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montesclaros.diariomineiro.net - Ano 26 - quinta-feira, 22 de maio de 2025

3h5z54


Flvio Pinto [emailprotected]
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Por Flvio Pinto - 14/8/2018 15:15:42
Rey e mais um caso de Zeca do Correio

Flavio Pinto

Mais uma vez com prazer - registramos essa estria clssica que o amigo e escritor Reynaldo Veloso Souto contou no seu aclamado livro. mSobre um outro causo especial de Zeca do Correio, nosso saudoso amigo e querido personagem, filsofo, bomio e carteiro nas horas vagas...
So fatos beirando os limites do imaginrio, acontecidos no bar de Zim Bolo (lembrana) e guardados para sempre na memria de quem participou. Antes da publicao do seu Histrias do Rey j a repetira diversas vezes (a pedidos) e se divertiu juntamente com os ouvintes ou mais - durante anos. As novas geraes tambm podero buscar naquela Montes Claros antiga a confirmao de fatos inenarrveis para poderem por instantes tentardeixar de lado o atual/imprescindvel aparelho celular e papear um pouquinho. S um tempo longe das conversas srias e das mil e uma informaes da internet no faz mal a ningum, nem aos mais velhos
almejando outras justas prosopopeias. saudvel, podes crer! Pelo menos acreditamos que seja...
Num elogiado filme, Buck Jones, dos mais famosos do cinema mudo e falado, dolo principal do faroeste, cultuado num lugar situado a 8.000 quilmetros de distncia como se fosse um heri nacional , montado no imponente Silver, que depois inspirou o mesmo nome a outro
cavalo branco do seriado Zorro e Tonto ( Lone Ranger ) desce na porta do bar, com a roupa impecvel , sem uma mancha de poeira.
Na mesa dos fundos, no canto , toda a sorte de renegados; ndios ferozes armados e vestindo maltrapilhos uniformes militares; bigodudos facnoras mexicanos ostentando no peito bandoleiras cruzadas - repletas de balas calibre 45 jogavam disputado jogo de cartas, ao mesmo tempo em que o nosso heri se acercava do balco. Pquer fechado, o que aumentava mais a expectativa.
Um mal-encarado barman- camisa de manga comprida, listada, liga demeia feminina no brao esquerdo - se apressa, com uma garrafa de usque sem rtulo e lhe oferece a garrafa curraleira mais vagabunda da casa ostensivamente - numa atitude implicante e hostil. Na outra
mo, um pequeno copo para doses. A polida resposta do mocinho veio na hora.
-Obrigado, gostaria de um copo de leite, por favor!
Buck Jones foi incisivo, nas palavras dirigidas ao afoito empregado. Este, como era de se esperar, prontamente retaliou (demonstrando bvio desrespeito), num significativo olhar de desdm mesa dos facnoras, dando-lhes fora para aumentar os apupos. No se precisou de mais nada
para, em seguida, Zeca se levantar, olhar para a tela todo circunspecto e calmamente sentenciar, em alto e bom som - com rara sutileza - fazendo os espectadores se emocionarem e carem rapidamente na gargalhada.
- Cs mesmo caa!
Da um minuto, aps ingerir vagarosamente o copo de leite servido como indisfarvel mau humor do irado barman, Buck Jones sacou os dois revlveres presos cintura pelo lindo cinturo de couro - trabalhado e costurado com fios de prata do Mxico - despejando toda a fria das inesgotveis balas naqueles mal-encarados fora-da-lei. Um a um, a turma do mal foi caindo na presteza de seus tiros, em cena acompanhada de muita fumaa (gelo seco) e borrifos de caf preto simulando sangue nas paredes, cena enriquecida freneticamente pelos apupos entusiasmados da plateia, essa altura sem se conter nos bancos de madeira.
A bombstica e drstica agem foi acentuada pela ltima interveno de Zeca do Correio naquela noite, minutos aps. Novamente levantou-se, aps a fumaa da plvora se esvair , solenemente meneando a cabea como se reprovasse aquela infrutfera mortandade dos bandidos ,
desligados otrios que pareciam no ter ouvido sua primeira interveno de alerta , Zeca apenas arrematou :
-Num falei!
Neste grande final, ento, a plateia veio abaixo.
Em diferente poca, chamou a ateno de nada menos que a estrela Elizabeth Taylor, num filme colorido feito em pleno inverno de Chicago onde ela adentra abruptamente embriagada e com raiva - a casa da possvel rival, procura do marido. No filme aconteceu que ela chega
porta, segura a fechadura e se lembra que esquecera o casaco de peles no carro. Penitenciando-se, com a mo direita d um leve tapa na testa guisa de lembrana. Foi a deixa. Antes um segundo, Zeca novamente levantou-se e preveniu-a.
-Beth, esqueceu o casaco. Est frio demais a.
Quando ela acabou de usar a mo no gesto, agora sincronizado com o aviso, voltou ao carro e pegou o casaco, atendendo Zeca com presteza , como se ele estivesse ali bem pertinho dela. Lgico que essa malandragem tambm acontecia em outras cidades, sempre vinda de um gozador local, que via, antes de todos, repetidas vezes, o mesmo filme, o que no tira o mrito de termos uma estria prpria e a contarmos do nosso jeito. Cada um faz sua parte, como quer e sabe. o
direito legal ou ilegal de qualquer um. Abusem da imaginao e sejam
felizes, amm.
No gnero que se tornou um dos assuntos preferidos daquele lugar, juntinho porta do cinema, bomios clebres e entendidos de arte davam seu recado e cada um inflamava-se mais do que o outro, dependendo da taxa etlica do dia e a excelncia dos atores e diretores abordados. Tudo valia, ali. No normal dia a dia, prestes a ficar anormal como sempre. Discursos em cima de caixotes de ma, agente funerrio misturando poltica com assombraes, picaretas, polticos novos em ascenso, ou velhos e brilhantes mestres da oratria em aposentadorias no aceitas; carimbados chefes de mandiocais de pouca ou muita projeo (estes s em tempo de eleies).
Figuras carismticas que a gente, desde priscas eras, adolescente ou ainda menino de cala curta - podem escolher - ficava melhor calado, espiando, apreciando e aprendendo...
Dava-se um diferente palpite - vindo de quem viesse - e era mais um assunto polmico merecedor de longos embates. De um jeito especial, pregava-se ali uma livre democracia.
Hoje, nessa entrada de mais uma bendita festa de Catops, quem sabe achar qualquer caminho seguro, ao se permitir focar numa simples beleza que ora se inicia, em plena bruma de incertezas? Registre-se a aqui a sequncia em vdeo sobre a cidade e o povo de (in memoriam) Maria das Dores Guimares, que a cada dia acrescenta novas e incrveis fotos antigas ( deve-se realar a linda e recente postagem sobre Zim Bolo, nosso saudoso tcnico de basquete, posteriormente dono de bar e restaurante); acrescido do conhecimento de Virgnia Abreu de Paula (poesia pura) experta no assunto ; do grande msico de raiz Tino Gomes apresentando outros enfoques da origem africana; nas belssimas fotos do Jornalista Paulo Narciso que nos lembra antigos e marcantes personagens, participantes; do Banz e sua criadora, Zez Collares, pelas danas folclricas ora perpetuadas pelo neto Gustavo, em excelente e inovador trabalho ; ao Dr. Hermes de Paula, autor de uma obra-prima, referencial livro histrico; da viso progressista e clara do meu amigo e pintor Joo Rodrigues, atual Secretrio da Cultura.
E a ajuda annima de uma multido de catrumanos de f.
A festa continua...Graas a Deus!
Parabns


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Por Flavio Pinto - 26/1/2016 13:51:31
Um CD classe A :Vago Universo

Flavio Pinto

Ateno montesclarense de natural sensibilidade s nossas razes e que sempre apreciou um pouco(ou ser muito?) toda msica bem feita com nuances universais e em rara inspirao, tanto na harmonia dos arranjos como na bela interpretao do autor.
Alm de simples e boa , arte e sentimento para permanecer na cabeceira da rica histria musical deste especial serto de Minas Gerais.
Hoje, s trs horas da tarde, hora do Brasil ( s 18 horas na Europa, precisamente em Salamanca ,na Espanha),pela Rdio da Universidad de Salamanca www.usal.es/radiouni ou http://radio.usal.es/ sero tocadas algumas msicas do CD Vago Universo do nosso jovem e competente compositor Elcio Lucas. Nas horas vagas, tambm dedicado professor de portugus na UNIMONTES.
E antes mesmo de ser lanado o CD,o que dever acontecer brevemente, tanto em Montes Claros como Belo Horizonte.
Eu, que j tive o privilgio de ouvi-lo , ouso dizer : obra prima ,imperdvel, na minha modesta opinio.
Ouam e confiram.
Abraos a todos
Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 13/5/2015 10:09:56
O OVO & SUAS NUANCES

H pouco mais de 20 anos, curti nostlgicos e consecutivos bate-papos (a maioria nos bares do Mercado Central) aqui em Belo Horizonte, com um conterrneo do meu pai do Sul de Minas. Ele contava (e eu adorava saber) com riqueza de detalhes, agens inesquecveis em Boa Esperana, onde at chegamos a morar um ano no incio da dcada de 50 ,antes de retornarmos a M.Claros, aps um tempo na capital do estado.
Alm de inesquecveis lembranas da famlia em remotas eras, fazia questo de me botar (sem trocadilho e com incrvel exatido), em dia com a atualidade e real situao, sabem do qu?
Do ovo de galinha! Vejam s.
Gastronmica e historicamente falando, assunto que ele adorava discorrer com ares professorais.
Era quando, ento, diagnosticava, com detalhes e entusiasmo, a situao mundial do ovo: se aquele natural produto ( exatamente naquela hora)estava fazendo bem ou mal sade .
Quase que s tnhamos isso em comum, mas eu deveras apreciava a repetida e inusitada prosa (o velho amigo era engraado e espirituoso), em meio, lgico, a ter uma memria de elefante ao relatar incrveis casos de parte da nossa infncia.
E se, ocasionalmente, encontrvamo-nos em outros lugares, s apenas a mero contato visual, distancia ou mesmo tendo algo ou algum presente atrapalhando a prosa , de imediato, dava-me um sinal de positivo ou negativo com o polegar.
S eu sabia o que era. E ra sozinho.
Se houvesse tempo e lugar para uma conversa (vez por outra at regada a biritas e acepipes (como ele dizia), logo vinha a histria:
-Menino, tou comendo, atualmente, uns dois ou trs ovos todas as manhs, pra descontar o tempo perdido. L em casa minha mulher me proibiu at de comprar ( reclamava). - -
-Quando colocaram o ovo na berlinda condenando-o ao ostracismo, como alimento danoso e prejudicial sade.
Ou, ento, quando se zangava com os preos em alta (principalmente na Quaresma), revelava o oposto:
- Agora sou eu que no como mais aquela disgrama! De jeito nenhum: nem frito, nem cozido. Puro colesterol. Vi numa revista sueca o estrago que ele faz sade.
- Mas estou sentindo uma falta!
E era assim, de tempos em tempos, o ovo virava mocinho ou o pior dos viles, dependendo das especulaes e interesses da mdia , ou de seu estado de humor , dependente, quase sempre, dos altos e baixos da economia local.
E logo vinha um nico tema diferente nas conversas.
- Mas uma cachacinha? (Ele mesmo enfatizava!) Essa ningum nos probe, n?
E, completava, perguntando e respondendo de imediato(com gua na boca) e fazendo um leve brinde: - Gosto mutcho! Assim, como se fosse noutra lngua.
- E dava um suspiro de alegria:- Ai!
Fiquei sabendo, lamentavelmente, que veio a falecer, na praia, onde aos 75 anos escolheu morar e aproveitar um final de vida feliz nas delcias do sol e mar. Chegou at aos 84.
De causas naturais, como a classe mdica antiga (e amiga) colocava nos atestados de bito, nos botecos tradicionais ,quando algum, conhecido e habitual cliente, sucumbia aos males do figueiredo ou similar .
A famlia ficava satisfeita, o mdico era cultuado, continuava prestigiado por todos e o assunto ficava mineiramente encoberto ao olhar severo e crtico da sociedade em geral.
Sumia-se com a incmoda verdade, a bem da memria do falecido.
Mas o ovo s lhe fez bem, disseram.
Ovos quentes de manh (caipira, preferencialmente) e talvez, at em outras horas menos votadas(caso tenha vontade) , sem ligar para as pragas ocasionais da imprensa e beatos olhares crticos.
Sempre.
Aproveito, confirmo e devo at dizer: se ainda tem uma coisa boa (e naturalmente saudvel) neste atribulado mundo, o milenar e saboroso ovo de galinha.
De pata, no! Tem gosto esquisito e amargo, apesar de ter quem coma...
Que seja cozido, frito, mexido, um sofisticado e asado poch ou mesmo transformado em deliciosas omeletes com recheios mil: de queijo, espinafre ou o escambal , como se diz.
Uma verdadeira iguaria l
Os ricos comem. Embora escondido (nunca dizem que gostam de ovo, pela falta de sofisticao).
E os pobres se regalam.

Flavio Pinto
o-o-o


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Por Flvio Pinto - 28/9/2014 18:21:12
RUA DE BAIXO

Eu tenho a impresso que, boa parte da minha infncia montesclarense, ei brincando ou perambulando toa, ali pela ruas de baixo. E como me divertia!
Nas primeiras vezes, bem antigamente, levado pelo querido e saudoso Joanir Maurcio (casado com minha tia Stella), em visita ao seu pai, Seu Joo Maurcio, e era quando, pela grande amizade e entrosamento entre pai e filho, ambos se divertiam larga naquele velho Sobrado (eu ouvia quietinho, magnetizado e calado), ao misturarem assuntos do cotidiano com as inimaginveis estrias de caadas e aventuras dos dois, contadas de um jeito especial e jocoso,provocando gargalhadas gerais .
Em mim e quem mais estivesse presente.
Seu Joo Maurcio, super impagvel, com suas bem humoradas e originais tiradas durante as conversas (a respeito de tudo, coisas que eu at nem entendia, poca) e a visita ainda ficava mais emocionante e engraada. Sem falar no acompanhamento de um lindo fundo musical de canrios da terra cantando nas gaiolas penduradas por toda a casa e a presena olfativa onipresente do fogo de lenha (o borralho,grande e extenso,ia at a parede) sempre fumegando cheiros gostosos, com D.Nair e Alexina preparando algum doce gostoso e me dando raspas e sobras deliciosas,enquanto se coava um caf torrado na hora.
Cada vez que ia ao Casaro, eu vivia e revivia um filme diferente. Tinha uns nove dez anos. Meus olhos brilhavam, nas histrias. Caadas de ona, principalmente. E, fora isso, vivia andando solto e feliz por aquelas ruas e becos antigos: sempre gostava de ar em frente ao Armazm de Seu Carib , comprar balas num boteco ao lado(sabia o nome das maioria das pessoas que morava nas casas vizinhas), jogava bola com ,Tone Abreu,Jos Leite e os filhos de Jos Gomes, do Correio,frequentava a casa de seu Manoel Viriato ( nas frias,quando os netos, filhos de Bela Oliveira ,Carlos Milton,Ronald e Sandra vinham do Rio de Janeiro,onde moravam),acompanhados da saudosa Angela Zimbardi,prima deles e de uma beleza que marcou presena na histria social da cidade.
Um acontecimento em quase todos os finais de ano e era uma festa s, ali naquela casa de esquina,em frente Escola Normal ,nos dias por conta dos preparativos e brincadeiras que antecediam a tradicional ida de todos( no jipe de Pedrinho Viriato) para a fazenda Rebento dos Ferros,onde ei inesquecveis momentos de minha vida.
Da,mais pra frente, no decorrer da toada, fiz muitos amigos por ali e adjacncias, leia-se Praa de Esportes, onde todos e mais outros colegas e amigos das redondezas nos encontrvamos, quase que diariamente ,na piscinona para treinos de natao. Depois prosseguiu naturalmente,quando estudei na Escola Normal , da terceira-srie ginasial em diante at o cientfico. Foi quando se consolidaram muitas amizades de f que duraram a vida inteira, at hoje.
Uns se foram, outros esto por a e, apesar no nos encontrarmos muito amide (os tais de desencontros chatos que a vida teima em fazer), as lembranas que tenho deles ainda moram no fundo do meu corao e na minha mente.
E, nessas alturas da vida, juro que ainda me lembro de todos, acreditem. Sempre lembranas felizes. S no arrisco a citar nomes, com medo de esquecer algum, confesso.
Mas o livro se encarrega de dar todos os queridos e benditos nomes, com satisfao, garanto, nas fotos (histricas, lindas) e sensveis crnicas apresentadas. Li e reli vrias, seno todas, com o maior deleite.
Falei este monto de coisas, das profundezas do meu ba de recordaes, para ver se conseguia chegar ao ponto de demonstrar o quanto me fez bem ler o RUA DE BAIXO, e ter, literalmente, parte de meu ADO REENCONTRADO, recordando essa importante agem de minha vida,num local encantado de minha terra.
Bem na fronteira da minha casa,separado apenas por uma linda e florida Praa da Matriz ( uma irretocvel Igreja , onde cheguei a ser um irrequieto e temporrio coroinha) em que tudo acontecia em ritmo de festa e encantamento.Os leiles, as festas de Nossa Senhora e Semana Santa, as procisses, as beatas, os sermes e a doce braveza de Padre Dudu, tudo me voltou tona : e,last but not least, s voltas e mais voltas das moas bonitas rodeando, interminvel e suavemente,seu longo permetro, nos esperados footings ps festas tradicionais.
A gente, j rapazinho, esperava, ansioso, debaixo de uma mesma rvore de Fcus, merecer um nico olhar de certa escolhida da hora,que fazia brilhar ainda mais as noites enluaradas daquele lindo serto.


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Por Flavio Pinto - 12/12/2013 08:53:53
Ateno futuros leitores do livro de Carmen Netto Victria, recentemente lanado em Belo Horizonte e Montes Claros e aguardado pelos nostlgicos de uma incrvel era de nossa cidade.
Como eu j terminei de ler o livro e vivi parte daquilo tudo, falo com mais prazer ainda.
Com rara sensibilidade, a autora conta essa inesquecvel e fantstica poca de criana: amigos,tias doceiras, avs perspicazes e felizes,bem como toda uma peripcia sem fim de sonhos e fantasias que , naquele tempo,s um determinado e esquecido interior do norte de minas oferecia.
Um saudvel ps-guerra roliudiano, cheio de mitos e smbolos importados, misturados com fantasia a deliciosos casos acontecidos em nossa city, que at hoje povoam nossas lembranas.
Carmen vai cativando o leitor, frase aps frase, em 145 pginas de amor e com averdade da intemporalidade da criao potica, como bem definiu a professora Helosa Aquino Netto de Castro,em sua excelente apresentao nos crditos do livro.
Esta preciosidade pode ser adquirida no site da livraria: www.livrariadplacido.com.br , que envia rapidamente o livro e no cobra frete.Tambm , pela internet ,no site AMAZOM.


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Por Flavio Pinto - 13/4/2012 13:28:13
Adeus, Grande Mestre

H tempos no o via.
Talvez uns dez anos,quando,ano atrasado me viu ar e me chamou, porta do Mercado de Montes Claros.
E foi aquela velha prosa, saborosa, vinda dum homem possuidor de uma cultura acima de poucos mortais que conheci, pessoalmente ,sobre tudo e todos ,com o mesmo poder de anlise .Diferenciado , como se diz modernamente.
Deu palpites sobre meu primeiro livro e s lamento que foi embora sem saber que estou lanando outro. Adoraria sua opinio.
Se falar que foi dilogo, estaria mentindo.
Pois preferia mais ouvi-lo. Sempre.
Desde aquele dia ,em 1962, na verde ignorncia de meus saudosos dezessete anos , quando cheguei redao do JMC, ando pela varanda da Rua Dr.Santos (ao lado da casinha de madeira de Tuia,o velho escravo que sempre me reconhecia e sorria) e obtive ( de Waldir tambm, sorte minha) os ensinamentos e caminhos certos a percorrer nessa inglria e difcil arte de escrever .
Hoje talvez ainda eu possa ser inculto e estar muito a desejar como escrevinhador, porm, verde, nunca mais, a partir dali.
Perguntei por Konstantin , outro gnio, poca ainda aqui com a gente.
Contou as ltimas e finalizou; somos uns sobreviventes, caro Flavio.
Que nunca sero esquecidos, Doutor Oswaldo.
Tenho certeza.
Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 6/10/2011 10:36:23
Cowboys de alfaiataria

