodo de um ano como Governador de Rotary, terminado em julho de 1966, evidenciara o quanto minha ausncia era prejudicial aos negcios. No era, pois, fcil tomar uma resoluo para quem encarava a situao com honestidade para consigo prprio e para com a regio. De um lado, tinha a considerar a oportunidade que me era oferecida de trabalhar durante 4 anos pela regio, junto aos mais altos escales polticos e istrativos do pas, politicamente entrosado com a istrao estadual. Tudo isso em uma fase importante e decisiva para a regio, quando problemas bsicos de cujo bom encaminhamento e soluo dependiam melhores ou piores perspectivas de futuro para o Norte de Minas, se encontravam por assim dizer na mesa dos debates aguardando as decises. E do outro lado devia considerar os sacrifcios que seriam exigidos s minhas atividades profissionais, minha famlia e finalmente minha vida de cidado comum, organizada e com uma projeo de futuro que me satisfazia amplamente e no inclua o afastamento de Montes Claros e muito menos o exerccio de um mandato em Braslia. Por isso demorei tanto a decidir-me. No ltimo momento, ao se encerrarem as inscries, prevaleceu o interesse do bem pblico. Aceitei para servir. Alis, j estava servindo comunidade antes dessa deciso, pois a mim coubera, mais que a muitos outros, o paciente trabalho de escolha de um candidato nico para ISTRAR o Municpio. A memria do povo fraca e poucos se lembraro que o meu trabalho havia comeado um ano antes e foi por ter comeado a tempo que frutificou. Em 9 de outubro de 1965, quando o resultado das eleies indicavam a vitria do Governador Israel Pinheiro, dei entrevista ao JORNAL DE MONTES CLAROS, cujo contedo foi resumido em sua manchete principal: LUIZ DE PAULA PROPOR CANDIDATO APOLTICO PARA A REFEITURA. Eis o teor da entrevista: O sr. Luiz de Paula declarou ao Mais Lido que pretende atuar no seio do diretrio do PSD, no sentido de que se criem condies para indicao de elemento eqidistante da luta partidria para a Prefeitura de Montes Claros. Informou que a primeira condio que estabeleceu para esse trabalho, o afastamento do seu prprio nome, a fim de que possa mais facilmente desenvolver os entendimentos que vierem a ser necessrios. Segundo afirmou, as condies atuais permitem ao PSD local quebrar lanas com o objetivo de colocar elemento seu na Prefeitura, mas acredita o sr. Luiz de Paula que, por isso mesmo, esta a melhor oportunidade para demonstrar os objetivos superiores do partido, ao defender a tese da candidatura apoltica. Disse o vice-prefeito de Montes Claros que j tempo de se pensar em um equidistante dos partidos polticos. A cidade precisa de um que lhe possa devotar a maior parte do seu tempo, sem outro interesse que no o de dar o devido valor coisa pblica. Citou vrios nomes, de elementos capazes e que se enquadram perfeitamente nos objetivos pretendidos, mas que se lanados a uma disputa eleitoral, no obteriam xito. Assim sendo, para que a poltica no continue tolhendo os os da cidade, preciso que haja despreendimento por parte dos diretrios de partidos locais, a fim de que seja dado cidade um autntico, um prefeito capaz de acompanhar o ritmo de desenvolvimento da cidade. Salientou o sr. Luiz de Paula, principalmente as realizaes que se anunciam em benefcio da cidade e que iro coincidir com o prximo mandato: Distrito Industrial, asfalto para Belo Horizonte, ligao com a Rio-Bahia, elevao de Montes Claros como capital agrria e outras. E concluiu: Se no houver na Prefeitura um prefeito capaz e disposto a dar a maior parte do seu tempo istrao, tudo isso se perder. Tal era a firmeza de meu propsito e a minha preocupao com o assunto, que em proclamao ao povo, lanada na mesma data e publicada na mesma edio do jornal, tambm em sua primeira pgina, e na qual cumprimentava e agradecia a todos que haviam participado do esforo pela vitria do Governador Israel Pinheiro, que, no final, acrescentei esse trecho, que no fra essa preocupao em que me encontrava e a certeza de que assim estaria aplainando os caminhos, no teria ali cabimento: No que respeita a Montes Claros, quando soar a hora da escolha do candidato ao governo do Municpio, propsito firme do PSD local procurar um capaz e altura do momento em que vivemos, sem a excessiva preocupao partidria que poderia dificultar o dilogo natural para a seleo dos melhores. Com a ajuda de Deus no faltaremos voluntariamente ao trabalho pelo bem-estar do povo. E nesse sentido foi a minha atuao da por diante, e um ano aps, ao inscrever-me como candidato e tendo conhecimento de que todos os concorrentes levavam dianteira em suas campanhas, com grande massa de eleitorado j comprometida com outros nomes, mesmo assim no me arrependi de estar colocando a escolha do nome para a Prefeitura acima de meu prprio interesse de candidato e declarei na Mensagem a Montes Claros e ao Norte de Minas, que ento distribu por no dispor mais de tempo para fazer como os demais candidatos que j haviam percorrido toda a regio e em Montes Claros estavam visitando todas as casas residenciais e de comrcio. Esta a primeira oportunidade que tenho de dirigir-me em mensagem especial ao povo de minha terra. Como todos sabem, a conduo do problema da sucesso municipal custou-me pesado trabalho e longo tempo. Por mais de um ms dediquei-me tarefa de encontrar, juntamente com as outras partes, uma soluo de harmonia na escolha de candidatos nicos a Prefeito e Vice-Prefeito e na indicao de Vereadores e Juizes de Paz de nosso Municpio, por forma a termos uma sucesso tranqila e um governo municipal com o apoio de todos os partidos. Enquanto eu me dedicava a essa to nobre e necessria tarefa, os outros candidatos, desobrigados dessa responsabilidade, faziam a sua campanha. Mas valeu meu sacrifcio. O resultado alcanado constitui uma vitria dos homens de boa vontade de nossa terra e uma vitria de Montes Claros. Todavia, o tempo correu clere e eu tenho de trabalhar um pouco tambm para mim. Graas a Deus confio no povo de minha terra e tenho a certeza de que estamos juntos em nossa batalha pelo desenvolvimento da regio e para nossa vitria. Devo dizer, caros amigos, que aceitei ser candidato a deputado federal por nossa regio por entender que o Norte de Minas precisa agora, mais do que nunca, de representao prpria na Cmara Federal. Que seja prpria e que seja autntica, que bem represente o nosso povo em todos os sentidos, em todos os campos de atuao, seja no conhecimento da legislao e da organizao istrativa, e bem assim das tcnicas de trabalho, e que tenha vocao para a prestao de servio a outrem e capacidade, para o estabelecimento de boas relaes nos meios profissionais, intelectuais, polticos e sociais, da Capital Federal, onde se constroem boas amizades, teis aos interesses das comunidades representadas. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 30/7/2008 09:48:00 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 30) NOVAMENTE EM MONTES CLAROS Aps o balano e entrega da filial de Juramento ao comprador, sr. Jos Gonalves, comerciante estabelecido na localidade, fui transferido para a nova matriz da firma, em Montes Claros, com comrcio por atacado de cereais, ferragens e bebidas e engarrafamento de cachaa. E compra de algodo e mamona. Era o ano de 1938. Em 1939 matriculei-me na Escola de Comrcio do Instituto Norte Mineiro de Educao, em horrio noturno de 19:00 s 22:00 horas. Seis anos depois de ter deixado o ginsio eu estava voltando a uma sala de aulas diplomando-me 4 anos depois, como Perito Contador, sempre como primeiro aluno da turma, durante todo o curso. Em 1940 a firma encerrou a atividade comercial e ingressou na indstria de beneficiamento de algodo, sob a razo social de Sociedade Algodoeira Montesclarense, para a qual eu fui transferido como tesoureiro e auxiliar de escritrio. Em 1943, como j relatei, assumi a contabilidade da empresa. Trs anos mais tarde acumulei a gerncia e ei a receber 5% dos lucros da empresa. Em 1952 os dois scios fundadores decidiram dissolver a sociedade e cada um deles props adquirir a parte do outro desde que eu a assumisse. Contei os meus nqueis e propus comprar 35% das quotas do scio de Curvelo, tendo o scio local adquirido 15%. Dez anos depois de haver recebido o diploma de Perito Contador, ou seja, em 1953, matriculei-me na Faculdade de Direito de Niteri. Para tanto pedi um ano de licena empresa e fui para o Rio de Janeiro preparar-me para enfrentar os exames vestibulares, que exigiam, para os contabilistas, alm das provas de portugus, ingls ou francs, tambm as de Histria da Filosofia e Histria do Brasil e Geral. ramos 665 inscritos no vestibular. Obtive o 2 lugar, porque preferi o idioma francs ao ingls, embora sabendo que a banca examinadora de francs no itia nota acima de 7. Minha nota nas provas de francs foi 7. A aluna que obteve o primeiro lugar, de nome Ingborg, preferiu o ingls. O pai dela era professor da faculdade e examinador das provas de ingls. Ela obteve nota 10. Merecidamente. No foi ajudada. Mas perdeu para mim nas outras matrias. Mas com essa diferena de 3 pontos ultraou a soma de minhas notas. No final do curso, em 1957, obtive as maiores notas da Faculdade. Primeiro lugar. Tenho as minhas notas e as da Ingborg, no final do curso. Ela tambm se colocou entre os primeiros. A diaba da moa competente. LPF - 5 10 8 8 8 10 = 49 INGBORG - 6 7 8 7 9 8 = 45 Em 1960, o scio majoritrio, que havia fixado residncia em Belo Horizonte, vendeu-me os 65% que possua, com um ano de prazo e juros de 1,5% ao ms. Como detentor nico da Sociedade Algodoeira Montesclarense, transformei-a em sociedade annima, sob a denominao de Algodoeira Luiz de Paula S/A, incluindo como scio, sem capital, o comerciante Gentil Antunes de Souza. Em 1967 criei a Cia. de Tecidos Norte de Minas COTEMINAS, convidando para scio o sr. Jos Alencar Gomes da Silva. Nesse mesmo ano entramos com o projeto na Sudene. Em 1968, a fim de reunir recursos financeiros para implantao da fbrica de tecidos, vendi a Algodoeira firma Pereira Diniz & Cia, de Curvelo. Entregamos aos compradores uma empresa slida, conceituada, apresentando lucros crescentes, seguidamente, ano aps ano. Trs anos depois eles faliram. FALANDO COM MARIA ISABEL A vida uma ddiva de Deus. Uma graa que nos permite alcanar o ponto culminante da evoluo da matria. E ser por algum tempo um ente que pensa e cria. Assim acreditando tenho sempre amado a vida e valorizado o que possuo - a famlia, a sade, a moral, os amigos, a natureza, a crena em um ser superior. Gosto de fazer pausas na labuta do dia e sentir o que h de valioso em minha volta. E de me comprazer com isso. Os exemplos vm de minha infncia. Criana de 9 anos, distante de meus pais e vivendo em Montes Claros, eu era engraxate. Pobre e vindo da roa, e ingnuo na profisso, sofri a princpio com as perseguies dos concorrentes. Ficvamos em fila, lado a lado, na calada da rua Simeo Ribeiro, acompanhando o muro que ento havia onde hoje o Restaurante Montes Claros, do sr. Pedro Valrio, e a loja de roupas do Joo Leopoldo Frana. No quarteiro em cuja esquina, com a rua Governador Valadares, ficava o Bar do sr. Brasiliano Ribeiro da Cruz e onde hoje a Lanchonete Cristal. Era um trecho de rua de muito movimento, principalmente nas manhs de domingo, quando o povo das ruas de cima descia para assistir s missas das 7 e das 9 horas, na igreja Matriz. Eu no tinha capital para comprar latas grandes de graxa inglesa ncora, que era a melhor, mas custava um mil ris, cada lata. Comprova latinhas de graxa brasileira, de qualidade inferior, de trezentos ris cada. Quando o fregus, ao acaso, assentava-se na minha cadeira, e eu comeava a retirar meu material da caixa - as escovas para tinta e graxa, o vidro de tinta, o pano de dar brilho, e as latas de graxa, meus concorrentes, de um lado e outro, punham as mos na boca, fingindo tentar esconder um riso incontido, ao mesmo tempo em que lanavam olhares denunciadores s minhas pequenas latas de graxa e ao fregus, a quem procuravam denunciar a m qualidade do meu material de trabalho. As minhas duas escovas para sapatos pretos, eu no as pude comprar de cerdas macias, que eram mais caras. As que pude comprar, de baixo custo, eram speras. Em razo disso, alguns colegas iam mais longe na denncia. Falavam comigo, mas para serem ouvidos e entendidos pelo fregus: essas escovas suas so para raspar cavalos. Elas riscam o couro do sapato... No obstante toda essa barra que enfrentava, eu me lembro de um dia em que coloquei as duas mos no interior da caixa e pelo tato fui reando cada um dos apetrechos que quela altura constituam todo meu patrimnio na vida. As escovas, para sapatos vermelhos e para sapatos pretos, um par para cada cor. As escovinhas de dentes, para tintas vermelha e preta. As latas de graxa, tambm das duas cores. As tiras de flanelas, para o brilho, no final do trabalho. E assim por diante. medida em que manuseava, um por um aqueles instrumentos de trabalho, que haviam custado o meu dinheiro e que eu fra melhorando e completando aos poucos, medida em que eu sopesava cada um e identificava sua utilidade, ia tomando conta de mim uma euforia nunca sentida antes, uma grata sensao de felicidade. Quando, um ano mais tarde, pude voltar para casa, vendi esse patrimnio por cinco mil ris... Equivalente ao salrio de um dia de um trabalhador comum. Meus colegas da rua Simeo Ribeiro haviam se tornado, com o tempo, amigos e companheiros de futebol no largo da Igreja do Rosrio. Hoje recordo esse tempo com saudades. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 26/7/2008 09:28:24 |
![]() (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 29) ALGODOEIRA LUIZ DE PAULA S/A. [Primeira foto] Em 1968 vendi a Algodoeira para dedicar-me implantao do projeto COTEMINAS, do qual fui o primeiro presidente, permanecendo na presidncia durante 19 anos, at a idade de 70 anos, a partir de quando ei a vice-presidente. Hoje a COTEMINAS possui 16 fbricas de tecidos e confeces, sendo 5 em Montes Claros e 11 no Rio Grande do Norte, Paraba, Santa Catarina e Gois e na Argentina. ALGODOEIRA [Segunda Foto] Naquele dia longnquo de 3 de maro de 1936, se eu possusse 5.000 ris (cinco reais de hoje), teria recusado o emprego e regressado Vrzea. Permaneci em Juramento obrigado pela necessidade. Eu no tinha um tosto no bolso. No entanto foi naquele modesto emprego e no crescimento que a firma foi alcanando atravs do tempo, que pude voltar a estudar, em cursos noturnos, formar-me em contabilidade e depois em direito e a tornar-me scio fundador de empresas comerciais e fbricas de tecidos. E eleger-me vice-prefeito de Montes Claros e deputado federal. E ser eleito Industrial do Ano do Estado de Minas Gerais, em 1979, em razo do sucesso da COTEMINAS. MORAL DA HISTRIA Se eu tivesse 5.000 ris no bolso, naquele distante 3 de maro, teria deixado Juramento no dia seguinte, perdendo a oportunidade de conhecer todas as possibilidades daquele emprego. Mas a necessidade me imps ficar. J diziam os antigos: AS FACILIDADES ENGANAM, A NECESSIDADE ENSINA. [Terceira foto] (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 19/7/2008 08:27:35 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 28) Em Vrzea fazamos serestas cantando as canes de Orlando Silva, Francisco Alves, Slvio Caldas e as modinhas de Joo Chaves. Amanheci decidido. Ia voltar para Vrzea. Mas eu no tinha um tosto no bolso. Precisava no mnimo de 5.000 ris para voltar de carona at Corinto e com a ajuda de Manoel de S, fazer o pernoite no hotel e prosseguir no outro dia para Vrzea. Meu ordenado era de 150.000 por ms, cativo a 70.000 de penso. Por dia, lquidos, eu ganhava 2.666 ris. Se eu possusse 5.000 ris, voltaria imediatamente. Mas como no tinha, restava-me trabalhar at sbado, quando diria que viera a ttulo de experincia e que desejava receber o saldo dos dias trabalhados. Assim decidido, trabalhei os restantes dias da semana e no sbado aguardava a hora de fechar a loja para conversar com o sr. Adair. Mas no sbado, tarde, antes, portanto, da minha conversa, o sr. Adair me falou: Juramento agora tem delegado novo. E ele quer mandar no horrio das lojas. At recentemente ningum fechava aos domingos. Era muito bom para o povo da roa, que vinha fazer suas compras sem perder dia de servio. Mas o novo delegado espalhou edital por todo lado proibindo o comrcio de funcionar aos domingos. Ns estamos cumprindo, em parte. Eu fecho as portas mas conservo aberta essa primeira porta que de entrada para a loja mas tambm para a residncia. E atendo aos fregueses. Eu o ouvia, com um p atrs, como se diz. Com receio de que aquela conversa viesse atrapalhar minha deciso. E o sr. Adair prosseguiu. Amanh cedo estou indo a Glaucilndia. Voc vai tomar conta da loja. Abra a porta e fique atento. Pode atender a todo fregus que vier. Se o delegado aparecer voc dir que a loja est fechada. Que a porta aberta a da residncia. E a ordem que voc tem para atender a algum fregus que necessitar com urgncia de alguma mercadoria indispensvel para ele. No resto da tarde, enquanto trabalhava eu pensava. O sr. Adair no me conhece. E no entanto est confiando em mim. Est me autorizando a tomar conta da loja. A vender e receber dinheiro, sem fiscalizao alguma. Essa atitude dele me comoveu. E raciocinei: eu sou honesto, mas ningum obrigado a achar que sou. Se ele acha, ento ele merece meu respeito. No posso dizer a ele, noite, que vou sair. E decidi fazer o sacrifcio de ficar mais uma semana e sair no sbado seguinte. Havia um dado positivo nesse adiamento. Eu no iria precisar do emprstimo do sr. Manoel de S para a carona de Corinto. Ficou ento a minha deciso prorrogada para o sbado seguinte. Foi uma semana de muito trabalho. Tive de acostumar-me a carregar nos ombros sacos de cereais de 60 quilos, que apanhava no armazm, localizado em outro prdio, para refazer os estoques do varejo. Era trabalho pesado para quem pesava apenas 52 quilos e no estava habituado a carregar volumes de 4 arrobas. Cabia-me tambm receber na balana do armazm as compras de algodo e mamona. Mas o servio mais desagradvel era o da banca de toucinho. Porque no dava tempo de lavar as mos. Mal e mal as esfregava nas bocas dos sacos de cereais. Animava-me a certeza de que no fim de semana eu regressaria Vrzea. Teria regressado no dia seguinte ao da minha chegada se eu tivesse 5.000 ris no bolso. No sbado, a certa altura da tarde, o sr. Adair voltou a falar comigo. Amanh estou indo novamente a Glaucilndia. Voc vai comigo. A gente toma uma cerveja e almoa na penso da Donana. uma comida muito boa. Depois vamos dar umas voltas no lugar. Quero apresent-lo a algumas pessoas de l. A loja fica fechada. um dia s. No faz mal. E agora? Pensei eu. No posso desapontar uma pessoa que reconhece o valor da minha pessoa e me trata como gente e no como um caixeiro novato. E adiei a minha viagem para o outro sbado. Meu projeto de vida era ser advogado ou mdico. Estava ali dando tempo ao tempo, para no ficar a-ta, at conseguir emprego onde pudesse trabalhar durante o dia e estudar noite. Minha concluso era que esse caminho no ava por Juramento Velho. Ali era um recuo e no um avano em meu projeto de vida. Eu estava trabalhando amargurado. Na semana seguinte o sr. Adair teve uma conversa particular comigo. Aproveitou o horrio de almoo dos outros caixeiros e me disse: Eu tenho observado que o pessoal da roa o cumprimenta e voc, estando de costas, aviando mercadorias, responde sem se virar, sem dar ateno em quem o est cumprimentando. Isso no bom. O pessoal da roa repara essas coisas. Eu ouvi calado e calado fiquei. Mas compreendi muito bem e dei mais um crdito ao sr. Adair por me haver falado em particular. Naquele mesmo dia, estava eu de costas para o balco, enchendo uma medida de quatro litros, para atender a um fregus, quando ouvi a voz de um fregus chegante. Boa tarde, moo. A me virei, executando uma volta de 180 graus e olhei, com um sorriso, o recm-chegado. Boa tarde, amigo. Vou atender ao senhor daqui a pouco. Aquela volta de 180 graus no foi s no espao fsico. Eu tinha resolvido viver dentro da minha realidade. Meus sonhos de advocacia e medicina, muito bons, iam ficar arquivados. Voltei-me nesse giro de 180 graus para o que era real naquela fase de minha vida. Agora vou ser comerciante. O melhor que puder, eu disse para mim mesmo. Isso foi no final de maro. Em maio a firma recebeu um grande carregamento de mercadorias. Os carroes trabalharam mais de uma semana fazendo o transporte da estao ferroviria de Glaucilndia para Juramento. Os volumes eram abertos e a mercadoria era conferida e marcada com a marca ou cdigo da firma, indicando o custo acrescido de um percentual referente ao frete e ao carreto. O servio era feito noite, depois de fecharmos as portas da loja. Desde a primeira noite verificou-se que era eu quem fazia mais rapidamente e exatas as contas de reduo dos custos unidade, o clculo do percentual a ser acrescentado e finalmente a transferncia dos valores para o cdigo da firma. Meu cacife cresceu dentro da firma. Da por diante ei a revezar com os outros no atendimento no balco das mercadorias mais nobres. Ns ramos quatro a trabalhar na loja, incluindo o scio-gerente. Todos, exceto eu, eram homens feitos, casados, com filhos, e antigos no estabelecimento. Pois bem. No fim do ano o scio-gerente foi assumir a gerncia da matriz, recem-transferida para Glaucilndia. Sabem qual dos trs foi escolhido para gerente da filial de Juramento? Isso mesmo: este seu criado. Em 1938 foi vendida a filial de Juramento e eu vim, transferido, para a matriz em Montes Claros, que operava com cereais e bebidas por atacado e na compra de algodo, mamona e couros. Em 1940 a firma encerrou a atividade comercial e ingressou na indstria de beneficiamento de algodo sob a razo social de Sociedade Algodoeira Montesclarense, para a qual eu fui transferido como auxiliar de escritrio e tesoureiro. Em 1942 eu terminei o meu curso de perito-contador. Em 1943 assumi a contabilidade da empresa. Em 1945 meu salrio subiu para CR$1.500,00 mensais, acrescido de 5% sobre o lucro da empresa. Em 1952 um dos scios fundadores da empresa resolveu retirar-se e ofereceu-me o total de sua participao, correspondente a 50% do capital da empresa. Comprei 35% e o outro scio comprou os outros 15%. Em 1956 assumi a gerncia da empresa em Montes Claros. Em 1960 comprei os restantes 65%. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 17/7/2008 09:38:02 |
![]() (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 27) CHEGADA A JURAMENTO O CASO DOS 5.000 RIS A chegada a Juramento foi decepcionante. Eu viera a cavalo, desde Glaucilndia. Ao descer o Morro da Barriguda, abarquei com a vista o povoado. Era um pequeno aglomerado de casas, no fundo de uma depresso, no vale do Rio Juramento, cercada por serras e morros. A populao, como vim a saber mais tarde, pelo censo de 1940, era de 545 pessoas na sede do povoado e 7.351 no meio rural. Conforme me haviam ensinado, logo aps atravessar a ponte de madeira sobre o Rio Juramento parei em frente ao primeiro estabelecimento comercial. Era uma casa velha, comprida, com uma janela e 4 portas abrindo para a rua. Apeei do animal, prendi a rdea a um dos moires que havia em frente casa, galguei a calada e entrei no estabelecimento, onde estavam 4 pessoas trabalhando do lado de dentro do balco. Um senhor magro, de meia altura, usando bon de casimira e que claudicava um pouco ao caminhar, trabalhava ativamente a atender freguesia. Em dado momento, erguendo a vista para os animais em frente loja, exclamou: Uai! Aquele o cavalo do compadre Antnio. E baixando o olhar at onde me encontrava, perguntou: Voc o rapaz que est vindo para trabalhar aqui? Recebendo minha resposta afirmativa ele abriu a portinhola do balco e convidou-me: Pode entrar. Ponha suas coisas l dentro e venha nos ajudar. Assim eu fiz. A loja era estreita e comprida. Com prateleiras atulhadas em toda a altura da parede. Da direita para a esquerda estendia-se um balco estreito que terminava em uma portinhola. Era o balco da banca de toucinho, mantimentos e bebidas. Da portinhola em diante o balco era mais largo, bem conservado e atendia ao comrcio de tecidos, armarinho, arreios, ferragens, utenslios domsticos e o mais que se vende nas comunidades rurais. O caixeiro que tomava conta do balco dos mantimentos e das bebidas era um cidado de cor, filho do lugar e que conhecia toda a freguesia. Ele usava chapu de aba larga o tempo todo. O sr. Adair, que era o scio-gerente, mandou que eu o ajudasse no atendimento daquele balco. Nesse primeiro contato com a freguesia tive mostra do atraso do lugar. Ali no chegara ainda a balana de balco. Os mantimentos no eram vendidos a peso, mas medidos em vasilhame de madeira e a unidade era a medida e no o litro. As medidas eram caixas quadradas de madeira. A menor era chamada de MEDIDA e equivalia a dois litros. A freguesia era grande, barulhenta, na maior parte gente da roa, usando chapus de couro. O que observei naquele primeiro dia foi suficiente para formar opinio sobre o que era o Juramento Velho. O o a Montes Claros s se fazia por estrada cavaleira. Para Glaucilndia havia o precrio para carroes de burros e carros de bois. A correspondncia, inclusive jornais, vinha de Glaucilndia de 4 em 4 dias, por um estafeta a cavalo. No havia energia eltrica, nem calamento. gua era de cisterna ou apanhada no rio. No havia telgrafo nem telefone. Eu vinha de um povoado atrasado, mas servido de estrada de ferro. Recebia diariamente jornais das grandes capitais e correspondncia de todo o pas. E havia o telgrafo da Estrada de Ferro, que recebia e expedia telegramas de terceiros. Sob esse aspecto Juramento Velho estava muito abaixo de Vrzea da Palma. noite, faltou-me o sono. A decepo era muito grande. O lugar era atrasado e desconfortvel demais. Eu tinha experincia de balco. Sabia vender tecidos. E era quartanista do curso de Cincias e Letras, classificado em primeiro lugar. A mim fra entregue a banca de toucinho e o balco de mantimentos e cachaa a varejo. O meu antecessor, que estava sendo promovido ao balco de tecidos, era analfabeto. S fazia contas de cabea. Perdi o sono. Eu fra enganado, sobre as condies de trabalho. Devia voltar para Vrzea. Sem sono, ouvi um violo sendo afinado, na rua, em frente loja, e pessoas falando em voz alta. Lembrei-me de ter ouvido um dos caixeiros dizer que um pequeno comerciante do lugar, que ficara vivo, estava querendo namorar uma cunhada do scio gerente da firma, e iria oferecer a ela uma serenata naquela noite. O violo fez a introduo e o vivo cantou: Maria Jlia que embarcou pra Barbacena, coitadinha da morena quase morre de chorar ... Mandei fazer um punhal de puro ao morena me d um abrao para eu me consolar, ele de ao tem dois anelo de ouro Morena deixa de chro que eu nasci pra te amar. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 12/7/2008 08:21:26 |
JURAMENTO (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 26) EM JURAMENTO O CASO DOS CINCO MIL RIS Quem ou pela vida em branca nuvem e em plcido repouso adormeceu, quem no sentiu o frio da desgraa, quem ou pela vida e no sofreu, foi espectro de homem, no foi homem, s ou pela vida, no viveu. Francisco Otaviano A impossibilidade de continuar os estudos no colgio, em Montes Claros, me amargurava. No final daquele ano de 1934 meu pai conseguiu para mim um estgio como praticante no quadro do pessoal da agncia da Estrada de Ferro Central do Brasil, em Vrzea. Sem salrio. Era uma das formas de se ingressar na carreira que levaria a Guarda-Armazm, depois a Conferente e finalmente a Agente de Estao, de 1, 2 e 3 classe. Trabalhei com afinco e aprendi a preencher os diversos BTs (formulrios) utilizados no dia-a-dia dos servios, a manipular o aparelho morse, de telegrafia, e a utilizar as diferentes siglas que representavam os diferentes trens que circulavam no ramal, mais os cdigos das estaes e as frmulas consagradas para anunciar chegadas, partidas e atrasos dos trens expressos, noturnos, mistos, cargueiros, boiadeiros, lastros e composies especiais. Mas uma deliberao do Governo Federal, exigindo a quitao com o servio militar para a isso ao servio pblico, acabou com minhas esperanas nessa rea. Foi quando recebi o convite, por intermdio do meu irmo Lauro, a quem o convite fora feito em primeira mo, para trabalhar em um lugarejo modesto, o ento povoado de Juramento Velho, em casa comercial, ganhando o que representaria hoje o salrio mnimo. No dispondo de qualquer outra opo, aceitei. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 11/7/2008 10:15:15 |
PROGRAMANDO O FUTURO Luiz de Paula Ainda que eu merea, no gostaria de ir diretamente para o cu, quando chegar a minha hora. Quero ficar por aqui durante algum tempo. Viajando. Para conhecer lugares que antes no pude visitar. E rever paisagens que me encantaram em outros tempos. Na suposio, claro, de que as almas tenham direito de ir e vir. Sem gastar combustvel, sem carregar farnel. No primeiro dia acho que vou me sentar numa ponta de nuvem para examinar a situao. E pensar um pouco, j no direi sobre a vida, mas acerca do meu futuro. Quero ear um pouco, aproveitando a facilidade de locomoo. Comearei por Minas, para rever e despedir-me dos campos natais: os vales do Rio das Velhas, do So Francisco, do Verde Grande e a Serra do Cabral. Em seguida quero rastrear as pegadas do velho Rosa nos sertes e veredas do Andrequic e do Urucuia. Na esperana de encontr-lo a contar casos, juntamente com o Manoelzo, sombra de alguma velha gameleira. Depois subirei ao mais alto pico da Mantiqueira para sonhar ante a viso de meio mundo de povoados e cidades mineiras e paulistas. Mas no deixarei Minas sem antes ouvir serestas em Montes Claros, Diamantina e Santa Luzia. Para visitar o Sul do pas, o Nordeste, o pantanal mato-grossense e a Amaznia, reservarei tempo adequado. Sem me esquecer do Vale do Rio de Contas e da Chapada Diamantina, na velha Bahia, bero sagrado de meus anteados maternos. Percorrerei o mundo detendo-me mais tempo na visita a Portugal, Espanha, Itlia e Frana, corao da latinidade. Da arei ao Oriente, onde nasceram todas as grandes religies do mundo. No final desse priplo irei pousar no topo nevado do Evereste, na Cordilheira do Himalaia, para um perodo de meditao. S depois irei bater s portas da eternidade. |
Por Luiz de Paula - 2/7/2008 15:11:07 |
![]() (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 25) O CASO DAS SEMENTES DE CAPIM Quando eu cursava o 3 ano ginasial, no Gymnsio Municipal de Montes Claros, os padres cobravam duzentos mil ris por trimestre. Eram trs trimestres, total 600$000. (Era como se escrevia seiscentos mil ris). Correspondentes a 4 salrios mnimos da poca. Como referncia, uma caixa de fsforos custava um tosto, ou 100 ris e um peo recebia 150$000 (cento e cinqenta mil ris) por ms de servio, correspondente ao salrio mnimo de hoje. Meu pai ainda vivia sob os efeitos da recesso de 1929 e no mandava o pagamento em espcie, mas em produtos da regio, que eu negociava e fazia o pagamento ao Ginsio. De uma feita ele me mandou 30 sacos de sementes de capim jaragu, para o pagamento da parcela de um trimestre, j vencido. Com o conhecimento da Estrada de Ferro na mo, sa procurando comprador. E encontrei o sr. Niquinho Teixeira, como era conhecido o fazendeiro de renome e farmacutico Antnio Augusto Teixeira, formado pela Escola de Farmcia de Ouro Preto e irmo do mdico Antnio Teixeira de Carvalho, o Doutor Santos, ex-prefeito de Montes Claros e nome de rua do centro, em nossa cidade. Ele disse que ficaria com as sementes de capim pelo preo de mercado. Resolvida esta parte, fiquei atento chegada da mercadoria, na estao da Central. A mercadoria despachada como encomenda, incorre em frete maior, mas chega mais depressa. Acontece que vivamos numa fase de mxima economia. Vivamos espartanamente. Meu pai sentenciava: at pagar o que devemos, e recomprar a nossa casa de morada, que havia sido entregue em pagamento de dvidas decorrentes da baixa do algodo no crack de 1929, s podemos gastar com o nosso sustento. Nada de roupa, nada de sapato ou do que no seja alimento. E conclua: do preciso, o mais preciso. De modo que o capim veio em despacho como carga, e no como encomenda. Mais demorado, cerca de 15 dias, de Vrzea at aqui. Mas muito mais em conta. O meu cuidado em acompanhar a chegada tinha dupla convenincia. A primeira era apurar o dinheiro para o pagamento ao colgio. E a segunda era para evitar armazenagem, que ava a correr a partir do dia seguinte ao da chegada. No dia em que a semente chegou eu estava vigilante. Contratei carroceiro e fiz a entrega ao sr. Niquinho Teixeira. Era num cmodo que servia de garagem e depsito de pequenos volumes, com porto aberto para a rua Camilo Prates. Eu fui cham-lo e quando voltamos, juntos, o carroceiro j havia descarregado a carroa e carregado a primeira balanada. Seu Niquinho pesou essa e as outras balanadas, fez as contas, me pagou, e eu me despedi. L fora paguei ao carroceiro e desci a Camilo Prates, no rumo de casa. Ia pensando na vida. Tudo difcil. Meu pai em dificuldades, custando a sair da crise. Ele fra dono da maior loja de Vrzea. Comprava e vendia de tudo. Do toucinho e cereais seda mais fina, com bom estoque de tecidos, ferragens, miudezas, como era comum na ocasio. E era grande comprador de algodo. Financiava os plantadores, aos quais fornecia crdito em caderneta, para receber na colheita. Em 1929, na vspera da colheita, veio a grande depresso. O preo do algodo caiu de 30$000 a arroba para 6$000, mercado sem interesse. O caf, no varejo, era vendido a 3$000/quilo. Caiu para $800. Foi uma quebradeira geral. No caso do meu pai, houve queda de valor em todas as mercadorias de seu estoque. O comrcio parou. Ningum comprava nada, a no ser o que comer. O povo estava aturdido. Parecia o fim do mundo. Alm da desvalorizao dos estoques e da paralisao do comrcio, o comerciante teve de enfrentar o grave problema de suas dvidas. Ningum comprava o que o comerciante tinha para vender. Mas seus dbitos vencidos eram cobrados com rigor. No caso do meu pai, o seu capital estava nas mos dos plantadores de algodo. Gente pobre, que trabalhava da mo para a boca. Eles iam colhendo o algodo e trazendo para pesar. Parte por conta do financiamento, parte para aquisio de alimentos. Todos, mas todos mesmo, ficaram devendo financiamento. Os bancos fecharam o crdito: a poca era anormal. Meu pai calculava que se vendesse tudo que possua, incluindo estoques da loja, fazendas, gado e casa de moradia, mesmo por menos do valor, pagaria suas dvidas. Isso demandaria dois anos de muito trabalho, de muita conversao e muita pacincia. E enquanto estivesse dispondo de suas cousas, iria procurando receber seus crditos espalhados com mais de uma centena de pequenos plantadores de algodo. E assim fez. A loja, pouco a pouco foi se resumindo a uma pequena venda de gneros e bebidas. Com aquele mundo de prateleiras vazias. A Fazenda foi vendida por 30 contos de ris. Valia, no mnimo, 100 contos. O gado foi com a fazenda, na bacia das almas. O ltimo bem a ser vendido foi a casa de morada. Como era costume no interior, era casa de comrcio e moradia. Havia 4 portas na frente, para a loja. E uma porta e janelas, de lado, de ingresso em nossa residncia. Foi vendida por um conto de ris. A verdade que ningum podia agradar a ningum, porque todos tinham os seus ajustes. Mas meu pai continuava ocupando a casa, pagando aluguel de 30$000 por ms, ou seja, o equivalente a juro de 3% ao ms, at poder recompr-la, o que fez, 4 anos depois. Naquelas alturas, de meu 3 ano de ginsio, a coisa continuava feia. Eu pressentia que aquele seria o meu ltimo ano de estudo. Meu pai no teria condies para continuar pagando seiscentos mil ris de ginsio por ano, para mim. Minha tristeza era maior porque eu era o primeiro da turma. E ia parar. Mas, no havia andado mais que trs quarteires, quando olhando a conta verifiquei que l estava escrito, com a letra do sr. Niquinho: 32 sacos de sementes. Eu me lembrava bem que no conhecimento de embarque estava escrito 30 sacos. Se o comprador me pagara 32, estava errado. Meu dever era voltar e corrigir o erro. Voltei. Bati palmas na porta. Seu Niquinho era homem de pouca conversa, muito sisudo. Tive receio de falar com ele que a conta estava errada e ele correr comigo aos gritos. Por isso fui com muito jeito. Quando ele chegou porta, eu fui dizendo, com voz mansa. - Seu Niquinho, acho que o senhor me pagou a mais. Eu queria que o senhor conferisse a conta. Ele olhou a nota que me dera, conferiu os clculos, e me devolveu a nota, dizendo. T certo, menino. Pode ir embora. Eu insisti. - Meu pai me mandou 30 sacos de sementes e o senhor est me pagando 32. O senhor quer me levar no armazm, para eu conferir? Ele deu um sorrizinho, coisa rara naquele homem casmurro. E ao virar-se para dentro, me disse: - Vem comigo! Eu o segui, agora por dentro da casa dele. E fui observando a casa: salas grandes, espaosas, muitos armrios, muito vidro, sofs, retratos nas paredes, casa de gente abastada. Da sala de jantar samos num ptio, cortamos rumo por um eio cimentado, e chegamos ao depsito/garagem. Ele entrou na minha frente, parou diante da pilha de sacos de sementes, contou-os e me disse: - T tudo certo. Olha a, 32 sacos. Eu contei por minha vez. E l estavam os 32 sacos. E vendo os 32 sacos, eu pensei: alguma coisa est errada. Meu