primeira vista, parecia apenas o que aparentava ser: uma alfaiataria bem simples, no melhor estilo tradicional: um balco na frente, de madeira, separando um salo de porte mdio, duas mquinas singer modelo profissional - uma eltrica e outra de pedal costurando em alta e baixa velocidade, operadas pelo mestre e hbeis oficiais. Sempre dando conta, com rara eficincia, de todos os servios normais e anormais que fossem necessrios ao bem vestir de uma extensa e fiel freguesia.
Vivia-se um glorioso tempo, a profisso de alfaiate estava em alta no mercado: um ofcio milenar, criar e elaborar roupas, mo, no saa da moda.
Mais que um ofcio, uma arte, hoje, em fase de extino, pelo crescimento desordenado e forada industrializao - mal planejadas necessidades - que atropelam tudo que bom para saciar a sede dos que s vem vantagens na quantidade e maiores lucros, em desprezo ao bom-gosto e qualidade.
Enfim... Tempos modernos.
Pregava-se botes, consertava-se calas, camisas e bluses, sempre em dia com a moda de Londres e todo o resto da Europa na confeco de ternos de finos tecidos,da mais cara casimira inglesa ou linho italiano, os mais apreciados pelos mais favorecidos,em sua maioria, pecuaristas (fazendeiro rico, a cano popular j apregoava) numa regio onde tudo se girava em torno de gado.
No balco, revistas nacionais e estrangeiras.
Lembro-me - esparramadas em cima do balco- da life e a indefectvel taylor, esta, considerada a bblia mundial do alfaiate. Ambas escritas em ingls ( a life tinha uma verso em espanhol), difcil para uns e impossvel para outros, embora ali na alfaiataria ningum ligasse : as fotos diziam tudo que se queria saber.
A alternativa mais econmica era o amarelecido brim cqui para os menos afortunados, os remediados que ainda queriam ficar ricos. Estes, em maior nmero, faziam fila nas compras e na prova de roupas, atendidos com o mesmo esmero e presteza pelo mestre, oficiais e assistentes. O resistente brim era o tecido mais requisitado: talvez pelo baixo e atrativo preo ou mesmo - sbia e praticamente- pela quase infinita durabilidade (se existia o jeans, ainda estava nos seus primrdios na Amrica do Norte), mais adequado aos poeirentos caminhos de terra .
O que poderia haver de to bom e interessante no interior de uma alfaiataria, para deixar um garoto de oito, nove anos - diariamente, naquele intervalo aps o trmino das aulas e a hora do almoo - ficar sentado num velho banco de aroeira nos fundos ,prestando ateno a tudo e a todos e se divertindo larga, mais ainda do que ficar plantado na porta de Ducho trocando revistas em quadrinhos ou jogando tapo com figurinhas do sabonete Eucalol ou Balas Amrica?
Como se fosse um permanente festival de Cannes ou Gramado, ali dentro, o papo era um s: cinema.
E numa especialidade que encantava qualquer criana da poca: faroeste americano.
Histrias de cowboys, tanto os personagens como os atores, ndios clebres e no menos cavalos, como o famoso Trigger, de Roy Rogers e a gua Beleza, de Billy Elliott.
Da cidade, algumas (raras) fofocas sociais e, de vez em quando, algum comentrio sobre uma resenha ou resultado de uma partida de futebol. Cassimiro e Ateneu, seguido de Vasco e Flamengo. Tinham a preferncia. Atltico e Cruzeiro era coisa de gente de Belo Horizonte.
Quanto ao assunto principal, parecia que se estava num outro mundo, com todas aquelas figuras famosas sendo comentadas e esmiuadas nas suas interpretaes de verdadeiros e legendrios maches, personagens conflitantes de um oeste americano bravio, cantado e decantado no mundo inteiro, no magnetismo de seus duelos ao por do sol, rapidez no saque dos revlveres e preciso na pontaria dos rifles Winchester, na eterna guerra e devastao de primitivas e inocentes naes indgenas.
E foi assim em toda a Amrica, tanto do norte, como Central, ou do Sul os livros de histria contam tudo, no h escapatria - embora, naquela poca, muita gente acreditava ser uma posio politicamente correta. Quem matava mais ndios era considerado heri e o povo aplaudia.
Buffalo Bill, mais famoso e falado, era cortejado e fez fortunas anos depois em circos de cavalinhos. Onde ele est hoje? Tem que se perguntar pros os padres, seja crente ou no. Mas isso, como diz o outro , outra histria...
E eu ficava ali, sentado, escutando, sem dar um pio, pois no queria perder nada.
Certo oficial, um tanto diferente (acho que tinha um olho s) olhava de lado para enxergar a linha ser enfiada na agulha usava um lindo dedal de prata trabalhada - volta e meia dava uma parada no que fazia e dizia: Esse Allan Ladd num tem jeito mesmo. Deu agora pra fazer filme policial e s vive apanhando. Outro dia,mesmo,um gangster mal encarado deu-lhe uma surra num beco cheio de latas de lixo, que se no fosse aquela lourinha que cuidou dele a noite inteira eu ia at tomar raiva do distinto. Porque no volta a fazer como em Shane dando porrada em todo o mundo e matando ,com facilidade, Jack Palance?.
Outro assistente, dos mais novos e entusiasmados, no se continha e entrava logo na conversa.
Mais chegado em Gary Cooper, lembrava: pois com Guuri (olha a intimidade)- nunca acontecia isso. Como Sargento York, matou e prendeu centenas de alemes, de ndios nem se fala, at aqueles do Canad, que andavam nus no gelo,sem se congelarem. Mas bom mesmo foi acabar com a raa daquele Lee Van Cleef ( tornou-se cowboy famoso em faroestes/ espaguetes italianos, anos mais tarde) e seus amigos em Matar ou Morrer e a realizar, ainda,a faanha de beijar na boca Grace Kelly. Ser que comeu?...Antes do prncipe?.
Todo mundo ria e trocava olhares significativos (eu no atinava por que) e ficava esperando a opinio do mestre alfaiate, que a todos sempre ouvia com ateno e soltava sbias e ponderadas palavras sobre o mesmssimo assunto, no decorrer do expediente.
E, de leve, ele acabava sempre falando do mesmo artista: Randolph Scott, legendrio personagem de filmes B, comerciais,para consumo fcil, mas de boa feitura.
Para ele, o melhor, o mais macho e que nunca apanhou dos bandidos. Na cara, nem pensar. A prova estava naqueles repetidos e previsveis filmes de baixo oramento (em sua maioria, preto e branco) estreados no sbado noite, antes do seriado comear.
O Cine So Lus (para o grande mestre alfaiate, o templo mais sagrado da cinematografia) era por ele assiduamente frequentado, principalmente nos filmes de Randolph Scott.
Lgico, deve-se esclarecer a bem da verdade: o bom Germano, o mais tradicional, simptico e conhecido porteiro de cinema da cidade, alm de seu amigo era tambm um especial e querido fregus que sempre lhe franqueava, agradecido, o ingresso para sesso dos sbados noite: lgico, tambm pela amizade e gratuitos/ sucessivos cerzimentos de roupas da famlia,principalmente nas amarrotadas e esgaradas calas curtas de seus meninos,que viviam jogando pelada o dia inteiro no Larguinho do Rosrio.
- Randolph arrasa, sempre afirmava o mestre-alfaiate.
- E, alm disso, educado e bonzinho - todos balanavam a cabea, aprovando.
-S matava quando no tinha jeito. Contentava-se em desarmar o vilo com um tiro certeiro na mo. O revlver pulava longe.
E a, dia aps dia, os comentrios entusiasmados se multiplicavam e a orelha daqueles velhos personagens devem at ter coado algum dia, tanto era o aumento e infinitas ramificaes biogrficas sobre suas carreiras.
Mas, como tudo tem um porm...
Um dia...
O tal porm veio de um filho destes fregueses ricos que estudava nos Estados Unidos.O pai, orgulhoso, subia sempre a sua bola, sempre omitindo o som de erre aspirado do ag no incio da palavra.
- Arvardi, abria a boca, todo sorridente.
- l que o menino estuda.
As ms lnguas afirmavam que era uma escola de contabilidade nos arredores de Nova York. Bom tambm.
O rapaz ficou uma manh inteirinha provando e aguardando o finalmente de um terno de casimira inglesa para a formatura, que seria no fim de ano.
Na espera, sentado no banco de aroeira, comeou a folhear as revistas (pelo menos isso aprendeu em quatro anos de Amrica) lia e falava em ingls fluente, constatado e garantido pelo professor Correinha, renomado professor do idioma de Shakespeare e ,nas horas vagas,funcionrio do Banco do Brasil.Saudoso e querido colega.
Uma especial reportagem, que todos no recinto, inclusive o mestre alfaiate, gostavam de ver e rever (vrias fotos de Randolph Scott todo alegre e sorridente ao lado de Cary Grant numa casa de praia, ambos de calo de banho e desnudos da cintura pr cima) provocou uma irada reao no rapaz letrado.
- Mas que pouca vergonha, dois homens erados destes, morando juntos e dizendo que as mulheres no esto com nada e nada se compara a sua felicidade atual de ser um casal morando sob o mesmo teto. V se pode?
A estupefao do jovem (hoje em dia,com certeza, poltica e socialmente incorreta) ecoou nas quatro paredes do salo, as mquinas de costura pararam de matraquear e as linhas teimavam em no enfiar nas agulhas: o silncio longo que se seguiu foi mais que sepulcral, se que assim pode-se dizer.
-Como que ?
Quase que em unssono. Geral.
Do mestre, do oficial e at de dois fregueses tradicionais, sempre ali, como eu.
(E Zeca do Correio, j ia me esquecendo: foi ele quem me levou: acho que um irmo do saudoso Lazinho Pimenta era seu amigo e trabalhava l. Realmente no me lembro dos nomes, muito tempo se ou, mais de cinqenta anos e no estou com essa bola toda de memria que gostaria de ter. Talvez algum possa esclarecer. Ser bem-vindo)
Incontinenti, todos vieram ver de perto e o futuro formando em contabilidade americana no se fez de rogado: traduzia alegremente, com sabedoria e fluncia, palavra por palavra.
E, como se fosse um prdio caindo,tijolo aps tijolo, a reputao de macho de Randolph Scott, seguido de Cary Grant (que l no tinha tanto prestgio assim) foi despencando,despencando at chegar ao rs-do-cho.
Foi quando, mais que calmamente, o mestre alfaiate sentenciou:
-Querem saber de uma coisa? No se fala mais dele aqui. No quero nem ouvir falar neste Randolph Scott ou seu belo amiguinho.
- De hoje em diante s assistirei filmes de Gary Cooper e Rock Hudson!
Naqueles idos de cinquenta e poucos, o gal Rock Hudson, forte e bonito, comeava a despontar em Hollywood como cowboy e gal super macho.
Sempre com Dris Day a tiracolo, cot,como diria Lazinho...
Abrao a todos.
Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 1/9/2010 13:03:48
TEMPOS MODERNOS
Com esta modernidade toda que apareceu de uns tempos para c, de invenes pra melhor (outras pra pior, h controvrsias), muitas coisas antigas acabaram ficando demodes, como diria o saudoso Lazinho Pimenta (sempre me lembro dele se modernizando).
At o mais ultraado j deu o brao a torcer para alguns melhoramentos, embora com uma ligeira extrapolao.
que uns - indo ao pote com extrema sede e afoiteza - confundem valores e idias subliminares e engazopados nesta pretensa novidade, abusam (mesmo sem querer, querendo) da boa vontade dos amigos, conhecidos e at desconhecidos.
Trazem tona antigas mximas e oraes santificadas de diversas religies e igrejas como se fossem verdadeiros e ltimos lanamentos da mdia religiosa mundial, mas que, na verdade, j foram publicadas em sculos ados (os velhos Almanaques Biotnico Fontoura e Bertrand que o digam) e nossos pais e avs j se deliciaram exausto com os mesmssimos textos de carma e correntes.
E at, pasmem os novos cibernticos, j os transmitiram para ns, meninos e meninas de outra era, na tentativa de nos direcionarmos ad infinitum para o bem eterno , Deus te abenoe per secula seculorum, amm.
Isso, eu e toda uma gerao feliz j ouvimos at enjoar.
Com os olhares entediados virados para cima ( verdade e deve se dizer), vendo muriocas voarem livres e soltas pela sala.
Doidos para sair e brincar na rua.
Coisa de ontem, anteontem e tresantontem, os velhos de guerra entendem.
Mas, justia seja dita e feita: todo o mundo faz o que quer de seus e-mails.
Esto no direito, quem poder dizer que no.
Embora seja bom saber que este direito torna-se perdido quando entra num espao de outrem, ando uma barreira que se chama privacidade e, o que mais importante, livre escolha do destinatrio, do que ler e do que quer ver.
A gente entra no cinema e assiste ao filme que deseja.
E paga. Como na internet tambm se paga.
Diro ento: se no quiser abrir, no abra.
Mas, e se um dia vocs - apenas, de corao - perguntarem por mim, ou como estou indo, eu nunca poderia saber...
Abraos a todos.


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Por Flavio Pinto - 18/8/2010 11:36:30
DE HOJE PARA ONTEM



Como se fssemos viajantes na mquina do tempo que o ingls George Wells criou h 110 anos, fomos resgatados de um mesmo lugar do ado (embora nem to longnquo assim).

Tnhamos deixado a bela e antiga nave chamada JMC, primeira e nica, para reparos numa oficina sideral e nos transportamos para esta nova mquina, ciberntica e com velocidade da luz , continuando assim nossa gloriosa e (in) descritvel viagem pelo fantstico mundo da comunicao.

Com o sagaz piloto Paulo Narciso - intrpido viajante intergalctico e intercontinental - no comando desta nova nave de nome montesclaros.diariomineiro.net , nunca camos em buracos negros, profundos ou mesmo rasos e sem volta.

Sempre nos sentimos seguros para darmos conta do recado, cada um em sua especialidade, seja ela da verdadeira histria ou sutilezas da alma humana, com sinceros relatos do presente real ou do surreal fantstico e improvvel.

E de tudo o que acontece e quase aconteceu, tambm desde o incio na vida diria e antiga desta cidade que s pode ter sido criada pelos deuses num dia de muita inspirao.

Salve, salve , ento, Oswaldo Antunes , Haroldo Lvio e Waldyr Sena , companheiros de odissia.

Trs mestres, juntos novamente, acompanhados deste eterno aprendiz e amigo.

E a todos que vieram: ou como membros efetivos da tripulao e, outros mais, especiais espaciais ageiros, to ou mais importantes que foram para o sucesso desta maravilhosa viagem, um grande abrao.

Salve Alberto Senna, Jos Prates, velhos e competentes tripulantes, e o Bala, que embora no tenha navegado no primeiro foguete, o faz com rara maestria no segundo.

A todos, obrigado.

Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 1/6/2010 14:01:58
JUNHOS ADOS

Junho.Segunda metade do sculo ado.
As noites frias pediam blusas e cobertores para a noite.
Tempos inocentes em que, ainda , s velhos cobertores - com cheiro de naftalina - saam dos armrios.
Tempo de ouvir pelo rdio a ptria amada ser, pela primeira vez, campe de futebol e por isso, ser mais amada ainda.
O mundo de violncia, atentados, assaltos, sequestros e todas as coisas ruins do mundo estava muito longe (graas a Deus e s rezas de todas as tardes na Matriz de Nossa Senhora e So Jos) - mais ou menos a milhares de quilmetros desta velha e alegre cidade.
E as guerras , marca registrada do primeiro mundo em todas as eras ( defendida por muitos e por todos os tempos como sinal vital de educao e civilizao(sic), sustentculo da economia principalmente na venda de armamentos, a mais forte fonte de renda), locais ou mundiais - em qualquer lugar longnquo e incerto do planeta - estavam apenas nas rdios e fotos das revistas.
Deus te salve Casa Santa e mais ainda fora e simpatia dos Aliados (contra o vilo alcunhado de Eixo, cujos integrantes viraram novamente mocinhos, pela fora do corao e homens de boa vontade do mundo inteiro) nossos queridos muy amigos americanos, ingleses, ses ( por muito tempo os russos foram cortados. Mas, j voltaram, como amigos tambm , depois que o dinheiro falou mais alto e conseguiu-se comprar e acabar com o comunismo) , transmitiam segurana eterna e sabor de vitria para todos ns, terceiros mundistas ignorantes , eternamente crdulos , de carteirinha, amm .
Generais e comandantes de nomes impronunciveis eram nossos grandes heris fora Superman, Flash Gordon e Capito Marvel, rrs - rivalizando-se at paixo pelos nossos craques imortais de jogadas e dribles sobrenaturais (ora viva e reviva o grande Nelson Rodrigues). Lado a lado com estes craques eles tambm faziam parte dos nossos lbuns de figurinhas.
Como tambm a figurinha super difcil das Balas Amrica , a Bomba Atmica (ningum completava o lbum sem ela ) e seu cinematogrfico cogumelo de fumaa.
Jogada em Hiroshima e Nagasaki, quem falava das centenas de japoneses mortos era politicamente incorreto. Ou de comunista, comedor de criancinhas, o sermo sempre era o mesmo, nos plpitos. Mas, pela justia e vontade de Deus, as linhas tortas foram entendidas e a verdade apareceu no futuro, calando bocas infames.
Nos jornais falados e telas de cinema, mostrados repetidas vezes, exausto , a gente vibrava de patriotismo nas marchas e dobrados dos documentrios enlatados ufano-americanides (como se fossem nossas prprias msicas de raiz), apresentados antes do nossos filmes de cowboy-capa-e-espada das inesquecveis matins de domingo .
Mas, se j cantvamos e assobivamos de cor o Oh! Minas Gerais, que nasceu e morrer como uma valsa do velho mundo, quem vai se importar com um detalhe deste?
Como diria Robin, parceiro do Batmam : santa inocncia.
No entanto, ramos felizes e sabamos (homenagem ao bom livro da rapaziada)!
Abraos a todos.
Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 13/5/2010 12:35:37
CONVERSA DE TREM DE FERRO

(Para Alberto Sena e quem mais gosta de trem)

Com muita saudade e no menos prazer, recordo alguns primeiros e alegres anos de minha vida, tentando, talvez, a bem das geraes contemporneas que precisam conhecer nosso ado (como diz P.Narciso), ir bem fundo nas minhas lembranas.
Da mais tenra infncia, acredito, embora muita coisa j nos fuja.
Tambm meio sculo se ou. Ufa.
Ns amos a p pra estao - distncia de apenas alguns quarteires - a famlia toda, sempre acrescida de uma ou mais tias solteiras ( Vivi, Tet e Stela) sempre presentes nestas viagens para B.Horizonte, fazendo companhia e ajudando minha me a tomar conta da gente.
O que no era fcil, diga-se.
Embora, que nem James Bond (talvez um pouco menos), elas tambm tinham licena para matar, ou melhor, beliscar. Suaves belisces, nem tanto.
A gente, ento, as respeitava, mas...os braos viviam roxos. Rrs.
Quanto tinha muita bagagem, mandava-se um recado pra Seu Matias Peixoto ali na rua Mangabeira, pertinho da casa de minha av na Afonso Pena-, carregador de malas oficial da Rede (pai de Tu, Vicente Pezo e Jos Matias, meus amigos, craques inesquecveis do futebol montes-clarense) e ele ava l, na hora certa, com sua garbosa e lustrada charrete de pneus de sedam.
Srio, no alto de seus cabelos brancos, sempre, carinhosamente, nos convidava pra sentar junto dele na boleia.
E a aventura comeava a partir dali, no trote do cavalo (ou burro, no me lembro) pelas ruas de terra da velha Montes Claros. Para ns era como se fosse uma verdadeira carruagem do tempo dos prncipes e contos de fadas.
A linda e antiga estao era uma festa. ageiros, maquinistas, chefe de trem, l todos se conheciam. As partidas de trem sempre eram um grande acontecimento.
Os pais conversando e fumando alegremente no saguo e plataforma (naquele tempo o cigarro incomodava menos gente), os meninos correndo e dando canseira s mes e tias; o indefectvel cheiro de carvo pairando no ar , vindo da fumegante locomotiva a vapor frente do comboio, fora da plataforma de embarque.
A gente no se continha e descia at os trilhos para v-la de perto.
E l estava ela, a famosa Maria-Fumaa, na sua mais completa e lendria magnificncia, parada e ligada, soltando altos e alternados suspiros de fumaa branca, ao exato tempo / momento que o suado e esforado foguista jogava-lhe, contnua e lentamente, sucessivas ps de carvo dentro da fornalha .
Esta alternncia, com o som chiando no vcuo, provocava-nos o maior susto e, ao mesmo tempo, nos maravilhava de encantamento.
Logo, logo, chegavam as tias, grudando nosso brao para voltarmos segurana da plataforma. E tome belisco.
Quando o trem partia, devagar, no saamos da janela, cabea pra fora, apesar de mil alertas do perigo das fascas ocasionais. Os avisos no faziam muito efeito: s sentvamos aps a ltima casa ter -se transformado de vez numa minscula casinha de prespio, desaparecendo no j distante e belo horizonte montes-clarense.
Sentados nas poltronas, uns em frente aos outros, abria-se a primeira a, bem vedada num caseiro e branco pano de prato, contendo uma senhora farofa de galinha, pedauda e bem temperada( de lamber os beios) feita por minha v, Finita: as tias e minha me comiam de capito, os bolinhos enrolados na mo com invejvel percia.
A meninada comia de colher mesmo. Nunca aprendemos a enrolar aqueles bolinhos na mo, sem deixar a farofa cair toda no cho.
As cidades se seguiam, dolentemente: Bocaiuva, Granjas, Dolabela e Augusto de Lima, onde o trem parava e eram apresentadas aos ageiros as mais variadas e gostosas mangas do mundo.
Rosa, comum, ub, espada, pela janela os meninos juntos aos trilhos ofereciam e vendiam um saco delas, inteirinho, a troco de uns poucos mil ris. Era manga para estufar a barriga de muito gluto durante toda a viagem e ainda sobrava para levar pra casa.
Sob o olhar complacente do Chefe de Trem, comamos e nos lambuzvamos daquelas delcias, atirando as cascas e caroos pela janela.
Hoje em dia, talvez os mais afoitos e crticos nos achassem pouco ecolgicos, mas j sabamos que um outro ser qualquer, arinhos ou at mesmo um gamb, iria se fartar larga de nossas sobras...
Corinto, Curvelo e Sete Lagoas. Estvamos quase chegando. Mais algumas horinhas e...
Belo Horizonte.
A um velho bonde nos levava a at a rua do Ouro 317, Serra, esquina de Aguape.
Abraos a todos.
Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 29/4/2010 10:12:24
A GRANDE VIAGEM DOS CHATOS

Pelo telefone, uma voz que no ouvia h muito.
Grande surpresa!
De quem mais, seno de um velho amigo desaparecido (agora ressuscitado), grande
personagem deste serto do pequi:
O famoso urubu Asclepades, cavalheiro de alta estirpe, mui negro e famoso, retornando com toda a fora de sua uruburlesca figura.
Humildemente, pedia somente uma coisa. Alis, pedia no, solicitava, com aquela fleuma s encontrada em recantos bem alhures, como sempre dizia seu ex-proprietrio, Henrique Chaves.
Que no se dissesse nada a ningum do que aconteceu durante o tempo em que esteve fora: misteriosas histrias a partir de uma complicada fuga (com direito a sofrido asilo poltico) - e ai, talvez (com seu beneplcito e aquiescncia), poderiam ser esclarecidamente relatadas num futuro bem prximo.
- Depois que Fernando Gabeira contou as dele, as minhas perderam a graa ponderava com ar de sabedoria, dando por encerrado o assunto.
Mas acabou contando a ltima, aps vrias bicadas numa velha Santa Rosa que nos acompanhou pelo resto da noite, num de seus vrios escritrios locais (botequins, caso algum esteja chegando agora).
E falou, falou...
Foi em Cannes, quando gozava merecido descanso, dando balano na vida, aps as tais peripcias no contadas. Sem mais delongas eis a histria, de sua boca, alis de seu prprio bico:
De frias, na linda praia sa, de companheiro apenas meu surrado terno preto de toda a vida, de repente, soa, por perto, uma voz familiar:
-Ora, ora se no o grande conterrneo a, o urubu Asclepades!
Uma entonao clssica dos montes, montes clarssima, a gente podia at imaginar quem fosse, sem medo de errar.
J h algum tempo ouvindo somente voz de gringo ao redor, imaginei-me sonhando. A voz continuava, insistente.
Olhei ento na direo e quase ca de costas: - um montes-clarense autntico, meu prezado, daqueles antigrios, que a gente j enjoou de ver nas vizinhanas da rua Quinze e bar de Zim Bolo.
-Em Cannes, meu chapa, fora de temporada, ter que deparar com essa figuras e outras mais, como se abrisse as portas do ado misturado ao presente da cidade e aquelas velhas fotografias pregadas nas paredes dos prprios municipais adquirissem vida e sassem todas lpidas e firmes das molduras...
mole?
E, ainda por cima, reduzidos trajes de banho, culos escuros, chapus hilrios/esvoaantes, drinques espertos na mo e... Aprontando.
Sai por ali olhando aquela bizarrice toda. S dava eles.
No aguentei a mrbida curiosidade e tive que perguntar o porqu.
Era uma caravana de turismo em volta pelo mundo, trs nibus rodando pela Europa inteira, de graa.
Por conta de quem, no fiquei sabendo. Disseram-me apenas que era por conta de uma tal Comisso.
Quanto ao motivo, simplesmente desconversavam, mudando de assunto, ficando por isso mesmo. No insisti, mesmo porque me convidaram para ir junto.
Fui. Talvez mais tarde, quem sabe, eu descobrisse tudo, pensei.
Arrumaram-me um leito especial em cima das malas at agradeci tanta ateno.
No nibus que fiquei havia duas madames, as poderosas chefas. No se fazia nada sem que elas quisessem ou mandassem.
Logo na primeira parada botaram o trocador pra fora, s porque ele deu uma trepidante gargalhada quando uma delas, afoitamente, tentava abrir a porta do nibus, puxando-o com toda a fora e no aceitando palpiteis de ningum quanto ao verdadeiro sentido da palavra PUSH afixada no vidro da porta do nibus. Por sinal, ingls.
Ela insistiu, insistiu, at que quebrou a fechadura e a maaneta. Esta, exibida - triunfantemente para todos os ageiros. Lgico, mantiveram-se, sabiamente, em silncio. Talvez pelas lembranas do recente affair trocador versus poderosas.
O nibus seguia viagem.
Como conversavam entre si!
Falavam ao mesmo tempo. Sem pausa, ponto, vrgula, silncio, ou mesmo uma simples e natural respirada.
Cada qual, o mais alto que podia.
Um contava caso para o outro que, por sua vez e ao mesmo tempo, contava um diferente para um terceiro, que j estava ouvindo anteriormente o primeiro interlocutor.
Total desentendimento, pra no dizer um colossal e senil descalabro.
Os mesmos assuntos desencontrados e repetidos amidem em qualquer contempornea reunio social que se preze:
Venturas mis e nenhuma desventura, principalmente dos parentes contra parentes e entes queridos ; as melhores viagens, os melhores carros; o eterno se gabar de querer ser o mais o mais malandro; histrias em que sempre a outra parte levava a pior e por ai vai, todos conhecem esse velho e surrado tema: quanto mais chique...
S que ali no tinha plateia para um filme (que nem sequer poderia ser realizado): todos os protagonistas eram mocinhos ou mocinhas, no havia lugar para bandidos...
Menos eu, E o que fiz?
Como se diz, sartei de banda.
Fui para o segundo nibus, na perspectiva de melhores momentos. Eu queria apenas ear com tranquilidade.
Neste carro, cheguei mesmo a me alegrar. A princpio.
Fazia-se um silncio completo. Pelo menos isso, pensei, ai os meus ouvidos se refrescam.
Foi quando senti o lance: ningum conversava por um simples e nico motivo.
Estavam de mal, pasmem. Tipo Belm, Belm...
Completamente brigados, no se falavam h anos.
S dois se comunicavam dentro daquele nibus: o motorista e o trocador, exclusivamente.
Alm das funes normais, ainda serviam de leva-e-traz de recadinhos entre os ocupantes.
Fala com ele que eu falei, mas no fala que fui eu!
E foram eles mesmo que me contaram o que aconteceu a seguir, ouve s.
Quiseram eleger o presidente da viagem, minutos depois da partida. Algum que - mesmo se no fizer nada (pela absoluta falta do que fazer) pelo menos possa usufruir do prazer de se ter um cargo importante.
Voltaram a se falar - por pura convenincia e fizeram a campanha dentro do nibus em movimento. Teve at longos discursos e comcios relmpagos.
Apresentaram-se os candidatos, optando-se por uma eleio diferente, bem moderna (inusitada), onde todos eram candidatos, Apenas a conscincia e a cabea de cada um escolheria o melhor.
No deu outra: terminou empatada. Todos votaram em si prprio.
Ento, o pau quebrou. Brigaram de novo, no se salvando nenhum. Todos de mal, como dantes.
Eu, como queria apenas a viagem grtis e um leve turismo, sem confuso, ei imediatamente para o terceiro nibus.
E qual no foi o meu espanto quando vi o que vi!
Dentro do terceiro havia somente um ageiro, sentado larga, na maior folga.
E logo quem, seno aquele chato mais exclusivo deste meu serto da carne de sol, o mais famoso, o maior de todos, cujas proezas nacionais e internacionais j foram to contadas e repetidas que torna-se at desnecessrio dizer o seu nome?
E ele, antecipando-se a qualquer coisa, respondeu de pronto, sem que lhe fosse perguntado alguma coisa. (Por isso e por outras ele foi sempre o maior: sempre respondeu ao que nunca lhe perguntaram).
- , meu caro (com aquele conhecido ar superior, gentico), por aqui ningum me aguentou. - - Nem o chofer, olhe s...
E deu aquela velha e enigmtica risada de lado, apontando para o veculo.
Quando olhei direito vi que o nibus ia sozinho pela estrada afora, apenas ligado no piloto automtico (especial para Bus, dizia o manual do fabricante).
Eu, como sou do serto e nunca ouvi falar de piloto automtico para nibus, pulei fora e, do meio da estrada, s deu pra ver, num relance, os oito pneus se enchendo, enchendo, at estourar completamente, a poucos metros dali.
No aram a alta presso daquela chata presena.