pai mandou 30 sacos, eu s tenho direito a 30 sacos. Observei bem os sacos. Porque h uma particularidade nos sacos que contm sementes de capim Jaragu. que as sementes atravessam o espao existente na trama que forma o tecido de aniagem de que so feitos e ficam saindo para fora. Em todos aqueles 32 sacos havia as pontas das sementes pelo lado de fora. - Vamos embora, moo! - Falou o sr. Niquinho. - Voc um menino direito. J provou isso. Agora vamos embora. Eu continuava quebrando a cabea com aquele enigma. E ousei propor: - O senhor me deixa desmanchar a pilha? - Desmanchar pra que? - Para conferir, eu disse. - Eu arrumo de novo. - Conferir mais o que, menino? Mas ante a minha insistncia, e por certo ante a disposio que sem dvida eu demonstrava, de algum que sabe o que tem a fazer, e no cede, ele, embora no convencido, concordou: - Pode desmanchar. Eu meti mos obra. Fui desempilhando de um lado e empilhando do outro. Na ltima carreira de sacos, na que estava por baixo dos outros, encontrei 2 sacos mais pesados do que os demais. Separei-os. Externamente eles ofereciam a mesma aparncia dos outros, cobertos das sementes que a eles haviam aderido pelo contato. Mas forando a costura que os vedava, por ali meti a mo e verifiquei que no continham sementes. Continham sacaria vazia. Eram o que se denominava de mala de sacos. O sr. Niquinho, irado, exclamou: - Agora me lembro. Havia duas malas de sacos(*) aqui no meio do depsito. Por certo o carroceiro descarregou os sacos de sementes em cima deles e na hora de pesar se esqueceu e colocou todos na balana. - Deve ter sido isso, eu disse. E apanhando as duas malas de sacos, coloquei-as, por minha vez, na balana, entregando a ele a nota e o dinheiro que ele me havia entregue. - O senhor pode pesar estes dois sacos e fazer o desconto na nota e no dinheiro. Depois de refazer as contas e me entregar o pagamento, ele me olhou bem de frente, ali naquele depsito de coisas de Fazenda e me disse: - Menino, fale com seu pai que fiquei te conhecendo. Voc um homem! (*) Mala de saco: encapado de sacos, geralmente 49 sacos vazios bem dobrados e ensacados em um saco maior, com a boca costurada. FORA DA ESCOLA De 1933 a 1939 fui trabalhar onde no havia escola noturna. SEIS ANOS DEPOIS Seis anos depois consegui voltar a uma sala de aulas. Eu trabalhava em uma casa comercial, em Juramento, desde 1936, quando soube que havia sido criada uma Escola de Comrcio em Montes Claros, com aulas noturnas, para quem trabalhasse durante o dia. ei a movimentar-me no sentido de transferir-me para Montes Claros, onde cheguei em 1938 e me matriculei, em 1939, no 3 ano propedutico, que precedia o curso comercial. A escola adotava a prtica de dois exames no ano, no final de cada semestre. Um no final de junho, com provas escritas, e outro, no final de novembro ou incio de dezembro, com provas escritas e orais. Eram seis as matrias do currculo. Estvamos no final de junho, no ano de meu ingresso na escola e j havamos feito as provas de cinco matrias. As aulas iam das 19:00 s 22:00 horas. No dia em que amos fazer a ltima prova, ao chegar de manh empresa onde trabalhava, fui informado de que ocorrera um estremecimento no mercado do feijo e eu deveria embarcar no trem das 11:00 horas para Buenpolis, onde desceria para trabalhar na praa e a seguir regressaria parando nas estaes intermedirias, para vender o estoque de feijo da firma. Quando regressei, na semana seguinte, o resultado das provas estava exposto no ptio interno da escola. As minhas notas causaram irao em toda a escola. Eram seis as matrias. Eu havia obtido nota 10 em cinco delas e zero na sexta. Cursei a escola por 4 anos, durante os quais mantive a rotina do primeiro lugar. Em 1942 recebi o diploma de perito-contador, com nota 10. No governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra foi promulgada uma lei que permitia aos contadores o aos cursos universitrios mediante prestao de exames vestibulares. Era a equiparao dos contadores aos diplomados nos cursos clssico e cientfico, da ltima reforma do ensino, para efeito de ingresso nas universidades. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 28/6/2008 08:57:15 |
![]() (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 24) O ESTUDANTE INCIO Aos seis anos e meio entrei para a Escola Rural Mixta (com x) de Vrzea da Palma, diplomando-me no final do 2 ano, com nota 10 (distino). Dessa formatura guardo o diploma com carinho e respeito. Ele traz as s da professora, Flvia Pimentel Roquete e do presidente da mesa, Joaquim de Paula Ferreira, meu pai. Fiz o terceiro ano no Grupo Escolar Gonalves Chaves, em Montes Claros e conclui o curso em Pirapora, em 1928, com nota 10, distino. O ano de 1929 e parte do ano de 1930 eu ei em Vrzea. Foi um tempo rico em convivncia com a natureza e as pessoas do lugar. Em agosto de 1930 meu pai combinou com meu tio Baslio meu retorno a Montes Claros. Para tentar o prosseguimento dos estudos. Dessa vez eu fui sozinho, sem a companhia dos dois irmos mais velhos. As notcias que tnhamos de Montes Claros eram de que em 1928 comeara a funcionar o Gynnsio Municipal de Montes Claros e que meu primo Antnio, um ano mais velho que eu, matriculara-se no ano anterior no Curso de isso, fra aprovado nos exames e estava matriculado no primeiro ano ginasial. As aulas haviam comeado em fevereiro ou maro. Eu estava indo em agosto. ( bom lembrar que estvamos vivendo os tempos negros da depresso de 1929). A viagem se fazia pelo S-2, trem expresso, com pernoite em Corinto. Viajei de carona, acertada com o chefe do trem. Levava comigo uma carta de meu pai, para o senhor Manoel de S, proprietrio do Hotel Ideal, em Corinto. Na carta ele pedia ao hoteleiro que me hospedasse, por uma noite, e conseguisse no dia seguinte uma carona para eu prosseguir viagem para Montes Claros. Tudo seria acertado com a venda de bilhetes de loteria que o sr. Manoel de S mandava para o estabelecimento de meu pai. Eu viajava contra minha vontade, obrigado por meu pai. E levava comigo muitas preocupaes. Da primeira vez, em 1926, fui para a casa do meu tio a convite dele. Desta vez eu estava indo a pedido de meu pai. Eu estava indo para a casa dos outros, sem ter recebido convite. Era uma situao muito constrangedora para mim. As matrculas haviam se encerrado em janeiro e eu estava indo em agosto. Alm disso, fazia mais de ano que eu estava com uma ferida feia na perna, que no sarava com os banhos de entrecasca de pau santo e de barbatimo. Incomodava-me chegar em casa de meus tios com aquela ferida. Eu j conhecia o sr. Manoel de S, dono do hotel em Corinto. Ele andava sempre de cara fechada. Foi assim que me recebeu. Mas era um bom cidado, honesto, trabalhador e prestativo. Leu a carta de meu pai e me arranjou um quartinho escuro, sem janelas, nos fundos do hotel, depois do quarto da cozinheira, para ar a noite. E me avisou. Levante cedo. s seis e meia ns vamos para a estao. O trem para Montes Claros parte s 7 horas. No outro dia, cedo, fomos para a estao. Por sorte o chefe de trem escalado para Montes Claros era o mesmo que viera at Corinto. Tudo combinado, eu fui instrudo para continuar na segunda classe e devia manter-me atento quando chegasse a Buenpolis, onde ocorria um cruzamento de trens. Se o Fiscal Itinerante, que viria no trem de Montes Claros, resolvesse ar para o nosso, como era comum acontecer, algum me entregaria um bilhete j picotado, que eu apresentaria ao chefe de trem, quando este viesse percorrendo os carros, acompanhado do Fiscal Itinerante. Em Buenpolis fiquei atento, mas o trem partiu sem que me procurassem. A linha estava livre. Ao chegar a Montes Claros, carregando minha velha mala de papelo, encontrei um quadro no desejado, mas que me favoreceu. O meu primo Antnio tambm estava com uma ferida na perna, em piores condies do que a minha, s que a dele estava recebendo tratamento mdico: banho dirio com Lquido de Dakin (hipoclorito de sdio) e aplicaes de uma frmula lquida receitada pelo Dr. Santos. A ferida localizava-se no tero mdio da tbia, na parte frontal, e sangrava quando ele tentava caminhar. Em conseqncia o Antnio fra obrigado a trancar a matrcula e perder o ano. A minha ferida no me impedia de caminhar, localizada que estava na parte lateral esquerda do tero mdio da tbia. No alcanava o osso e por isso no forava sangramento. Meus tios ficaram satisfeitos com a minha chegada. O Antnio era o filho caula, muito adulado. Eu, sendo apenas um ano mais novo, era uma boa companhia para ele. Meu tio Baslio, sempre bondoso, conseguiu matricular-me, mesmo quela altura do ano. Imagino que ele aproveitou a matrcula do Antnio. As aulas eram ministradas em dois turnos. Das 8 s 11 horas da manh e das 13:00 s 16:00 horas. Meu primeiro dia de aula no comeou bem. s 8 horas da manh, do dia marcado para meu comparecimento, o padre Eugnio Guypers, diretor do Colgio, levou-me sala de aulas e me apresentou ao professor Firmino Velloso, informando que eu viera do interior e que o colgio abrira uma exceo e aceitara minha matrcula para tentar o ingresso ao curso ginasial. nossa frente estavam os alunos, com o vistoso uniforme de brim cqui tnicas abotoadas at o pescoo e calas compridas. Fazia parte da turma um primo meu, o Olympio Teixeira Guimares, um dos poucos alunos externos a fazer o curso. Ele havia me informado que a turma se compunha de mais de 40 rapazes, com idade que variava de 14 a 18 anos, quase todos estudando em regime de internato. Eram filhos de fazendeiros da regio. Eles eram submetidos a uma disciplina muito severa, com horrio rgido para refeies e estudos, que comeava com uma missa diria, s 6 horas da manh e terminava com o recolhimento ao dormitrio s 9 horas da noite. Os alunos ouviram as palavras do diretor no mais absoluto silncio. Assim que o diretor se retirou, o silncio foi quebrado por risos e assovios mas o professor conteve a quebra de disciplina soando energicamente a campainha da mesa. Observei que a sala era ampla e tinha quatro fileiras de carteiras de dois lugares, todas ocupadas. S havia uma carteira vazia. A primeira de uma das fileiras. Foi nessa que o professor mandou que me sentasse. A reao iniciada pelos alunos, e contida pelo professor, me desconcertou bastante, mas procurei compreender. Eles estavam ali desde o incio do ano escolar, submetidos, a maioria deles, a um regime de internato rigoroso. E de repente aparece, no incio da primeira aula da manh, levado pelas mos do padre diretor, um fulano da roa, magro, mido e amarelo, e mais novo do que eles, com cara de capiau e uma roupa velha desirmanada casaco de uma cor, cala de outra, e curta, batendo nos joelhos. E com uma ferida na perna, amarrada com um pano branco. Aqueles jovens, criados em liberdade nas fazendas dos pais e agora submetidos a um regime de clausura, viviam entediados, vidos por uma novidade qualquer que quebrasse a rotina cansativa a que estavam submetidos. Minha presena, nas circunstncias em que ocorreu, foi um prato cheio. Eu no os condenava. Mas preferia no estar ali naquela situao. Mas meu pai me mandara vir. Cabia-me enfrentar os problemas. E tentar super-los. Estava eu imerso nessas reflexes quando meu primo Olympio pediu licena ao professor e veio sentar-se a meu lado. E a aula prosseguiu. Quando o polaco, que substitua o sino, tocou, anunciando o recreio, o professor me reteve a fim de completar o preenchimento da minha ficha escolar. E quando me liberou, faltava pouco para o recreio terminar. Mesmo assim sa para o ptio e logo se aproximaram alguns alunos e um deles me perguntou o nome. Luiz eu respondi. E ele, a sorrir, foi dizendo, sob o aplauso dos presentes: Luiz, catibiribis, serra matuts, firifirifs ... Desapontado e surpreso, ao ser alvo daquela brincadeira que no conhecia, senti, logo a seguir, duas pancadas ffas no alto da cabea. Vim a saber depois que eram as tais de cacholetas, pancadas deferidas com as mos cruzadas em conchas, que o brincalho desfere, por trs, na cabea do agredido. Voltei-me rpido, para verificar quem era o autor da brincadeira de mau gosto mas todos na roda estavam a rir e eu no pude identificar ningum. A seguir soou o polaco e voltamos todos para a sala de aulas. s 11:00 horas eu e o Olympio samos juntos, ele a lamentar o comportamento dos colegas e eu a dizer-lhe que no se preocue com isso. s 13:00 horas estava de volta. Com minha roupa da roa e a ferida na perna. E de mos limpas, como viera de manh. Eu era o pato feio no meio daqueles veteranos alegres e brincalhes. A disposio dos alunos, na ocupao das carteiras, considerava a idade e/ou a altura de cada um. Os menores e mais novos frente e os maiores e mais velhos ao fundo. Para facilitar a viso de todos. Para mim, como j disse, foi designada uma carteira da frente, que estava vazia. Meu primo Olympio pedira licena ao professor e viera sentar-se a meu lado. Todas as matrias do curso eram ministradas pelo professor Firmino Velloso, um cidado moreno, magro e de boa altura, que no ria. Era competente. Mas carregava a fama de mau. De massacrador. Ele recebera dos padres a tarefa de disciplinar aqueles rapazes habituados a lidar com cavalos e bois, nas propriedades rurais dos pais e que todos os anos se matriculavam no colgio em regime de internato. Para que, ao alcanarem o primeiro ano ginasial, j estivessem condicionados para assimilar as matrias do curso de Cincias e Letras, que credenciava o aluno a prestar o exame vestibular para o ingresso Universidade. Assim que tomamos nossos lugares, no segundo horrio daquele meu primeiro dia de aula, o professor Firmino Velloso alisou o bigode preto, usando o dedo polegar da mo esquerda para alisar a metade esquerda do bigode. E os demais dedos da mesma mo para alisar a metade da direita. Disseram-me, depois, que era um hbito dele, quando estava preparando alguma maldade. Parece que era assim mesmo, porque em seguida ele me encarou. Senhor Luiz disse ele Ns estamos aqui desde o incio do ano escolar. E vamos ter exames para o ao ginsio em menos de trs meses. O senhor est chegando inteiramente fora do tempo regulamentar. No sei como conseguiu matricular-se. Isso no assunto meu. J verifiquei, pelas anotaes que me aram, que o senhor terminou o curso primrio em 1928, em Pirapora, com nota 10. E dando por encerrado esse intrito, autorizou: Venha ao quadro. Vou argi-lo sobre as matrias deste curso. E usou a campainha para conter alguns assovios da turma. Com a sala em silncio, levantei-me, recebi o giz das mos do professor, aproximei-me do quadro negro e voltei-me para ficar de frente para ele. E teve incio o massacre. Portugus. Matemtica. Histria. Geografia. Cincias Naturais. Como compareci s aulas do Curso de isso ao Ginsio, em agosto de 1930. Foto feita no quintal do tio Baslio, prximo ao p de urucum. [foto] O que aconteceu eu posso resumir em trs palavras: dei um show. Que os meus filhos, um dia, ao lerem esses apontamentos, pois para eles que os escrevo, me desculpem. Mas no posso deixar de ser fiel ao acontecido. Tive realmente um desempenho excelente naquela sabatina. A partir do primeiro momento, aps minhas primeiras respostas, de viva voz ou por escrito, no quadro negro, um silncio total tomou conta da sala de aulas. S se ouviam a voz roufenha do professor Firmino Velloso e minhas respostas. No final da aula muitos alunos se aproximaram de mim. Queriam saber de onde eu era, quem eram meus pais, o que eu fazia em minha vida. Queriam ser meus amigos. Eu havia conquistado o respeito daqueles brincalhes, que aram a aceitar-me como colega e no como intruso. Em novembro houve os exames. Eu fui o segundo colocado entre os aprovados. A partir da ningum mais me afastou do primeiro lugar, at eu ser obrigado a deixar os estudos, por falta de recursos para custe-los, quando j estava matriculado na quarta srie, em 1934. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 25/6/2008 17:41:07 |
O CAMINHO GERAL DO SERTO Luiz de Paula A estrada utilizada pelos bandeirantes paulistas para o serto, a princpio para preao de ndios e em seguida em busca de ouro e pedras preciosas, buscava a nascente do Rio das Velhas, onde comeava o territrio das minas gerais, no qual era abundante o ouro de aluvio. A estrada vinha de Parati encontrava-se ai com a dos bandeirantes e prosseguiam juntas at o Morro da Gara, prximo de onde, mais tarde, nasceria o povoado de Santo Antnio da Estrada, hoje Curvelo. Do Morro da Gara partia o caminho que se acredita seja o de Joo Gonalves do Prado, diretamente para Montes Claros e da prosseguia Rio Verde Grande abaixo at a divisa com a Bahia, onde fletia direita e acompanhava o Rio Verde Pequeno at sua nascente e alcanava Caetit e depois Tranqueira (antigo Crioulos), na Bahia, onde terminava. A estrada dos bandeirantes, agora tambm de Parati, atingia a localidade de So Gonalo das Tabocas, hoje Lassance, e prosseguia Rio das Velhas abaixo at alcanar o Rio So Francisco, na localidade de Almas de Nossa Senhora da Barra do Rio das Velhas, ento maior emprio comercial do Serto Mineiro, hoje Guaicu. E da prosseguia margeando o So Francisco, ando por So Romo, Pedras de Maria da Cruz, Brejo do Salgado (Januria), Matias Cardoso e Malhada, na Bahia. E encerrava o seu trajeto em Tranqueiras, na Bahia, ponto final tambm do caminho de Joo Gonalves do Prado. |
Por Luiz de Paula - 25/6/2008 09:46:16 |
Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 23) RETORNO A MONTES CLAROS EM AGOSTO DE 1930 Nunca Mais Eu sofria por estar me separando de meu pai, de minha me, de meus irmos. De nossa casa, do quintal, das mangueiras, dos bichos que crivamos. Das manhs claras dos gerais, com os arinhos cantando nas rvores do quintal. Das tardes, em que me sentava no eio de lajes, em frente nossa casa, a acompanhar o sol do estio se pondo atrs da Serra do Repartimento. E, mais longe, o cu sobre a vastido do horizonte. E mais longe ainda, a viso de um futuro. O meu futuro! Agora eu me afastava de tudo. Eu estava deixando para trs a minha vida com meus pais, estava deixando a minha terra, com tudo em meio ao qual eu fui criado. Para que? O meu sentimento era de que estava deixando para trs a minha prpria vida. No carro de segunda classe em que viajava, entraram e saram ageiros, durante o percurso, e agora s restavam os dois guarda-freios, contando casos de suas vidas, em voz montona. O trem havia atrasado, por defeitos na locomotiva. J era noite. A marcha era lenta, marcada pelos rumores e solavancos do material rodante. Ns nos encontrvamos no trecho que hoje identifico como sendo o das matas que havia entre Engenheiro Dolabella e Engenheiro Navarro. Eu estava debruado janela, olhando a mata escura e pensando na vida. E cantando baixinho: Nunca Mais. Uma cano antiga. E chorando. SADE E CRESCIMENTO Nos primeiros anos de vida eu era referido como um menino bonito, de tez clara, corado, alegre, de cabelos castanhos, olhos esverdeados e principalmente inteligente, loquaz e espirituoso. Ao entrar na puberdade, tornei-me introvertido, plido, enfermio. A morte do Geraldo, o irmo mais velho, falecido aos 18 anos, e minha transferncia aos 9 anos incompletos, para Montes Claros, onde penei, nessa primeira permanncia, um ano e meio de tristezas e revolta, concorreram para isso. Pesava-me, na adolescncia, reconhecer-me feio e pobre. Maltratado pela febre malria e verminose crnica (amebase, shistosomase, necatorase) e igualmente crnica inapetncia, carreguei por muito tempo um quadro de desnutrio crnica. O perfil de meu crescimento, estampado a seguir, ilustrativo. Idade Altura - Pso Junho de 1933 - 16 anos - 1,54 m - 36 kg 04-12-1933 - 16,5 - 1,58 27-03-1934 - 17 - 1,62 17-07-1934 - 17 - 1,655 31-12-1934 - 17 - 1,70 31-12-1935 - 17,5 - 173,5 29-02-1936 - 17,7 - 174,5 29-02-1936 - descalo - 172,0 - 52 kg Os dados foram registrados em 29.02.1936. Minha altura estabilizou-se em 1,755 m. O peso manteve-se em torno de 52 kg em 1936/37/38. O crescimento desenvolveu-se aps o uso dos seguintes medicamentos receitados pelo Dr. Santos, em Montes Claros, em 1933: Novosan (Vit. A) em ampolas de 1cm3, intramuscular e cloro-calcion, (comprimidos de clcio). E banhos de luz ultravioleta. Em 1940 combati a shistosomase com injees intramusculares de trtaro emtico. E o uso de vitaminas. Nos anos 70 meu peso chegou a 88 kg. Hoje peso 75 kg, descalo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 21/6/2008 08:32:18 |
Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 22) PIRAPORA AQUARELA DO ADO (Retrato falado de uma poca) Pirapora da beleza das praias do So Francisco, das moas de olhar arisco, do peixe bom sobre a mesa. Deste vale s a princesa por direito e tradio. O amor teu braso, teu convvio lealdade. Pirapora da amizade, flor cheirosa do serto. Sou filho deste torro e relembro seu ado. Chico Freire, delegado, o Crispim da estao e o homem do po po a tocar sua buzina e a cantar em cada esquina os versos do po melhor que ainda trago de cor a cantar no corao. Os Ramos e os Nascimento, a chegada do vapor o caf Paz e Amor j hippie naquele tempo. Num vo de pensamento a alma se engalana e se a mente no me engana fecho os olhos e revejo a trabalhar no Varejo o Zeca e o Paulo Santana. E o Grande Barateiro seu Salomo Abdalla a vender em alta escala faturado e a dinheiro. Jos Maia, hoteleiro, seu Raimundo, coletor, Mestre Violo, professor. E na rua das Pitombeiras voando de asas ligeiras as mariposas do amor. Em tempo de jabolo o Bernardino soldado corria por todo lado nos meninos tendo a mo. E nas noites de So Joo nunca vi tanta fogueira, esta Pirapora inteira de luzes se enfeitava e o foguetrio espoucava animando a brincadeira. Domingo depois da missa moas andando na praa rapazes fazendo graa e eando na lia. O jovem Felix Batista de olhos claros e francos do alto de seus tamancos andava a cidade inteira com a loteria mineira a vender bilhetes ... brancos. Hotel Internacional, Hotel Maia, Hotel Lima, e l na Rua de Cima havia a Penso Ideal. Nesse tempo o carnaval j era a festa do povo. S de lembrar me comovo de como o povo vibrava e todo mundo se abraava nas vsperas do Ano Novo. O futebol era quente e o ingresso era de graa. Em qualquer campo na praa domingo era assim de gente. O juiz era pra frente: - cala-p era legal tambm o salto mortal e as entradas de sola. Pnalti era mo na bola s em jogo oficial. O comrcio era animado. Me lembro do Bar do Dante de movimento constante pelos jovens freqentado. O Trapiche, no atacado, Pedro Jorge no balco e o senhor Salomo vendia no Park-Royal seu estoque sem igual a preos de ocasio. Tinha o bar do Z Batista, a padaria Carvalho, casas de peixe e de talho vendiam a prazo e vista. Z Isidro, maquinista, Modestino, Cassiano. Nas ruas, mingau baiano. E havendo circo na praa a gente entrava de graa ando por baixo do pano. Seu Geraldo e a bandinha que tocava nas paradas, nas retretas e alvoradas e a todo mundo entretinha. Uma outra lembrana minha do senhor Joo Medeiros. Era o rei dos leiloeiros no ms de maio e novenas - reminiscncias amenas daqueles tempos fagueiros. O seu Arthur Nascimento, correspondente do banco, ofertava crdito franco a juros de um por cento. Grande era o movimento na empresa Viao. Nessa mesma ocasio dona Clara e Ernestina possuam uma cantina na Praa da Estao. Jos lvares, escrivo, seu Raimundo, coletor, dois cidados de valor em todo o Grande Serto. Em tempo de eleio era enorme o movimento em torno do grande evento. O povo se animava e at defunto votava nos Ramos e nos Nascimento. Doutor Rodolfo Mallard grande mdico e cidado e o Nestor, seu irmo, tambm figura exemplar. justo aqui destacar Nelson Cota, estudante, Sancho Ribas, comerciante na praa conceituado. E doutor Duque, advogado, na poltica atuante. Targino Lima comprava couros de boi e mamona. Juca era o rei da sanfona na Fazenda Canabrava. Seu Pedro Nunes gostava de pescar de anzol no rio. Nas tardes calmas de estio sempre era visto na ponte. Nos trens de Belo Horizonte mulher de todo feitio. Quincas Ramos, boticrio, com farmcia na esquina, com sua pesada batina, Frei Jorge, santo vigrio. Em dia de aniversrio Pirapora era uma festa. Tinha batuques, seresta, Banda de Msica, rojo. E danas de ps no cho na fazenda da Floresta. Pedaos de Pirapora, aquarela do ado, amor profundo, guardado, a reviver nesta hora. Adeus, que j vou-me embora oh! Mais terna das cidades - osis nas tempestades que ficaram para trs. Contigo eu deixo a paz, comigo ... levo saudades. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 18/6/2008 10:11:06 |
Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 21) DUPLA NATURALIDADE Quando nasci, Vrzea da Palma era distrito de Pirapora. Fui batizado na igreja matriz de Pirapora, por Frei Braz, padre holands, da ordem dos franciscanos, e registrado no Cartrio do sr. Jos lvares da Silva. Tendo Vrzea se emancipado, posteriormente, fiquei tendo duas naturalidades, podendo optar por qualquer delas. Optei pelas duas. E isso me faz duplamente feliz. PIRAPORA O BOM HUMOR DO PIRAPORENSE O Braz era um cidado muito querido em Pirapora. Era tesoureiro da Central. Um dia ele foi caar e perdeu-se na Serra de Aro Reis. A notcia correu na cidade e logo a moada formou um grupo para sair em busca do intrpido caador. Eram tempos de campanha poltica e estava em evidncia a UDB Unio Democrtica Brasileira, precursora da UDN. Na base da gozao a moada espalhou faixas nas ruas, com os seguintes dizeres em letras garrafais: UDB UNIDOS DESCOBRIREMOS O BRAZ. ___ Trecho de carta de um morador do bairro Entre Rios para um parente que estava em So Paulo: Olha, dezembro est chegando. o ms das enchentes. Venha ar a inundao com a gente. O ano ado voc no veio. No sabe o que perdeu. O governo deu ajuda e ns fizemos um carnaval que durou d uas semanas. ____ De um lado do ptio da estao da Central ficava o Caf Paz e Amor, do Frana. Do outro lado ficava o quiosque da Dona Eva, me da Ernestina. Era uma cantina onde eram servidas refeies leves. A filha, a Ernestina, era uma bela moa. Alta, loura, rosada, era bonita demais. O nico seno que ela era muito alta. Para mim, seu irador, que s tinha 11 anos e era magro, mido e anmico. ____ Era um fim de tarde. J havamos jantado e estvamos sentados porta da Penso Lobo. E l vinha a Ernestina, com sapatos de saltos altos, vestido cor de rosa, esvoaante, bonita de matar. Vinha pelo meio da rua, pois naquele tempo no usava andar pelos eios. Ao ar em frente penso, o seu Lobo, que ficara vivo recentemente, levantou-se de sua cadeira, fez uma mesura, segurando a barriga, que no era pequena, e saudou-a: - Ol, Ernestina, como vai essa beleza? E ela, com um sorriso gracioso. - Vou indo ... Vou remando contra a mar... Foi demais para mim. Minha irao dobrou. Eu nunca tinha ouvido uma frase to bonita assim: vou remando contra a mar Com o cotovelo cutuquei meu irmo Vicente, que estava a meu lado. - Veja, meu irmo, o que cidade grande. L em Vrzea no tem ningum capaz de dizer um trem bonito desse jeito. J pensou quando ns voltarmos Vrzea e nos perguntarem como ns vamos indo? ____ Havia muitas mulheres bonitas ... e gordas. Naquele tempo, mulher para ser bonita tinha de ser gorda. ____ Ns chegamos a Pirapora num domingo de fevereiro de 1928. amos pela porta do cinema e havia um cartaz anunciando o filme do dia. Era uma comdia, intitulada CCO DE SORTE, com os artistas Johny Hines e Edna Murphy. ____ O sr. Raymundo Nascimento era o dono do cinema. E ia a todas as sesses, sempre acompanhado da esposa, dona Ernestina. Mas ava pelo guich e comprova ingresso, como todo mundo. Ele me conhecia porque no dia da exibio do filme CCO DE SORTE eu ri tanto que minhas risadas chamaram a ateno das pessoas que estavam prximas de mim, e ele era uma dessas pessoas. Um dia ele estava comprando ingressos para ele e a esposa e me vendo por ali chamou-me e perguntou se eu queria ver o filme. Eu me aproximei dele e agradeci. - Obrigado. No quero no seu Raymundo. fita de amor. Eu gosto de fita cmica ou de murros e tiros. Lembro-me ainda que era o filme SEMI-NOIVA, com Lew Cody, um cara de bigodinho, mais chato do que Adolphe Menjou. ____ O sr. Paulo Santana era um homem muito honesto, muito srio, mas gostava de brincar, de vez em quando, com os amigos. Ele era gerente de uma mercearia, localizada em frente ao edifcio do frum. Uma tarde um seu amigo chegou com uma folha de papel almao e pediu a ele que lhe fizesse um abaixo assinado. O seu Paulo tinha uma letra muito bonita. Fez um trabalho limpo. O amigo assinou e foi para o frum. Da a pouco voltou e falou, mal contendo o riso. - No tem jeito para voc no, Paulo. Todo mundo l no frum est rindo. - Rindo de que? - Voc ainda pergunta?... Em vez de escrever eu, abaixo assinado, voc escreveu eu assino abaixado. Eu e Vicente meu irmo trabalhvamos no balco da mercearia. Presenciamos o ocorrido. E rimos pra valer. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 15/6/2008 09:07:38 |
Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 20) ME ENSINA Quando cursava a quarta srie primria, em Pirapora, juntamente com um irmo mais velho, certa noite, ao fazer o dever de casa, esbarrei num problema de difcil soluo. Naquele dia a professora nos ara problemas de reduo unidade, de juros e fraes. E mais aquele cujo enunciado, em meu entender, estava incompleto. Devia estar faltando um dado que orientasse o raciocnio. Deixei-o por ltimo. E uma vez resolvidos os outros, voltei a ele. Eu tinha 11 anos, estava fora de casa e era tmido. E pesava sobre mim o conceito de aluno adiantado, que me cabia defender. Amargurava-me a expectativa de entregar professora um problema no solucionado. Na ocasio ramos hspedes mensalistas de um pequeno hotel e ocupvamos um quarto dos fundos, com porta voltada para rea interna. Meu irmo me observava, calado, acompanhando meu trabalho, espera da soluo, enquanto me debatia, a fazer contas e mais contas, sem chegar ao fim. Depois de certo tempo, no sei por que, talvez para enganar o cansao e a frustrao, ei a dirigir-me aos mveis e objetos do quarto, a dizer: me ensina, cadeira. Me ensina, mesa. Me ensina, moringa. Me ensina, janela. Me ensina, porta. E olhando atravs da porta, naquela seqncia de pedidos, eu ia dizer me ensina, roseira, porque havia uma roseira no ptio, logo depois do eio que se estendia rente parede. Quando disse me ensina e ia completar a frase, ava pelo eio, o velho e nico garom do hotel, o senhor Polidoro. Era um pobre homem da roa, modesto e de pouca conversa e que nas horas de folga era visto a fumar seu cigarrinho de palha. Naquele momento ele levava uma bandeja com bule e xcaras. E ao ouvir-me, voltou-se. - Voc me chamou, menino? - No, senhor respondi Eu no chamei. Mas ele insistiu: - Chamou, sim. Eu volto j! E de fato voltou. J sem a bandeja. E foi dizendo: - Voc me chamou, sim. Voc me pediu para ensinar a lio. Eu ia responder e explicar a ele como aconteceu cham-lo, mas antes que iniciasse a explicao ele perguntou: - Como que voc soube que eu sou professor? Meu irmo e eu nos limitamos a fit-lo. Ante o nosso silncio ele ou a esclarecer: - Eu fui professor na roa, meus filhos, por muitos anos. Em minha terra, em Corao de Jesus. Sempre gostei de ensinar portugus e matemtica. O que vocs esto querendo saber?A revelao nos causou espanto. Como poderamos imaginar que o velho seu Polidoro, com sua cala de zuarte, camisa de zefir barato, feita por costureira, e suas botinas roceiras, de elstico, pudesse haver sido, algum dia, professor seja l do que fosse? Imaginar isso era impossvel. Mas ele estava ali a afirmar que era professor e querendo saber qual a nossa dificuldade. Incrdulo e desconfiado, sem nada esperar daquela pobre ajuda, apanhei o caderno que deixara sobre a mesa e li para ele o texto do problema. Um sorriso simptico se estampou no rosto do bom velho. Assumindo postura professoral, ele ou a explicar: - Este problema, meus filhos, muito bonito. Mas vocs no poderiam resolv-lo sem conhecer a frmula das propores. H um problema clssico, nesse modelo. o das 100 pombas. J ouviram falar nele? Ns no tnhamos ouvido e ele se disps a esclarecer-nos. Sentou-se na nica cadeira existente no quarto (eu e meu irmo estvamos sentados em nossas camas) e dissertou: Um gavio ou voando ao lado de um bando de pombas e as saudou: bom dia minhas 100 pombas! Elas responderam: bom dia seu gavio. Mas 100 pombas no somos ns. Mas ns, outras tantas de ns, mais a metade de ns, mais a quarta parte de ns e contigo, gavio, 100 pombas seremos ns. - Quantas pombas eram elas? Ns no sabamos. E quela altura nos dominava a surpresa diante da metamorfose que se operara na figura modesta e apagada do velho caipira. - Eram 36 pombas. Mas no basta saber que eram 36. preciso saber como chegar a esse nmero. Eu vou ensinar a vocs. um problema curioso que se resolve mediante a aplicao dos princpios da Regra de Trs. uma frmula chamada falsa posio. E prosseguiu: - Vocs pegam um nmero qualquer, a esmo, e faam as operaes de acordo com as respostas das pombas. No final iro encontrar um nmero falso. Da o nome de falsa posio. Com o acrscimo desse nmero falso vocs tero elementos completos para armar a proporo. E assim resolvero o problema. De nossa parte, fitvamos embasbacados, o velho professor da roa. Graas a quem ficara confirmada a minha observao de que faltava naquele problema um elemento chave para a soluo. Terminada a explicao ele pediu papel e lpis para colocar a frmula em prtica. - No caso das pombas, tomem por exemplo um nmero qualquer. Vamos tomar o nmero 20. Assim teremos: Ns 20 Outro tanto de ns + 20 A metade de ns + 10 A quarta parte de n + 5 E contigo Gavio + 1 Soma 56 - O nmero 56 o nmero falso. Ele vai servir para armarmos a proporo. Dizendo isso ele traou no papel a seguinte proporo: (56-1) esto para 100 - 1) assim como 20 esto para X Retirando-se os parnteses a proporo ficou assim: 55 : 99 : : 20 : X Em seguida ele nos ensinou a aplicar a frmula: multiplicar os meios e dividir pelo extremo conhecido. Ou seja: multiplicar 99 por 20 e dividir o resultado por 55: 99 x 20 55 = 36 Conhecendo o processo foi-nos fcil resolver o problema proposto pela professora. Naquela noite o velho e modesto professor da roa ensinou-nos muito mais do que simplesmente como fazer um dever de casa. Ele nos deu uma lio de humildade e amor sua vocao. Uma lio de vida. Tudo isso como desfecho de uma curiosa urdidura do acaso. E algum j disse que o acaso talvez outra coisa no seja seno o pseudnimo de Deus, quando Deus no quer . FIM DO QUARTO ANO PRIMRIO Terminados os exames, preparamo-nos para regressar a Vrzea no S-2, o trem que saa tarde, para Belo Horizonte. Nosso pai tinha vindo na vspera, para acertar com a penso e regressar conosco. No incio da tarde ele nos levou ao Trapiche do Norte, para agradecer ao sr. Raimundo Nascimento ter-nos dado ocupao na mercearia e na tipografia. E para nos despedirmos dele. A distncia entre Pirapora e Vrzea de 44 quilmetros, com parada intermediria em Buritis das Mulatas. O trem cobria esse percurso em uma hora e meia. No meio da viagem, no carro de 2 classe em que viajvamos, nosso pai aproximou-se de ns e nos disse que nossa me estava doente. Estava com pneumonia. Mas estava sendo medicada. E explicou que no nos falara no dia anterior para no nos prejudicar no exame. Ficamos muito tristes e preocupados porque pneumonia era doena muito perigosa naquele tempo. Ao chegarmos fomos depressa ao quarto da nossa me. Sua aparncia nos espantou. Ela, que era uma mulher robusta e sempre bem disposta, estava muito magra e plida, a tossir e a gemer, com dores nas costas. No quarto, como em toda a casa, no havia forro sob o telhado. De um dos caibros, de madeira rolia, descia uma corda grossa de bacalhau, com alguns ns nos quais ela firmava as mos para sentar-se, nas horas de tomar remdio. O tratamento foi demorado. Durou meses. De Montes Claros vieram alguns remdios, pelo correio. De receita ada para meu tio Baslio, quando ele sofreu a mesma doena. Mas nossa me sempre dizia que se curou tomando cozimento de batata de roda. uma batata do campo, que arrancada e cortada em rodelas e posta a secar. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 11/6/2008 12:03:21 |