NOTA DO AUTOR: No se deu nome aos chatos e, principalmente, ao ltimo, pelo simples motivo de se deixar imaginao e vontade do leitor que, certamente, conhece mais do que ningum seus chatos particulares a liberdade da escolha do seu prprio e maior de todos.
(Texto publicado em outubro de 1980 em O JORNAL DE MONTES CLAROS)


56769

Por Flavio Pinto - 31/3/2010 19:21:23
UMA PATRULHA MOTORIZADA
(Para Gonalves (MSG 56743)
Como participante ativo dessa turma de atiradores citada por voc (menino de calas curta nessa poca voc no poderia saber mesmo) sinto-me na obrigao, compelido mesmo, a entrar, de com fora, no seu caso. No o conheo pessoalmente, mas pressinto em voc uma alma boa por trs da mensagem. Espero que no se importe com esta intromisso.
Alm de Lindemberg e Z (Carlos) Alves tinha mais gente nessa patrulha dos atiradores, naqueles idos de maro/abril de 1964, mais para primeiro de abril do que 31 maro. Deixa pra l...
O pequeno e grande Bill, cracao do Ateneu por muitos anos, Odorico Mesquita, Ricardo Laughton, Aldoizio Costa e eu. Turma das antigas, boa pra valer. Somos amigos at hoje um pouco afastado de alguns, verdade mas sempre com as melhores lembranas de todos.
E mais um, o Sargento Villar baixinho invocado gente fina demais. Jogava basquete com a gente na Praa, e bem. S no enterrava por bvios motivos. (A tambm no, n, gente).
No tenho muita certeza se o sargento ia conosco em todas as incurses ou se usava outra viatura ( a s Berguin pra lembrar), cedida pelo batalho de polcia.
Com Lindemberg no comando (tinha sido promovido a cabo: bem esperto, vivia no p de Lazinho, solicitando, com xito, botar o nome do Chefe dos Sargentos - o inesquecvel Sargento Conca - e senhora, na coluna social do JMC, onde era reprter geral. Rrs) , fizemos parte de uma incrvel patrulha motorizada. Tipo Exrcito Brancaleone, quem meio cinfilo sabe.
Talvez a nica viatura na histria antiga do glorioso TG 87. Se houve mais alguma motorizada em outras pocas, desconheo. Pelo menos ningum me contou, at hoje.
Aboletados numa possante camionete (uma linda e esverdeada DODGE, modelo 1951),Ricardo Laughton sempre dirigindo, por direito e herana. At que ficvamos com uma ponta de inveja, mas o carro era do pai dele, Seu Lindolfo, como reclamar?
E, a gloriosa patrulha rodava a cidade de ponta a ponta, pronta para a ao. Que nunca aconteceu...
Era com se fosse um similar da americana e pomposa SWAT , mas humilde, e pe humildade a, armados apenas com uma velha baioneta na cintura, entusiasmada e cheia de testosterona e juvenil irresponsabilidade, com muita vontade de aparecer qualquer tipo de confuso, baderna, crimes hediondos ou at mesmo um pequeno levante popular (ou contra a favor), para podermos testar nossa grandiosa fora e poderio (sic)...
Infeliz, ou melhor, felizmente nunca aconteceu nada. Deus protege os inocentes e os tontos.
Da que gastamos nesta empreitada litros e mais litros de gasolina, rodando inutilmente pela ento pacata cidade. A maior parte na zona bomia. Esse pedido do peculiar trajeto teve aprovao unnime, diga-se.
Ricardo Laughton(chofer) Lindemberg e eu na boleia. Eu j era ajudante de cabo, Berguinho me nomeou. Depois vim a saber que no existia este posto no exrcito.
Odorico, Aldoizio, Bill e Z, l atrs na carroceria, coberta com lona e com dois bancos pra carregar peo. Reclamavam paca, no sei de qu!
Mas era uma festa quando entrvamos nos cabars. O povo e as raparigas presentes riam mais da gente do que ficavam com medo. Todo mundo era conhecido de todos. No tinham o menor respeito, aqueles flas...
Uma vez, numa dessas incurses, no Cabar de Anlia, Dim Canga (irmo de Murilo e Julinho Boca de Fogo, meus vizinhos) cumprimentou-me efusivamente de cima do palco, no microfone, em meio uma bela cano (salvo engano, Algum Me Disse, famosa na voz do falecido Altemar Dutra). Fiquei todo cheio e honrado.
Ns, enlevados pela bela interpretao de Dim, com sua maviosa voz rouca, nem percebemos que o Sargento Villar tinha adentrado ao salo .Ele viera, a chamado oficial , prender Crioulo, elegante malandro das antigas ( s vestia terno de linho sse120) irmo de Anlia, campeo de sinuca da cidade e mestre de capoeira nas horas vagas, que tinha dado um tiro ( e errado a pontaria) numa rapariga, em outra zona. Mas ela deu queixa assim mesmo e armou-se a confuso.
Eu conhecia bem Crioulo. Desde os meus tempos de adolescncia brava/rebelde e o irava pela sua destreza com o taco. Tempo de matar aula e ar o dia e a noite, clandestino, num velho salo de sinuca que esqueci o nome.
Sei que tinha um certo Seu Augusto, que tomava conta das mesas e um reservado de Pif-Paf nos fundos Ele era meio (ou melhor, totalmente) ranzinza e neurastnico, mas gostvamos (minha turma) dele. Sempre fez vista grossa para a nossa presena de menor de idade.
No Cabar de Anlia fui o primeiro chamado - por este conhecimento do bas-fond - pra localiz-lo no recinto.E o fiz, cumprindo ordens, embora at meio sem graa, confesso. Crioulo, como sempre, estava bem vontade, danando puladinho com uma linda baiana (que eu conhecia), rodopiando como um prncipe, bem no meio do salo. Ele parou, olhou-me nos olhos e perguntou onde estava quem queria prend-lo.
Quando viu o sargento, que parecia ainda mais baixinho ao longe, na porta do Cabar, dirigiu-se a os largos para l, j com um ar maroto, de deboche, no rosto:
- s esse ai? E mais quantos? -
Bem na frente do sargento.
S pensei, viche Maria!
Por alguns segundos fez-se um silncio geral. Z Tco segurou como pde as baquetas e Lausinho parou de fazer aquela careta de sempre quando tocava (ele fechava um olho durante todo o tempo, talvez viajando na msica) e encostou o violo na parede.
Dim Canga foi l pra dentro tomar uma, de leve.
O Sargento Villar s fez meter a mo no coldre preto e tirar uma 45, automtica, de cabo de marfim, de uso somente das foras armadas. A maior e mais bonita m que j vi.
Colocou - a (o gatilho destravado, seguro apenas pelo polegar) na boca de Crioulo que ficou engasgado e totalmente plido, repentinamente.
Pensei de novo: vai atirar! S no tapei as orelhas porque no pegaria bem em pblico. Ridculo demais para um guarda armado, membro de SWAT. Meio escalafobtica, mas SWAT.
E o Sargento levou-o, com a 45 enfiada na boca, branco como cera e com os olhos meio esbugalhados, at a viatura, estacionada na rua, do lado da Praa de Esportes.
Um pouco depois, l, acalmados um pouco os nimos , a gente conversou com o Sargento, dando uma fora pro Crioulo (at hoje no sei seu nome), falando de suas qualidades e habilidades no pano verde, Anlia fez valer a sua posio de dona do Cabar mais famoso da cidade e o sentimento acabou falando mais alto.Resolveu-se tudo. E com bastante finesse. Ningum foi preso e ficou por isso mesmo.
Prprio da velha Montes Claros. Todo mundo, ricos, pobres e remediados, era amigo.
Dez minutos depois, disseram-me, o Cabar reabriu com tudo a que tinha direito. Msica, bebida, cigarro e raparigas. vontade. Embora um pouco nauseante pelo cheiro que ficou no salo, oriundo, possivelmente, de resqucios naturais aparecidos nos fundos da cala de linho branco do campeo.
- Puro Amarelo ouro com verde-escuro, jurou um sem-mais-o-que-fazer na ante sala do salo de dana.
Eu no digo nada porque no vi. Srio.

Um grande abrao para todos.

Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 28/3/2010 11:21:10
BREJO DAS ALMAS

( Para Enoque Alves, da cidade de Francisco S, Minas Gerais)

Suas lembranas do Brejo das Almas, singelas e bem escritas, me remetem - com prazer - a certas frias de julho ( duas , uma em 1956 e outra em 1957 ) e estou meio desconfiado que voc era o arteiro e simptico menino que ficou nosso companheiro inseparvel de mil e uma aventuras brejeiras.

O outro mosqueteiro era Paulo Silveira ( dele voc j era amigo desde criana ) , vulgo Paulo Batco , querido amigo , colega de escola e ponta- esquerda dos bons do time de futebol do colgio.

Eu era Center four.Dos mais ou menos.Meio barbantinho, seno todo. Rrs.

Batco era irmo dos saudosos Marquinhos e Roberto Silveira, que moraram numa feliz M.Claros de outras pocas e deixaram muitas amizades e saudades .
Hospedei-me no Brejo naquela casa de esquina da rua Cnego Augusto, de Seu Lus Silveira e D.Menininha, pais deles.

Ms de julho era lord, brbaro, o mximo, era daqui , da ponta da orelha.
Tem gente que nem sabe o que isto significa... Bom, nem tudo perfeito!

Meio diferente de hoje, que a garotada esnoba mar, praias ou cidade do interior e atravessa o Atlntico para ir ver aquelas caras e incuas fantasias infantis de Walt Disney.

A gente conhecia tambm a turma Disney toda , baratinho e semanalmente nas revistinhas em quadrinhos ou num filme maravilhoso chamado Voc j foi Bahia.
No sei se antigamente era ruim ou bom , ou se agora melhor ou pior ( quem sou eu pra julgar ) , devo esclarecer aos mais crticos e contemporneos , embora , devo confessar, do filme tenha gostado demais e dele nunca me esqueci.
Carmem Miranda, Z Carioca e Pato Donald com aquela voz de taquara rachada, bom demais.
Enfim , tudo vale- como diz o outro - se existe emoo...

E voc, naquela poca, aos onze anos como ns, sabia tudo de beira de rio, poos profundos dos piaus verdadeiros e curimats (as inconfundveis zulgas, como as chamvamos), que a gente matava de estilingue quando subiam tona para pitar.Traduzindo: respirar, se que peixe respira , no tenho a menor idia.
(Engraado, a mesma coisa que os fumantes fazem hoje : tm que sair rua para pitar um cigarrinho.Sorte que no tem gente com atiradeira esperando).

Cinquenta e cinco anos . Pode-se dizer que tem um tempo bom a , no Enoque? Pra no ter de entregar o ouro e confessar um irreversvel (porm bem vivido) meio-sculo na cacunda.

No me lembro de muitas outras coisas.

Mas no esqueo do stio de Seu Frana, onde, muito tempo depois, retirei personagens para um livro que adorei escrever e gostaria que voc lesse .E, neste stio de todas as frutas que existiam, junto com vocs, roubei e comi muitas e deliciosas mangas, goiabas , ara, jambos e bacos-pari. (Ser que est certo este plural , P.Narciso?
Porque a ento seria Baco-Paris, que poderia sugerir at outras coisas. E boas!

E do velho cinema de bancos de madeira, onde vi Guerra dos Mundos pela primeira e nica vez; da pracinha da igreja onde as moas apareciam de noite e a gente ainda no sabia o que fazer com elas ; dos banhos de rio no poo da Provisria e incrivelmente , para registro dos historiadores de planto, da loja de secos e molhados de Seu Olinto Silveira, na Praa do Mercado, que vendia de tudo e mais um pouco.Seu Olinto, com o maior carinho, sempre nos atendia com um sorriso ensinando-nos qual o melhor dos anzis e pra qual peixe servia.
Anos mais tarde, quando eu iniciava nessa sofrida e difcil arte, deu-me seu belo livro de poesias (Cantos e Desencantos), que guardo ( e leio sempre!) at hoje.

Logo depois, ele e D.Ivone mudaram-se pra Montes Claros onde nos agraciaram , ambos num mesmo alto nvel, anos a fio , com muita cultura e sabedoria.

Enfim, Enoque, gostaria de dizer que v. possui a mesma esperteza ( no bom sentido), para escrever.
o que acho ( ...posso no ser tudo, mas tambm no sou nada, j dizia um filho de um amigo meu) e de corao. V. tem a manha!
Continue.

Um abrao.

Flavio Pinto


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Por Flvio Pinto - 20/11/2009 16:25:23

Olha o que achei : Lazinho, eu e duas beldades , montesclarenses-cariocas
como ele dizia em suas crnicas, em plena praa da Matriz, no Centenrio.
Nada menos do que Angela Zimbardi, que posteriormente foi Miss Guanabara
(acho que em 1959) e sua prima Sandra, de igual beleza e ainda garota.
As duas so sobrinhas de Pedrinho Viriato, lendrio e exmio danador de
"Lundu" e Beto (Trator) Oliveira, afinado cantor e solista do Grupo de
Serestas Joo Chaves - ambos de saudosa memria - portanto pertencentes ao cl da Fazenda Ribeiro dos Ferros, endereo oficial do alambique onde sempre se fabricou a famosa cachaa "Viriatinha" , durante vrias geraes. Nas frias elas sempre vinham para Montes Claros e a moada ficava indcil. Tempos felizes de uma cidade alegre. Repare na bicicleta : Monark sueca,importada,aro 26, no saa de cima dela.Era de minha irm, Cristina.Herdei. FP


52045

Por Flavio Pinto - 14/11/2009 09:22:41
CHUVA


A chuva foi, e continua sendo a grande bno

No importa se venha forte e extrapole alm das fronteiras do esperado ou se venha fraca e fique a dever s plantas, aos lagos, rios e plantaes.

A gente v Deus na pouca ou tanta gua e agradece.

Mesmo fraca nos anos ruins e farta nos bons que sempre demoram a voltar, a gente deste norte querido sempre teve um carinho especial por estes doces e lmpidos pingos que vm l das nuvens e nos traz tanta alegria aqui embaixo, fazendo o verde mais verde e lavando-nos literalmente o corpo e a alma das aleivosias e malquerenas adquiridas .

Com a chuva aleluia - vem doces lembranas de infncia.

O Rio Vieira (coitado, agora rebaixado para riacho por quem devia pensar mais, agir mais e falar menos) se transformava.

De um manso caminhar de verde espumante (coitado , pelas descargas das primeiras fbricas do progresso) para um desvairado galope de cor de chocolate , onde sucessivas ondas e perigosos redemoinhos destruam e levavam rio abaixo , sistematicamente, mal enjambradas pontes de madeira de caixotes e pregos mal batidos.

Revigorada gambiarra artesanal de todos os anos pelos antigos artfices legais , que sabiam da fria anual do velho Vieira e faziam o servio sem capricho , talvez pela desesperana em querer desafi-lo, ou, quem sabe, pela simples certeza da renovao anual de um fcil trabalho e mais um vintm para o bolso.

Infelizmente, a histria se repete.

Asfalto vira poeira no primeiro uso e lama ao segundo pingo .

Que entope tudo, trazendo infelicidade para muitos e fazendo a fortuna de poucos..

Antes, o Rio Vieira enchia e toda a cidade meninos, velhos, senhoras e raparigas, todos juntos, democraticamente - ia ver aquela maravilha da natureza, com satisfao e um sorriso na face.

Como o Rio Nilo , desde os Faras, que saltava das margens e molhava a terra para o que mais se plantasse e tudo desse.

Abrao a todos.


Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 28/10/2009 08:29:12
CASAMENTO & LUA DE MEL


Zequinha Rocha estava feliz.
Trabalhou demais a vida inteira.
Vida rdua na roa, sol forte e gado Nelore, difcil de mexer.
Num teve nem tempo pra mulher, casamento, essas coisas...
Solteiro no convicto a vida toda, mas agora, Deus seja louvado, estava do jeito que queria : noivo, prestes a se casar com Lourdinha, uma moreninha de 22 anos, cheirosinha e bonita de doer.
No casamento, um festo, os amigos davam-lhe conselhos sinceros : ele, ando dos quarenta, ela novinha... olha l!
E l se foram pra lua de mel.
Lugar melhor num podia ter: Hotel Miramar, praia de Copacabana.
Ficaram duas semanas.

Na volta, os amigos - curiosos - vendo a brancura dele, mais plido do que quando viajou:
- Que isso Zequinha , parece que v. no saiu do quarto nenhum dia?.
- Moo, o trem bom demais, num sa mess no.
- C t doido? - E Lurdinha? Moa nova, nunca viu mar, coitada ...
A Zequinha acalmou todo mundo:
- Pois viu...e foi todo dia.
Eu s falava com ela :
- Vai l Lurdinha, sarga e vorta ..

Ps : Em homenagem a meu amigo Reynaldo Souto, que sempre me contou este causo e outros mais, com muita graa e alegria. E quanto mais ele contava , mais eu ria e pedia pra repetir. E ele ria ainda mais que a gente. Grande Rey.

Abraos para todos.

Flavio Pinto


50989

Por Flavio Pinto - 10/10/2009 11:31:36
MINHA CIDADE

O muito que se preza e diz de um ado feliz so histricos de felicidade ou ser que deveramos dizer feliz cidade ? vencendo a corrida e sobrepujando a triste atualidade que sufoca.
Ser preciso, ento, uma frrea vontade para tentar manter bem prxima, que seja at nas vizinhanas do infinito, a verdadeira face do real e as fases dos bons momentos vividos, o mais perto que a vista pode alcanar e a mente absorver.
O corao manda dizer.
No se preocupe com lineares caminhos porque nas questes subjetivas do corao, um perto pode estar daqui a milhes de anos-luz e ao mesmo tempo, nunca ter sado do seu lado.
Dependem do poder de uma imaginao alm fronteiras, sempre positiva.
O que se v aqui est na outra margem do rio.
Quando os ventos sopram contra, a gente tem de rapidamente visualizar nossos grandes momentos e, ao simples olhar na sua antiga textura de paz infinita, ter foras pra agentar o inconseqente repuxo dos mal intencionados.
Uma vez , mais uma e outras mais, se precisar .
Com f ( Deus seja louvado) , um pouco ou tudo de ruim desta m hora haver de ficar para trs.
Porque depois da tempestade, sempre vem a bonana , dizem os sbios e os navegantes.
No prenncio - onde sinos j tocam avisando - de brisas favorveis e permanentes que certamente havero de nos dar o grande poder , tanto mgico como natural, de enfrentar (e vencer) os desafios incertos do futuro.

Abraos a todos.
Flavio Pinto


50928

Por Flavio Pinto - 8/10/2009 10:00:49
DE ME E COQUETIS

Numa velha infncia de menino do interior, o que menos preocupava era a modernidade.
O fogo - ainda e sempre - de lenha.
Logo chegou o a gs, seus botijes e as lendrias perdas de lugar e conforto de todos os gatos domsticos.
Sarava Seu Pedro Montes Claros, pai de Sinval, Tuca, Bem, Z, Santinho, Taene e D Meu F.
De lendrias e sempre lembradas histrias.
Tinha que se manter o fogo sempre aceso, para a serpentina esquentar, proporcionando inesquecveis banhos e a fumaa - eterna e continuamente - sair das chamins, por onde, no fim de ano, Papai Noel desceria com mgica agilidade e , com certeza, ao ler nossas cartas , encheria de presentes nossas meias dependuradas e de alegria nossas quase inocentes almas.
No rdio - sempre ligado na sala os adultos ouviam noite lacrimosas novelas (sempre repetidas tarde) e a hora e vez dos meninos (e grandes,tambm) era na hora da janta, com as incrveis aventuras de Jernimo, o heri do serto e seu fiel companheiro, Moleque Saci.
Sempre achamos que a me de Jernimo ( Filho de Maria, homem nasceu... como na letra da msica-trilha original) chamava-se Maria Homem.
A vrgula sempre fez a diferena - desde aquele tempo - mas s descobrimos anos mais tarde.
A primeira geladeira l de casa foi uma Kelvinator, americana, acho.
Funciona at hoje , embora reduzida a quase uma s funo : manter cervejas geladas .No grau certo, ainda, diga-se.
Ramos escondidos da palavra foods escrita nas gavetas de verduras. Parecia um palavro e ramos proibidos de repetir.
Fabricamos meus irmos estavam tambm nessa empreitada picols de leite (o mais fcil de fazer, s leite e acar) e vendamos para a meninada, por um tero do preo cobrado nas sorveterias.
Foi um tempo bom, com lucros certos e divididos. At o dia em que resolvemos inovar demais e fizemos vrias forminhas de picol de limo.
Esquecemos do acar e acredito que tenha sido este detalhe o incio do declnio e posterior fechamento da fbrica de picols mais famosa da rua Lafet 11.
A outro aparelho moderno apareceu. O liquidificador.
Walita, a nica marca.
O primo longe quase em extino desta porcaria que vendem hoje aos incautos (sou um deles, infelizmente): a tal de centrfuga.
Deve ter alguma coisa errada com este produto.
J repararam?
Pelos shoppings e internet da vida- atualmente - est anunciado por um tero do preo original, com a indefectvel presena de um velho atleta americano de oitenta e tantos anos ( que ningum ouviu falar) arrotando sade e - bem despretensiosamente - ajudando a vender .
Besta do jeito que sou, comprei esta fria antieconmica, devastadora e gastadora de alimentos.
As massas, as polpas vo tudo para a lixeira e s sobra um dedinho de suco pra voc tomar.
Sem falar da sujeira que fica e entope as pias, a pacincia nostra e das empregadas.
Pra finalizar, j est no box da garagem, enfeitando retalhos de azulejos e latas velhas de tintas usadas.
Mas, como eu ia dizendo... chegou o liquidificador em Montes Claros.
E as mes enchiam a garotada de um novssimo suco liquefeito que , nos primrdios entusisticos da grande novidade, chamou-se coquetel.
Sabiamente, mais tarde, em Montes Claros, tornando-se chique, cocktail assumiu sua verdadeira identidade, estrangeirada mistura de bebidas finas e ttulo da famosa coluna social do grande e saudoso Larcio Vitaliano Pimenta, mais conhecido como Lazinho Pimenta, meu eterno colega de JMC.
ada a moda, denominou-se vulgarmente vitamina ( e assim que o chamam at hoje, no interior e tambm nas capitais, se querem saber de cultura intil).
Todo dia, toda hora, l vinha a vitamina.
Uma festa em todos os lares montesclarenses.
De tudo o quanto havia na dispensa.
Beterraba com cenoura ( argh, ficava vermelha) , tomate,banana, umbu ( sete por um mil ris) tudo era misturado e empurrado goela abaixo na gente.
Mas - com muito amor e carinho de me - era at gostoso.
L em casa, s foi usado o copo de alumnio, dos dois que acompanhava o kit original..
O outro o de vidro - para no quebrar, mame guardou, bem guardado, em lugar inalcanvel e no sabido, que at nos fez esquecer que existia outro.
E , nesse tempo todo, sempre usou-se o de alumnio , que resistiu anos, amassado, batido, mordido de cachorro, perdido e achado uma dezena de vezes.
Quando mame partiu no incio deste sculo ( que Deus a tenha), uma tia remexeu nas coisas dela num guarda-roupas antigo e achou o copo de vidro..
Ainda enrolado naquele papel branco e felpudo de fbrica e sem nenhum arranho.
Um choro s, l em casa.

Abraos a todos.
Flavio Pinto


50885

Por Flavio Pinto - 6/10/2009 09:15:54
PRAA IMORTAL

Bom comeo de dcada, aquele super quente ano de 1951.
Muita paz.
A guerra tinha acabado h seis anos e s os americanos ainda gastavam a munio que sobrou.
Na Coria, longe demais.
Entrvamos no mundo das letras e do conhecimento pela porta da frente: pr-primrio no Colgio Imaculada, com a mais gentil e sorridente professorinha do mundo : Irm Salete, que contava histrias de Aladim e Ali Bab e todos os ladres das mil e uma noites, debaixo da sombra dos ps de manga da chacrinha .
Ouvamos extasiados e conferamos em technicolor ( mais preto e branco, confesso) todas as inesquecveis aventuras aos domingos , no Cine So Luiz, com acrobticas peripcias de Douglas Fairbanks Jr. como Simbad, o Marujo e o rei das Carabas Errol Flynn , para ns e para sempre o Capito Blood( no nome e no sangue quente) .
E ainda tnhamos direito a dois captulos inditos dos Perigos de Nyoka, a frgil e bonita herona das Selvas.
Mas nada se comparava primeira lio de natao dada pelo kiplingliano Sabu para uma dezena de saudveis e irrequietos garotos , que mais tarde poderiam at se tornar verdadeiros campees, como Johnny Weissmuller, o Tarzan maior de todos, campeo olmpico dos 100 metros de crawl, ou Buster Crabbe , medalha de ouro nas Olmpiadas de Los Angeles e nas horas vagas o intergalctico Flash Gordon, paixo da lourssima Dale e inimigo nmero um do Imperador Ming.
A aprendizagem ficou para trs e logo ramos nadadores
Pois os regionais, estaduais e brasileiros, todos os campeonatos possveis e impossveis estavam l , nos esperando.
Seramos dedicados, decididos e ganhadores , como nossos dolos da imortal Praa de Esportes.
(Ousaram falar em derrub-la para ser ponto de nibus? Onde j se viu uma coisa dessas!)
Salve salve Luis Ortiga ( campeo daquela poca e mais campeo agora na defesa do respeito nossa querida cidade), os dos Anjos, Marco Antonio, Pedrinho e Jos Augusto, Jovlcio Maurcio, Gilberto e Lenidas Lafet ,Z Csar e Digenes Vasconcellos, Haroldo Filpi, Joo Abreu ( que de Jabuti ou a Galo com merecimento) e muitos outros que nos davam o melhor exemplo e fora para ar os tantos mil e uns metros dirios de treinamento , com tbuas ou sem elas.
S no valia subir nas raias .O gritos de Sabu e Seu Pimenta ecoavam nos ouvidos.
Com direito a suspenso.
Logo abrandada por dois grandes coraes .
No ano seguinte, em setembro, construram um piso de madeira na piscina.
Como se diz afetadamente, hoje em dia: um grande deck.
Por cima de toda a gua, para um mega baile.
A meninada aqutica se esbaldou de brincar, mergulhando por dentre os novos e misteriosos caminhos dos caibros e pranchas abaixo da linha dgua e do Equador.
Talvez procura de mil tesouros perdidos numa perdida Atlntida renascida em pleno Prado Oswaldo Cruz.
A festa era do algodo, que era a mais chique riqueza do norte e se comemorava com grande festa e eleio de uma rainha.
Meninos no foram.
Mas meu pai me contou que naquela madrugada Chico Alves morreu tragicamente e todos os presentes foram avisados na hora .
E foi um baixo-astral geral.

Abrao a todos.
Flavio Pinto


50171

Por Flavio Pinto - 16/9/2009 16:48:09
Olha s a boniteza (pura poesia de raiz)desta montagem, com fotografias antigas do acervo do Montes Claros.com. (e outra inditas) na bonita voz de Elcio Lucas, grande cantor e compositor deste norte querido, nosso amigo de sempre da msica e bons papos literrios.
Ele e o Grupo Razes arrasam, dando muita saudade..
En ant, Elcinho canta tambm numa crnica minha antiga ( com o mesmo nome. Est por a, arquivada) que tem a letra completa desta maravilhosa De trem pra Montes Claros , que faz a gente at voltar no tempo que j no volta mais.
Como diz Ucho , voc e os catops:
Ai meus companheiros !!

DE TREM PARA MONTES CLAROS
Flavio Pinto

Ontem noite, na Praa da Estao, foi dia de grande festa na cidade: comemorao da volta do Trem de Ferro para Montes Claros. Como antes, de e para Belo Horizonte com direito baldeao em Corinto, caso o cidado queira ir para Pirapora ou Diamantina, onde tambm fizeram muita festa. A velha estao de embarque foi reconstruda igualzinha original do sculo ado, apenas acrescentada, em seu interior, de alguma modernidade, necessria navegao frrea atual, disseram-me. Infelizmente, lamento dizer, aposentaram a Maria Fumaa (foi a nota triste da noite). No prdio reconstrudo: um moderno teatro para cem pessoas, um restaurante de comida mineira e um boteco com um balco de aroeira de cinco metros de comprimento (cheio de rolos de fumo em cima), que vende de tudo, desde farinha de Morro Alto, ando por feijo andu e carne de sol, at pequi congelado (de quando fora de poca) para turistas e locais. E pinga, nem precisa falar. Tem de todas. Desde a curraleira especial de 2 pratas o litro a aquelas de mais de cinqenta contos a garrafa. Para todos os gostos e bolso. Com um pequeno tablado no fundo para futuras cantorias. No houve discurso de polticos, apesar de alguma presso para tal (habilmente algum lhes sugeriu que fizessem apenas parte do vocal). Aceitaram, mesmo meio desafinados. Houve sim, um grande show, comandado por Eduardo Lima (Goiabo), que veio especialmente de BH, com transmisso direta da nossa 98 FM (montesclaros.diariomineiro.net), onde se apresentaram quase todos os cantadores da cidade, famosos ou no, cada um cantando uma msica sua ou do cancioneiro norte-mineiro. Apresentaram-se l: Nivaldo Maciel, Clarice e os filhos de Benedito Maciel com o Grupo de Serestas Joo Chaves, mais Tino Gomes, Cori Gonzaga, Elcio Lucas, Beto, Pato, Gabriel e Ian Guedes, Aramis, Boteco e Tilpas, Ewanyzinho Borges, Z Arlen, Marcelo Godoy, Bala Doce, Tico Lopes, e outros, cujos nomes no foram fornecidos reportagem, mas que tambm cantaram bem demais. Foi um show maravilhoso de muita emoo, principalmente no final, quando Eduardo Lima puxou a linda msica De Trem Pra Montes Claros, sendo acompanhado pelos artistas e todo o povo presente. E foi s bis at o sol raiar:

Essa estrada, leva e traz dor e alegria,
a primeira caminhada, a primeira companhia.
Vim do serto, l do meio da chapada.
Quanto tempo, quanta estrada, tanta curva perigosa.
muito fcil, todo arinho voa,
toda mata sei que boa, quando no tem alapo.
Tem nada no, caminhar por onde se a,
e ms que vem, eu vou de trem pra Montes Claros...
Tem nada no, caminhar por onde se a,
e ms que vem eu vou de trem pra Montes Claros...
E ms que vem eu vou de trem pra Montes Claros...


PS: Esta a notcia que eu gostaria de escrever um dia... Quem sabe?


36606

Por Flavio Pinto - 4/7/2008 09:22:01
SONHO

John Winston Lennon

Faz tanto tempo
Ser que foi num sonho?
Apenas um sonho?
Eu sei, sim eu sei
Parecia to real, parecia to real para mim

Dei uma volta pela rua
Entre as rvores quentes e sussurrantes
Pensei poder ouvir
Algum dizer o meu nome quando comeou a chover
Dois espritos danando to estranho

Sonhe, sonhe solto
Magia no ar, havia magia no ar?
Eu acredito, acredito sim
Mais no posso dizer
Que mais posso dizer ?

Em um rio de sons
Atravs do espelho girando, girando
Pensei poder sentir
A msica tocando minha alma,uma coisa quente, fria de repente
A dana do esprito se soltando
A msica do esprito estava acontecendo.

(Para o grande Pato, que sempre acreditou na grandeza deste sonho)

Abrao a todos.

Flavio Pinto


32801

Por Flavio Pinto - 5/3/2008 14:40:05
PARA UM AMIGO

Com o maior prazer, hoje, cedo este meu canto esquerdo de pgina, neste fenmeno universal que o Mural deste querido Moc.com.

Com tudo.

Quer queiram quer no, com rima ou sem rima, este grande Mural transportou-nos intimidade e conhecimento dos leitores de todo o globo terrestre ( montes-clarenses, claro.Os de outras cidades que ainda no o descobriram, infelizmente, no sabem o que esto perdendo), levando nossa palavra de sertanejo simples, de corao aberto, para onde at no se sabe onde.

Aqui se fala certo do que est certo ou errado e, tambm, se escreve errado, quando necessrio, para dizer o certo, pois Deus mesmo j nos deu o exemplo falando certo por linhas tortas, desde que o mundo mundo.

Isso, todo mundo sabe e ningum contesta.

(Ento, larga de nis, gente!).

Por tudo isso e muito mais, eis a o belssimo texto de Murilo Maciel, honrando a famlia e as nossas razes.

Se o leitor quiser, para ficar ainda mais gostoso de ler, ouvir junto (no link das msicas de M. Claros tem) o aboio de Nivaldo Maciel (pai de Murilo) com Beto de Oliveira.

Se estiver chovendo, ento...

Abraos e uma boa leitura para todos.

Flavio Pinto

_______________________________________________

SAUDADES DE TROPEIROS
(autoria) Murilo Maciel Maro-2008

Permitam-me.
Hoje, amanheci com saudade das pessoas, da famlia, dos amigos, daqueles de quem gostamos.
Senti falta das cavalgadas, das risadas, das confidncias, do cheiro do suor dos cavalos, do corpo cansado.
Pela manh o tempo esta mais para carrancudo, fechado, com prenncio de chuva, ainda bem.
Ontem no Buriti, na porta de casa, ou uma boiada tangida, fazia 6 pousos e ainda faltavam mais 2 para chegar a Canto do Engenho, seu destino final. O Jos Pereira, parecendo o dono da boiada, montado num cavalo castanho, do meio, perguntou pelo Nivaldo Maciel e falou da falta de seu aboio naquele momento. Ligeiro seguiu viagem, que no podia atrasar.
Me deu inveja e uma vontade danada de acompanh-los, no coice ou na guia, tomando poeira, sentindo o cheiro do estrume do gado e ouvindo o mugido das vacas cheirando os bezerros, misturado com o rouco gritar dos vaqueiros e o galope dos cavalos ataiando e tocando a boiada. Dormir ao relento, contando estrelas, ouvindo causos, caf no bule, na beira da fogueira, aquecendo corpo e alma. Arroz tropeiro com carne seca, pimenta verde e uma boa pinguinha.
Mais tarde a chuva chegou fazendo barulho no serrado, molhando os pequizeiros, cagaiteras e pananzeiros.
Deve ter sido bem recebida pelos vaqueiros, com a graa de Deus, que j estavam adiantados na viagem, molhando a roupa surrada e aguando a esperana.
Fiquei pensando naquele quadro, antigo para os dias de hoje mas verdadeiro de uma poca ada.
Quantos dos nossos j foram tropeiros. Levaram e trouxeram mercadorias no lombo do burro, nas bruacas e cangalhas, superando as dificuldades que se impunham, pelas longas distancias e falta de recursos.
Criaram riquezas e construram uma cultura, alicerce de nosso edifcio social .
Foram bandeirantes, aventureiros, desbravadores, comerciantes.
Viveram a natureza rude, curtiram o sol do serto, aram por temporais, adormeceram ao relento e criaram trilhas para muitos arem.
Foram personagens atuantes e importantes da histria e com mos calosas a moldaram.
Os nossos tropeiros guardam a memria de uma poca e muitos ainda esto por aqui. So heris, pouco reconhecidos, de um tempo no muito distante, com muitas histrias vividas para contar.
Basta escutar.


32375

Por Flavio Pinto - 27/2/2008 09:48:59
UMA CERTA SANDLIA


Mais uma vez ,Virgnia, parabns. Pela preciso e objetividade.

Depois da mensagem do Jnior ( que deveria ter colocado na mensagem seu nome todo e ainda h tempo- j que fica difcil saber quem ele seja por esta denominao genrica que usou. Para agradecimentos , se for esta a verdade), realmente, causa estranheza ter havido tanto no-me-toques e pesar pela possvel destruio da obra de Konstantin, quando seriam at chamados os filhos do escultor para acompanhamento, para seguirem o a o a planta original feita pelo autor.

E ainda que ( e tambm ), tudo isso seria por uma causa maior, o bem pblico, etc, etc. e estas coisas filosfico-altaneiras que so sempre lembradas nestas horas de aperto.

Para qu estas aveludadas declaraes imprensa, se j se sabia que a obra no era a original?

Porque esconder um fato que no era culpa era desta istrao e no iria atrapalhar em nada de nada?

Se era rplica, picareta nela.

Eu mesmo no teria escrito nada, perdido meu tempo, porque de picaretas nesta vida, ns, brasileiros, j andamos cheios.

E h muito mais que trezentos por a, a cada dia vai se vendo.

Tem algum l no Cu dizendo: Viva ns...


Abraos a todos.

Flavio Pinto


Ps: Esto faltando duas declaraes. A bem da verdade. Oficiais. Do tal departamento Randall e do ex-prefeito, Deputado Tadeu Leite.


31878

Por Flavio Pinto - 13/2/2008 13:41:47
VAMOS COM CALMA, MOADA


A gente vai vivendo, a algum tempo nos bancos escolares e recebe dois tipos de informaes.

Algumas , vindas de grandes mestres e mestras, que duram para sempre.

E outras - aceitas quase sempre pelo corre-corre do dia a dia na labuta pela rdua batalha da sobrevivncia - que se misturam a mais um tanto de inutilidades ageiras aparecidas montadas nas modernidades galopantes que, via de regra, tm que se logo digerir para no se parar no tempo.

Umas trouxeram o bem, e outras, infelizmente carregam nas entranhas o vrus do mal, que o parente mais prximo do vrus do caos.

Nenhum vindo da ciberntica ou eletrnica, porque dessas mquinas a gente sabe o que se espera, desde que se saiba apertar o boto certo. (Nem tanto, de vez em quando)

Saber isto, para quem quer saber alguma coisa a mais e no rejeita o progresso (do bem, diga-se), a tarefa no to difcil.

Se der errado h sempre a chance de puxar a tomada.
E no h nada contra uma tomada desligada inclusive a da pilha - que possa fazer um computador.

Mas, os homens com o vrus do caos no se pode desligar. Ou ser que pode?

Pelo amor de Deus, gente, vero ?
Desmanchar a obra de Konstantin ?
Mandar outra pessoas recri-la em outro lugar, com base em croqui ?

E a dele na obra?
Vo col-la com argamassa na obra nova ?
Vo cham-lo para de novo, numa rplica que ele nem botou as mos ?

Gente, o nome dele Konstantin Kristoff.
Merece muito mais que o nosso respeito.

Estou custando a acreditar.


Abraos a todos

Flavio Pinto

Ps: Jota, tenho certeza que seu corao no est nessa.



31308

Por Flavio Pinto - 26/1/2008 13:12:05
GUA

Hoje, acima da minha habitual ocupao de espao neste Mural, onde me orgulho de ser um permanente convidado a emitir opinies, sugestes, ou desvendar sonhos do absoluto infinito e traz-los realidade, ou vice versa, por que o real talvez seja mais irreal que a prpria realidade , eu venho to somente pedir, implorar at , se for preciso , por uma ao conjunta, de corao, do povo montes-clarense :

Vamos ajudar, gente, agora mesmo, o povo de Mato Verde, o seu nobre cidado Marcelo e o coronel do exrcito que est ajudando a cidade.(Leiam as mensagens no Mural, por favor)

Gente boa igual a estes dois e a gente desta cidade no podem ficar numa situao igual a esta, dependendo de um ms a mais ou menos para pagar um carro-pipa que vai matar a sede dos moradores.

Jesus mesmo disse: da gua a quem tem sede.

Tomo mundo sabe disso, tanto que ningum nega um copo dgua a quem pede na sua casa.

E Montes Claros a nossa casa.

Talvez, tambm, Ele esteja de olho e seja a senha secreta pra mandar So Pedro abrir as torneiras neste norte seco, no ano de 2008..

No s neste, mas em todo o ano daqui pra frente at o fim dos dias.

Quem sabe uma conta num Banco?

Pode ser no Banco do Brasil eu trabalhei l e sei da seriedade existente mas em qualquer outro, acredito, ser a mesma coisa.

Dinheiro que seria reado ao Coronel e ao povo de Mato Verde. Que agradeceria ao Marcelo, seu bom filho.

Onde esto os ricos que gostam de doar?
s um pouquinho e no vai fazer falta.

Sou pobre graas a Deus, no de esprito - no posso falar pelos outros, mas meu nome estar entre os primeiros a enviar a doao.

Prometo.

Abrao para todos.

Flavio Pinto


Ps: Sei que muitos vo dizer que h outras prioridades, que outros precisam mais, que j pagam impostos demais, que a responsabilidade do governo, etc.e e etc.
Tudo bem, s sei que se abrir a conta eu mando a grana. Feliz.


31128

Por Flavio Pinto - 21/1/2008 17:35:26
FELIZES LEMBRANAS


Eu no sei onde mora a felicidade.
Se soubesse, eu estaria na frente da casa dela, agora, batendo freneticamente na porta e j teria ah! Isso teria! - com o maior prazer, avisado pra muita gente ir se encontrar comigo l.
Confesso que, at para uma meia dzia de alguns poucos, quase um tantin assim destamanin- por alguma lgrima que saiu e j se perdeu na poeira graas a Deus eu daria errado o nmero da casa.
Mas, enquanto isso, vou fazendo o que posso e, pelo menos, posso compartilhar alegria, orgulho e emoo com meus concidados, aqui e agora.
Causas e efeitos de um velho e maravilhoso livro, que reli h pouco.
Para dizer como Montes Claros era, e como os polticos faziam poltica para melhorar a vida do povo. Com muita classe.
E o povo reconhecia isso.
Quem sabe voc, poltico da atualidade, seja o novo, o mais ou menos ou o velho, h de se mirar neste exemplo?
Ainda h tempo.
______________________________
Nas palavras do grande Nelson Vianna, um fato acontecido h oitenta e um anos ados:


Veio afinal o dia mximo de Montes Claros: o primeiro de setembro de 1926.

Na chegada do comboio, a cidade conheceu os primeiros cordes de isolamento, para que pudessem desembarcar o ministro e sua comitiva.
noite, realiza-se o grande banquete no vasto armazm, ento ainda inacabado. Ouve-se a esplndida banda de msica. o ministro que chega com a sua comitiva. Acercam-se os convidados. Assentam-se. A mesa, magnificamente ornamentada, deslumbra.
Quando Francisco S se levanta para falar, corre um frisson pela assistncia em ansiosa expectativa.
- Existem prazeres na vida que, de to intensos, costumam ser dolorosos....
Em palavras transbordantes de carinho, faz a descrio da chegada a Montes Claros, do momento preciso em que, ainda de longe, se avista a pequenina igreja do alto dos Morrinhos ... a capelinha branca, atalaia avanada dos povoados cristos, produzindo um verdadeiro xtase para os ouvintes que parecem ter perdido de vez a respirao.
Penetra em seguida no objetivo principal do discurso, estampando o promissor futuro que est reservado ao seu ao nosso querido Norte de Minas.
Percebemos ento que aquele gigante da palavra a fonte de misteriosa emotividade comunicativa que domina por completa a assistncia.
Estamos todos como que fascinados pela palavra fcil e arrebatadora do maior tribuno que at ento havamos ouvido e que arroja agora, sobre ns, um maravilhoso fogo de barragem em rajadas de eloqncia, tecido de imagens to belas que nos deixam arrasados de emoo.
Em meio aquele grande encantamento, porm, qualquer motivo estranho chama a nossa ateno. Voltamo-nos para o culto baiano Urbino Vianna, autor da bela Monografia de Montes Claros - e vemos, espantados, que as lgrimas lhe descem em torrentes pelas faces. E ele, embaraado, a enxug-las, procura desculpar-se:

- Perdoem-me, meus amigos, mas vocs precisam compreender... Eu nunca ouvi nada mais lindo, em toda a minha vida... Eu no agento, eu no o isso...
E, com a sua conhecida falta de costumes, levantando o brao em plena mesa do banquete e apontando em direo ao ministro, tem uma nica frase que s ss, os seus amigos, saberamos interpretar:
- Aquele homem um monstro...
Preso de violenta emoo, nada mais pde dizer.
E procurava enxugar as lgrimas que pareciam cair mais e mais...

(texto extrado do livro Foiceiros e Vaqueiros)

Abraos a todos.


Flavio Pinto


30734

Por Flavio Pinto - 9/1/2008 10:18:45
DOIS MIL E OITO NA MIRA

Quando no se quer uma vez...

Sequer uma vez mais ser necessrio, se no se quiser mais do que esta nica vez...

S pra dizer aos queridos concidados eleitores.

(A frmula antiga, a gente que anda meio esquecida dela)

Se quiserem expulsar de vez a violncia, o crime, a insegurana, a falta de dinheiro e talvez at a maldade alheia - para no falarmos de mil e outras coisas ruins mais e gastarmos todo o nosso espao - existe a possibilidade de um simples remdio para se aplicar - a curto ou mdio prazo e obtermos excelentes resultados.

Que podero ser at mesmo incrveis.

Um curto e grosso no nas urnas a todos que simplesmente achamos e desconfiamos que:

- j provaram no ser dos mais honestos. Nem dos menos. E ningum mais ou menos honesto;

- eram pobres, ficaram ricos rpido demais, sem serem to competentes assim;

- eram ricos e ficaram mais ricos, idem;

- no ficam com raiva e vermelhos quando lhe dizem que roubam, ibidem;


Este no para isso: no votar em quem se acha (ou se tem certeza) que no merece.

Isso cada um sabe, mesmo quem no entendeu nada at agora e a vida vai ando.

Se Deus quiser.

E vai querer.

Mesmo por que, Deus, sempre ocupado demais pelo conturbado universo total, no agenta mais s pedido de mais chuva, menos sol e muito dinheiro no bolso, todo ano.

Quem sabe Ele esteja at deixando pra ns, humildes mortais, acabar de vez com esta repetitiva tragdia geral.


Ave Maria.

Abrao a todos.

Flavio Pinto


30518

Por Flavio Pinto - 31/12/2007 11:54:07
LTIMA NOITE


Na ltima noite do ano, a mesma madrugada de sempre, na cidade.

Num tempo que todos os gatos ainda eram pardos. De noite.

A chuva era leve, mas j tinha sido pesada durante o dia.

Sempre um barulho de misteriosas pisadas na calada - bem atrs - a perseguir as vivalmas da rua, bomios amadores e ocasionais, cansados de tanto gole e festa, querendo apenas chegar em casa, deitar, dormir e sonhar com todas as venturas adas.

Na rua, rangendo pneus, a bela caminhonete, verde musgo.

Amigo, de longa data, dirigindo, alegro, ma non troppo.

Carona para apenas mais um quarteiro que faltava.

Melhor que no, falta pouco, diplomacia de velhos amigos que continuaro sempre assim.

Uma acelerada a mais, em fingida chateao pela perda de uma possvel saideira que, certamente, se transformaria em mais um desabafo daquele traioeiro amor que acabara de lhe machucar o corao, eis que a caminhonete sai do prumo e roa um poste de luz ( inadequadamente colocado no eio, na viso dos presentes ) , tirando-lhe maisculas raspas de cimento que duraram at o e e ree das vassouras das varredeiras, ao nascer do sol.

Estas tagarelavam sem parar, mergulhadas na sua prpria vida, noutro distante lugar dali.

Funcionrias pblicas e indiferentes agem das senhoras de preto, descendo lentamente a rua em direo igreja.

Queridas beatas, oficiais e de direito, eternamente inconsolveis, dedicadas agora somente contrio, o amor famlia, religio, amizade com os padres, comissrios de Deus, espera do ltimo check-in para a derradeira viagem s maravilhas do grande paraso prometido.

Que assim seja. E orai por ns.

No outro dia, o telefone, a me, o pai, um aviso te interrompe os sonhos.

O Rio Vieira, ali mesmo porta, cheio, a gua cor de chocolate ando por cima da ponte de Simeo.

A caminhonete do amigo, mergulhada, de frente.

Mal d pra ver a placa na carroceria.

Na preocupao geral, ele, todo molhado, sentado no barranco, d um lnguido olhar para a placa que j l ia acabando de sumir na gua, grita pros amigos:

- Aprendi a nadar foi na Praa com Z Sabu, gente!

E dali, pura alegria, samos pra rebater.



Um abrao e feliz ano novo para todos.


Flavio Pinto


30375

Por Flavio Pinto - 25/12/2007 22:25:52
CARAVELAS PARTE


Depois de um de um quase perfeito relax interior , para consideraes e reparos que s um descanso total fsico ou mental, tanto quanto possvel - pode alcanar , estamos a , de volta ao nosso lugar, neste Mural, finalmente.

O meu obrigado aos poucos (e fiis) leitores que tiveram o carinho de se preocupar e perguntaram pela ausncia. Para eles que volto. E para minha alegria, tambm. Com o maior prazer.

Neste nterim, fico sabendo que no conheci um especial leitor ( na palavra amiga de P.Narciso: seu maior f, Flavo. Se comeava a demorar coisa sua no Mural, ele me parava na rua e sempre perguntava porqu} . E a tristeza me pega mais ainda, ao saber que era filho de um grande amigo de toda uma vida, Rey Souto, mestre das letras e da alegria contagiante. Era o prprio rei, esculpido em Carrara, finalizou Paulinho.

Mas, voltando ao recesso, talvez procura de onde o complexo e enigmtico se escondem - certamente bem alm do que se pode enxergar - posto que o bvio nem mais ululante assim, ensaiou-se por este velho escrevinhador um pretenso retiro espiritual s foras ocultas das naturais agruras ( ou sobrenaturais, quem sabe?) da vida..

Talvez pelos caminhos entremeados de espinhos e pinguelas de aroeira redonda, cheia de lodo, sempre a sombrear essa mania ou arte primeira ( ainda no sei), que plantar e colher as prprias idias - das menos significativas s mais puras e belas, incultas, talvez, no jardim particular dos sentimentos - e tentar junt-las s letras e palavras que voam e revoam, mgicas, ao nosso redor, como se fossem oferecidas e desajeitadas mariposas de ps chuva revoando at morrer nas brilhantes luzes amarelas dos postes de rua.

Esta sim, caro amigo, a verdadeira a alegria do mais humilde poeta , apenas um arteso da sorte no corte e palavra da nossa linda lngua ptria.

(Desculpem-me, mas, de repente, no meio de tudo, sem qu nem porqu, as lembranas me levaram aos velhos postes de luz da Coronel Prates . Esqueci o nome da bonita e nova mercearia de secos e molhados ! Se algum quiser me dizer...)

Salve, salve, ento, casa santa, porque esta a volta deste ex-moo, revigorado e mais firme do que nunca - mais para quase, confesso - que nem prego no angu, como bem diria nas areias piraporenses o saudoso mestre de sete estrelas, Gilberto Ster, num quentinho canto qualquer de areia na beirada do velho Chico.

E que, antes queu me esquea, senhores e senhoras do bem acima do mal: at nosso glorioso e altaneiro rio , os homens do mal , abaixo do bem - sem f e sem razes - esto resolvendo avacalhar.

E, claro , nunca conseguiro, se Deus quiser , pois o povo est de olho nestes jures e seus juracis puxa-sacos.

E tomem cuidado, juras, pois estamos na viglia, dia e noite, noite e dia..

Enfim, por andanas daqum e dalm mar, em prazerosos bordejos pelas vilas, cidades, negras florestas e medievais terras tedescas, altas e baixas, ouvindo no rdio, sempre ao lado ,Godoy , Yasmin e suas Tihaias, a deslumbrante glia, qui catal, onde logo primeira vista se gosta de tudo e de todos e se observa ( tirando-se o chapu ) o respeito aos mais velhos, amigos e inimigos de guerras - que no foram poucas e deixaram marcas ainda a superar - amor arte, tradio do que se fez bem e o carinho no que hoje se faz, bem tambm, para durar e perdurar no sempre da histria , porque s assim se consegue sobreviver aos piores males , bombas, canhes e epidemias sem cura deste mundo doido, sem fim.

E mais do que tudo isso, conseguir dobrar os sculos eternizando a solidez e sustentao ao nosso mundo contemporneo, para dias de luz e festa do sol que todos queremos viver em perene tempo de paz, apesar das ameaas, do desrespeito e violncia nossa f e vontade de apenas querermos ser felizes. Com bossa.

Chega de saudade.

Abrao para todos.


Flavio Pinto

Nota - (para no montes-clarenses) jures, juraci, jura : otrio


24398

Por Flavio Pinto - 6/6/2007 14:45:33
FIRMANDO A GUICHA


Muito mais que tudo, sinto - com o corao partido - ver nossa querida terra de muitas lguas e adjacncias, distanciar-se da eterna e modesta sabedoria do bem viver, deixando viver.

A velha mxima, natural - ddiva sagrada de magnficos ancestrais - de dar chances e nuances a quem no as possui, de bero, nascimento, f e orgulho, fincada com simplicidade no decorrer de todos os 300 anos ou mais, das vilas e cidades adas e contadas, esvai-se de repente, como uma luz de vela ao sopro de um vento devastador.

Sopro traioeiro, da discrdia e dios remodos.

Onde nos levar?

Talvez seja a pergunta.