![]() (Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 19) MONTES CLAROS NO ADO Montes Claros, nos meus tempos de criana, era uma cidade de muita fartura. As famlias faziam a feira aos sbados, no Mercado da Praa Dr. Carlos. Havia de tudo que era necessrio, com abundncia. Feijo novo, de rega e das guas, arroz pilado com esmero, queijos frescos e curados, requeijes, acar de cor, rapaduras alvas, duras e cerentas, farinha de mandioca e de milho, verduras, frutas, ovos, carnes de porco, de boi e de caas, toucinho, enfim de tudo. As pessoas andavam a p, tudo ficava perto. Ao se encontrarem as pessoas paravam, conversavam. No havia filas para nada. As casas de comrcio tinham o movimento necessrio para se manterem. O po era distribudo todas as manhs pelas padarias, que os deixavam nas janelas da freguesia. Hoje compreendo que as ambies se situavam ao nvel das possibilidades. Contavam-se nos dedos as poucas famlias que podiam ser consideradas ricas. Aos valores de hoje seriam, no mximo, remediadas. Ganhava-se pouco mas os custos eram baixos e os costumes valorizavam a sobriedade. Vestia-se com simplicidade. As crianas andavam descalas, sem qualquer constrangimento, mesmo porque todos andavam assim. Em verdade ns ramos pobres e no sabamos. Nem que ramos pobres nem que ramos felizes. Nossa felicidade no nos deixava perceber que ramos pobres. QUANDO CHEGUEI A MONTES CLAROS Os fazendeiros e os donos de lojas eram considerados as pessoas mais ricas da cidade. Mas ningum se envergonhava de ser pobre e viver com parcimnia. No havia emulao para o enriquecimento. Nem invejas. O custo de vida era baixssimo. Vestir roupas remendadas, porm limpas, era usual. Consumismo era palavra desconhecida. A economia, no sentido de poupana, era um costume arraigado em todas as conscincias. Os provrbios mais popularizados e invocados eram os que premiavam a poupana: de gro em gro a galinha enche o papo. Vintm poupado, vintm ganhado. Quem guarda sempre tem. No h fartura que no traga misria. Mais vale um pssaro na mo que dois voando. Quem d o que tem a pedir vem. Pai rico, filho nobre, neto pobre. Os artigos eletrodomsticos no haviam sido inventados. Uma residncia habitualmente se compunha de sala de fora, sala de dentro, cozinha, despensa e quartos de dormir. E uma privada no quintal. O banho se tomava em bacias grandes, no quarto da pessoa, com gua aquecida nos foges lenha. Como entretenimento, havia geralmente nas residncias um papagaio, arinhos, cachorros, gatos, violo, sanfona, baralhos, tabuleiro de damas, s vezes uma tabela e sacola de pedras para vspora. E galinhas e porcos no quintal. Famlias mais organizadas costumavam ter um Chernoviz com descrio de doenas e indicao de tratamento, Dicionrio Prtico Ilustrado, de Jayme Seguir, termmetro, alguns romances de Alexandre Dumas, Victor Hugo, Jos de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo e outros poucos. Em toda residncia havia um oratrio, com os santos da devoo da dona da casa, frente ao qual, de joelhos, fazia suas oraes. As donas de casa utilizavam remdios caseiros e benzeduras. Havia horrios mais ou menos generalizados - caf da manh entre 6/7 horas; almoo entre 10/11 horas; caf de meio dia entre 14/15 horas; jantar entre 17/18 horas. Hora de recolher por volta de 21 horas. Havia o hbito da ida ao mercado todas as manhs. Parava-se pouco em casa. As ruas eram onde mais se vivia. As pessoas se encontravam. As famlias, aps o jantar e a arrumao da cozinha, colocavam cadeiras porta da rua, formando grupos que cresciam com a chegada de vizinhos e antes que se sentavam para um dedo de prosa, no qual se comentavam as ocorrncias, contavam-se casos, falava-se de doenas e remdios, das novidades da capital, de planos de futuro. As rodas iam aos poucos se desfazendo, naturalmente, antes que o sereno, quele tempo muito temido, pudesse trazer algum resfriado ou agravar velhas bronquites e asmas. EM PIRAPORA Em 1928, eu e o Vicente meu irmo fomos fazer o 4 ano primrio em Pirapora. As aulas eram na parte da manh. s tardes ns as vamos no Rio So Francisco, nadando e pescando. Nosso pai soube disso e arranjou ocupao para ns. O Vicente foi trabalhar na seo de varejo do Trapiche do Norte, da famlia Nascimento, e eu na Tipografia Nascimento, pertencente mesma famlia. A princpio ns ramos mensalistas no Hotel Maia. Quando o hotel entrou em obras de reformas mudamo-nos para a Penso Lobo, quase em frente ao Grupo Escolar, nico da cidade. As aulas iam das 7 s 11 horas da manh. Eu vinha para a penso, almoava, e s 12 horas entrava no servio. Gostei muito. Era um mundo novo de mquinas, tintas, graxas, caixas de tipos, ferramentas e muito barulho. Nosso servio era pago por produo, tendo cada servio seu preo tabelado. Eu trabalhava mais na distribuio, que era o desfazimento das chapas j utilizadas na impresso, antes lavando-as com querosene para retirar a tinta que se grudava aos tipos. A distribuio dos tipos se fazia em suas caixas e nichos respectivos, com o maior cuidado para no misturar os tipos nem trocar os seus nichos. Fazia parte tambm de minhas atribuies o cozimento dos rolos da mquina impressora, endurecidos pelo uso e que periodicamente eram cozidos em fornalha a lenha, no quintal da tipografia. O salrio era pago por pea. E alcanava, em mdia, 15 mil reis por ms, correspondendo a 1/10 do salrio mnimo de um adulto. Com cerca de 3 meses de servio, j bastante prtico e desembaraado em meu trabalho, ganhei uma caixinha para confeccionar 100 cartes de visitas. Foi um luxo. Esmerei. Com a ajuda do gerente na escolha dos tipos e dos dizeres, de repente eu estava com 100 cartes de visitas onde se lia: [veja fac-smile acima] Na minha primeira ida a Vrzea, aps a confeco dos cartes, exibia-os com alegria e orgulho a meus pais e a meus irmos. E tive uma idia. Vou mandar um carto desses a meu tio Baslio, em Montes Claros. O tio Baslio era tambm meu padrinho e eu havia ado um ano e meio em casa dele, terminando o 2o ano primrio e fazendo o terceiro. Eu era o ajudante dele, todos os sbados, quando amos ao Mercado Municipal fazer a feira da semana. Ele fazia as compras e eu o transporte das mercadorias. Pensava: meu tio vai ficar abismado com o meu progresso. A resposta do meu tio, que era um homem muito gozador, veio numa carta do Antnio, filho dele, meu companheiro de escola. Dizia assim: - Meu pai recebeu seu carto. Mandou dizer a voc que tipgrafo no vale coisa nenhuma. Imagine auxiliar de tipgrafo ... (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 7/6/2008 08:30:09 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 18) O PRIMEIRO BEM DE CAPITAL Foram tempos de muita saudade. Era tanta a saudade do povoado em que nasci e de minha gente, que me sentia febril. E sofria tambm pela falta de alguns trocados. O Mercado Municipal, nas manhs de feira, aos sbados, exibia muita fartura de coisas apetitosas: pamonha, bolo de arroz, p de moleque, biscoito frito, broas, e frutas diversas. Mas eu era vidrado mesmo era no refresco de tamarindo. Adoado com rapadura e despejado num caneco de folha, sobre uma colherada de bicarbonato. Chamava-se moreninha e espumava at derramar pelas bordas do caneco. Era bom demais. s sextas-feiras havia sesso de seriados, s 8 horas da noite, no Cinema Montes Claros, do sr. Manoel Gomes. Lembro-me de alguns ttulos. O Cavaleiro das Sombras. O s de Espadas. Fantomas. No Arrasto da Vida. Ganhar algum dinheiro era preciso. Foi da que surgiu a idia da caixa de engraxar. Feita com tbuas aproveitadas de caixes velhos. No ficou bonita mas dava para comear. Sa luta. A engraxada custava 200 ris. Gorjeta era coisa que no existia. Aos sbados eu saa de porta em porta, no centro da cidade. Com o provento do dia eu comprava o material que faltava. Aos domingos ia cedo para o ponto, na rua Simeo Ribeiro, na calada ao lado do bar do senhor Brasiliano Ribeiro da Cruz, onde hoje a Lanchonete Cristal. Por ali avam as pessoas que iam s missas da 7 e das 9 horas, na Igreja Matriz. Uma fria considerada boa alcanava trs mil ris. Importncia bastante para se comear o dia com um copo de caldo de cana comprado na Garapa do Sinval, e mais tarde um copo de coalhada. E para reabastecer a caixa, reservando parte para a aquisio de objetos de uso na escola e para ir ao seriado das sextas-feiras. E para um ou dois copos de moreninha. A caixa de engraxar era um bem de que muito me orgulhava. Lembro-me de uma noite em que depois de conferir e guardar todo o material de trabalho, preparando-me para a faina do dia seguinte, enfiei as duas mos no interior da caixa e com o olhar perdido nos longes fui apalpando as escovas, as latas de graxa, as flanelas de dar lustro, os vidros de tinta... Era tudo meu. Era meu patrimnio. Minha riqueza no mundo. Senti grande euforia. Um calor bom subindo pelo peito acima. Uma enorme satisfao por ter dentro daquela caixa, sob minhas mos, tudo de que precisava para trabalhar e ganhar dinheiro. COMPANHEIROS DE TRABALHO ramos mais ou menos oito engraxates naquele ponto da rua Simeo Ribeiro, na calada rente ao muro do bar do senhor Brasiliano Ribeiro da Cruz, onde hoje a Lanchonete Cristal. Com o correr do tempo, a prtica de futebol, no largo da igrejinha do Rosrio, e o gosto pelo cinema nos tornaram companheiros e amigos. Entre eles havia o Z de sia Aninha, o Zez Boto, que morava no largo da Igreja do Rosrio, hoje praa Portugal. Foi o melhor driblador que j conheci, mesmo depois de adulto. Soube dele, mais tarde, na Polcia Militar, no posto de sargento. Outro muito bom de bola era o Antnio Carvalho, sobrinho do barbeiro Benvindo Jos de Carvalho. Havia tambm o Catarino, que morava longe, aos ps dos Morrinhos. Sobre ele escrevi um pouco mais, sob o ttulo: RECADO A CATARINO. O futebol e o cinema nos empolgavam. Cinema, para ns, eram os filmes seriados, que se exibiam s sextas-feiras, no Cine Montes Claros, do sr. Manoel Gomes, pai do saudoso amigo Jos Gomes de Oliveira. nico da cidade. avam um primeiro filme, de cow-boy, de duas ou cinco partes, e em seguida vinha o seriado. Ficaram famosos: O As de Espadas e O Cavaleiro das Sombras, com William Desmond (o mocinho) e Albert Smith (o bandido). E Fantomas. O cinema era mudo e se exibia parte por parte, com pequeno intervalo entre as partes. Projetavam a imagem e depois o letreiro, explicando o dilogo. Os tiros eram reconhecidos pela fumaa que saia dos canos das armas. Quando vinha uma cena muito forada - como, por exemplo, o cow-boy matando meia dzia de bandidos, de uma s vez, ou o cavalo de Tom Mix dando um salto de 10 metros, a gente ouvia logo a exclamao do Catarino, a ecoar no escuro, vinda de algum lugar, nas galerias: DESAJRO! O CINEMA Fora das aulas havia duas novidades muito gratas: a luz eltrica, iluminando a cidade noite, e o cinema, s sextas-feiras, em filmes seriados de western. Era ainda o cinema mudo. Mas havia msica local, antes de comear a projeo, com a Professora Dulce Sarmento ao piano. A entrada custava 1 mil ris, equivalente a 5 engraxadas. Era sesso nica, comeando s 20:00 horas. Os habitus, como eram chamados os freqentadores, pela Gazeta do Norte, comeavam a chegar s 19:00 horas, atendendo ao chamado de uma estridente campainha, colocada na parede externa do prdio, cujo som se ouvia em todo o centro da cidade. O cinema, com a inevitvel espera para quem quisesse encontrar bons lugares, tornara-se local de namoro. E era de bom tom (como se dizia quele tempo) o namorado ou marido oferecer revistas a seu par. Os vendedores de revistas e caramelos circulavam diligentes, atentos aos chamados dos fregueses. Quando a projeo ia comear, cessava o retinir da campainha externa e soava uma outra, de som mais fraco, localizada no alto da cabine de projeo. Avisando aos espectadores que a sesso ia ter incio. A projeo se fazia por partes, com intervalo entre uma e outra. As fitas de cow- boys compunham-se geralmente de 5 partes. Os seriados tinham 4 partes. E os dramas ou fitas de amor, como eram chamadas, e as comdias e fitas de guerra, eram estruturadas em 7 ou mais partes. Os complementos, que antecediam o programa principal, apresentavam uma ou duas partes. Nos intervalos entre as partes muitos espectadores se levantavam para fumar junto s portas laterais e retornavam a seus lugares ao chamado da campainha interna. A projeo produzia um rudo montono e contnuo, que para muitos funcionava como o melhor dos sonferos. Eram conhecidas na cidade algumas pessoas que iam ao cinema para desfrutarem de duas boas horas de sono. A professora Dulce Sarmento executava o piano com maestria. Eu sempre tive pendor para a msica e no cinema, ouvindo o piano, gravava com facilidade as melodias. E em casa de meus tios ia aprendendo as letras, com preferncia para as canes que se adequavam meu estado de esprito. Recordo-me ainda de algumas dessas composies, especialmente de duas delas, que eu repetia principalmente quando me encontrava sozinho, curtindo a minha saudade. Eram os tangos NUNCA MAIS e NELLY. As letras no tinham muito a ver com meus sentimentos. Eram as melodias que se harmonizavam com minha saudade. Comeavam assim: nunca mais gozarei ao teu lado deliciosos momentos de amor. ou Nelly, Nelly quero adorar-te eternamente. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 4/6/2008 16:09:36 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 17) POR CIMA DOS TELHADOS, POR BAIXO DOS ARVOREDOS Menino de 9 anos, veja s que idade eu tinha, descendo ladeira abaixo comendo minhas goiabinhas, cada folha que caa pensava que a ona evinha. (Do folclore mineiro) Sou personagem do xodo rural. Naqueles primeiros dias aps a chegada, dominava-me a saudade, enorme e persistente, de minha terra, de minha gente. Sem a menor possibilidade de retorno prximo. Talvez por ser o mais jovem, fui o mais atingido ao ser afastado do lar paterno. No desespero, fiz promessa para voar e voltar, voando, para casa. Escolhi o local da partida. Seria na Vrzea, hoje Praa de Esportes, na esquina de lote vago, sobre a armao de madeira de um muro velho, na esquina da rua Padre Teixeira com a Vrzea. Onde hoje se encontra o Posto Candango. O local, quele tempo, era pouco freqentado, como me convinha, e o muro era de baldrames. Sob a ao do tempo os adobes haviam cado e se amontoado em meio ao capinzal que ali viava. E restou a armao, de aroeira lavrada, toda entranada de ramos de melo de So Caetano e bucha de lavar vasilhas (lufa cylindrica, LIN). Ficava no longe da residncia do meu tio Pedro Mendona, onde se hospedara o Lauro, o irmo mais velho. Eu havia visto o lugar e o achara apropriado. Antes de subir na armao de baldrame, afastei-me um pouco e entrei numa moita de fedegoso, onde tirei a roupa, virei-a pelo avesso e voltei a vesti-la. Sobre a viga mais alta do baldrame, caminhei at o ngulo mais afastado, o final da rua Padre Teixeira, que fazia esquina com a Vrzea, (hoje Avenida Armnio Veloso). Ao alcanar esse ponto, virei-me para o nascente, benzi-me, fazendo o nome do padre, e pronunciei bem claramente, com a vista levantada, fitando o horizonte: por cima dos telhados, por baixo dos arvoredos. Eram as palavras de um menino que voava, como nos ensinara a Sia. Clara, velha contadora de histrias do povoado de onde eu viera. Falei: por cima dos telhados, por baixo dos arvoredos. E saltei para a frente, movendo os braos como asas. Do alto da sabedoria de meus quase 9 anos, estava certo de que iria voar e regressar a Vrzea da Palma. Na fora que vinha da f e da promessa. E da saudade que minava o meu ser. Ca de barriga, no cho coberto pelo capinzal. Levantei-me meio choroso. E iniciei o caminho de volta casa de meus tios. De cabea baixa. Eu era s tristeza e frustrao. INFNCIA EM MONTES CLAROS (julho de 1926 a novembro de 1927) Desterrado (era como me sentia) aos 9 anos incompletos, aps uma despedida de muito choro e reclamaes em altos brados, de que no queria sair de minha terra. Meus primeiros tempos em Montes Claros foram de banzo, a consumir-me em intensa e constante saudade. Saudades de minha me e do meu pai, de meus irmos mais novos, que ficaram l. Estava sempre a perguntar-me: o que ser que eles esto fazendo agora, l em casa? E a saudade persistia: da casa, do amplo quintal cheio de caixotes, barris, bichos de criao; dos galos que criava, do carneiro que ganhara pouco antes da viagem, dos banhos no Crrego Resgate e da ducha do Boeiro. (At hoje o sabo de cco me traz o cheiro do pequeno sabonete HOTEL, que custava 200 ris, e que eu levava no bolso para o banho na ducha). Saudades das caadas de codornas, pres e inhambs, com bodoque ou estilingue; das pescarias nos crregos do Resgate, Lameiro, e na Palma Velha, e nas lagoas e no Rio das Velhas. Das peladas com bolas de borracha e at com laranjas verdes. Das caadas de filhotes de periquitos e papagaios e de moradas (colmias) de abelhas jata e mandaaia. Das frutas do mato: pinhas cheirosas, de janeiro, na Palma Velha; jabuticabas e goiabas, cco macaba, mamacadela, pitomba, jatob, bar, nas vazantes do Rio das Velhas e Lameiro. De cajuzinho do campo, muricis, araticuns, mutamba, marmelada de cachorro, mandapu, de gro de galo, bacupari, pequis no cerrado da Serra do Repartimento. De folhas de pau-terra, capim santo, cordo-de-frade, tiuzinho e outras, para remdio ou chs aromticos. E das brincadeiras com a meninada. Eram saudades para no acabar mais. Pouco a pouco o ambiente foi fazendo o seu trabalho de absoro, contribuindo nesse sentido a freqncia escola. O segundo ano no Grupo Escolar era mais adiantado do que o segundo ano da escola de Vrzea. No faltavam novidades. Logo no primeiro dia de aula (primeiro para mim, mas para os outros alunos j era o incio do segundo semestre), chamou-me a ateno um aviso afixado ao quadro negro, onde pude ler: SEMANA DA HYGIENE. Chegando em casa perguntei minha tia o que era hygiene. EM MONTES CLAROS O que me ajudou a ar a saudade de minha gente e de minha terra foi a escola. E as novidades - luz eltrica, calamento das ruas, mercado, cinema - e a msica nova e variada que encontrei aqui. Os hinos e cnticos do Grupo Escolar e as canes que meus primos e primas e seus amigos e amigas cantavam: modinhas, canes carnavalescas e outras, deixadas por circos e companhias teatrais que por aqui avam e cantigas do rico folclore regional, inclusive das festas de agosto. Parece que aquela saudade inflamada foi se diluindo nessas cantigas e se tornou vel, embora sempre presente. Isso no primeiro perodo, de um ano e meio. Na segunda permanncia fui aprendendo a comparar e a julgar as duas comunidades e a compreender que meu futuro estava em Montes Claros ou mais adiante, pois no me esquecia de que meu pai, volta e meia nos dizia que lugar de futuro para gente nova era So Paulo. Eu comecei, nos primeiros tempos, comparando os doidos de Vrzea com os de Montes Claros. Os daqui eram mais divertidos. Depois ei a comparar nomes e profisses. Comparava o maior comerciante de l e o maior daqui. E Vrzea sempre perdia nessas comparaes. Pouco a pouco minha mentalidade foi-se tornando racional e compreensiva para a vantagem de viver em Montes Claros, para quem queria estudar. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 31/5/2008 08:22:26 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 16) TAPERA Nos restos da casa velha - esteios, cacos de telha, bem se pode adivinhar cinza que j foi lume, tristeza que foi perfume solido que j foi lar. Z DE JOO GRAVETINHO O Jos, filho do Joo Gravetinho, era gago. Para falar. Mas no para cantar. ramos meninos da mesma idade. Na Fazenda de meu pai, andando pela estrada que ligava os retiros do Buritizinho ao do Cotovelo, ns jogvamos versos, um para o outro, no refro de uma cantiga nordestina que era assim: i-tina, de-dolina, de-di, quero que voc me diga quantas penas tem coc. i tem coc, de-tina, de-dolina, de-di, pinta preta e pinta branca cada qual em seu lugar. Em seu lugar, de-tina, de-dolina, de-di, quero que voc me diga quantas estrelas tem no ar. i tem no ar, de-tina, de-dolina, de-di, tem mais de 40 mil se duvida, vai contar. i vai contar, de-tina, de-dolina, de-di, quero que voc me diga quantos peixes tem no mar... E assim prosseguamos enquanto houvesse boa memria e inspirao. E cho para caminhar. LEMBRANAS DE VRZEA Ao volver o pensamento ao ado distante, forma-se em minha mente a imagem muda do casario do povoado, com a pequena igreja, em construo paralisada, aparecendo do outro lado da linha frrea. E ao fundo, o Morro, hoje Serrinha, do qual os irmos mais velhos contavam casos de onas. Ao norte, na sada para Jequita, ficava o Rio das Velhas, a um quilmetro do povoado, com o lendrio de caboclos e mes dgua. Mais adiante, rio acima, a Palma Velha. E o pntano, cercado de pindabas esguias e buritizeiros, no interior do qual, segundo diziam, havia cobras sucuris e jacars. Na sada para Pirapora havia a Ceva, do senhor Evangelista, o aude, o crrego do Lameiro, rico de matrinxs e dourados e, do outro lado do crrego, os mistrios da mata do Anda-Sol. Vindas de longe, nas distncias do tempo, vo tomando forma novas lembranas. Havia duas ruas, ambas paralelas via frrea. Uma delas, no lado de cima da ferrovia, no comeo dos campos gerais, ainda pouco habitada. E a outra, do lado de baixo. Era a rua das casas de comrcio. Durante o dia era estrada de agem de boiadas e tropas de burros. E noite era o local para nossas brincadeiras de pique e de soldados. E para as cantigas de roda das meninas. Eu as revejo, as meninas do meu tempo, em seus alvos vestidos, luz plida do luar, a cantar de mos dadas: l do cu caiu um cravo, de to alto desfolhou, quem quiser casar comigo, v pedir quem me criou. To gentis, to doces, to puras. O que lhes ter dado, na vida, este mundo de Deus? As ruas no tinham nomes. Os becos tinham: Beco de Z de Melo, Beco de seu Tico, Beco de Atanzio, Beco de Bil. Todos saindo da rua principal em direo ao rio. Na quaresma, quem acordasse noite alta ouviria a cachorrada nas ruas a latir os lobisomens... Do outro lado do rio, a Serra do Cabral. E trinta lguas, ao longe, a cidade de Montes Claros, terra natal de nossa me, por ela sempre lembrada e apresentada como o melhor lugar do mundo. III A IDA PARA MONTES CLAROS A VIAGEM Aos 8 anos e meio de idade recebi meu diploma de segundo ano primrio, da Escola Rural Mista de Vrzea da Palma, alcanando o tpo do ensino pblico da localidade. Nesse ano, em fevereiro, morrera nosso irmo mais velho, o Geraldo, aos 18 anos. De tifo. A morte do Geraldo foi um acontecimento extremamente doloroso para todos ns. Sofremos todos. Demais. Mas minha me e meu pai foram os que mais sofreram. Geraldo era o filho mais velho e companheiro de meu pai, trabalhando lado a lado com ele, sempre alegre, jovial e bem disposto. Mais tarde compreendi que no s a perda do filho e companheiro o afligia, mas tambm o reconhecimento de que estava criando a famlia num clima inspito e sem recursos mdicos. Da a sua resoluo de mandar os trs filhos mais velhos para Montes Claros, inicialmente para completarmos o curso primrio. E l fomos ns o Lauro, o Vicente e eu. Viagem a cavalo, de trs dias, com o pai servindo de guia. Cada um de ns ficou na casa de um tio e padrinho, matriculados, os trs, no segundo ano primrio, no Grupo Escolar Gonalves Chaves, na rua Cel. Celestino, n 75, nico grupo escolar existente na cidade. Ns j tnhamos o diploma da Escola Rural de Vrzea. Mas repetimos o segundo ano por estarmos chegando no meio do ano escolar. A professora era uma santa educadora, dona Lainha, esposa do advogado Jos Tomaz de Oliveira, dono do jornal Gazeta do Norte. CASO DO ARROZ Meu irmo Geraldo faleceu em fevereiro de 1926. Em julho, meu tio Baslio, irmo de meu pai, trs anos mais velho, veio a Vrzea visit-lo. Com ele veio sua filha mais velha, Maria. Os irmos conversaram, durante aqueles dias da visita, sobre o clima de Vrzea, que no era bom, e sobre a falta de escolas. No final, decidiram que os trs filhos logo abaixo do Geraldo, o Lauro, o Vicente e eu iramos para Montes Claros. E fomos, conforme fra combinado. Viajamos a cavalo, durante trs dias e chegamos noite. Minha tia recebeu-nos muito alegre e afetiva e mandou fazer rapidamente uma ada de arroz com carne. Ao servir, eu, muito encabulado, de cabea baixa, e com vergonha at mesmo de existir e estar presente ali, respondi que no queria. Minha tia insistiu mas eu continuei recusando. A ela me perguntou: - Voc no come arroz? Em desespero de causa, respondi: - No, senhora... - Engraado. H crianas que no comem determinadas coisas. Fui dormir sem nada comer. Dessa vez, permaneci em Montes Claros um ano e meio. Dos 9 aos 10 anos e meio. Sem comer arroz. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 29/5/2008 09:44:40 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 15) SERVIO DE MENINO O pessoal no presta ateno ao tanto de coisas que um menino faz em casa a mandado do pai e da me. cortar lenha, pegar frangos, lavar cachorro, comprar coisas na rua, cuidar de irmo menor, jogar milho para as galinhas, tirar gua na cisterna... Voc pensa que acabou? Tem mais: botar bodes para fora do quintal, buscar pedras de areia na beira do rio para areao de as, buscar folhas de fedegozo para varrer forno de assar quitandas, levar caldeiro de comida para lavadeira de roupa no crrego, arrancar malvarisco na frente de casa. E por ai vai. trem que no acaba mais. Quando eu era menino de meus 9 para 10 anos, tive uma ferida na perna que deu trabalho. Durou mais de dois anos. Coisa vantajosa a gente ter uma ferida. No falo de pereba, que coisa -toa, que a gente sempre tem uma ou mais. Falo de ferida mesmo, dessas que inflamam, crescem e fazem o cristo mudar o caminhado. A vantagem toda da gente. No deixamos de jogar bola nem peteca (xingo de me ningum liga). Nem de tomar banho no rio, nem de buscar cavalo no pasto ou de brincar de pique. Nem de caar arinho e pre, nem de pescar, nem nada. Mas quando o pai ou a me da gente manda cortar uma lenha, pegar um frango, comprar qualquer coisa na rua, ou o que for, a gente faz uma cara triste e muda de posio, s para mancar com a perna da ferida. A o pai ou a me s manda a gente se no houver outro ali perto. Mas a vantagem maior a gente s vem a reconhecer mais tarde, j homem feito, quando precisa de qualquer planta do campo. A que a gente v como que um ou dois anos com uma ferida das grandes fazem a gente ficar conhecendo tudo quanto rama e rvore do campo. Porque, para cuidar da ferida, a gente vai ao campo quase todo dia arrancar cascas ou razes, ou colher folhas de pau santo, barbatimo, embaba, muric, tiborna e outras tantas usadas para fazer o cozimento e banhar a ferida. Enquanto a gente est procurando essas plantas, acaba conhecendo as outras. J pensou na vantagem de um cristo conhecer a utilidade dos adjuntos de horta e mais todas as plantas do campo? SERVIOS DE MENINOS No 2 Meu pai sempre optou por nos manter fazendo algum trabalho em volta dele. Ns tnhamos o nosso lazer. Fora do horrio da escola havia os trabalhos mais grosseiros de capinar o quintal, empilhar a lenha resultante da poda de mais de 40 mangueiras e outras rvores frutferas do pomar, arrancar - isso mesmo, arrancar, pelas razes, com as mos - o espinheiro maroto e outras vegetaes que nasciam com as primeiras chuvas em frente loja e a residncia da famlia. E havia a ajuda no balco, a princpio no balco mais estreito, onde se negociavam alimentos e bebidas, e fumo em corda, depois, quando se estava mais crescido, no largo e extenso balco dos tecidos e armarinhos. Importante tambm era o servio de rua. Alm das compras, para minha me, havia os servios da loja, consistentes, em sua quase totalidade, nas idas agncia do correio, para arrecadao de correspondncia, no horrio da chegada e abertura das malas que vinham pelo expresso da manh, ou ainda para postagem de cartas ou compra de selos, e as constantes idas estao da E.F.C.B (Estrada de Ferro Central do Brasil) para expedio de telegramas, pelo aparelho MORSE da ferrovia ou para providncias ligadas ao recebimento e expedio de cargas. Quando mais novo eu fazia esses servios montado em meu cavalo de cabo de vassoura. Como aprendera vendo o pessoal da roa em suas montarias, meu cavalo de pau nunca marchava em linha reta. Partia sempre fazendo uma curva bem aberta, para se distanciar de outros animais ou de rvores ou montes de pedras ou tufos de vegetao ou de pessoas presentes no caminho, refugando aqui e ali, como todo cavalo que se presa. Se o cavalo de pau no se encontrava vista, vel, eu me comportava como se montado estivesse nele, ordenava-o a pr-se em marcha, como via os cavaleiros da roa procederem, e para acelerar o andamento esporava com os cotovelos as minhas costelas e o resultado era que o mandado era cumprido com rapidez. Mas no que diz respeito a servio mesmo, ou seja de emprego com terceiros, o meu primeiro trabalho foi na Tipografia Nascimento, em Pirapora, quando para l fui, aos 11 anos de idade incompletos, a fim de terminar o curso primrio, ou seja para fazer o 4o ano. ANTES DA ADOLESCNCIA Menino ainda, em Vrzea, nas tardes tranqilas do estio, tendo ante os olhos o imenso espao entre o cu e a terra e a sentir o cheiro bom de tudo em volta, encantava-me ouvir o canto e os rumores da tarde a transformar-se em crepsculo. E a viso do cu to azul, to puro, to perto e enorme, com todos os seus mistrios. Em mim, a sensao de ser parte da natureza, incorporado ao quadro majestoso da tarde crepuscular. Envolvido pelo cheiro da terra e das plantas. E com a conscincia de estar apenas comeando a existir, de ter pela frente toda uma vida para viver. Aquela beleza em tudo, plena, misteriosa, oferecida como se todo aquele mundo fosse meu. SAUDADES Saudades, gratas lembranas da infncia muitas vezes no nascem de realidades, mas de coisas e situaes que s existiram no mundo mgico em que vivem as crianas. Eu fui uma criana pobre, descala, no comia sempre do que queria, criada no desconforto do meio rural, a padecer com malria, verminose, dores de dentes, perebas. E sem brinquedos de loja. No entanto tenho muitas saudades daqueles tempos, e de bom grado repetiria minha infncia, naquele mesmo modesto e querido povoado. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 24/5/2008 10:01:16 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 14) JOGO DE PQUER De vez em quando, amigos de meu pai combinavam com ele e faziam uma sesso de pquer, aps o fechamento da venda. O grupo se reunia por volta das oito horas da noite, ou pouco mais tarde. Quando saa o ltimo fregus, meu pai mandava-me fechar as portas da frente e colocar mais carbureto no gasmetro, para garantir boa iluminao at as dez ou onze horas da noite. Enquanto eles preparavam a mesa para o jogo eu ia sala de jantar apanhar copos limpos para eles beberem cerveja Brahma Rainha, ao natural, pois por aquelas bandas nunca se ouvira falar em geladeira. Eu gostava demais de assistir a essas partidas de pquer. Os parceiros eram pessoas bem humoradas, que gostavam de contar piadas e rir. Dois deles eram jogadores tarimbados. J haviam jogado em So Paulo e contavam casos engraados, muito ao agrado de minha aguada curiosidade. Mas meu pai proibia minha presena. Terminado o meu trabalho eu devia retirar-me. Todavia, a curiosidade em mim era maior do que o dever de cumprir a ordenao paterna. Eu sempre encontrava um jeito de ir ficando, em qualquer pequeno espao que a viso de meu pai no alcanava. Certa ocasio, j tarde da noite, muito depois de terminado o jogo, minha me deu por falta de mim. Foi um tumulto em casa. Todos se pam a procurar-me. Teria fugido de casa? Teria cado na cisterna? Eram as perguntas que se faziam. At que minha me, movida por sua intuio tapuia, apanhou uma lamparina e foi encontrar-me dormindo a sono solto sobre um caixote que servia de depsito de papel de embrulhos, sob o balco da venda. Em outra ocasio, l pelas tantas, um dos parceiros no jogo, o senhor Stnio Garcia de Paiva, um alegre e brilhante bon vivant, filho de importante empresrio de Belo Horizonte, quis lembrar-se de antiga modinha que conhecera em Diamantina. Desde suas primeiras informaes, eu, de meu esconderijo, atinei com a resposta. Mas os adultos - isso eu e meus irmos sempre soubemos - so uns tapados. S davam palpites errados. No decurso do jogo, pintavam os mais diferentes assuntos. No caso da modinha, aps umas duas jogadas, o sr. Stnio insistiu: - Ora, pessoal, uma modinha muito bonita e muito conhecida. Tenho certeza de que vocs a conhecem. H uma histria muito interessante, ligada a essa modinha, que eu quero contar a vocs. Mas antes tenho de me lembrar da modinha. uma em que o camarada apela para a namorada vir ouvi-lo. Mas, com todo o respeito, a turma era burrinha mesmo. No acertava um palpite. E a cada vez que o sr. Stnio voltava ao assunto eu tremia de impacincia e trincava os dentes para evitar que gritasse minha opinio. Mas ningum de ferro. Quando a pergunta mais uma vez foi feita, no pude me conter. E saindo de minha toca aproximei-me do sr. Stnio e falei assim: Olha, seu Stnio, eu acho que a modinha esta - E com a voz desafinada que Deus me deu, comecei a cantar: Acorda minha beleza, descerra a janela tua, espalha-se a luz da lua pela potica devesa. O sr. Stnio era um extrovertido. Vibrou. Abraou-me, lascou-me um beijo na testa. Os parceiros tambm gostaram e me abraaram sorrindo. Mas houve uma exceo. Meu pai. Vendo-me surgir do nada, contrariando sua determinao, fechou a cara e foi rspido: Voc perdeu boa oportunidade de ficar calado. Sua me o est chamando l dentro ... Eu pus o rabo entre as pernas, como se diz, e fui saindo de cabea baixa, murcho, sem graa, igual a cachorro que fez malfeito na igreja... ADENDO Um dia, nos anos 60, encontrava-me em meu escritrio, no centro da cidade, quando se apresentou um cidado idoso, da parte do jornal Estado de Minas. Entregou-me o seu carto mas eu j o havia reconhecido assim que transps a porta de entrada do escritrio. Deixei-o falar do trabalho que estava executando na cidade para o jornal. Depois informei-o de que j o conhecia. E contei-lhe o caso do jogo de pquer. O bom homem se desfez em lgrimas. Quando se recomps convidei-o a participar de um encontro de seresteiros que aconteceria noite, em minha casa. Ele compareceu e em dado momento os seresteiros cantaram em sua homenagem, a meu pedido, a modinha pela qual demonstrara predileo naquela noite distante, entre amigos. Ele agradeceu comovido e retirando-se para uma mesa ao lado, escreveu e depois leu para os presentes o que abaixo vai transcrito, cujo original me entregou. Luiz de Paula, filho do querido Tico, homem paradoxal de bondade e severidade, que ns, na nossa ignorncia e incompreenso tratvamos apenas no risco de nossa insatisfao. Mas que a ampulheta do tempo nos prostra hoje de joelhos em preces de gratido. Quantas vezes aquela bondade que no tive a graa de sentir como precisava, batia-me no ombro e na doura da advertncia e do conselho, dizia-me: senhor Stnio, o senhor tem uma bondosa esposa. Sou esmoler da palavra que a emoo torna ainda mais difcil. Muita coisa desejaria falar ao seu corao ternssimo Luiz, e que voc bondosamente e enternecidamente escutaria, mas no vou roubar aos seus amigos o encantamento destes momentos e no embarao de pontualizar meu matraquear de velho, peo que me perdoem a inoportunidade do que no pude calar. Obrigado a todos. Sinta, meu caro Luiz, meu abrao no seu corao. Stnio Garcia de Paiva (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 21/5/2008 21:51:58 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 13) COMPANHEIROS DE AVENTURAS Sou o quarto filho em uma famlia de sete irmos. Quando comecei a entender as coisas j encontrei minha frente trs sabiches que conheciam de tudo neste mundo - os trs irmos mais velhos. De como fazer um bodoque de pau pereira ou uma arapuca de vergnteas tratadas ao calor do fogo. Ou preparar visgo de leite de gameleira cozinhado em gua fervente. Ou, ainda, como colher o buriti para fazer alapes e gaiolas ou como pegar codornas no campo, correndo em crculos ao redor delas at as bichinhas ficarem tontas e a bastava atirar o chapu em cima delas e apanh-las com as mos. E ainda a contar terrveis histrias de capetas e assombraes. No vou negar: eles me ensinaram muitas coisas. Mas viviam a caoar de mim. E me batiam por qualquer d-c-uma-palha. E no aceitavam que eu os acompanhasse quando saiam para pescarias no Rio das Velhas e nos crregos existentes em volta do povoado. E nem para as caadas de codornas, inhambs e pres, no Anda-sol, na Palma Velha ou no Morro da Anta. Diziam que eu era muito novo. Sentindo-me desprezado eu me fazia de bobo e saia de perto deles mas ficava a vigi-los. E quando eles se punham a caminho eu os acompanhava por fora da estrada, para no ser visto, escondendo-me atrs dos arbustos, sempre de longe. Mas eles eram muito sabidos e por mais que me ocultasse acabavam por me descobrir. A eles paravam e ordenavam aos gritos que eu voltasse para casa. E um ou outro, mais ranzinza, corria em minha direo para forar-me a regressar. Eu no era bobo de ficar esperando. Corria tambm, a valer, sempre olhando para trs, para manter a distncia entre ns. Quando o perseguidor desistia e voltava para junto dos outros eu tambm retornava, mantendo sempre a distncia que me protegia. A estrada para o rio era de boa largura, numa distncia de mais de um quilmetro, o que facilitava essas escaramuas. Quando eles comeavam a jogar pedras eu recuava para altura em que as pedras j chegavam sem fora. As pedras batiam no cho e vinham pulando at pararem junto a meus ps. E assim a coisa prosseguia. Eles em marcha frente e eu os acompanhando, ora recuando, ora avanando, em permanente estado de beligerncia. At que acontecia algo que por mim j era esperado. Algum deles se lembrava de que havia esquecido alguma coisa. Podia ser um anzol ou uma isca especial, ou um canivete. Qualquer coisa desse tipo. De minha posio eu percebia que eles haviam parado e confabulavam. Da a pouco um deles se desgarrava e vinha em minha direo. o a o, sem gritar, sem xingar, sem jogar pedras. Eu percebia que ele vinha em paz. Era a figura clssica do parlamentar. S faltava a bandeira branca. Eu ento ficava na minha. Parado mas alerta. Pronto para ouvir, mas pronto tambm para dar no p. Se fosse uma armadilha. Quando a aproximao comeava a por em risco a minha segurana, eu gritava: Fala da mesmo! Meu irmo compreendia a razo de meus temores, estacava a razovel distncia e me ava as ordens sobre o que eu deveria ir buscar. E que fosse correndo. A eu ficava feliz. Num timo voltava ao povoado, pegava o que fra buscar e retornava, sempre correndo, j sem qualquer temor. E reinavam a paz