Caboclos bons de tudo, de enxada, tiro e gole, sobreviveram muito bem por aqui, neste norte de sol - sempre muito sol a norte de um sul bem longe suados, saudveis e sados do nada, e construram a harmonia perfeita de uma perene paz, mesmo que se fosse, ou parecesse, um tempo de plvora , chumbo e bala.

Vamos nos lembrar deles com carinho, firmar a guicha e construir o futuro.

Abraos a todos

Flavio Pinto


23070

Por Flavio Pinto - 21/4/2007 09:08:44
PIZZA NO CU


Meus irmos, o Limbo acabou em pizza, tambm.

Graas a Deus.E aos telogos do Vaticano, estes homens de to boa-vontade da Comisso Teolgica Internacional da Igreja.

Esta prtica comum, que a gente pensava s existir nos pases mais tropicais alm ou abaixo do Equador, acabou de alcanar alturas antes inimaginveis e chegou at aos aprazveis balnerios e verdes colinas do den.

Onde fica o divino, maravilhoso, como se extasiou Caetano, um dia.

L, aonde se acredita, somente os bons de corao chegaro se forem bons at o ltimo segundo antes da ltima viagem. Precisamente, na hora de se fazer a derradeira confisso, que perdoar algum (ou todo) mal esquecido pelas pinguelas afora das espinhentas quebradas da vida.

Desde os tempos de catecismo, sobrevivendo at uma agem de sculo como l se vo, longe, as lembranas dos sacros ensinamentos dirios - onde se aprendia quo rduos eram os caminhos que se nos levam ao Paraso, bem alm das fronteiras da mais longnqua serra antes do cu azul.

Liberdade, ainda que tardia, como diria um bom conterrneo inconfidente destas misteriosas minas gerais, queles inocentes que morreram antes do batismo, ou aqueles outros, pseudo-brbaros dos tempos antigos que, barbaramente, no puderam conhecer quem lhes ministraria o eu te batizo em nome do Pai, e assim, por descuido, falta de tempo, desconhecimento ou por simplesmente estarem no lugar quase errado na hora incerta, no puderam fazer parte, injustamente, do seleto grupo de oficiais aspirantes ao reino da felicidade eterna.

E , acaba da, que ganhamos ns, aqui embaixo, humildes viventes , um tanto crentes, um tanto descrentes.

Porque , agora, certamente, teremos mais e mais celestiais ajudantes cheios de vibrao ( face inrcia de milhes de anos ao calmo e doce dulce far niente do ex-Limbo, lgico), vontade de trabalhar e olhar o prximo , ajudando a nos livrar desta violncia e maldade do dia a dia - cada vez aumentando mais - onde somente um anjo da guarda, convenhamos, j no estava mais dando conta do recado.

Principalmente aqui no Brasil, nunca se precisou tanto de um estepe de anjo da guarda.

Amm.


Beno para todos.

Dom Flavio Pinto


22180

Por Flavio Pinto - 21/3/2007 07:41:35
VI A OBRA E CHOREI , VIRGNIA


Lgrimas de um ex-tocador de tarol de uma banda que acompanhou um desfile das alunas do Imaculada.

Externas e internas abrindo a parada.

No apito de D.Lgia Dias.

Boinas e golas de marinheiro.

Dia da Ptria. De paz.

Bandeiras tremulando no Diocesano, no meio da Avenida.

Ali mesmo. Coronel Prates.

Os dois Padres, Agostinho e Gustavo, em p, posio de sentido, pensando em Latim.

Talvez em Deus, talvez nas segundas pocas.

Da rapaziada do velho Colgio que no existe mais.

Poucas alunas em uniforme de gala.

Carminha, Layce e Rosemary.

Em seguida, Escola Normal e Instituto.

No final, o TG.

Oitenta e Sete.

Continncias.

O povo batia palmas e soltava foguetes.

Como festa de So Joo.

A Rua da Fbrica, que j tinha sido estrela e jatob, agradecia, feliz.

O tambor repicando , o pessoal marchando, marchando.

At parar.

Hora do footing. Paquera.

As boinas e os casquetes nas mos, os cabelos arrumados.

O sargento vigiando os atiradores.

As freiras de olho nas moas.

O tocador, no olhar de certa.

Olhar que atravessou toda a avenida e se perdeu no tempo.

Como os coraes.

E a cidade, cada dia mais na saudade.

Apenas uma ponta de futuro, em estoque.

Pra quem entrar na fila e pagar.

No sem pesar.




Abraos a todos.

Flavio Pinto


21763

Por Flavio Pinto - 8/3/2007 13:31:44
UM ESQUECIDO CENTNRIO (2)


Virginia , primeiramente, como bom t-la de volta aqui no Mural.
As palmeiras se foram, mas os sabis ficaram. Graas a Deus.

E aqui estamos ns, novamente, dizendo coisas que os novomontesclarenses (existe este termo ? Se no, a a existir agora) teimam em querer fazer-nos esquecer.

Velhos sobrados, arborizadas avenidas, rico folclore, lembrana de grandes nomes e fatos do ado, para qu? Qual o lucro disso?

Sempre dizem, achando que bolso recheado compensa pobreza de esprito.

Talvez para tentarem se incluir, miseravelmente, como pseudo-arautos de um mundo novo, tentando fazer uma nova histria, falta de conhecimento desta prpria e maravilhosa existente, to rica quanto o maior dos tesouros que se pode querer neste mundo.

Mas... Deixa pra l!

Voc citou o livro de seu pai Montes Claros,Sua Histria, Sua Gente e Seus Costumes para outros detalhes sobre o assunto, mas eu gostaria de ir mais alm.

Como talvez haja algumas pessoas que no tm a felicidade de possuir este tesouro que o livro do Dr.Hermes, transcreveremos dois textos dele sobre os episdios de 1832 e 1857, bem registrados s pginas 18 e 21.
E assim, outros conterrneos podero fazer, tambm, sua anlise sobre os acontecimentos histricos e participarem aqui com a gente. Sero todos bem-vindos.


1) UM DIA DE FESTAS PARA NOSSOS ANTEADOS

16 de outubro de 1832.
s 4 horas da madrugada um salva de 21 tiros saudou a populao.
O sino dobrou em repiques. Mais cedo do que de costume o largo da igreja (hoje Praa Dr.Chaves) foi se povoando de fisionomias alegres, esperando o grande momento a posse da primeira Cmara Municipal.
que pela lei de 13-10-1831 o arraial de Nossa Senhora da Conceio e So Jos fora elevado a vila Vila de Montes Claros de Formigas.
A eleio j se realizara, no havendo mortos nem feridos na apurao.E havia chegado o grande dia da posse, da emancipao poltica e istrativa.
- Agora sim, somos senhores de nossos narizes disse o Pe.Ambrsio Caldeira Brant, ao ar para celebrar a missa, em que seria assistida pela Cmara eleita, pelas autoridades e pelo povo em geral, em ao de graas.
Aps a missa, realizou-se a sesso solene. A casinha da Cmara no cabia um tero dos que desejavam entrar; o aperto era medonho; ningum ava, mas... repentinamente surgiu entre o povo a figura venervel do Cel.Jos Pinheiro Neves. Todos os olhares acompanham-no com irao, respeito e...(por que no dizer?) uma pontinha de inveja era ele o grande chefe, o presidente eleito, o primeiro presidente da vila...
Vinha frente de outros cidados tambm sisudos. Os Vereadores.
Entraram na sala principal o Pao Municipal e se dispam em torno de uma grande mesa. O silncio se fez profundo. Pe. Ambrsio entregou ao Cel.Pinheiro os Santos Evangelhos ; ste com a dextra espalmada sobre o livro sagrado, falou de cor, comadamente o juramento de cumprir o seu dever, colocando o bem coletivo acima do particular... Sendo acompanhado em voz alta por todos os vereadores.
Em seguida fez Pinheiro Neves um pequeno discurso, expondo seu plano de governo.
O vereador Mouro, vice-presidente e adversrio poltico do presidente, falou tambm em nome da minoria. Seguiram-se vrios assuntos.
Foi escrita e assinada a ata. Terminada a parte cerimoniosa, serviram-se aos presentes bebidas em profuso. noite, todas as casas da vila se iluminaram, terminando o dia com um animadssimo baile na residncia do Cel. Pinheiro Neves, situada onde est hoje o Palcio Episcopal.

2) CIDADE

A 3 de julho de 1857 pela lei n 802 a vila de Formigas foi elevada categoria de cidade cidade de Montes Claros.
No encontramos registrado, em nossas buscas, nada que demonstrasse o regozijo da populao pelo acontecimento. Nada de oficial, a no ser o texto da lei ; mesmo a tradio oral pouco transmitiu at nossos dias. Sabe-se apenas que a Banda Euterpe Montesclarense, fundada no ano anterior, saiu rua pela primeira vez no dia em que se festejou o fato.
Poucos benefcios a transio nos trouxe, pois a nossa vila j desfrutava prticamente de todas as regalias de cidade era independente em poltica e istrao ; era cabea de Comarca, com Juiz de Direito e Municipal; possua Cartrios, etc.,etc. Da o fato ter se apagado to rpidamente da memria dos montesclarenses.
A mudana do nome para Montes Claros veio ao encontro de uma velha aspirao dos formiguenses, conforme se l no livro de atas das sesses da Cmara em 26-7-1844:
O Sr. Presidente props que existindo duas vilas do mesmo nome de Formigas nesta Provncia e resulta muitos ofcios e papis se desviarem, por isto era conveniente que se dirigisse Assemblia Provincial por intermdio do Governo para mudar-se o nome de Formigas para Vila de Montes Claros.
No deixou, portanto, de trazer certa satisfao a transio de vila para cidade.


Abraos a todos.


Flavio Pinto


21696

Por Flavio Pinto - 6/3/2007 12:02:07

UM ESQUECIDO CENTENRIO



Sobre as comemoraes do Centenrio de Montes Claros , de 1932, lembrado - com muita propriedade e conhecimento da nossa histria - pelo sr.Gildsio, na mensagem 21520 de 28/02/2007, eis aqui a minha modesta colaborao para um melhor entendimento desta verdade histrica , infelizmente, um tanto esquecida ( ou desconhecida, quem sabe ?) pelos nossos caros conterrneos.

Como bem diz o muralista, a cidade o comemorou ruidosamente, com dias de festa. Basta consultar nossos jornais, muito citados e poucos conhecidos, ultimamente.

que, por acaso, sendo sobrinho do Prefeito da poca , Orlando Ferreira Pinto, tenho guardado ( como relquia de famlia) estes jornais citados pelo Gildsio, dos quais gostaria de transcrever alguns fatos acontecidos e noticiados na poca, na Gazeta do Norte, edio de 15 de outubro de 1932..

Como muita coisa e neste espao muito especial deve-se ser breve, comearei hoje apenas transcrevendo o programa dos festejos, aps o anncio na Gazeta de feriado municipal o dia de amanh, por decreto do sr.dr.prefeito do municpio, ser considerado feriado municipal o dia em que ser comemorado o Centenrio da cidade.

O PROGRAMMA DAS FESTAS

O programma das solennidades de amanh, est organisado da seguinte frma:

5 horas Salva de 21 tiros. Alvorada pela banda de msica Euterpe Montesclarense;
10 horas missa campal na Cathedral em construco, celebrada pelo snr.Vigrio Geral da Diocese, com assistencia pontificial de S.Excia. Revma.D.Joo Antonio Pimenta;
11 horas Inaugurao do monumento ao sr.Francisco S discursando no acto S.Excia.Rvma.D.Joo Antonio Pimenta ;
1 hora da tarde Inaugurao do edifcio da Prefeitura Municipal. Benam do Prdio pelo Cnego Marcos Van In. Sesso solemne do Conselho Consultivo em que falar, abrindo a sesso, o Sr.Prefeito Municipal . Inaugurao dos retratos do snr.presidente dr.Olegrio Maciel e do snr.Prefeito dr.Orlando Ferreira Pinto. Offerecendo-os falaro os snrs : Conselheiro Cel.Joo Martins da Silva Maia e Dr. J.A. Pimenta de Carvalho;
3 horas da tarde Inaugurao do matadouro municipal.Benam do mesmo pelo Cnego Lucas Van In.
4 horas da tarde Auditorium na Escola Normal Official.
5 horas da tarde Parada pelos alumnos de todos os estabelecimentos de ensino da cidade, na Praa Dr.Chaves;
7 horas da noite Retreta pela Euterpe Montesclarense, na Praa Dr.Chaves;
8 horas da noite Solenne Te Deum na Cathedral com assistncia de S.Excia.Revma.Snr.Bispo Diocesano. Far a orao congratulatria o Revmo.Snr.Conego Marcos Van In, Vigrio Geral da Diocese;
10 horas da noite Recepo pelo Governo Municipal, na Prefeitura, sociedade de Montes Claros, a qual ser offerecido elegante baile.

Nota Todos os actos sero abrilhantados pela Banda de Musica Euterpe Montesclarense.

Caso o tempo no permitta a realisao da Missa Campal esta ser celebrada na actual Cathedral.


Abraos a todos

Flavio Pinto



20873

Por Flavio Pinto - 8/2/2007 11:39:16
CARONAS DOS POETAS


(sco, l da Itlia, comeou )

Onde, meu Deus, a pureza de minha terra, que canta dentro de mim.

"To longe, de mim distante,
onde ir, onde ir teu pensamento.

Quisera saber agora,
se esqueceste, se esqueceste o juramento.
Quem sabe se s constante, se ainda meu,
seu pensamento.
Minhalma toda devora, da saudade, agro tormento."


Ainda por Deus, acrescentem:

"Sei que Jesus no castiga
Um poeta que erra
Ns, os poetas, erramos
Porque rimamos, tambm
Os nossos olhos nos olhos
De algum que no vem"


Por Ele, finalmente:

"Amo-te muito como a onda a praia
A praia a onda que a vem beijar
Amo-te tanto como a branca prola
Ama as entranhas do infinito mar"

(Depois dos lindos versos de Quem Sabe?,de Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio e Serra da Boa Esperana, de Lamartine Babo, s me restou complementar com o melhor de um montes-clarense, que no preciso nem dizer o nome) .

Em tempos revoltos, com turbulncias no ar, na terra e no mar, o melhor colocar a poesia no corao.

Logo, logo, o errado some. Pela graa de Deus.

Abraos a todos.


Flavio Pinto


20374

Por Flavio Pinto - 26/1/2007 12:08:24
SONORAS QUEIXAS


E pensar que - at pouco tempo atrs - havia quem reclamasse do som de um velho eixo encontrando-se com um voltear sem fim da roda do carro de boi, atiado um pouco mais por uma soluo de leo de mamona pingando eficaz e homeopaticamente no mesmo lugar , aumentando o ranger que logo virava cantoria , subindo e descendo vagarosamente todas as ladeiras que encontrasse pela frente.

Subidas , descidas e vencidas, nas voltas e de novo nas idas, ruim para alguns ( de pouca pacincia), bons para outros, de boa vontade e de bem com a vida.

A queixa do som alto sempre existiu.

Dos arinhos que trinavam bonito nas gaiolas dos vizinhos.

Do canto dos galos mais machistas que acordavam cedo j pensando nelas. E elas (as galinhas) adoravam.

Dos gatos de rua apaixonados e seus bacanais noturnos, de escandalosas mordidas, frenticas unhadas e histricos miados.

Dos cachorros mal educados e seus latidos de todas as madrugadas, principalmente nas madrugadas de sextas e sbados, quando se, em sendo trabalhador, precisava-se dormir at mais tarde.

Mas tudo era natural e acabava se acostumando.

Hoje, em qualquer lugar que se vai este apocalipse sonoro nos acompanha.

At na praia, onde se pensa ir - aps um ano de sacrifcio atrs de um pouco de paz e quietude que o mar antigamente - nos oferecia, a invaso dos ritmos duvidosos - e sua licenciosa desarmonia - leva-nos a crer que somos meros estranhos nesta terra que j foi nossa.

Na mesma moeda, em alto e bom som.

Reclamem.


Abraos a todos.


Flavio Pinto



19921

Por Flavio Pinto - 11/1/2007 12:10:41
B ERRE UM TRS CINCO


Neste fim de ano de muita chuva que faz tudo ficar verde e bonito, rodeado da gente boa dessa terra boa que querem a todo custo transformar em ruim, eis me aqui de volta, meio feliz, meio encantado e energizado pela fora de dezenas de carnudos pequis degustados com o verdadeiro prazer de quem gosta.

De manh, de tarde e de noite, entrando at na parte que cabe a quem no muito chegado saborosa frutinha amarela. Que tanto pode ser fruto e bendito seja entre ns.

Graas a Deus, pois somos catrumanos mesmo, sem jeito de ser no mais do que isso, radicais e apaixonados. Desculpe-nos a repetio, mas o tanto quantificado mais ou menos quando se diz a algum sendo demais, ando das contas : a pode largar...

Mas e o meio qualquer coisa, dito acima, tanto da felicidade como da energia ?

A, ento, sou obrigado a dizer, embora relutantemente, caros conterrneos e amigos:

por conta da velha estrada para a capital, a outrora famosa b erre um trs cinco .

(Nem merece mais a denominao oficial, para mim)

Ou melhor, dos buracos dela, do dinheiro que gastaram para tap-los, que mais uma vez, embora a gente acreditasse pela ensima vez que desta vez ia dar certo, acabaram fazendo um reles e pobre servio. Porco, no mal sentido, pedindo desculpas ao animal pelo uso do nome.

Nosso ex-orgulho, duramente conseguido, no sangue e na raa dos nossos grandes e antigos polticos, que antes deles prprios, pensavam mais na sua gente.

Precisou at da ajuda das nossas mais lindas vozes e melodias, no p da orelha de um prprio Presidente da Repblica.

Tristemente, o que se v agora so pessoas inocentes pedindo moedas, por um servio no contratado que se desmancha aos primeiros pingos de chuva, pobres coitados - vtimas da desgovernana geral prometedora de parasos prximos - ousada e inadvertidamente, colocando em risco suas prprias vidas ,alm das dos ocupantes dos veculos, que trafegam nas duas mos, sua convenincia, para no cair nas perigosas crateras sem fim.

E o perigo de morte, a cada instante, que multiplica por mil, se estiver chovendo.

isso a minha gente. Indignao para quem pegou o dinheiro e gastou fazendo castelos de areia para a gente irar at a prxima eleio.

J anotei.

E guardei.

Abraos a todos.

Flavio Pinto


19348

Por Flavio Pinto - 22/12/2006 13:02:45
O MURAL

Desde que Kenneth H. Cooper , mdico e coronel da fora area americana, escreveu seu famoso livro sobre aerbica, enfatizando um sistema de contagem de pontos para melhorar o sistema cardiovascular, em 1968, popularizado no Brasil pelo falecido Cludio Coutinho,ex-tcnico da seleo brasileira de futebol, no meu entender, acho que nunca houve uma mudana to radical ( e benfica sade , claro) na vida e costumes das pessoas.

Tanto aqui como por este mundo afora.

H alguns anos, a atividade fsica em locais populares era proibida aos maiores de idade (leia-se final de segunda , adentrando a terceira idade), principalmente do sexo feminino, obrigados pelas leis no escritas dos execrveis captulos do recato e pudor ,sempre presentes nos livros da falsa moralidade, a somente exporem pernas, braos, coxas e canelas nas prprias casas e seus quintais ( pra quem tinha a sorte de os possuir), clubes fechados ou stios, se quisessem um conforto a mais na hora de fazer o sangue correr , livre e quente, nas temidas veias e artrias, canaletas do bem ou mal estar permanentes.

Este quadro j no existe mais. Graas ao Mr.Kenneth.

Ento hoje s se v, por onde se a, senhoras de madura idade, velhinhos enxutos,firmes na guicha e no prumo, andando livremente por praas, ruas largas e avenidas, jovens na vida novamente, o papo em dia com os netos e a moada, uns ligeiros, outros mais devagar, sem nenhum falso sentimento oculto de vergonha de mostrar pernas gordas ou secas de azuis varizes antes latejantes no silncio do quarto de dormir, esperando a hora da viagem.

Hoje, todos querem (os) e procuram a sobrevida. De Nike ou de Conga.

Que a vida bela e este o caminho.

E o Mural ?

o Cooper da atividade intelectual do montes-clarense.

Quantos poetas, quantos escritores, quantas idias estariam hoje dentro da gaveta, junto a mofo e seculares poeiras, se no fosse este Mural mgico para retir-los do buraco negro onde estavam e traz-los para c, cada um de seu jeito, seja mais culto ou menos sabido, mas sempre dando seu recado e fazendo-nos ver que existe realmente vida e coraes alegres que batem nossa volta.

Feliz Natal e abraos a todos.

Flavio Pinto




18906

Por Flavio Pinto - 5/12/2006 11:47:45
A POESIA DE VIRGLIO

A gente mantinha - desde algum tempo - correspondncia pela internet.
No muito freqente, porm de valiosa consistncia, principalmente quando me mostrava alguns escritos de sua lavra, na maioria lindos poemas, sempre retratando com sentimento fatos e personagens da nossa histria - brasileira ou universal guiado pela alma sensvel e apaixonada do verdadeiro poeta.
Pelo seu prprio jeito de ser, calado e mais na dele, hesitava em public-los e vez por outra me perguntava o que achava.
Quando eu lhe cobrava, brincando, que j estava ando da hora de mostrar pro mundo, ele s dizia: Ser?
Abraando D.Fina, Virgnia, Valria e Patrcia - nesta triste hora - peo permisso para publicar um, aqui no Mural, que bem expressa esta face potica do historiador, escritor e muralista Virglio Abreu de Paula, pouco conhecida de muitos, mas no menos brilhante e imortal.

Abraos a todos.
Flavio Pinto

IRACUNH
Virglio de Paula (2005)
Em festa a tribo
E o velho cansado
Sozinho consigo
Relembra o ado,
O tempo j ido
De jovem ousado
Audaz, destemido
Feroz, arrojado.

- De que serve a vida
Doente e s?
Que triste legado
Do fado sem d.
No importa morrer.
Desvalido, magoado,
Que serve viver?

Mas v, de repente
Visagem encantada
No meio da gente
Que enche a taba
Uma bela tupi.
Seus lisos cabelos
Sua pele bronzeada
Seu rosto moreno...
- Igual nunca vi.

Da vida a chama
Sente reluzir
O fogo do amor
Aquece-lhe a alma
Por que no amar?
Por que no sentir,
Mesmo em segredo,
O doce calor?
Melhor que penar,
Seu sol ressurgir.

E feliz se descobre
Guardando segura
Na mente e no peito
A imagem to nobre
A bela figura
O porte perfeito
Da doce cunha
Da doce criatura,
Iracunh.

Perdido de amores
sombra deitado
O cu contemplando
De nuvens tomado
Qual flocos de l
Ao sol da tardinha
Se esquece das dores
E v, fascinado,
Sua doce indiazinha,
Iracunh.

Na mata sozinho
Pergunta ao vento:
Por que s agora?
Por que nesse tempo,
Com o corpo desfeito.
Por que no outrora
Que, com alento no peito
Caava, pescava,
Lutava com af?
Por que nessa hora?
Por que, oh Tup?
S agora a miragem
Da doce Selvagem,
Iracunh?

De que vale o canto das guas
Entre as pedras limosas do rio?
E o estrondo da catadupa?
Se o sabi geme suas mgoas
Se trina, alegre, o canrio,
Se chora triste a jaan?
Um som apenas escuta
E ouve, quase em delrio
A voz meiga, entoada,
De sua doce Iracunh.

Quando o vento sopra, sereno
Espalhando o perfume das flores
E a abelha, tonta de cime
Beija a flor numa orgia pag
A despeito de tantos olores
S sente, ama, o perfume
O perfume suave, ameno,
De sua doce Iracunh.

E ao deitar o corpo exaurido
Numa prece pede a Tup:

- Que os deuses de amor imbudos
Aliados a Jaci, tua irm,
Te protejam dos fluidos medonhos
Emanados do vil Anhang.
Te revejo, talvez em meus sonhos
Onde sempre, sempre ests,
Ou nas nuvens efmeras, douradas
Pela luz do sol da manh.
Minha doce querida, minha amada
Minha doce Iracunh


18585

Por Flavio Pinto - 22/11/2006 13:04:39

PALMEIRA DA MINHA TERRA


Ah, Velha Palmeira !

s mais respeitada e falada, muito mais agora, do que aquelas outras, famosas, de Gonalves Dias, eis que, muito antigamente - quando do mar vinham caravelas trazidas pelo vento nelas, s, e apenas, cantava o sabi.

E aqui hoje, j bem longe no tempo e do mar, quem vos canta so os poetas de todas as geraes, nestes longnquos e romnticos gerais de Guimares.

Cinqenta e oito anos se aram e at hoje sua morte ainda provoca fascnio e mistrio nessa lira maravilhosa de ontem e dagora.

E linda, ela continua l, na Praa da Matriz, fora do jardim, como bem mostra o retrato antigo ao ser lhe aplicado um moderno zoom, com seu ado e sua glria de ser a protetora de quem a procurou para no morrer, participante ocular da aguerrida histria de nossa gente.

Na velha praa, em frente casa que a acolheu, viu nascer, e que um dia, por razes de somenos, pediu suplicante a sua morte, esqueceram-se do Velho da Palmeira, Camilo Philinto Prates que ali ficava, sua sombra, meditando coisas da poltica e como fazer a nossa prpria histria..

Paira, entretanto, uma dvida, posto que sobre o seu nascimento, 25 de novembro de 1872, plantada pelas mos do Cnego Chaves, nunca houve nem mera sombra de discordncia.

Qual seria o exato ano em que, a vis machadadas de vndalos, inicialmente lentas e depois com vigor de profissionais, ela, tristemente, transformou-se em lenha e depois, para alegria do futuro, na poesia eterna de Joo Chaves?

Nelson Vianna, em seu livro Seres Montesclarenses foi esclarecedor, tanto na data do nascimento, quando da sua morte : ...foi plantada na tarde de 25 de novembro de 1872 uma palmeira. Era linda e enfeitava a praa com suas verdes palmas, com sua elegncia fidalga, at a tarde de 18 de fevereiro de 1948, quando foi sadicamente sacrificada por mos profanas.

Virgnia Abreu de Paula, com sua acuidade e determinao que respeito muito no estabelecimento da verdade histrica, coloca dvidas sobre a data da morte, conforme suas palavras, ao resolver ... investigar mais alguma coisa num caderno de meu pai , onde ele rabiscava notas que nunca foram publicadas . E a data da derrubada, de acordo com a linda crnica no publicada de seu pai, ou a ser 1949, a pedido de uma senhora cuja casa estaria ameaada pela Palmeira.

Sem este o privilegiado, familiar, restou-me, pobre e curioso mortal, recorrer, tambm, ao seu saudoso pai , Hermes de Paula, nosso mais talentoso historiador cujo livro Montes Claros, Sua Gente e seus Costumes, edio de 1957, que guardo e conservo com o maior carinho, at hoje, para mim, a mais fidedigna fonte de pesquisas dessa nobre histria montes-clarense.

Na pgina 384, deste magnfico livro, no captulo intitulado Miscelnea Histrica, Dr. Hermes escreveu o seguinte texto : Em fevereiro de 1948, O Prof.Athos Braga, vice-prefeito em exerccio mandou derrubar o velho babau plantado na praa Dr.Chaves e que ameaava cair na casa do Sr.Jos Barbosa Neto. Isto deu motivo a muita crnica e poesia, lamentando o ocorrido....


Abraos a todos

Flavio Pinto





18093

Por Flavio Pinto - 2/11/2006 14:47:56

PARA UM SAULO


Os especialistas da nossa histria invocados pelo brilhante muralista de codinome Saulo (ou ser um prenome de vida prpria, propositalmente dispensando sobrenomes, como se fosse um meio mistrio de um quase anonimato para afastar possveis maus espritos ?) no apareceram, para oficiais pareceres sobre a sua afirmao e convico da real existncia da Palmeira no menos, vista na bela foto da Praa da Matriz, dos anos quarenta :

Perdoai-me a ignorncia. Mas, parece que a palmeira da foto mesmo a Palmeira Antiga, que Joo Chaves alou aos cus em letra e msica belssimas...
Por favor, chamem os especialistas (mens.17927, de 25.10.2006).

ados vrios dias e no se vendo nenhum especialista ao largo ou vista, sou obrigado- e com prazer - a lhe dizer, caro Saulo (que no conheo, mas iro os belos escritos, de letras, vrgulas e pontos que saem direto do corao) que:

como a foto, comprovadamente, do comeo dos anos quarenta ( se fosse do final, ou na virada da dcada de 50, uma possvel nova palmeira plantada nunca estaria daquele tamanho), no h dvida alguma na veracidade de sua afirmao, ainda mais ao se citar a histria, pelas mos e talento do Mestre Nelson Vianna, em seu excelente livro Seres Montesclarenses :

O mirante localizava-se no largo da Matriz (...) e frente dele foi plantada, na tarde de 25 de novembro de 1872, uma palmeira. Era linda e enfeitava a praa com as suas verdes palmas, com a sua elegncia fidalga, at a tarde de 18 de fevereiro de 1948, quando foi sadicamente crucificada por mos profanas. Por aquela ocasio, o poeta montesclarense Joo Chaves, que lhe consagrava verdadeira afeio, vinculada a ternas recordaes da infncia, dedicou velha palmeira uma inspirada poesia de fundo sentimental, que vai abaixo transcrita.

PARA OUTRO SAULO

Encontrei-me, na sada de um boteco, semana ada, com outro Saulo, amigo de infncia e contemporneo de natao na Praa de Esportes : Flavo, o forte da minha carreira esportiva foi a natao, v. sabe disso. Fui vrias vezes campeo e recordista mineiro, nado de peito. Tem tudo registrado na Federao Mineira. Fui goleiro por acaso. Fala pra Berguin.

Nosso grande Lindemberg, ao colocar um abrupto final carreira esportiva de Saulo, o Bill, aqui neste mesmo Mural, aps sua breve, porm gloriosa agem defendendo a meta do BENJAMIN, do inesquecvel Irmo Leonardo, grande professor e mentor que tivemos no Colgio Marista, e que teve no prprio Saulo, este, o Wanderley, o seu derradeiro e grande amigo, est, portanto, lhe devendo essa ressalva.

Quanto ao Bill goleiro, est sendo modesto: pode at ter sido por acaso, mas era difcil marcar gol nele.

Abraos a todos.

Flavio Pinto



17914

Por Flavio Pinto - 24/10/2006 17:02:32
SEGREDO ANTIGO


Todos os pontos misteriosos do A ao G, da moa, tinham se revelado naquele momento de xtase.

Pois os gritos que ela dava na madrugada chuvosa de segunda para tera-feira, sibilantes agudos e malevolentes graves, praticamente nos anestesiaram e nos levaram para outra esfera de compreenso durante quase quinze segundos, em plena Rua Quinze, no escurinho de uma vitrine recuada da loja de Ramos & Companhia naquele final de 1958.

E ns, trs meninos de 13 anos, nem to inocentes e puros assim - pois que a rua Lafaiete, que era logo ali, j e sempre nos havia mostrado coisas a mais - nunca havamos visto semelhante fato ou similar, nem no cinema, nem na escola, ou em livro - ou mesmo no salo de barbeiro, onde os adultos falavam coisas que pensavam que a gente no prestava ateno - s pudemos ficar assistindo, tanto ou mais entusiasmados que a prpria moa que gritava de amor.

Que, percebendo nossa presena, subiu abruptamente a saia, desatracou-se da pessoa e saiu correndo. Dobrou a Dr.Veloso, sem olhar pra trs.

A outra pessoa, trajando uma parda e molhada capa de chuva e chapu de shantung enfiado na testa, logo ou nossa frente e deu-nos um olhar de pura decepo ( ou raiva ), com aquele grandes olhos azuis e sobrancelhas bem aparadas, tornando maior a nossa incredulidade ante tal fato.

Pois no que era tambm mulher o que achvamos ser o namorado.

Chocados, ficamos como bobos na esquina, sem conversar nada.

Decidimos no contar nada a ningum.

E ficamos assim, quase que num mrbido silncio, por semanas. S comentvamos entre a gente.

At que um dia, Zeca do Correio, com toda a sua verve e natural compreenso de todos os mistrios da vida, sentou-se perto da gente e arrancou-nos do peito o segredo.

E s falou isso:

Roadinho...Liga no.

Pegou o pacote de cartas para entregar, levantou-se calmamente e saiu assobiando o famoso dobrado Stars And Stripes Forever, o prefixo musical das matins do Cine So Luiz.

Sem pular nenhuma nota.

Abraos a todos.


Flavio Pinto






17434

Por Flavio Pinto - 9/10/2006 10:58:21
ELEGANTES RACHADAS



O povo daqui dessas faladas alterosas, pelas redondezas e adjacncias, dalhures, acol ou mais no sei de onde, e todos aqueles que o detestam, seu cheiro, sabor, histrias, mentiras e verdades, gostam de chamar os que gostam de pequi alguns carinhosamente e outros nem tanto - de roedores, como se ruim e animalesco fosse a prtica dessa eterna delcia, que ro-lo at ficar branquinho e comear a aparecer as pontinhas dos espinhos.

Claro que, indelicadamente, tenta-se a (no por todos) uma forma de rebaixamento qualquer, por fora das entrelinhas.

E ficam sempre surpresos de no haver nenhuma reao da parte do povo viajante das terras quentes do norte, at pensando que este faz grande esforo, para no retruc-lo, ou ficar chateado.

Mera educao.

At que, num dia qualquer de suas miserveis - e completamente sem graa e sem sal - vidas de gente que nunca comeu pequi ou tomou suco de umbu, percebem que nunca existiu fora ou vontade pra contrapor quaisquer ms respostas ou mesmo feridas nos pretensos sentimentos agulhados de nossa sensibilidade.

Mera piedade.

Porqu ? Dir o incalto.

Que este mesmo incauto, eterno imprudente , s que ligeiramente - ou inteiramente - tonto, com a lngua aguada e a cabea sempre vazia.

Em qualquer bar dessa gostosa e verdejante capital, ele existe.

E em tal conversa que os padres normais existentes para uso comum (futebolsticos e polticos) tornam-se escassos na verborria afiada dos referidos e sistemticos roedores, quando cruzam velozmente as fronteiras do absoluto desconhecido, bem pra l de onde Judas perdeu as meias.

Embora sejam, nada mais nada menos do que o encontro de amigos e conterrneos, aquela velha conversa gostosa, alis e sempre, boa de doer, cheia de casos. Todo dia um caso novo.E suas nuances, de rir e chorar ao mesmo tempo. Os olhos, toda hora, molhados da mais pura emoo.

quando tem sempre um desses por perto, incalto , bbado, pseudo membro da inteligentzia local, louco para adentrar transcendental conversa do povo do serto.E derrubar. Ou tentar.

E, como si acontecer, nestas grosseiras e vs tentativas de ocupao do ego alheio, sobra sempre para este algum sabe quem : acaba no se dando to bem como pretendia, que nem o prprio Freud explicaria ou sairia por cima.

O incauto, ento, j menos tonto, naqueles 30 segundos de recomposio geral e estratgica, d solene meia volta e, no sentido totalmente contrrio , navega em direo a territrios de outros povos existentes - a lugares mais fceis e razoveis, de preferncia - na face oculta do belo boteco.

E o ultraje, que a rigor, no nada disso, muito pelo contrrio, fica na lembrana.

Certamente, mais na dele do que na nossa.


Abrao a todos.

Flavio Pinto



16903

Por Flavio Pinto - 21/9/2006 10:17:16
A NOITE DO MEU BEM

Eternos sobreviventes anuais.

Dirios e mensais, est implcito , no vale a pena contar. Basta viv-los.

Somos sim e muito mais, esta fina flor do norte e cerrado, gente simples, de fibra, do ano corrido do trabalho sol a sol, que segue a trilha da batalha do incio de uma safra a outra de pequi - embora malfadados anes tempores apaream ocasionalmente para nos desviar da rota certa - agentando tudo calado, ora feliz, ora triste, mas sempre livres, nosso direito.

quando se aproveitam dessa infinita bondade e pacincia anunciando, a toques de ensurdecedores clarins eltricos, que o preo do progresso e do prazer a eterna escurido e que a luz s aparece mesmo no final do tnel.

E para alguns poucos : aqueles que se submeterem, sem reclamar, s cruezas e incertezas desta malfica caminhada, onde, em nossos olhos, ouvidos e mentes, perenes coisas ruins tm obrigao de ar e rear, para que o completo desfrute venha no final e paire eterno sobre a velha cidade.

Parece at antigas aulas de religio. Mas no .

o momento presente, de quem s faz piorar a vida de todos, ano aps ano, azucrinando-nos em nossa prpria casa, interferindo no merecido e sagrado descanso das lidas sem fim.

Debaixo da complacncia e benesses de um poder colocado para olhar por ns.

Que nunca oram pro nobis.

Mas ficam bravos, at com os incomodados que se retiraram.

E com os velhos e as crianas, que s queriam dormir o sono de paz cantado por Dolores Duran.


Abraos a todos

Flavio Pinto


16640

Por Flavio Pinto - 14/9/2006 12:59:34
COISAS QUE FALTAM


A verdade que est faltando alguma coisa pra alegrar a vida do cidado.

Do velho e do novo.

E dos mais ou menos e at dos que se acham bem menos do que mais.

Quem vai nos devolver aquela velha caminhada , despreocupado da vida, pelas esquinas e ruas da nossa velha cidade?

As pessoas andando pelas caladas, no vai que vem, natural , os rostos conhecidos dos amigos e semblantes misteriosos de desconhecidos.

E ver de perto o amor nos olhos dos casais.

Dos cumprimentos e abraos nos mais chegados ou simplesmente parando pra tomar um cafezinho no bar e perguntar pela sade do velho dono, e dos filhos, e dos fregueses e pagar um cigarro retalho pra algum que a vida nunca sorriu.

Do silncio da natureza e dos sons da cidade.

Acsticos.

De um enterrar de um p numa poa dgua, de poder se ouvir um carro , ao longe, pegando empurrado.

E o som rasgado de uma campainha de bicicleta (de apertar com o dedo e com fora).

Uma me, aflita , gritando embaixo de um p de manga-rosa : desce da menino enfuzado!;

De ar na porta da casa da aula de datilografia, ouvindo remingtons e olivettis sofrerem nos dedos dos aprendizes at alcanarem frmitos sons de metralhadoras , a tarde inteira .

Do som do apito da fbrica tocando nas horas certas para ferir ouvidos de incertas amadas, fazendo nos virar o prprio e grande Noel.

Essas coisas, e outras mil, esto faltando. E a minoria, nunca silenciosa, sabe.



Abraos a todos, principalmente para o amigo Maroto, colega de carteira da sala do Irmo Geraldo Damasceno e de recentes trilhas gonalinas. E, para eu fiz um A, eu fiz um Ene..., sempre ao lado, tambm. Mais que justa a homenagem.

Flavio Pinto


16203

Por Flavio Pinto - 31/8/2006 12:01:11
TROMBONE


Somos agora , oficialmente, a grande minoria da cidade.

Porm, nunca silenciosa.

Somos grandes - e orgulhosamente - trinta e nove por cento contra pequenos sessenta e um de uma maioria pseudoconsolidada pelos nmeros. Que no mentem (no?) !

Ta , de papel ado, no jornal e no ar, ciberneticamente para todo o mundo e espao sideral. At um planeta, em sinal de protesto, pediu as contas e foi embora do cu. De vergonha.

(Quem sabe chega at perto dos arredores onde Deus mora e Ele d uma ajudinha pra gente ?)

Ganhou, ento, a maioria, a mais interessada, a mais inserida no contexto, a mais progressista e a mais preocupada com o futuro de cidade grande desse sofrido Arraial das Formigas de Antonio Gonalves Figueira.

Maioria que agora ri da nossa petulncia de querer afrontar o poder da riqueza que constri.

Abaixo o amor, a poesia, a amizade e a boa vontade.

Viva as latas, as coisas eltricas e o falso cheiro de rosas e jasmins dos detergentes e purificadores de ar.

Sim, somos a minoria, aquela prfida e retrgrada que quer manter fielmente a tradio e o folclore do jeito que o povo fez ; os ps de pequi na terra que nasceram e floresceram , e as guas dos rios em seus leitos, sem que sejam sugadas por vidos pivs e fingidos carneiros mecnicos para molhar o pasto de quem j derrubou todas as rvores frondosas e fez a chuva ar adiante, procurando outros lugares.
Amenos e serenos.Poetas e sonhadores.
o que somos.
E temos orgulho de s-lo.

Ora viva, ora reviva , viva So Gonalo, viva.


Abraos a todos

Flavio Pinto



16126

Por Flavio Pinto - 29/8/2006 15:14:20
FILMES NA GARAGEM DA RUA DE TRS Parte II-final (continuao de 14.8.2006)


Continuando, meus caros leitores (porque promessa dvida) ...

Vrios pequenos filmes continuaram sendo feitos, sobre todos os assuntos possveis.

At um documentrio fizemos. Lindo. Sobre a vida especial dos animais selvagens. No caso, baixando um pouco nossa bola, da especial vida dos animais domsticos, que tambm tinha seus perigos e mistrios.

Ficamos quase uma semana esperando aparecer um gato de rua, que volta e meia entrava no quintal , alis, Estdio da Garagem da Rua de Trs, mais precisamente na cozinha de D.Ruth, me de Alberto. Atacava a despensa, roubando at as carnes de sol penduradas nos fundo, perto do fogo de lenha.

Primeiramente, achou-se que era um rato. Mas, certa vez todos ns vimos o felino, cinzento, cheio de listras brancas, sair com uma manta de carne na boca. Foi seu azar.

Apesar do desagradvel fato de ser sobre um pobre gato ladro, a peculiar e divertida utilidade de t-lo como grande personagem principal, valia o sacrifcio. Ficamos uma semana na espreita, na tocaia do bicho.

Alberto, com a cmera preparada, Chico Bia com a tbua dos fios pelados e as trs lmpadas da iluminao pronto pra ligar na tomada, e eu, segurando Huckeberry, o pastor alemo, com ordens de solt-lo quando o gato aparecesse.

At que um dia, de tarde, o danado apareceu, cheio de finesse e sutilezas no andar e entrou na cozinha . Quando ia saindo, com uma coxa de galinha na boca, Alberto gritou: solta o Huck, solta o Huck...

No precisou falar trs vezes ( reclamei que ele tinha que ter dito ao ,antes. Ele rosnou de volta no-sei-o-qu , eu falei t bom, continuamos a filmar).

O Huck deu um bote, o gato deu um meio pulo, de lado e s o rabo ficou na boca do cachorro. Alberto filmando, ns atrs , at que o coitado - que era s aflitos e esganiados miados - pulou o muro, ganhando a rua e a liberdade.

Graas. Para ele e para ns, esbaforidos e atabalhoados, atrs dele.

Ainda o vimos, ao longe, correndo , sem olhar nem pro retrovisor, at sumir em direo ao Rio Vieira.Nunca mais fiquei sabendo se ele apareceu de novo.Nem para buscar a ponta do seu rabo, que deixamos dentro de uma caixa de sapatos, junto s relquias do estdio.(Ser que ainda existe alguma coisa?)

Depois deste documentrio desanimamos um pouco, at mesmo por falta de assunto, creio.

Ou talvez esperando chegar o tempo das chuvas. Era um milagre, este tempo de chuva.
A gente ficava mais alegre com tudo acontecendo e florindo.

As mangas Ubs comeando a amadurecer e o cheiro de pequi cozido , no ar, rondando, vindo de tudo quanto lado, nas horas de almoo, em que cada um ia pra sua casa. E l eu ia perder o arroz com pequi de D.Luiza ?

Num dia daqueles , de fim de ano, o Diretor chegou mais na turma, todo feliz, dizendo que tnhamos uma nova produo. Quase gritava, eufrico :

- Um pico...Grandioso...e vai ter de tudo. Piratas, ndios cowboys, gangsters, tudo, tudo, tudo!
E de final diferente. Todo mundo morre, no sobra ningum. Chega dessa moral burguesa que s os maus morrem. Todo mundo morre, at os bons. E meu filme, vai ser assim, como na vida.

Ns nos entreolhamos, preocupados e ele arrematou :

- ...mais no final...aparece Nossa Senhora e d um beijo em todo mundo que foi bom.

E sentenciava, olhando para cima : E s os bons voltaro.

Foi quando ns entendemos que aquele filme ia demorar demais. At hoje .


Abraos a todos, especialmente querida e talentosa Ruth Tupinamb Graa, pelo seus noventa anos de grande sabedoria, que nos viu de perto toda uma vida, e ao longe , com aquele seu sorriso de irmandade com D.Luza, sempre nos protegendo, junto a Alberto, Mrcia, Norma, Ester, Armeninho e Nara. Saudades do Tio Armnio.

Flavio Pinto


15586

Por Flavio Pinto - 14/8/2006 18:35:00
FILMES NA GARAGEM DA RUA DE TRS ( Parte I )

A garagem vazia e a inesquecvel caminhonete International-Harvester, ano 47, na fazenda ou na loja perto da Praa de Esportes, felicidade geral dos meninos da Rua de Trs.

Era a conta para que ocupssemos o nosso estdio cinematogrfico.

Cinema e teatro ao alcance de todos. Mais uns poucos metros de quintal ao lado, com destaque para um glorioso p de manga Ub, ou Coco como queiram ( s sei que era a manga mais gostosa do mundo), ns tnhamos tudo .

A bem da verdade, o ns a colocado vai com um certo exagero : ramos apenas co-participantes, talvez scios minoritrios sem direito a voto, diga-se, meros entusiasmados atores, tanto bandidos como mocinhos, produtores e continustas ocasionais , pois quem mandava mesmo era o nosso amigo Alberto, o grande diretor do estdio da garagem da Rua de Trs .

Graa no nome e mritos , j os tinha todos, para dar conta de to bem lidar com a stima arte. E assim seguiu sempre na vida : sempre caador e vencedor na prpria trilha que escolheu, deixando o dia da caa para quando quis.

Seno bastasse isso, o maravilhoso quintal e garagem, a incrvel cmera 8 milmetros alem (no lembro a marca) , os cenrios, as fantasias e mais do que tudo, as idias (e que idias !), todas eram dele .

Quando chegvamos para as filmagens, at os dilogos j estavam prontos. Apenas um breve ensaio e comeava-se logo o filme.

Luz, cmera , ao.

Sentado na cadeira de lona - com seu nome escrito atrs com giz - ou com a cmera na mo, srio e concentrado, dava as ordens.
Em clssico estilo ligeiramente italiano, mais pra Vitrio De Sica e Roberto Rosselini, embora no neo-realismo do nosso jeito, ou melhor, do jeito dele.

A meninada da vizinhana podia participar como extras e fazia-se fila no incio das filmagens.Era uma festa . Grtis, ou melhor, um pagamento simblico, qualquer manga que casse do p era de propriedade dos extras e artistas, desde que Huckleberry ( mais conhecido como Huck), o pastor alemo da casa, no a pegasse primeiro.

A claquete ( feita pelo carpinteiro da fazenda, o mesmo que fazia e consertava os carroes de boi) fechava, sem d : Cena 3.

A partir dessa hora vivamos um verdadeiro pandemnio. Chico Bia na iluminao ( trs lmpada pregadas num caibro de madeira, ligadas num fio de cinco metros, escalpelado pelos dentes do cachorro, Huck, no podia nem ar perto de poa dgua que dava choque).

A Cena 3 : Claude Bello, deitado , agonizando , aps levar um tiro num duelo do sculo dezenove, segurava o riso.

O barulho do tiro vinha de um traque dentro de a velha de ferro fundido, colocado por Z Chitimite. S que ele tinha (pura sacanagem) acendido uns dez de uma vez s e jogado tudo dentro da a.

A cena precisou ser refeita .

Alberto aos berros: Ele morreu de um tiro s, p, no foi de metralhadora no !

Algum ao lado, curioso, pinicava : Mas, Diretor, o filme no mudo? Tanto faz, ento, o nmero de tiros.

E Alberto parava tudo, olhava firmemente nos olhos do interlocutor (que esta hora j devia estar arrependido de ter falado alguma coisa) e dizia (pensando na posteridade , claro) : A boa inteno s vale se tiver um fundo de verdade.

Todo mundo batia palmas para a genialidade do comandante e tudo voltava normalidade.

A , comeava-se tudo de novo.E toda a semana, tinha um filme diferente . Ns naquela mo de obra.

(Aguardem o prximo captulo. Soon. Neste mesmo espao)


Abraos a todos.


Flavio Pinto


13909

Por Flavio Pinto - 13/6/2006 09:45:33
A ERA DO RDIO


No tempo do rdio, as emoes da Copa do Mundo eram outras, bem diferentes das proporcionadas pela televiso. Quem viveu (e ouviu) , dir.

No me arriscaria a dizer que melhores. Nem iguais. Simplesmente, outras.

Talvez a grande vantagem (ou diferena) era que, pelo rdio, tudo que rolava dentro dos mais longnquos gramados nacionais, se filtrava na imaginao de cada um, por este interior afora de um imenso Brasil, acompanhando seu jeito e maneira de ser e transcendia todos os limites e fronteiras da Terra ou espao infinito , onde todos os planetas e estrelas tornavam-se palcos naturais da grande arte brasileira de bem saber jogar futebol.

Mais ou menos como se v nas propagandas da Nike (acho que copiaram nossos sonhos) : a bola indo e voltando, na ligeireza de um pensamento, de um ponto a outro no Universo, levando paz e alegria para todos os povos.

E s o rdio - porque na tv mostram o que querem que se veja - conseguia ar tudo isso, dando asas imaginao de todo um povo que parecia estar longe dos conhecimentos da Corte. S parecia, Deus seja louvado. A histria depois nos contou.

As jogadas, os gols e os dribles independiam do tamanho da verborria especializada dos irados locutores que , honra seja feita, se esforavam ao mximo para nos contar em detalhes a simples realidade. S que a realidade deles estava bem abaixo do que sonhvamos.

E ali mesmo, na Rua de Trs - velho palco de tudo - aps cada jogo, tentvamos, no totalmente em vo, fazer o que nossos dolos realizavam em campo.

S valia gol bonito. Pra comear.

Matar nos peitos, com elegncia, uma bola cruzada e com o calcanhar dar um chapu perfeito num adversrio, para depois emendar um tremendo de um sem-pulo, estufando as redes e levantando a multido.

Multido esta - ali na nossa rua - de no mais que duas funcionrias municipais varrendo-a com devoo, tagarelando sem prestar ateno a nada e , a compor o dcor de uma cena antiga, modorrentos carros de boi, um aps outro, rangentes e demorando a ar, a bola ciscando debaixo dos animais que teimavam em chut-las de pata em pata, parecendo no querer devolv-la.

Ou, se goleiro fosse, como o lendrio Tony Bufo (s de vez em quando aparecia no Larguinho , mas l deixou sua marca de goleiro voador), e fazer uma acrobtica ponte, Pompia (antigo goleiro do Amrica do Rio, que foi seu grande dolo), voando , naturalmente, como se fosse um livre arinho, at o inatingvel ngulo contrrio e espalmar a bola para escanteio.

Melhor do que isso, sempre nos disse o mesmo Tony, era defender, na ponta dos dedos, um pnalti, no ltimo minuto. Suprema glria, principalmente se aquela linda moa dos seus sonhos estava ando na hora. A , valia todo o sacrifcio, por que goleiro apaixonado que se preze mergulha no cascalho por qualquer bola rasteira, arregaando braos, joelhos e cotovelos.

O mesmo acontecia com candidatos a futuros artilheiros que, diria e sistematicamente, enfiavam o mesmo dedo do mesmo p - sempre machucado e enfaixado - na mesma pedra do meio da rua, para d e desespero de todas as mes e tias existentes, pacientes santas milagrosas que nunca cansavam de nos curar num dia, para fazermos tudo de novo no outro.