e a democracia. Permitiam at que eu particie e opinasse em assuntos da maior importncia. Como aconteceu certa ocasio em que juntos decidimos sobre qual a melhor fruta do mundo. Aps acalorada discusso, da qual eu tive a honra de participar, chegamos a um consenso. No era somente uma, mas eram trs as melhores frutas do mundo. A jabuticaba, a pinha de casa e o abacaxi (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 18/5/2008 01:31:48 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 12) TI - TU - Meus irmos e eu gostvamos de ouvir nossa me contar histrias do tempo da infncia dela. Apinhvamos a seu redor, a pedir que nos falasse de seu tempo de criana. Lembro-me da noite em que ela nos falou sobre as estaes do ano. E esclareceu que tnhamos tambm nossa primavera. E acrescentou: um arinho que avisa quando a primavera est para chegar. - Verdade, me? - Verdade, filho. uma avezinha de porte mdio. Muito bonitinha. Ela tem o pescoo e o peito brancos. E as asas e a cauda escuras, marchetadas de branco. - Ela canta, me? - Canta, sim. com seu canto que ela anuncia a vinda da primavera. um canto bonito, melodioso, que alcana grandes distncias. E ela o repete, seguidamente, desde quando comea a madrugada. Nossas mentes de crianas ficaram empolgadas. Que coisa mais bonita! Um arinho que avisa s pessoas que a primavera est chegando... Nossa me carinhosamente prometeu: - Quando chegar o ms de setembro eu acordarei vocs bem cedo, no escuro da madrugada, para vocs ouvirem o canto da primavera. No muito tempo depois, em uma madrugada de setembro, ela nos acordou, um a um, sacudindo-nos, sem fazer barulho, para no perturbar as outras pessoas da casa. Aps estarmos todos de p, a seu lado, ela abriu uma janela que dava para o nascente e recomendou: - Agora fiquem calados e escutem com ateno. Ns estvamos curiosos e cochichvamos uns com os outros. A partir de sua recomendao, fizemos silncio e nos pusemos escuta. Da a pouco comeou a chegar aos nossos ouvidos o doce canto esperado. Era um canto de suave modulao, dividido em trs tempos. No trecho intermedirio as notas se prolongavam. Graficamente talvez se pudesse represent-lo assim: t - tu - . Era um canto de alvssaras. Ns escutvamos embevecidos. Era um trinado lmpido, cristalino, de indizvel doura, a repetir-se espaadamente e a crescer e a ganhar distncias na solido daquela hora: t - tu - . T - tu . T - tu - ... Olhando pela janela, vi que ao longe, acima do barrado azul da serra, o cu j assumira as cores da alvorada. E perguntei nossa me como se chamava aquele arinho. - Primavera (*) - ela respondeu. Mas para mim e meus irmos, o seu nome, a partir daquele dia, ou a ser t - tu - . E a to grata cena, vivida naquela madrugada de setembro, tornou-se algo ternamente guardado para sempre em nossa lembrana. (*) Ave ariforme do gnero XOLMIS, popularmente conhecida como PRIMAVERA. A ROSCA Minha me havia me dado um tosto. Naquele tempo, o tosto, tambm chamado de cem ris, era a moeda de mais baixo valor. Mas com ela comprava-se uma caixa de fsforos, ou um papel e envelope, para cartas, e muita coisa mais. Conheci a moeda de cobre, de 40 ris, e o vintm, de liga de nquel, de 20 ris, mas j fora de circulao, embora os adultos de ento se referissem freqentemente a um tempo em que uma e outro eram moedas correntes. Voltando ao tosto, desde o momento em que o recebi, a moedinha no esfriou mais. Mantive-a sempre quente, apertada em minha mo. Chegou a noite. Fui dormir pensando no que iria comprar no dia seguinte. Ao despertar, pela manh, de pronto no me lembrei do tosto. Dei-me conta, sim, de que havia algo novo naquele novo dia. Senti que vinha de dentro de mim uma alegria nova, latejando como se quisesse saltar do peito para fora. Mas no atinava com a razo disso tudo. Por que ser que estou me sentindo assim to feliz? Foi nessa altura que me lembrei do tosto. E foi aquele susto! Cad o tosto? No se encontrava mais em minha mo. Revirei-me na cama, num timo, e, graas sejam dadas, l estava ele, o danadinho, a destacar-se sobre o lenol. Apanhei-o depressa e voltei a apert-lo na mo e a sonhar, olhando no telhado as teias de aranha e as falhas das telhas, por onde se avistava, aparecendo ao longe, o lmpido azul do cu. Que vou comprar? Era sobre o que me perguntava. A escolha era farta. Poderia comprar trs laranjas, ou quatro limas, ou cinco balas doces, ou dois biscoitos de fofo, ou uma rosca. Vou comprar uma rosca. Na rua de baixo havia a venda do seu Gaudncio, delegado do lugar. A esposa dele, Dona Bil, era quitandeira de mo cheia. Alm do po de sal, pesado, barrigudo, ela fazia uma rosca morena, temperada com canela e adoada com rapadura, que para mim era a rainha das quitandas. Decidi-me. Vou comprar uma rosca. E fui. Deviam ser umas duas horas da tarde. Por a assim. Nem muito antes nem muito depois. Comprei a rosca e no caminho, de regresso, vim roendo-a por fora, comendo a casca, que tinha um cheirinho bom de erva-doce. Poupando. Quem j foi menino pobre sabe o que poupar. Comer devagar. Um pedacinho de cada vez. Para durar muito. Ao me aproximar de casa a rosca j estava sem a casca. Raciocinei: meus irmos so muitos. Se eu entrar pela porta da frente vou ser forado a dar um pedao aqui, outro ali e l se vai minha rosca. Decidi: vou pelos fundos. ei pelo quintal, saltei a janela do quarto de minha me e me deitei na cama dela, cobrindo-me com seu cobertor, dos ps cabea. E bem no escondido continuei a roer a minha rosca na maior felicidade. Mas vocs sabem como so as coisas. Em lugar pequeno as notcias correm depressa. Assim que o Vicente, meu irmo mais velho, ficou sabendo, no sei por que meios, que eu fora visto a roer uma rosca, vindo da venda de seu Gaudncio. O Vicente nunca foi bobo. E tirou logo suas concluses. O certo que da a pouco comecei a ouvir seus gritos, dentro de casa, chamando por minha me. Acompanhando o som da voz, percebi que ele fra cozinha, em seguida ao quintal, e agora vinha, a repetir o chamado, em direo ao quarto em que me encontrava. Minha av dizia que ns, os seus netos, tnhamos o capeta no couro. Devia ser o Romozinho, que o capeta dos meninos. Deve ter sido ele que me cutucou e me fez responder, debaixo do cobertor, o mais alto que pude, com a boca cheia de rosca, quando o Vicente ava pelo corredor sempre a gritar por minha me. uu... - Eu respondi. Ele deve ter escutado. E a pergunta veio em altos brados: Onde que a senhora est, me? Aquiii... Respondi em falsete. O Vicente insistiu: Onde, m? uu... Foi como respondi. Eu no quis arriscar-me a imitar novamente a voz da minha me. Ele j estava muito prximo e poderia descobrir o embuste. Por isso s fiz assim: uu...! A ele entrou no quarto, viu o vulto na cama, acreditou que era nossa me, e ps-se a choramingar. , me! A senhora deu um tosto ao Luiz, aquele cachorro amarelo, e ele comprou uma rosca. Todo mundo viu ele vindo da venda de Dona Bil, comendo a rosca. E a senhora no me deu nada. E arrematou, redobrando o chro: Me d um tosto, m! No agentei. Era engraado demais. Eu ali debaixo daquele cobertor e o Vicente a chorar e a me chamar de me, e a pedir um tosto. Ele que era to prosa e arrogante diante de mim...No fui capaz de conter o riso. Mas imediatamente tive de ar ao. De um s golpe atirei o cobertor em cima dele e saltei para o outro lado, rindo a mais no poder, e pulei a janela, enquanto o Vicente perdia tempo desembaraando-se do cobertor, dava a volta cama e por sua vez saltava tambm a janela em minha perseguio, a xingar tudo que sabia. Mas eu j estava longe. E os cacos de telha atirados por ele no me alcanaram. Ganhei a rua, entrei num quintal vizinho e me escondi embaixo de um velho carro de boi. Pacientemente deixei o tempo ar. Mais tarde voltei. Espiando de longe e avanando aos poucos, at chegar em frente venda de meu pai e verificar que a barra estava limpa. Ningum na venda. Somente meu pai. Em sua mesa, a escrever. Entrei e fiquei perto do meu pai. Da a pouco o Vicente apareceu. Essa era a hora perigosa. Era o nosso primeiro encontro depois da presepada que lhe armara. Ele me viu e veio-lhe o mpeto de me atacar. Mas eu me encostei mais em meu pai e ele se conteve e veio se aproximando devagar, at encostar-se em mim. A comeou a me xingar s com o canto da boca, enquanto tentava pisar em meus ps e me beliscava no couro das costelas. A eu denunciei: Olha, pai. O Vicente est aqui querendo pisar em meus ps e me pinicando na costela... Meu pai interrompeu a escrita, virou-se para ns, percebeu a atitude belicosa do Vicente e ou-lhe uns pitos, mandando que parssemos com aquilo e fossemos brincar l fora. O Vicente saiu, emburrado, mas eu no arredei p da venda a no ser com meu pai, para jantar, e, mais tarde, para dormir. No outro dia minha me deu ao Vicente um tosto. E a paz voltou a reinar em nosso mundo. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. 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Por Luiz de Paula - 14/5/2008 11:31:45 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 11) A TINTA SARDINHA E AS BELAS S Sempre tive todos os sentidos muito aguados, notadamente o olfato. Quando entrei para a Escola Rural Mixta de Vrzea da Palma, aos seis anos e meio de idade, captava no ar o cheiro da tinta Sardinha. Era a tinta de escrever que todos os alunos usavam. Vinha em vidros redondos, achatados. Custava 300 ris, cada vidro. Eu gostava do cheiro da tinta. E gostava tambm do ranger da pena MALLAT no 12, no papel, quando se escrevia. Queria aprender depressa a escrever o meu nome. Para fazer como o ferreiro Tertuliano Silva e o professor particular Jos Maria Guimares. Eles alisavam o papel sobre a mesa, molhavam a pena no tinteiro e a seguir executavam dois a trs volteios com a mo e feito isso assinavam caprichadamente os seus nomes, com as maisculas enfeitadas de bonitos floreados. Sabiam escrever bonito, aqueles dois... A fbrica da tinta distribua um folheto que trazia esta quadrinha: No chores assim, no chores maninha, que dou-te um vidro de tinta Sardinha. ATEMPOS No havia rdio nem televiso. Outros eram os atempos domsticos. Em nossa casa havia violo, viola e sanfona de oito baixos. Baralhos e tabuleiros de damas. E cartelas e pedras para o jogo de vspora. De vez em quando apareciam quebra-cabeas de arame ou de madeira. Os jogos mais praticados no baralho eram o jogo de burro, truco, douradinha, vinte e um, sete e meio. Todos se utilizavam desses atempos, de modo que cedo comecei a me divertir no violo. Naquele tempo, o bonito era conhecer muitos floreados e no ritmos, como hoje. Lembro-me de dois floreados que aprendi primeiro, ambos em sol maior. Da primeira posio para a segunda e voltando da segunda para a primeira. Para memoriz-los criei letras para ambos. A rosa nasceu do galho, para o primeiro e o nosso amor verdadeiro, para o segundo. Ao relembrar essas agens do incio de minha infncia me detenho na segunda frase - o nosso amor verdadeiro. Que significado teria para um menino de 6 a 7 anos a palavra amor? E porque fui busc-la para ilustrar aqueles floreios do violo? E porque verdadeiro? J teria quele tempo intuio maior do significado do amor, e da existncia de amores verdadeiros e falsos? Mais tarde, com dez anos e meio de idade, quando ei um ano em Pirapora, para fazer o 4o ano primrio, gostava de acompanhar a banda de msica pelas ruas, em datas festivas, ouvindo a execuo de seus dobrados. Como no tinha a quem perguntar, eu punha nome e letras no que ouvia. Letras sem nexo, representativas do que aquelas melodias desconhecidas despertavam em mim. Ainda me lembro de uma dessas melodias. A letra que criei era assim: Guarda como um tesouro, guarda como um tesouro. Guarda como um tesouro, o tesouro carioca. Parar-t-t - Bum! UTENSLIOS, FERRAMENTAS, CRIAES ETC EXISTENTES EM NOSSA CASA DIVERSOS Oratrios com santos, estampas de santos, pilo e mo-de-pilo, retratos da famlia e de parentes, peneiras de arame e fibra, barris e tambores para gua, lata tipo querosene, latas para leite, gancho tridente com corda para retirar latas e outros objetos que cassem nas cisternas, tacha de torrar caf, gamelas para amassar biscoitos e pes, tachas para assar quitandas, forno com porta dando para o interior da cozinha, vassouras de varrer casa, de varrer quintal e de limpar telhado por dentro, lanterna de mo, lampies belga, lamparinas a querosene e azeite, mquina de moer carne, guarda-chuvas, galochas, alm dos mveis e utenslios comuns de copa, cozinha, dormitrios e sala de visitas. E mais: canastras, espreguiadeiras, cofre Bergamini, escadas, brochas, pincis, selas, cangalhas, arreios de carroa, cabides de parede e de p, bacias de rosto e de banho, lavatrio, jarras e bacias esmaltadas, quadros de paisagem nas paredes da sala de fora, reprodues de quadros de generais da primeira guerra mundial, relgio em forma de 8, de bater horas e quartos de hora, relgio despertador, termmetro Casella, vidro de tirar ventosa, ferro de acertar casco de animais para assentar ferraduras (puxavante). Bacias grandes, para banho, e menores para lavar os ps. E bacias de rosto, com jarro e lavatrio metlico, em cada quarto, pois no havia gua canalizada nem pias. Laos de couro e cordas de uso na pecuria, e cordas de pular. FERRAMENTAS Machado, serrote, martelo, turqus, alicate, chaves de fenda, pua, seguetas, nvel, como, esquadro, metro e fita mtrica, escala, fio de prumo, enxada, enxado, picareta, alavanca (lebanca), lima e limato, grosa, arranca-prego, pregos, chaula ou p, parafusos, funis, machadinha de marcar madeira, fogareiro com ventoinha, tipo forja, para queimar veneno (arsnico e enxofre) e injetar fumaa venenosa em formigueiros. ANIMAIS DOMSTICOS E PSSAROS Cachorros, gatos, papagaios, arinhos (bicudo, patativo, pintassilgo, curi, canrio), sagui e quat, galos e galinhas, cocs, patos, perus, cabras e cabritos, porcos no chiqueiro, vaca para leite. LIVROS Chernoviz, Bblia, Dicionrio de Jayme Seguir, Os Sertes, O Guarany, Iracema, O Mistrio da Estrada do Sintra, Os Miserveis, Manual del Curtidor. PARA O LAZER Baralhos (novo para gente grande e velho para as crianas), sanfona, violo, viola, tabuleiro de jogo de damas, espingarda cartucheira e Flaubert, revlver, faco, anzis, carrinho de mo, carrocinha de mo. JOGOS DE BARALHO Jogos de baralho: burro, truco, batalha, sete e meio, vinte e um, douradinha e dourado, estender e estender de monte, fedor, bisca, pquer, domin, pacincia. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 10/5/2008 10:24:06 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 10) CHEIRO DE LUZ ACESA Minha me tinha ido a Pirapora fazer o batizado de meu irmo Cassimiro. Com ela fora a D. Carlota Rosa Teixeira, professora da Escola Mista de Vrzea da Palma. Ela ia ser a madrinha do meu irmo. E com ambas fomos eu e meu irmo Vicente. Hospedamo-nos no Hotel Maia, em um quarto dos fundos, com janela para uma rua lateral. Na ocasio eu tinha 6 anos e era a primeira vez que conhecia uma cidade. Estava deslumbrado. Caminhava nas ruas olhando para todos os lados, embevecido com o que via, tropeando nas botinas novas e arrastado pelo brao por minha me que no se cansava de oestar-me: anda depressa, menino. Se voc no caminhar direito eu nunca mais vou trazer voc aqui. E l ia eu, calado, aos tropees, registrando e irando tudo quanto via. noite conheci a luz eltrica. Havia uma lmpada pendente do teto, sobre a cama, com apagador fixo, em forma de borboleta, no encaixe da prpria lmpada. Vi quando minha me a acendeu assim que comeou a escurecer. Em seguida ela saiu para jantar, no refeitrio do hotel, prometendo trazer comida para mim e o Vicente, quando voltasse. To logo ela saiu, eu fiquei de p, sobre a cama, e torci a borboleta do apagador da lmpada. A lmpada apagou-se. Torci outra vez: acendeu. Que trem bonito e mgico! Fascinante! E me encantou tanto que eu sentia o cheiro da luz acesa. Apagava, ia-se embora o cheiro. Acendia, voltava o cheiro. Como era bonito aquele aramezinho, todo de luz, dentro da lmpada, parecendo uma poro de letras M emendadas. Foi uma noite gloriosa. Nem Edson, talvez, tenha se extasiado tanto com seu invento. No outro dia minha me saiu cedo, com a Dona Carlota, para fazer compras. Desde a tarde anterior eu havia visto, pela janela, numa padaria, do outro lado da rua, um balco onde estava exposta grande variedade de roscas, doces e biscoitos. Sempre tive muito aguados os sentidos, especialmente os do olfato, do paladar e da viso. A exposio daquelas guloseimas despertou em mim uma vontade enorme de v-las de perto e de compr-las. Eu possua um tosto, que a Dona Carlota me dera na viagem, para que eu ficasse quieto em meu lugar, ao lado de minha me. Aproveitando a ausncia de minha me, sa do quarto, percorri o corredor at a porta da rua, sa, dobrei a esquina, atravessei a rua lateral e entrei na padaria. ta cheiro bom, s de coisas boas. Eu nunca estivera em um lugar to agradvel como aquele. Olhei atravs dos vidros do balco e l estavam caramelos coloridos das mais variadas formas, recobertos de acar cristal. Coisas nunca vistas. Me lembrei da histria de Joo e Maria na Casa de Chocolate. Do outro lado do balco, assentada em uma cadeira de balano, com alto espaldar de palhinha, estava uma senhora clara e gorda, muito rosada, entretida a fazer crochet (naquele tempo no se falava em tricot.) Fiquei meio abobalhado, sem coragem de interromp-la. Ela tinha um perfil simptico, que o uso de culos no prejudicava. Eu queria cham-la todavia o acanhamento me tolhia a ao. Mas o dinheiro sempre nos d muita fora. Animado com o calor do tosto que eu apertava na mo canhota, criei coragem e chamei: - i, Dona. De que preo esses biscoitos? - E apontei uns biscoitos de polvilho arrumados num potinho. Ela fez, com muita agilidade, mais alguns pontos em seu trabalho, depois levantou os olhos, viu-me e respondeu: - Dois por um tosto. - A senhora d de trs? - Foi minha segunda pergunta. A ela concedeu-me uma ateno maior. Virou-se na cadeira, encarou-me com mais vagar e por sua vez perguntou-me: - Menino, de onde voc ? - De Vrzea da Palma, respondi. E ela, voltando-se para o seu crochet e dando o assunto por encerrado: - Bem me parece... (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 7/5/2008 21:57:17 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 9) Minha me era uma mulher de gnio bondoso, paciente e trabalhadora. De estatura mediana e atitudes singelas, sempre trabalhou muito na cozinha, para atender ao pessoal de casa, camaradas da Fazenda do Espinho e hspedes, que eram freqentes. Nos primeiros anos no havia penso no lugar e a nossa casa tornara-se a hospedaria oficial e gratuita das pessoas que vinham de Montes Claros e de outras localidades do Norte de Minas, para