Ao apagar das luzes, que a hora prpria de se ouvir histrias, sempre aparecia algum contando, de maneira diferente - mas sempre emocionante - a velha saga dos dois irmos, ambos jogadores de futebol.

Numa cidade longe, bem pra l do serto de Gois, na mesma toada do Chico Mineiro : um dizia : eu nasci pra pegar...e o outro : eu nasci para chutar...

Novela popular de dramtico e inesquecvel final, quando o irmo, goleiro, morria com a bola nas mos, ao encaixar no peito o terrvel petardo desferido pelo seu prprio sangue, na cobrana de um pnalti roubado.

Todas as vezes que se contava esta histria, tinha sempre um menino que chorava.

E a gente caoava dele , sem nunca contar que - pelo mesmo trgico pnalti - j tnhamos chorado tambm....


Abraos a todos.


Flavio Pinto


13794

Por Flavio Pinto - 7/6/2006 12:23:57
DE MULAS E JOVENS



De vez em quando me d um desnimo.

Tanta gua que j correu nestes rios, tanta poeira solta levantada nas estradas, tanto vento frio que j deu voltas em esquinas que ningum nunca viu, tanta assombrao que s apareceu pra quem quis, tanto n seco em molhados pingos dgua , tanta pinguela escorregadia...

So tantos os tantos, que no acredito nessa etrea bruma de pobreza de esprito vagando solta nos meus nortes.

Ser que os tempos e contratempos vividos foram todos em vo ? Ou foram s danas e contradanas ?

Minha vontade dar uma parada na primeira curva do caminho e esquecer pra sempre dessa eterna viagem procura de um simples querer ser feliz.

De birra, talvez s pra dizer : gente, onde fui parar minha mula ?

A , entrar num boteco e pedir duas pingas: uma pra mim e outra para um santo padroeiro qualquer . Pode ser at o santo dessa gente que vive toda uma vida sem saber viver.

Para ver se ele ora pro vobis. Sem direito costelinha.

. Mas , nem tudo est perdido , quando se
v Lili e B, na rima de jovens poetas, dando lies de cidadania : "Jovens
interessados nas "velharias" que contam a nossa prpria histria e nos do
um alicerce para construirmos um futuro para vrias geraes. ...
Preservao...Futuro... O ado pode ser um elo com a eternidade".

Como diz o Bala: alvenaria.

A, me animo de novo e vou procurar minha mula pra seguir viagem.


Abraos a todos.

Flavio Pinto



13527

Por Flavio Pinto - 30/5/2006 07:50:10
AVENIDA , DE DONA VIDINHA E DONA DOCHA



De manh, bem cedinho , l vinha o velho vaqueiro (acho que se chamava Luiz) montado na garupa de uma mula tordilhada, dois vasilhames de 20 litros, cheios at a tampa, um em cada lado da bruaca.

ava esquerda do Larguinho e parava na Rua de Trs (bem em frente a casa de Seu Athaydinho e D.Aldinha) no meio da grande calada de pedras.

Devagar, com um indefectvel cigarrinho de palha apagado na boca, ia atendendo a fila de empregadas, madames, meninos e meninas, cada um , democraticamente, com a sua prpria vasilha na mo esperando a vez de ter o puro leite de todos os dias.

Uns pagavam na hora, outros, da conta do fiado, ele anotava numa velha caderneta. De vez em quando no aparecia, a gente tinha que ir buscar na fonte : casa de Dona Docha, a dona da fazenda do leite e da manteiga era s o que sabamos, ento - no meio da Avenida Coronel Prates.

O percurso era pequeno e tambm tinha suas compensaes, alm do gostoso cheiro de caf torrado e dos avies da Panair, no ar.

Por conta do espetculo do trepidante esvoaar e invarivel lanche dos lindos pombos de Dona Vidinha Pires , grandes personagens daquela hora da manh, se fartando larga das sobras de palhas de milho, fub e caf do Moinho Indiano, espalhadas no meio da rua..

Quando, coitados, se tornavam fceis alvos de implacveis estilingues e bodoques.

Nunca consegui acertar nenhum minha pontaria era pssima - mas sempre ouvi falar de muito guisado custa deles.

No me recordo se - nesta poca da rua de terra - j existiam estas mesmas rvores que agora derrubaram. Acho que foram plantadas quando do calamento. De paraleleppedo.

Lembro-me dos postes de luz ,de aroeira, baixinhos, com pequenas lmpadas iluminando as noites com um brilho meio amarelado, um tanto fosco, talvez para no incomodar a viso do cu e as estrelas ou o claro dos plenilnios de maio, quando os tocadores, os poetas e os cantores faziam a festa, a cada esquina ou janela de uma linda donzela.

Ou mesmo (quem poder desdizer ?) , por ordem da inesquecvel Dona Vidinha que, alm do maravilhoso pombal era tambm proprietria da luz eltrica da cidade e gostava de ver (e ter) todo aquele movimento ante e cantante em frente sua varanda.

Colega de seus netos (pr-primrio de Irm Salete e primrio das Irms Elona, Blanda e Rosngela, no Coleginho,do Imaculada) ocasionalmente era convidado a ir l, desfrutar literalmente de seu maravilhoso pomar que tinha as frutas mais variadas e gostosas daquele mundo.

Desde que , em outras (e vrias) vezes sem convite e por debaixo da cerca de arame farpado na divisa do Rio Vieira - tal qual metade da garotada das redondezas - j havia estado naquela maravilha de pomar, eu , sempre, quando entrava pela porta da frente, do jeito normal e civilizado, ficava um tanto ou quase ressabiado.

Sentada na cadeira de balano no alpendre da velha casa com um jardim na frente, prestando ateno a tudo e todos sua volta , os netos pediam-lhe a bno e l ia eu, atrs, ando de liso.

Ela me olhava por cima dos culos e dizia sempre a mesma frase. Toda vez.

- Cuidado para no comer jambo verde, Doutor Orlando. Eles do dor de barriga !

E dava sempre uma grande risada, aps me chamar pelo nome do meu tio.

Depois, tudo mudou na velha rua.

Dona Vidinha e Dona Docha - que Deus as tenha - se foram, o leite comeou a vir da cooperativa num tonel de alumnio, numa carrocinha puxada por um burro e chamava-se vaquinha, com uma torneira atrs e um mostrador de vidro onde aparecia o lquido j pasteurizado, livre de todas as impurezas. No precisava nem ferver, diziam. Mas minha me fervia.

Logo, implicaram com a velha avenida.

A Igrejinha do Rosrio estava na mo errada da rua, o seminrio atrapalhava o clero, as rvores envelheceram e os canteiros prejudicavam o trfego.

Perdeu a graa.



Abrao a todos.

Flavio Pinto


13137

Por Flavio Pinto - 17/5/2006 11:36:53
DAS GERAES


A minha gerao, isso a nascida no durante ou ps Segunda Grande Guerra, talvez tenha sido das ltimas a usufruir daquela famosa infncia tranqila to falada e relatada de cidade do interior.

Pouco ou nenhum movimento de automveis. Muita gente tinha at cavalos e charretes para circular pelas ruas a maioria - sem calamento.

Assim foi em Montes Claros, como deve ter sido em outras cidades pelo Brasil inteiro. Como eu nasci aqui, graas a Deus, s falo daqui. Quem quiser que fale da sua.

E no quero dizer com tudo isso que a minha infncia foi melhor do que qualquer outra, pois quando se criana, em qualquer tempo ou lugar tudo mgico e maravilhoso.

Seja em outro sculo na beirada de um rio sem poluio pescando piaus, com as unhas sujas de cavar o cho procura de minhocas, ou num ciberntico Shopping Center, todo limpinho, de tnis Nike e cabelo explicado, comendo cheeseburger e ficando - de leve - com mil garotas ou jogando games que desafiam qualquer inteligncia normal.

Desde que voc tenha uma famlia e haja amor e carinho nela. Se no, fica difcil, e repetimos, em qualquer tempo, era ou lugar..

As mudanas acontecidas no ps-guerra, advindas das invenes desenvolvidas rapidamente para o esforo de guerra, principalmente pelos alemes e copiadas pelos aliados , foram, uma aps outra tomando conta do mundo e o que antes parecia impossvel, ou a fazer parte do dia a dia de qualquer cidado.

Onde voc, irrequieto garoto do comeo dos anos cinqenta , em plena matin do Cine So Luiz, assistindo Flash Gordon no Planeta Mongo, via o Dr.Zarkov falar com Dale e o Prncipe Barin, de outro planeta para a Terra - com as imagens aparecendo num visor, simultaneamente, a milhares de quilmetros de distncia - poderia imaginar que um dia faramos igual ? Ou melhor ?

Hoje , com a webcam, qualquer criana senta no computador e fala da do centro da cidade ou do Alto dos Morrinhos para Bangladesh ou Marrakesh, sem misria e com muita imagem.

S no fala pro grande George Harrison porque ainda no inventaram essa.

Sem falar da nossa 98 , de onde mando um al , agora , para todos os montes-clarenses espalhados pelo planeta.

E um abrao.

Flavio Pinto




12880

Por Flavio Pinto - 9/5/2006 06:01:29
RUA DA FBRICA, JATOB E ESTRELA...ADEUS, ADEUS !

Mexem e remexem na minha rua da saudade.

Que seja, ento, feita a vossa vontade, senhores da razo de qual ser o mais certo futuro e das afiadas respostas para tudo e sobre tudo.

Mesmo que elas representem apenas o vazio do simples nada de uma faca sem cabo e sem lmina.

Que se deixe, ento, o drago de ao jogar ao cho todas as velhas rvores com seu humilde (e nico) sonho de grandeza : um muito de diria beleza para moradores sem nenhuma paixo e um pouco de sombra para um apaixonado menino eternamente espera de sua amada. A mais linda de todas.

Ao vento, suas flores, ptalas e perfume diro a verdade ou no, a possveis antes estelares da hora e do tempo : ali existiu mais que um ado, um iluminado palco de grandes e melhores cenas de geraes.

Mas, nada a temer, se so apenas pedaos de saudade que se vo. E saudade no vota. Apenas volta, a cada curva do caminho.

Se no h escuta, nem mais para as vozes vindas das estrelas, eles, os poetas, quais solitrios guerreiros de lana e espada em punho deporo as armas e podero at, momentaneamente, sarem vencidos na inglria peleja contra a intransigente magnificncia perpetrada pelo poder : mquina acima do homem.

Moderna insensatez de gente de pouca crena, rezares e viveres.

Mas, eles, os poetas, sempre voltaro, principalmente os que falam com as estrelas.

Um dia o povo ainda haver de ouvi-los.

E se manifestar, nesta terra de eterna inconfidncia.

Que no seja nunca.

E nem tarde.

Abraos a todos.

Flavio Pinto


12801

Por Flavio Pinto - 4/5/2006 17:20:23
LALAU, LILI E O LOBO



A gente olha para a foto do Juiz Lalau publicada no Portal da 98 e fica at enternecido com o olhar singelo e a carinha boa dele.

Parece at um Bispo - daqueles bonzinhos de outrora - pronto para falar, santa e solenemente : Deus te abenoe , meu filho.

De quando a meninada fazia fila na sada do Palcio pra ganhar santinho.

Estudei minha infncia inteira com o livro Lalau, Lili e o Lobo.

Nem o Lobo era ruim, pois era o nome do cachorro de estimao da famlia (alis, da casa da vov) que havia fugido da fazenda e eles (Lalau e Lili) am metade do livro procurando-o.

Aquela linda viagem de Maria-Fumaa para a fazenda, com todos os colegas da classe, olhando a paisagem pela janela do trem. Lembrei-me agora, o corao chegou a doer de saudade.O refro a boi, a boiada acompanhando e dando ritmo. Sem saber ou querer, o mais puro Villa-Lobos.

Depois, no campo, o nadar nos rios e cachoeiras, o ver tirar leite nas vacas e cutucar bichos de p, tudo retratado em simples desenhos e algumas poucas linhas explicativas, levavam-nos a sonhos e viagens sem fim, mexendo com nossa imaginao e fazendo-nos sonhar de olhos abertos em plena luz do dia.

Nem o prprio cinema conseguia tanto.

Inimaginvel para os meninos de hoje, mas a pura verdade.
Agora, as lembranas se quebram e se vo , revelando falsas estalactites de sabo numa grande caverna de sujeira que se tornou nosso querido solo ptrio.

Solo ptrio. Era como o chamvamos, no ptio do colgio, de p, mo no corao, cantando a plenos pulmes : Brasil, um sonho intenso, um raio vvido, de amor e de esperana terra desce.

Ser que o Lalau o mesmo. Ou fomos ns que mudamos ?

Abraos a todos.

Flavio Pinto



12695

Por Flavio Pinto - 27/4/2006 12:26:10
UMA FESTA ATUALSSIMA


Era uma festa sem precedentes na velha cidade.

E quem bolou gabava-se at da criatividade do nome, quase nunca - ou pouqussimo - usado na mdia nacional : Ps-Moderna. Alis, Baile Ps-Moderno.

Que beleza ! Cabeas coroadas , oficialmente convidadas, com todos os devidos "R.S.P." respondidos, exibiam seus convites porta, diferenciados apenas pela cor : verde para Formador de Opinio, azul para Politicamente Correto e vermelho para Outros .

Finalmente, aps longos sculos de brigas, confuses, guerras civis e quarteladas sem fim, conseguiu-se definir, em apenas 3 itens, todas as classes e castas sociais, at as mais impuras e amaldioadas.

O pessoal fazia fila na porta do Grande Local de Eventos ( clube para qu? Coisa do ado!) , recebendo cada um seu crach, de acordo com a cor do convite apresentado.
Crach F.O para o verde, P.C para o azul e OUT para o ltimo, alis a maioria.

Silenciosa ? Talvez.

Cada mesa com suas bandeirinhas e cores afins: a verde sempre dividindo com azul as mesas da frente e a vermelha,embora fosse a maioria, nos fundos e sozinha, como sempre foi. Desde os primrdios.

Os convidados iam se ajeitando de acordo com a sua cor (do crach, claro, para ser politicamente correto) e logo se notou um grande silncio.

A orquestra parou de tocar e o dono da festa, ao microfone, lembrou a todos que aquela seria uma festa inovadora, realmente ps-moderna e...

...Somente os formadores de opinio poderiam falar e assim poder, sem interrupes, formar todas as opinies. E tambm, os politicamente corretos que poderiam ( ou no) aprovar as cabeas feitas ali na hora.

Foi quando se levantou um conviva , da turma dos Outros, com muita humildade e educao e perguntou o que os vermelhos fariam, enquanto se formavam novas opinies e se analisassem as prprias dentro dos corretos enquadramentos necessrios.

- OUT! ...( hoooooh...um grande sussurro, seguido de silncio).... - Alis, meu carssimo representante dos Outros , apenas preste ateno e...(pausa para respirar e mostrar uma cara inteligente, formal e educada) fique apenas calado. Voc e seus outros. Aprendam e apreendam o mais moderno do ps e depois (ainda me agradecero) saiam daqui em paz para suas casas com a sua prpria opinio formada. tudo que queremos.

Salva de palmas. Dos verdes e azuis.

A orquestra voltou a tocar e os Outros comearam a danar. Como sempre.


Ao microfone, o crooner - com um crach vermelho no peito soltava a voz :

Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinio formada sobre tudo

E l de cima, Raul Seixas mandava lembranas.


Abraos a todos.

Flavio Pinto



12488

Por Flavio Pinto - 20/4/2006 10:25:36
FRIO, PAIXO E BACALHAU



O frio que anda fazendo aqui em Belo Horizonte no est de brincadeira e faz-nos, dentre outras coisas, buscar alento em nvoas e brisas presas no fundo de um ba das saudades perdidas e flutuantes. Parece at enredo de filme B, anos quarenta.

Como sempre, diro acertadamente - os caros leitores.

No alto do Anchieta, onde me escondo, congela-se at coraes.

Que o diga c, este pobre meu, j meio paralisado pela viso que tive , outro dia, de uma linda participante daquelas auroras da vida , dos tempos que infelizmente - no voltam mais, como disse o poeta.

Ela ou, andando na calada do lado de l, os cabelos longos, soltos e revoltos, o vento frio a fazendo encolher-se e colocar as mos nos bolsos do casaco. Cinematograficamente.

Sorte minha que no me viu.

A beleza e o enlevo da hora me tornaram apenas um velho tolo e mudo, sem palavras at para cumprimentos formais.

Continuei minha caminhada, em direo ao Mercado Distrital, de olho num futuro esquentamento qualquer - para fazer frente sbita friagem e emoo que quase liquidaram meu alquebrado corao. Se , doce devaneio, que tal providncia material poderia curar males ocultos por loucas e desenfreadas paixes !

Pensando juntar uma costela de vaca com um bocado de aipo, cebola e tomate, e adicionar - no capricho meu reservado tempero de Montes Claros, comprado da mesma pessoa h anos no Mercado Municipal (desculpem, mas esqueci o nome dela, da vendedora de temperos.Mas no tem problema. A estarei, se Deus quiser, em maio e procurarei sanar esta falta), ali na meica, entre os vendedores de andu e os aougues, encontrei-me com a famosa cozinheira portuguesa Terezinha Xavier, minha amiga de muitos anos e proprietria da Taberna Balthazar, ali na Serra. Caraa, esquina de Oriente.

Por muitos anos, desde quando era apenas um meio boteco meio mercearia na Estevo Pinto, deliciei-me junto com a querida turma imortal - com seus maravilhosos petiscos dalm mar, feitos com o maior carinho, que j lhe anteviam um grande sucesso no ramo da gastronomia, tarefa bem difcil de se levar nos magros tempos atuais.

Ao lado, sempre e eternamente, meu grande amigo Aurlio.

A, voltando ao Distrital, no sem antes me ensinar a melhor forma de fazer o caldo de costela, Terezinha me convidou para provar um novo lanamento da casa : bacalhau na abbora, com queijo Minas, servido bem quente, saindo fumaa, acompanhado de um bom vinho patrcio como se convm nestas geladas e apaixonadas noites mineiras.

Logo fui l, no tal e benedicto bacalhau e...

...Mais as taas vrias de um encorpado Periquita, esqueci-me, por indescritveis momentos, dos ventos frios cortantes e suas misteriosas mulheres assassinas de incautos e frgeis coraes, adentrando-me ao paraso do bem comer e beber, antes terreno imaculado e indevassvel de poucos imortais, hoje ao alcance de uma centena de assduos e novos fregueses , felizes mortais, ora pois.


Abraos a todos


Flavio Pinto




12232

Por Flavio Pinto - 9/4/2006 13:35:30
DE SEMANA SANTA , CARNAVAL, GENTE E DONA FINA


Hoje em dia - e desde muito tempo - as cidades mineiras ficam vazias na Semana Santa.

Com algumas excees - Diamantina, Ouro Preto, Mariana, So Joo Del Rei, dentre
outras - que cultuam santa e religiosamente as tradies e sabem da contribuio e importncia deste sazonal turismo para a ativao do comrcio e mercado hoteleiro/gastronmico da cidade. E, lgico, tambm espiritual, para os que crem mais do que os outros, alm de ser um motivo para os conterrneos ausentes naturalmente se encontrarem..

Na Europa, principalmente na Espanha, a poca se traduz em disputados e caros pacotes tursticos internacionais, onde visitantes do mundo inteiro aportam s suas tradicionais cidades , apenas para verem procisses e assistirem solenes missas ao som de belssimas msicas sacras e cantos gregorianos, de fundo.

Em Montes Claros, era assim e melhor ainda, posto que era de graa.

A Praa da Matriz cheia da gente da cidade e de todas as cidades circunvizinhas, o discurso de Padre Dudu no Descendimento da Cruz, a procisso do Enterro ou Senhor Morto, o belssimo canto pela voz da Maria Be, a Vernica, a cerimnia de Lava-ps, onde o Bispo beijava os ps de doze escolhidos seminaristas, que tanto podiam ser do Seminrio de Padre Pedro ou do de Padre Joaquim e vinham a p, descendo a rua Doutor Veloso cantando - como bem explicou no Mural, outro dia, o nonagsimo oitaviano Saulo - em vozes afinadas, belssimas, de quase crianas, com suas sotainas, de querubins, de serafins, especialmente a Ladainha de Nossa Senhora, em puro e legtimo latim, afinadssimo : "Sancta Maria, ora pro nobis. Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis.

Claro que,no sbado de Aleluia, a meninada alvoroada e desatinada leia-se Turma do Larguinho - empalhava e vestia de roupas velhas um maligno Judas, arrastando-o pelas ruas durante horas, at enforc-lo ou queim-lo em praa pblica, sob aplausos de todos os antes. Mil e setecentos anos depois, esto descobrindo que o Judas no foi to maligno assim... E agora , garotos ? Por via das dvidas, nada de malh-lo este ano !

Porm, triste realidade dos dias de hoje, chega a Semana Santa, o povo some. Os mais entusiasmados (e abonados) viajam centenas de quilmetros em estradas esburacadas e perigosas para tomar um rpido e quente sol nas costas e uma cara cerveja gelada, em praias repletas. De mineiros e ax-music. De baianos no, por que sbia e preguiosamente ficam dormindo nos feriados, para dar mais espao aos visitantes que gastam.

No Carnaval a mesma coisa. Se v. quiser ouvir som de asas de mosquito batendo s parar no meio da rua Quinze, ou em qualquer rua do Centro, nos dias dedicados a Momo. Vai escutar at o que no se quer.

Depois, ada a folia, onde as velhas cidades e as praias faturam alto ( do bolso do montes-clarense), ficam,empresrios tupiniquins - e afins - caando confuso e arrumando carnavais fora de poca , guisa de correr atrs do prejuzo, para no fazer mais do que tentar conseguir atazanar os ouvidos e a pacincia do povo. Por um msero punhado de dlares...

Sem nos esquecermos que colocam em risco a segurana da cidade, pois em sendo na regio - um evento nico e anunciado, atrai , no vcuo e sombra das pessoas boas e bem intencionadas, uma multido de espertos malandros, que nem o prprio batalho de polcia inteirinho - consegue dar jeito.

Pode parecer uma crnica irada , contra o direito de cada um fazer o que quer ou a se querer ganhar dinheiro, coisa nada fcil na atualidade que vive hoje o pas.

Mas apenas um breve chamado para refletir sobre o quanto se precisa dar mais valor rica cultura e tradies deste nosso querido norte. Catrumanos que somos.

E em se falando de gente fina que d o devido valor nossa cultura e tradio - para dizer Dona Fina, Virglio e Virgnia , da felicidade que senti, de longe, ao saber da recente e maravilhosa apresentao (um amigo que viu e ouviu e me contou) do Grupo de Serestas Joo Chaves num bar da parte antiga e nobre da cidade, aquela que at hoje continua intacta em nosso corao.

Gostaria de ter estado l.


Abraos a todos.


Flavio Pinto



12114

Por Flavio Pinto - 5/4/2006 09:02:08
DE BUARQUE A SHAKESPEARE, SEM MEDO DE SER FELIZ


No sei se para todo mundo, mas a mim, particularmente, sempre me pareceu que as vacas durante toda a minha curta e prosaica existncia - foram (e continuam, infelizmente) magras. Falta-me, confesso, um dinheirinho sobrando, para umas viagens que no fiz - e gostaria de fazer - e umas pequenas melhorias na vida dos meninos. Mas tudo tem seu tempo, j disse algum.E a gente vai levando.

Sina danada de pobre feliz, se que aceitvel, na sociedade dita organizada, esta complexa afirmativa de existir real felicidade na pobreza material.
Por isso, desculpem-me, ento, possveis crticos e apressados analistas de comportamento, pois quero , antes de tudo, que saibam que nada se dir aqui em favor da pobreza de esprito, esta, sim, sem jeito de se dar jeito, do incio ao resto da vida. Vivam e durmam com ela , a quem de direito...E que Deus olhe por vocs.

S que, pela santa e salomnica sabedoria das compensaes divinas, depois que o tempo - como bem disse um dia o grande Chico - vai ando, roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pio e rodou num instante nas voltas do corao - a gente comea a ver que, no fundo mesmo, elas, antigamente, eram mais gordas, simples e (porque no dizer ?) belas (ou pelo menos, pareciam) do que supunha esta v e possivelmente tola filosofia hamletiana que me acomete e lhes reo.

Certo dia, na velha Montes Claros, no Bar So Benedito, a meninada vibrou, certa vez, com uma grande e inesquecvel promoo : os picols ali seriam vendidos a dois por quinhentos ris . Para o pessoal mais novo no voar demais , mais ou menos, hoje, cinqenta centavos.

Em todos os bares, Minas Bar, Big Bar, Sibria e aquele da esquina da Praa Cel.Ribeiro, da me de Tony Colorido, continuava o mesmo preo : quinhento o picol.

A gente ria - alegria pura - e espalhava a boa nova nos quatro cantos da cidade , fazendo fila na porta do So Benedito, cheio das portas de dois metros de altura, ali na esquina debaixo, na Praa Doutor Carlos, do outro lado do Mercado.

Que maravilha, principalmente pra quem ganhava uma semanada de dois mil ris, que mal dava pro matin no Cine So Luiz (ou Coronel Ribeiro) e um esperado e sagrado picol, depois da suada sesso de bang-bang e seriado. No sei se era Nioka ou a Volta do Sombra.

Se bem que , devo dizer, os picols de groselha, tanto os redondos quanto os retangulares, no agentavam uma chupada profunda ou muito forte : logo avam de um rosa claro inicial para um total branco gelo-gua, antes de se chegar mesmo sua metade.

Mas ningum reclamava, o calor e a sede eram os mesmos de hoje e chupar um gelinho era bo tambm....

Abraos a todos.

Flavio Pinto








11909

Por Flavio Pinto - 28/3/2006 12:39:37
UM CARRO DE BOI E UMA AVENTURA


No rdio de cabeceira, madrugada de sbado para domingo, Tonico e Tinoco me acordando.