apanharem o trem da Central. Com tanto servio, no sobrava tempo minha me, seno de quando em quando, para dar um grito ou, se estivssemos mais prximos, sapecar um belisco em qualquer dos 6 (seis) selvagens que tinha em casa. Depois crescemos para oito. Fomos criados soltos, pois meu pai tinha mais em que se ocupar na loja, na Fazenda, na extrao e compra de madeiras, na compra e venda de porcos, algodo, peles silvestres, mel etc. As porcadas eram conduzidas ao Rio das Velhas, a um quilmetro de distncia, duas vezes por dia. Isso era uma festa para ns. Devo esclarecer que o pensamento de meu pai, ao transferir-se de Montes Claros para Vrzea, ento ponta dos trilhos da ferrovia, era trabalhar pesado ali, durante algum tempo, ganhar dinheiro e seguir em frente, para uma boa cidade, onde pudesse criar os filhos com conforto e sade. Pensava em So Paulo. Mas as coisas no aconteceram como ele desejava. O prosseguimento dos trilhos, de Buenpolis em direo a Montes Claros reduziu o movimento comercial de Vrzea com o Norte do Estado. Como meu pai havia aplicado parte de seu capital em imveis, ficou difcil apurar com rapidez o dinheiro imobilizado. Registre-se que a queda da produo motivada pela epidemia da Gripe Espanhola (1918/1919) na qual morreram correntistas devedores da firma Paula & Irmo, endividaram-na pesadamente. Com o pai absorvido por trabalhos redobrados, para recompor a economia da firma, ns, os filhos, que j ramos criados com bastante liberdade, ficamos ainda mais soltos. Fazamos o que queramos e quando queramos, apanhando de vez em quando uma boa surra, quando nosso pai tinha tempo para isso. O Geraldo, irmo mais velho, era exceo, trabalhando firme ao lado do pai. Soframos todas as agruras que perseguem os meninos da roa. Durante o frio, maltratavam-nos as dores de dentes. Recordo-me de nossa me, sempre boa e paciente, levantando-se no meio da noite e esquentando azeite doce na chama da lamparina a querosene para tratar da dor de ouvidos do caula, enquanto alguns de ns a puxvamos pela saia, gritando com dores de dentes. Ela, pacientemente, colocava no ouvido do caula o algodo embebido em azeite doce aquecido, acalmava-lhe o choro e o recolocava no bero. E se voltava para ns. - Qual o dente que est doendo? - este aqui, do canto, dizamos apontando o local. Ela apanhava novo capucho de algodo, embebia-o em azeite doce e besuntava nossa gengiva e a rea da bochecha prxima ao local dolorido e colocava na cavidade exposta uma bolinha de algodo embebido em cido fnico ou creosoto. E dava a cada um de ns um tosto. Quando havia essa raridade. ado o perodo do frio e das dores de ouvido e de dentes, de maio a julho, vinha o fim do estio, de agosto a setembro/outubro. Era o tempo dos bichos de p, dos carrapatos e rodoleiros. Era tambm o melhor tempo para caadas e pescarias. Ns espalhvamos pelos matos e beiras de crregos. Havia ocasio em que nossa me s nos via noite. Comamos qualquer coisa e amos dormir. E nossa me, terminada a labuta diria, aproveitava nosso sono para nos lavar os ps e extirpar os bichos. Nessa ltima operao, o instrumento era um alfinete de fraldas, com a ponta aquecida ao rubro na chama da lamparina e resfriado a sopros. Muitas e muitas vezes, eu que nessa fase era o mais novo entre os maiores, acordava estremunhado, sentindo os dois ps suspensos, enquanto minha me ia descobrindo os bichos de p embaixo das unhas, entre os artelhos, na sola dos ps, e no tendo de Aquiles, a guisa de esporas. Eu resmungava qualquer coisa e vencido pelo cansao das andanas do dia, mergulhava de novo no sono, para acordar no dia seguinte, com os ps furados e manchados de iodo. Seguia-se o tempo das chuvas. Novamente o frio e dores de dentes. E tiririca, nos calcanhares, e frieiras, entre os dedos dos ps, apanhadas nas enxurradas e doendo e sangrando em contato com o ar. As tiriricas eram lixadas com a parte spera dos cacos de telha e as frieiras eram tratadas com aplicaes de creolina. Mas s desapareciam ao cessarem as chuvas, em maro/abril. Perseguiam-nos, tambm nessa ocasio, os brotos, nome que se dava as nascidas ou pequenos abscessos que irrompiam nas pernas e braos em conseqncia do consumo imoderado de mangas, pequis e outros frutos considerados quentes, pelo vulgo. Alguns desses brotos inflamavam e evoluam para perebas e feridas, que tratvamos com gua de cozimento de cascas de pau santo e barbatimo (adstringentes, ricos em tanino) e para cicatrizar aplicvamos carvo modo de caule de embaba. As chuvas terminavam em maro para abril e em maio voltava o tempo de frio, com as dores de dentes. Durante o ano soframos as doenas comuns s crianas. O sarampo, tratado com ch de jasmim de cachorro, ou seja excremento de cachorro ressecado e envelhecido sob a ao do tempo. Caxumba, tratada com aplicao tpica de massa formada com compressa de casa de marimbondos. Catapora, curava-se com o tempo. Cobreiro ou cobrelo (herpes-zoster), sofri certa ocasio. A regio das virilhas, entre as pernas, abriu-se em chagas ardentes, de um lado e outro, aos 5 para 6 anos de idade. No ava o contato da cala. Minha me costurou para mim, em sua velha mquina Singer, de oito gavetas, uma camisola, que eu vestia constrangido pelos apupos dos irmos. Fui tratado com simpatia aplicada pela velha Regina, mulher do Jos Bruno, empregado de meu pai. S a muito custo, e em face das dores que sentia, permiti que ela visse o local da doena. Para o tratamento ela requisitou uma faca virgem (o que me causou justificadas desconfianas) ou seja faca retirada da loja, que ela apertava de um lado e outro de minhas virilhas, enquanto balbuciava uma reza apropriada. Em seguida ou sobre as chagas trs galhinhos de arruda, que atirou para trs, por sobre os ombros, mandando depois que verificssemos como ficaram murchos, bom sinal para a cura. E mais: sarna, coqueluche, impingem (impetigo), dermatose contagiosa que se tratava com esfregao de plvora negra transformada em pasta com suco de limo. Lombrigas: tratadas com leo de Santa Maria (leo de mastruo). Os resfriados e conseqentes defluxos nos perseguiam constantemente. Para cicatrizao das feridas, se falhava o p de carvo de embaba, meu pai preparava um p infalvel base de iodofrmio, sulfato de quinino, ps de Joanes e mercrio. Nossos cabelos cresciam muito. De vez em quando nosso pai nos levava ao quintal e um a um nos mandava sentar no tpo de um barril vazio e pelava nossas cabeas com mquina zero, enquanto os outros corriam pelo quintal, em cavalos de pau, ou carreavam com bois de ossos ou de mangas verdes. O dia pior de nossa vida era o dia de tomar lombrigueiro. Meu pai consultava a folhinha, marcava a fase da lua em quarto minguante e nos anunciava: tal dia no tomem caf pela manh porque vai ser dia de lombrigueiro. No nos adiantava apelar. Tomava-se o lombrigueiro em cpsulas de leo de santa maria (mastruo) e algumas horas aps, um purgativo salino. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 2/5/2008 16:40:30 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 8) O PRESPIO Nossa me fazia o prespio, todos os anos, em dezembro. Comeava plantando arroz, no dia de Santa Luzia (13 de dezembro), em latas de goiabada e marmelada, para colocar em torno da serra, sobre um piso de areia branca que cobria toda a sobra da mesa em que se armava o prespio e escondia as laterais das latas. Na antevspera do dia 24, trazia para a sala da frente caixotes com o carvo de pedra, os bichos, as razes invulgares, os cactos, e ainda, o burro, o galo, o carneiro, os trs reis e a famlia sagrada, mais a estrela brilhante, que era amarrada com linha sobre a serra formada por blocos de borra de carvo de pedra, encobertos de razes de formatos incomuns, cascas de madeira, cips, orelhas e barba de madeira, flores exticas, cogumelos. O dia 22 era para limpeza. Os dias 23 e 24 eram para armar o prespio. Tudo isso era feito por minha me. Ela afirmava que a pessoa que faz o prespio uma vez, tem que continuar fazendo todos os anos, enquanto viver. No dia 24, pela manh, ela nos mandava para a serra que havia prxima ao povoado. Ns levvamos uma carrocinha puxada e empurrada a mo e nossa tarefa (os irmos Geraldo, Lauro, Vicente, eu, Joaquim e Cassimiro) era trazer coisas apropriadas e bonitas para o prespio: arbustos, folhagens, flores, cogumelos, orelhas e barbas de madeira, cips, lrios do campo, bzios, casas de marimbondo chocolateira e chapu, pedras coradas, areia branca e colorida, ninhos de pssaros, enfim tudo que servisse para enfeitar a serra e a lapinha. Alis, o prespio era mais conhecido pelo nome de lapinha. Pela hora do almoo ns estvamos chegando com a carroa carregada, e cheios de novidades sobre o que havamos visto l na Serra. Exagerando a quantidade de rastros de ona nos caminhos e os rosnados que teria mos ouvido, de caititus e veados que havamos encontrado, de emas e seriemas que perseguimos, de casas de marimbondos que desmanchamos, de formigas gigantes - da raa negra-mina e ona, que nos haviam ferroado, enquanto amos descarregando a carroa, nos atropelando no relato uns nos outros, todos falando ao mesmo tempo e ajudando nossa me a terminar a montagem do prespio. A partir das 21:00 horas comeavam a chegar alguns vizinhos que vinham participar da reza. E enquanto se aguardava a chegada da meia-noite, servia-se fartamente caf-com-leite e biscoitos de fofo, quebradinho, de goma, joo be, biscoitos de fub mimoso, brevidade, biscoito de toalha e outros. meia-noite, minha me trazia a imagem do Menino-Deus e as imagens de Maria e Jos, e do anjo anunciador, e os colocava na manjedoura, na lapinha. Antes j havia sido armada, sobre a lapinha, a estrela-guia, de longa cauda, feita de papelo e recoberta de papel prateado, bem como o burro, o galo, e os trs reis magos, com suas oferendas: ouro, incenso e mirra. Colocadas as imagens, todos ns ajoelhvamos e nossa me tirava os hinos, comeando com o que anunciava o nascimento de Cristo. J nasceu o Menino-Deus vinde cantar, vinde vs, pastores, j nasceu o Menino-Deus, celebremos os seus louvores. ___ Virgem soberana que no cu estais ouv nossos rogos, bendita sejais. ___ Caminhemos, caminhemos, pra lapinha de Belm, visitar o Deus menino que salvar o mundo vem. A partir da, todas s noites, s 19 horas, rezvamos e entovamos cnticos natalinos, ajoelhados ante a lapinha. No dia de reis, 6 de janeiro, ajudvamos nossa me a desmanchar o prespio, encaixot-lo e guardar tudo para o ano seguinte. INFNCIA Fiz arapucas para apanhar codornas. Fiz visgo de cozimento de leite de gameleira para pegar canrios. Furei colmias de abelhas nativas. Recolhi filhotes de periquitos, jandaias e papagaios nos ninhos em cos de paus, onde s vezes as cobras chegavam antes de mim. Nadei, remei, pesquei, cacei com bodoques de pau pereira. Matei a sede e enganei a fome com mastigo de folhas mansas do campo. Vivi a infncia segundo as leis do mato. Era o modo comum de viver nos primeiros tempos do pequeno povoado. EU ERA PARTE DA NATUREZA Eu vivia com a natureza. Participava, acompanhava o que ocorria no tempo. Caminhar, correr, no eram considerados exerccios. Era o ritmo da natureza, sem idia de esforo, sem cansao. Como elemento natural, assim como uma rvore cujas folhas caem no outono e reverdecem na primavera, eu crescia no perodo das guas, que trazia a abundncia de frutas. Em maio e junho, meses do frio, sofria dores de dentes. Em agosto comeavam os carrapatos, redoleiros e bichos de p. Nas guas a gente andava na lama e nas enxurradas. Era o tempo das frieiras entre os dedos dos ps. Doam, sangravam. Tratava-se com creolina. De uso veterinrio. Vinham as dores de barriga e as brotoejas na safra das mangas. E mais dores de dentes, por causa dos resfriados, com tosse e nariz escorrendo. A vida da gente era um folclore. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |
Por Luiz de Paula - 27/4/2008 08:35:17 |
(Do livro "Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos" - Parte 7) LEMBRANAS DISTANTES Em casa fui um menino muito malino. Minha me reclamava: - ta menino especula! Em tudo esse menino quer dar combate! Mas fora de casa eu era tmido. No que diz respeito a lembranas da infncia, fui muito precoce. Quando meus tios Baslio e Joaquina mudaram-se de Vrzea, de volta a Montes Claros, eu tinha um ano e meio, incompletos. Mas guardo lembrana de minha tia, ainda em Vrzea. Eu estava na sala de dentro, como ento se referia copa, e a minha tia veio com um pano na mo, ou o pano no tampo da mesa de jantar e voltou cozinha. Eu tinha pouco mais de um ano e meio, como j disse. S voltei a v-la oito anos mais tarde, aos 9 anos de idade, e a reconheci imediatamente. Achei-a apenas um pouco mais magra e com a pele do rosto menos lisa e com manchas escuras que antes no havia. Em todas as minhas lembranas e saudades h quase sempre um fundo musical, uma trilha sonora, como hoje se diz. E algumas vezes um aroma especial. Eu posso dizer que cada tempo em minha vida tem sua ressonncia musical e seu cheiro. Guardo uma outra lembrana, essa de quando teria entre um ano e meio e dois anos de idade. Meus tios Baslio e Joaquina j no moravam mais em Vrzea. Meu pai estava fazendo uma roa de milho e feijo na Fazenda do Espinho, tambm conhecida como Fazenda do Piranha. Minha me teve de ir para l a fim de cozinhar para os trabalhadores durante o plantio. Calculo a minha idade na ocasio porque eu era o filho mais novo e minha me me levou com ela. Considerando que Joaquim, o filho seguinte, nasceu com uma diferena de dois anos e meio em relao a mim, e minha me no se encontrava em vspera de parto. Eu teria, na ocasio dessa viagem, em torno de dois anos de idade. Viajvamos em uma carroa puxada a burros e coberta com um couro de boi, para proteo contra o sol e a chuva. Levvamos mantimentos e vasilhame de cozinha. E querosene e sal. Ia conosco a Regina, esposa do Jos Bruno, empregado de meu pai, para ajudar na cozinha. O teto de couro era irregular e baixo e ns amos sentados no piso da carroa. Gostei demais da viagem. Foi a primeira que fiz em minha vida. Na Fazenda ficamos durante 16 dias, conforme mais tarde vim a saber. S me lembro de duas ocasies. Na ida, o carroceiro, de nome Maral, cantava, a plena fora, uma cantiga que comeava assim: i, beira-mar, adeus dona. i, beira-mar, adeus dona. A melodia me acompanhou a vida inteira. Uma grata lembrana. Muitos anos depois 80 anos ou mais esbarrei com a letra e a msica, por inteiro. Pretendo inclu-la num pupurri folclrico que espero gravar um dia. A outra lembrana dessa viagem e permanncia na Fazenda o cheiro de terras e razes cortadas de novo. Esse cheiro eu reencontro, de vez em quando, e ele me reconduz a essa primeira viagem. Em uma carroa com toldo de couro de boi, aos 2 anos de idade, com minha me e Regina de Z Bruno, mais mantimentos e cobertores. E o carroceiro Maral, do lado de fora, a tocar os burros e a cantar saudosamente: i, beira-mar, adeus dona... SABIDO Eu devia ter uns 2 anos, por ai assim. Minervina, a moa que me olhava (aqui no sentido de tomar conta, j que no existia entre ns a designao de bab) me ensinou a caoar dos outros, falando assim: - Pera ai, si. Oc t parecendo capiau da unha torta, que fala pra mode que nem havera. A Minervina me outorgava o papel de Sabido... Mais tarde, eu j teria uns trs anos, ganhei um chapu de couro e o colocava na cabea e cantava: Chapu de couro sem barbela, morena minha e eu sou dela. O LEILO Sempre gostei de pagar pontualmente minhas dvidas. Esse costume vem de longe. A esse respeito guardo uma lembrana, j meio apagada, de um episdio acontecido quando ainda no havia igreja no povoado onde nasci. A missa, quando o padre vinha de Pirapora, nas desobrigas, realizava-se, a princpio, na casa de meu pai, e depois ou a ser celebrada na casa da escola, onde tambm aconteciam as rezas, a coroao de Nossa Senhora e os leiles do ms de Maria. Era uma noite de leiles. Grande era o ajuntamento de pessoas em frente casa da escola, em torno da mesa com as oferendas, tudo bem alumiado pr dois lampies belgas. O Manoel Chico, cabo reformado da polcia e carapina de ofcio, era o leiloeiro. Havia prendas em profuso. Cestas de biscoitos, pratos de bolos, pencas de frutas e muita coisa mais. Mas tudo j era anunciado pelo leiloeiro com lance acima de 500 ris, que era toda a minha fortuna. Minervina, minha ama, quando por fim saiu uma prenda de menor valor, com lance de 200 ris, me animou: - Grita 300 ris, voc tem o dinheiro. Na ocasio eu tinha 3 anos, e participava daquela festa escanchado na anca da Minervina. O Man Chico dava o seu recado. - Quanto me do por este lindo leilo que deram de presente Nossa Senhora da Conceio. Afronta eu fao, que mais no acho, se mais achara eu mais tomara. E prosseguia, andando pra l e pra c, com os olhos atentos sobre o pessoal em volta da mesa. - Quanto me do por este lindo mao de fsforos de vela, que deram de presente Nossa Senhora da Conceio. Duzentos ris. Quem d mais? Chegue-se a mim que receberei o seu lance. Quem d mais? A eu entrei no jogo: - Trezentos ris - eu falei, mas o Man Chico no ouviu. - Grite mais alto - a Minervina me incentivou - E eu gritei: - Trezentos ris. O Man Chico se virou para o meu lado e se abriu num largo sorriso. - Olha, gente. o Luiz de seu Tico! - E repetiu meu lance, com seu vozeiro de cantador de leiles: - Trezentos ris! Trezentos ris me do! E concluiu em seguida, a rir: - Dou-lhe uma, duas e trs. Luiz de seu Tico arrematou. E veio em minha direo, para entregar-me a prenda, com todo mundo olhando para mim e rindo, a achar graa na minha participao no leilo. Eu que no estava a achar graa. O desfecho rpido do leilo, aps o meu lance insuflado pela Minervina, com toda aquela gente a olhar para mim, me apavorou. E eu pus a boca no mundo. A chorar alto, pra valer. E misturado com o choro eu bradava: - O dinheiro no t aqui. O dinheiro t l em casa... Foi um custo para eu entender que o Man Chico estava me dizendo que a moa que acompanhava os leiles estava escrevendo meu nome no caderno dela e que eu poderia levar a prenda e pagar no outro dia. Afogueado e soluando, concordei em receber a prenda. Esporei a Minervina com os calcanhares e voltamos para nossa casa. A diaba da Minervina veio rindo por todo o caminho e ao chegar em casa ria tanto que s a muito custo pde contar o acontecido. No outro dia eu vendi o mao de fsforos a seu Cassiano Gordo, vendeiro vizinho de nossa casa, por 400 ris. E noite voltei com a Minervina ao local dos leiles, cheio de brio, e paguei moa da tesouraria os 300 ris devidos. (continuar, nos prximos dias, at a publicao de todo o livro, que acaba de ser lanado em edio artesanal de apenas 10 volumes. As partes j publicadas podem ser lidas na seo Colunistas - Luiz de Paula) |