...Meu vio carro de boi, a sua cantiga amarga
No peso bruto da carga, o seu coco ringidor
Meu vio carro de boi, quantas coisa oc retrata
A estrada a a verde mata,e o tempo do meu amor...

Como um fulminante raio em noite de trovoada, bateu uma saudade doida.

Eu me vi em p na rua Joaquim Nabuco esquina de Lafet, menino de cala curta, com meu querido amigo Claude Bello, escutando ao longe o rangido do eixo das rodas, untado ininterruptamente de leo de mamona, para justamente aumentar o ranger. At fazer chorar. Ns e as rodas.

Nossos coraes disparados de aflio. Esperar carro de boi no era fcil, no !

Avistamos primeiro o sorridente guia, Toinho, frente dos oito bois do lindo carro de seu pai, Seu Men, todo alegre e acenando para saltarmos logo na traseira, ainda vazia, indo buscar cana para o Engenho do Pequi.

E rangendo, chorando, rangendo, ele ia, devagar , sempre devagar...

Cel.Prates, ando na porta do Caf Indiano ( sinto at hoje aquele cheiro de caf torrado), Diocesano, Colgio Imaculada, Fbrica de Tecidos Santa Helena, Santa Casa.

Descendo e subindo ladeira, at o Seminrio.

Finalmente, chegvamos ao Melo e cana caiana - da melhor qualidade da fazenda de Nivaldo Maciel. S esperando ser cortada e embarcada.

Se a gente desse - a sublime - sorte do dono estar l no dia, ele, com a maior das boas vontades, faria um aboio - de cinco minutos , contados no relgio - saudando os visitantes que chegavam. At os bois ficavam encantados e diminuam ainda mais o o, para melhor ouvir tal maravilha.

Enquanto os camaradas carregavam o carro, dois dos meninos de Nivaldo, Ronaldo e Murilo, sempre hospitaleiros como o pai, levavam-nos para os ps de manga.
No sem antes nos deliciarmos com um sem nmero de roletes de cana, cortados na hora.
Depois, vinham as mangas-rosas, bitelas. A barriga chegava a estufar.

E a volta. O carro cheio de cana, bem amarrada e segura e coberta com couros de boi, aboletvamo-nos em cima, sentindo-nos como verdadeiros aventureiros em caadas de tigres nas florestas de Bengala.

Pingos de chuva, a gente tirava a camisa e punha debaixo do couro curtido, a chuva aumentava e mais a gente gostava.

Mais um par de horas, o Engenho do Pequi, meu tio Joanir Maurcio fazendo festas nossa chegada e estranhando a gente recusar o caneco de garapa que ele mesmo pegou na bica do engenho.

Depois , sorrindo, ouvindo Seu Men contar da quantidade de manga-rosa que tnhamos comido...


Abrao a todos.


Flavio Pinto







11635

Por Flavio Pinto - 17/3/2006 11:29:55
DE UM GINSIO, LOYOLA & COMPANHIA


No fui do tempo do Colgio Diocesano. Nunca estudei l. Infelizmente.

Quando terminei o primrio no D.Joo Pimenta, j o tinham transformado em seminrio, quando ento, radicalmente, transformou a nossa buclica Rua da Fbrica num pequeno - assaz movimentado - Vaticano, como se fosse um verdadeiro e real filme de De Sica, onde, em dias de festa e procisso , entusiasmados aprendizes de padres eavam em compenetrados grupos fingindo que no viam ar as lindas meninas do Imaculada.

Mas , como era perto de casa , sempre vi e participei de tudo por l : os disputados jogos contra o Seminrio (batinas brancas, l do Melo) de Padre Pedro no campo de futebol e as peas e sketches teatrais, levados semanalmente no prdio anexo, chamado de Congregao Mariana , onde tambm se realizavam grmios estudantis e incrveis sesses de cinema grtis.

Vagamente me lembro de, certa vez, uma acalorada disputa pela Presidncia do Diretrio de Estudantes de M.Claros (famoso DEMC, cuja sede era na Praa Cel.Ribeiro) que presenciei. No me recordo quem ganhou ou perdeu, mas sei que meu nobre colega ( de letras e de Banco do Brasil) Wanderlino Arruda teve uma mexida qualquer na eleio.(Garanto que qualquer dia ele vai contar o que foi, na qualidade de mais novo nonagsimo-oitaviano da praa...)

Quando era festa do Ginsio, sob os vigilantes olhares dos Padres Agostinho e Gustavo(que depois virou Monsenhor e adorava bater o anel na cabea dos meninos que pediam beno), as sesses sempre comeavam com o hino : Colgio Diocesano, oficina que trabalha . S me lembro deste comeo.

Muitos filmes de cowboy, mudos, falados e registros particulares daquela fase da vida da cidade, estes maravilhosamente filmados em preto e branco ( 8 milmetros) pelo inesquecvel Itajahy Borba, dono do Armazm Loyola que numa poca sem os poderosos supermercados e chiques delikatessens de hoje, abastecia Montes Claros do que de melhor e finesse havia em comidas e bebidas das Oropa, Frana e Bahia, como diria Jair Silva.

Filmagens lindas e histricas do antigo Carnaval e futebol montesclarense.Rolos e mais rolos. J vi alguns.Al Secretaria da Cultura : at hoje, os filhos (relacionados abaixo ) conservam com carinho este acervo. Lances de jogos e gols de memorveis Cassimiro e Ateneu, carnaval de rua e bailes nos sales do Clube Montes Claros. De arrasar.

Nos aniversrios de Mazinho, Fuiu, Jaya, Vaguinho, Valdo, Ftima, Ktia e Ludmila, Seu Itajahy, com a maior vibrao, sempre ava um filme novo ( foi ali que vi a Ilha do Tesouro, do primeiro pirata de olho de vidro e papagaio no ombro ), com direito livre degustao de todos os sabores de sorvete Kibon - vinha de avio, do Rio, acondicionado em caixas de gelo seco servido sem misria em taas de prata. A meninada, literalmente, boquiaberta.

Tudo isso - ainda e sempre - com o maior dos sorrisos e gentilezas da adorvel D.Hilda Loyola.

A vi a foto do ginsio, destelhado.As telhas na calada e na chuva. Que tristeza.

Espero, pelo menos, que o supermercado seja to bom e variado quanto foi o Armazm Loyola.


Abraos a todos.

Flavio Pinto



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Por Flavio Pinto - 8/3/2006 11:40:09
PROMESSAS CUMPRIDAS, FINALMENTE

(MURAL -06/03/06 - 17h - Galinhas mutantes desenvolvem dentes semelhantes aos de crocodilo)

Eu e (certamente) toda uma gerao de crdulos meninos do interior, montes-clarenses (qui mineiros e brasileiros), que acreditavam em apario de lobisomem nas noites de lua cheia, saci perer - que poderia ser apanhado com peneira - rodopiando no meio de redemoinhos, mula-sem-cabea e outros bichos fantasmagricos do imaginrio popular, amanhecemos mais felizes neste incio de semana, deliciando-nos com esta notcia publicada no Mural e em jornais do mundo inteiro.

que , finalmente, vamos fazer jus a vrios desejos reprimidos, possveis dvidas impagveis, e ainda, nos tornarmos aptos a receber mil recompensas prometidas naquele tempo por todos aqueles (e aquelas) insensatos que tudo ofereciam e, na hora de pagar, saam-se pela tangente com o execrvel e proverbial no dia em que a galinha nascer dentes.

Era bem assim que se dizia.

Certa vez, uma moa, bem mais velha do que eu, que me prometeu um beijo. Na boca, imaginem, a doidivanas. No sei quando ou como, mas num certo dia ela prometeu. Com aquela voz melosa e sensual, aqueles dois olhos castanhos, os cabelos negros e esvoaantes de Rita Hayworth em Gilda.

E, quando eu lhe cobrava - diariamente, ouso confessar, tamanha era a paixo ao ar na porta de minha casa indo para o Colgio Imaculada, ela dizia a mesma coisa : no dia em que a galinha nascer dentes.

Foi assim, por um ano inteiro.

At um dia em que ela - no sei, mas me pareceu cansada (e com razo) das apaixonadas cobranas - foi categrica, ao dizer, para tornar ainda mais cruel minha completa runa sentimental.

Uma s e ltima vez :

- No Dia de So Nunca...de tarde !


Abraos a todos.


Flavio Pinto


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Por Flavio Pinto - 2/3/2006 16:04:14

NOTCIAS MAIS LIDAS : (ANO DE 2057 D.C)

Bi-Centenrio de Montes Claros

J ados 10 anos do saneamento total do Rio Vieira , Montes Claros se prepara para as comemoraes do Bi-Centenrio, ocasio em que teremos uma semana de intensas festividades, culminando com uma etapa do Grande Circuito Internacional de Canoagem, nas azuis e caudalosas guas do Rio Vieira (vejam a linda foto noturna, clicada pelo fotgrafo da 98 FM, esta rdio que est com vocs h quase setenta anos).

Aps a canoagem teremos o grande concurso de Pesca ao Dourado e Piau, que toda a populao poder participar ao longo da maravilhosa margem do rio, lindamente ajardinada e florida de perptuas, jasmins e damas da noite, obra prima da Secretaria de Meio Ambiente.

O Festival do Pequi, esperado por todos, mais uma vez no poder ser realizado, por absoluta falta do produto principal (de cor amarela, lembram-se) que no mais achado de jeito nenhum (nem congelado) , uma vez que os trs ltimos pequizeiros do serto norte-mineiro foram levados para o Museu do Cerrado Antigo, em Braslia, em 2032.


Abraos a todos.

Flavio Pinto


(A bela foto enviada pelo leitor Mauro Miranda Ferreira foi deliberadamente invertida pelo escritor Flvio Pinto)


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Por Flavio Pinto - 26/2/2006 12:22:16
FAROFA DE TATU


Terra,Amrica do Sul,Brasil, Minas Gerais, Montes Claros, Rua de Trs e Larguinho.

Se um disco voador tentasse me abduzir naquele incio de dcada de 50, estas seriam as melhores coordenadas para o meu eventual e eficaz recolhimento espacial.
Mas, felizmente (ou infelizmente, podero dizer os ovnistas militantes) tal peripcia nunca aconteceu comigo nem para o resto da turma, que fazia ali da Rua de Trs e Larguinho do Rosrio seu ponto preferido para a toda espcie de brincadeiras, diurnas e noturnas.

Acho que s efetivamente aconteceu pra Zezinho Lagartixa que, apesar de no ser da turma do Larguinho, aparecia ali esporadicamente (talvez pelas freqentes escapulidas para o espao sideral), para participar das peladas vespertinas, e j tinha experimentado a inusitada aventura espacial por mais de uma vez.

Zezinho aparecia sempre com duas trouxinhas, uma em cada mo, com seus invariveis culos de vidro espelhado - ltima moda nos camels da Praa do Mercado - que anunciava , de longe, sua querida presena, pelos reflexos do sol que fazia questo de nos jogar nas vistas, dando sempre uma risadinha de lado.

No se fazia de rogado e contava as aventuras sempre de tardinha, aps a ltima pelada, os olhos escondidos atrs dos culos - o que lhe dava um discreto ar professoral - com uma preciosidade de detalhes de fazer inveja a qualquer escritor de fico cientfica.

O jeito dele especial - de contar os casos fazia a diferena e nos tornava cativos ouvintes at a hora que resolvia ir embora, quando se lembrava de ter de levar a feira (as duas trouxinhas, lembram-se ?) para a me, que morava l pras bandas do Rio do Melo. Bom filho, o Lagartixa.

Um dia, brindou-nos com um primor de criao artstica : um carro de boi a jato, cujas turbinas ficavam grudadas no rabo do boi e somente ligavam quando o condutor gritava o nome do bicho : Vai l Pintado, vem c Rochedo... assim que o animal ouvia o nome, levantava o rabo e ligava o motor, alando vo rapidamente e atingindo em pouco segundos a velocidade de mil quilmetros por hora.

Se algum da platia iniciasse ou esboasse qualquer movimento que pudesse significar ou transparecer alguma dvida, ele logo se adiantava: Eu sei , parece mentira... mas a pura verdade. A velocidade era tanta que os bois nem botavam a lngua para fora.....

Ante tal argumento, falar o qu ?

E l voltava ele, na semana ou quinzena seguinte, com mais deliciosas estrias espaciais. Sempre um bicho conhecido de todos personificando um aliengena. Duro de agentar, eu sei, mas ns agentvamos, pelo bem da diverso gratuita.

Mas a do tatu hipnotizador...Essa foi difcil !

Imaginem que l num dos benditos planetas onde ele esteve (foram vrios) o povo morria de medo de um tal tatu hipnotizador que, ao simples olhar dominava as mentes dos habitantes e levava-os para o fundo da terra, para trabalhar como escravos, cavando buracos e deixando o malfico e sua famlia na maior boa vida, folgados e desobrigados daquela histrica funo, prpria de qualquer de qualquer tatu que se preze.

A, Zezinho Lagartixa foi fundo.

- Mostrei pra eles estes culos ( tirou os culos e deixou-nos, pela primeira vez, toc-los) e falei para fazerem milhares iguais para toda a populao e sempre os usassem quando o disgramado do tatu aparecesse.... Foi a conta : o tatu olhava para os marcianinhos com os culos espelhados e no acontecia mais nada. Ele foi ficando com medo e recuou, o povo invadiu os buracos, libertou os escravos e sabe o que fizeram com o hipnotizador ?

Um menino, atrs de mim, gritou : Farofa de tatu.

Zezinho pegou as trouxinhas, tomou os culos e rachou fora, resmungando.

- Conto mais bosta nenhuma procs !



Abraos a todos.


Flavio Pinto


10941

Por Flavio Pinto - 15/2/2006 11:21:54
DE ROA MOLHADA E ONA PINTADA


No sei se foi ontem, ou no ano ado, mas tenho certeza que foi num dia desses.

Estranho que a gente se lembra com tanta saudade, que chega doer no corao , de leve, tipo medo de no se repetir jamais.

Naquela velha cozinha da fazenda, noite e madrugada se misturavam na beirada do aceso fogo de lenha que, alm de aquecer o sereno da noite, era o grande responsvel pelo tira-gosto altura de velhos amigos que se reencontravam, agrupados sua frente, em volta da centenria e ainda firme mesa de madeira, de trs metros de comprimento e muita histria pra contar.

Sentados nos bancos de aroeira os mais chegados se revezavam no ir e vir chapa gigante de ferro batido, j preparada e completamente untada de gordura (da carne de sol) para receber aqueles bifes previamente cortados, que ficavam ali, graciosos em seus coloridos dois pelos e bem amontoados dentro de uma grande - e j corroda pelo tempo - gamela de pau .
espera de serem fritos, mal ou bem ados, dependendo do gosto do fregus, eram pegos e levados ao fogo pelo grande garfo do capeta (poderoso tridente que em outros tempos j at servira para pescar incautas curimats que insistiam em ficar pitando no crrego do fundo do quintal) para logo serem levados mesa e fatiados numa grande tbua, salpicada pelos quatro cantos de pimenta malaguetinha e farinha.

L de Morro Alto.

Mais aquele caldo de mandioca e arroz com pequi feitos com cincia durante toda tarde pela cozinheira oficial da fazenda e deixados no borralho para sustentao da turma.
Pro mais adiante da noite. Que ia ser longa, ela j sabia.

L fora, a chuva no dava descanso. Graas a Deus, molhado cheiro de mato.

As mariposas, imprudentes como sempre, teimavam em procurar luzes dentro de casa e de vez em quando, uma ou outra, desvairada, caa na chapa quente. Imaginem vocs, quando era tanajura, tinha gente que at a misturava na farinha e...comia, onde j se viu!
Tonto, fazendo bonito, porm muito aplaudido.

Tambm, em cima da mesa, um garrafo de um ex-vinho Cabea de Touro, atualizado at a tampa por uma deliciosa Viriatinha de 15 anos, confirmada e assinada a procedncia e idade pelo dono, o grande cantador Beto Viriato.
Se bem me lembro tinha umas Canarinhas cantando, afinadas, e uma Santa Rosa rezando. Todas, dando conta do recado, direitinho.

Na grande mesa, um povo tomando vinho, outro povo arregaando na cerveja, cujo ninho era o tanque de lavar roupa, com gelo e serragem at o tampo. As pingas s entravam nos intervalos da cerveja e do vinho. Povo sem termo!

As conversas j l iam adiantadas, at chegar na preferida dessas ocasies, sempre a mesma coisa naquele norte querido : conversa de ona, ona pintada, sem pintas, enfim, ona de todo e qualquer jeito. Nunca vi gente gostar tanto de uma mesma conversa. Todo mundo d palpite, cada um conta um caso, do tio, do av e dos perigos acontecidos por conta da presena da pintada. E cada ano os casos ficam melhores.

At a hora que um tocador pega na viola e canta :

Um tocador, de violo, no pode tentar prosseguir quando lhe acusam de estar mentindo...

Como diz o outro : a pode largar...



Abraos a todos.


Flavio Pinto


10872

Por Flavio Pinto - 13/2/2006 11:45:49
PARA UMA VIDA MELHOR ?



Com o advento da Internet e seus novos e nomeados conselheiros (por quem?), a gente, hoje em dia, nem precisa ter o trabalho de pensar no que fazer para se obter a melhor das caminhadas, nesta curta - porm tortuosa - vida terrena.

Ou, melhor traduzindo, tentar ser feliz.

Consultores e assessores gratuitos para um melhor destino (se que destino pode se mudar) se (auto) incumbem desta nobre misso e adentram nossos computadores, diariamente, em pausadas e irritantes parbolas sobre o bem estar que advir do fiel cumprimento de suas espirituais mensagens.

Caso no as emos pra frente, no as inocularmos de nossa f e para familiares e tantos ou mais diletos amigos, estaremos alijados para sempre do bem-estar celestial, da serena calma e o manso navegar nas guas tranqilas do mar da felicidade eterna.

Como nossas prprias idias e deuses tupiniquins no se consolidam profundos - o suficiente - para alcanarem o espiritual valor pretendido, so invocados espritos e pensamentos de terras longnquas, cujos autores, mortos e ressuscitados diariamente pelos oportunistas e plagiadores de planto, devem se virar e desvirar de desnimo - nos seus respectivos e sagrados tmulos.

Nobres pensadores que coitados - num certo dia, h milhares de anos atrs, crentes que seus cnticos, frases e parbolas se eternizariam como fontes do bem e do saber, at pensaram merecer e querer um longo, calmo e profundo sono eterno.

Deus me perdoe, mas ser que querem nos assombrar ?

Ser?


Abraos a todos.


Flavio Pinto


10279

Por Flavio Pinto - 23/1/2006 12:24:52

COLGIO IMACULADA


Ah! Apaixonado menino...Onde estar?

De lnguidos olhares espera da amada, postado na sombra da rvore do canteiro do meio da Rua da Fbrica.

Todos os meios dias de todos os dias na frente do Imaculada, na sada do turno da manh.

E aquela freira que olhava.

A mesma freira no porto - como se estivesse numa foto antiga na frente de medievais castelos com uma grande chave de ferro amarrada a um grosso cordo branco preso na cintura, sempre fingindo um olhar srio, mas com um indecifrvel sorriso da Gioconda, torcendo, imperceptivelmente, a favor do amor.

Um rpido beijo, livros e cadernos trocando de mos e o caminhar juntos para casa, os contados e sorrisos incontidos na alegria do apenas estar perto.

De noite, assobiando.

Enluarada noite, de sete estrelas...


Abraos a todos.


Flavio Pinto


Ps: Vi a Cel.Prates, de cima, ontem, amanheci assim, hoje, nesta bestagem, a saudade doendo.


( Nota da Redao: A pintura de Hlio (Pato) Guedes retrata a antiga fachada do Colgio Imaculada, o "colgio das freiras", prdio lamentavelmente demolido na dcada de 80; o casaro foi residncia do coronel Francisco Ribeiro, que ao morrer deixou slida fortuna para os seus descendentes - irmos e sobrinhos - da famlia Ribeiro).


10106

Por Flavio Pinto - 13/1/2006 21:00:15
PORCOS E PRATOS VERDES



Um prato que sempre gostei - alis todo mineiro que se preze e no tenha problemas com colesterol e estas coisitas toa que levam o cidado, devagarzinho, ao
cemitrio, gosta um leitozinho pururuca.
Prato obrigatrio no Natal , mas que ns, mineiros adoramos comer e repetir o ano inteiro.
Mas, vocs me desculpem a franqueza, porco verde eu no como no, e nunca comerei, j vou adiantando para o pessoal de Taiwan.
At que comprar um relgio baratinho prova dgua - que no agenta nem cheiro de neblina - posso, at. Mas s.
Embora confesse, deixando na trilha da imaginao a veia culinria me levar, me asse levemente pela cabea que uma leitoa verde com arroz branco e pequi poderia at ser um belo de um prato patritico, digno de reis e presidentes estrangeiros em Braslia.
E o azul ? Perguntaro logo os mais afoitos, e eu lhes direi : o pequi l de Campo Azul !
E est morta Ins.
Eu vi no Mural um alerta sobre essa modificao gentica, que parece estar em moda por este mundo afora onde o povo no tem mais o que inventar.
Mutatis, mutandis, lembro de j ter me ocorrido vontades e necessidades de promover eventuais mutaes genticas, como a querer consertar certas coisas para a felicidade do bem comum.
Na poltica tambm, onde existe o vermelho vergonha de trair o voto recebido e o amarelo burro fugido de no cumprir as promessas feitas antes da eleio.
Mas isso outra coisa...
Das que eu, pseudocientista de fundo de quintal, j pensara em mudar a original colorao, tentando fazer parte desta modernidade pr-apocalptica, uma, com toda a certeza, seria ar o abacate para outra cor que no fosse o verde. Inclusive a prpria casca.
Mas no ou da simples idia.
E explico : meus filhos, quando pequenos, nunca o comiam porque no gostavam de nada verde, a includo todo e qualquer tipo de verdura ou legumes levemente esverdeados.
Era quando eu, preocupado e antiquado pai, lhes apresentava, ento, com ares de vitria, cenouras e beterrabas e, do mesmo jeito, sem nenhuma alegao plausvel, eles tambm os rejeitavam, apesar do colorido diferente.
Acho que foi a que minha carreira de futuro cientista louco transformador gentico se encerrou.
Quanto ao abacate, anos mais tarde vim prov-lo com sal e temperos, o famoso guacamole item obrigatrio do cardpio da comida tpica mexicana e no detestei de todo, desde que acompanhado de alguma carne, permanecendo a verde colorao com sucesso.
Desde que voc o prepare e sirva logo, seno escurece.
O petisco mexicano, no o cu.

Abraos a todos.

Flavio Pinto


9999

Por Flavio Pinto - 9/1/2006 10:49:31

PRAGA DE NORTE-MINEIRO

Para todos aqueles que nos proporcionaram e contriburam para a sublime
desventura e vergonha de chegarmos a este ponto, de ter que nos sujeitarmos
ao pagamento de um esprio pedgio para ir alm dessa placa , nesta outrora
linda estrada asfaltada (que j foi nosso orgulho) conseguida a duras penas
e pedida at em versos pela nossa fina flor musical...

...Para todos esses que esconderam e desviaram as verbas de
manuteno/conservao da nossa estrada, agindo tal e como desequilibradas -
e foras de moda - primas donas , em longas e particulares saias-justas de
prejuzo completo ao bem pblico de nossa comunidade norte- mineira...

...Para todos eles, que o povo sabe muito bem quem so : eu, modesto
escrevinhador deste Mural, vendo impedido - no pelos nfimos dez contos em
si, mas pela simbologia histrica que representa - o meu livre caminhar, o
meu ir e vir normal de toda a vida para a minha terra, para o meu sagrado
canto no mundo, que eu tanto amo;

Para aqueles, para esses e para eles, eu dedico estas palavras de Dante
Alighieri ( e o lugar tambm ), da sua imortal obra "A Divina Comdia":

"CANTO XXI -Vala dos corruptos - Malebranche (demnios)

De cima de outra ponte paramos para ver a prxima fissura de Malebolge, que
era incrivelmente escura. L embaixo um grosso breu fervia. Eu olhava mas
nada via a no ser as bolhas de piche que a fervura levantava. Enquanto meus
olhos procuravam alguma coisa naquela escurido, meu guia gritou:
- Cuidado, cuidado! - e logo me arrancou do lugar de onde eu estava.
Voltei-me e vi logo atrs um diabo preto que corria em nossa direo. Ai,
mas como ele tinha um aspecto feroz! Com suas asas abertas ele corria
ligeiro com os ps. Levava um pecador no seu ombro pontiagudo, que pelos
tendes dos ps tinha seguro. Parou diante da pez fervente, e gritou:
- Malebranche, aqui est mais um daqueles ancies devotos de Santa Zita.
Cuida dele pois eu vou buscar outros. Quase todos naquela terra so
corruptos, exceto, claro, Bonturo! L, com dinheiro, qualquer no vira um
sim.
Depois que falou, soltou o pecador das alturas, que submergiu no lquido
espesso. O diabo voltou correndo pelos recifes e sumiu na escurido. O
pecador ainda tentou ressurgir na superfcie, mas vrios demnios que
estavam sob a ponte saram e o perfuraram com mais de cem garfos, levando-o
a outra vez submergir".


Abraos a todos, menos estes ...

Flavio Pinto




Selecione o Cronista abaixo:
Avay Miranda
Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
Ivana Ferrante Rebello
Jos Ponciano Neto
Manoel Hygino
Afonso Cludio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Drio Cotrim
Drio Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemrides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
Gustavo Mameluque
Haroldo Lvio
Haroldo Santos
Haroldo Tourinho Filho
Hoje em Dia
Iara Tribuzzi
Isaas
Isaias Caldeira
Isaas Caldeira Brant
Isaas Caldeira Veloso
Isaas veloso
Ivana Rebello
Joo Carlos Sobreira
Jorge Silveira
Jos Ponciano
Jos Ponciano Neto
Jos Prates
Luiz Cunha Ortiga
Luiz de Paula
Manoel Hygino
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Maria Ribeiro Pires
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Saulo
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Walter Abreu
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